Discurso durante a 70ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Leitura de mensagem do professor goiano Aparecido José dos Santos, Presidente do Diretório Municipal do PMDB de São Luís de Montes Belos - GO.

Autor
Íris de Araújo (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/GO)
Nome completo: Íris de Araújo Rezende Machado
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
ELEIÇÕES.:
  • Leitura de mensagem do professor goiano Aparecido José dos Santos, Presidente do Diretório Municipal do PMDB de São Luís de Montes Belos - GO.
Aparteantes
Arthur Virgílio, Leonel Pavan.
Publicação
Publicação no DSF de 31/05/2006 - Página 18519
Assunto
Outros > ELEIÇÕES.
Indexação
  • FRUSTRAÇÃO, POPULAÇÃO, CRISE, INSTITUIÇÃO DEMOCRATICA, LEITURA, MENSAGEM (MSG), PRESIDENTE, DIRETORIO MUNICIPAL, PARTIDO POLITICO, PARTIDO DO MOVIMENTO DEMOCRATICO BRASILEIRO (PMDB), ESTADO DE GOIAS (GO), CONCLAMAÇÃO, RETOMADA, ETICA, POLITICA NACIONAL, CANDIDATURA, ELEIÇÕES.
  • EXPECTATIVA, RESULTADO, ELEIÇÕES, MANIFESTAÇÃO, REPUDIO, CORRUPÇÃO.

A SRª IRIS DE ARAÚJO (PMDB - GO. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão da oradora.) - Muito obrigada, Sr. Presidente.

Agradeço ao Senador José Agripino por ter cedido este momento para que pudéssemos fazer o nosso pronunciamento.

Nos permanentes contatos que mantenho com o interior de meu Estado, pode-se dizer que temos um retrato seguro do País no que diz respeito à indignação geral em relação ao momento brasileiro e à imperiosa necessidade de estabelecer severas mudanças capazes de debelar a grave crise que hoje afeta o conjunto das instituições.

Semana passada, em visita ao Município de São Luís dos Montes Belos, em Goiás, fui premiada com uma análise sincera e direta, de autoria do digníssimo Professor Aparecido José dos Santos, Presidente do Diretório Municipal do PMDB. A mensagem, com certeza, expressa o sentimento do nosso povo sobre os rumos do País. Passo, agora, a reproduzi-la aqui desta tribuna, como testemunho do descontentamento que assola esta Nação:

O Brasil precisa, urgentemente, retomar o caminho da normalidade. O Brasil precisa de uma retomada de posição nos quadros dirigentes das instituições públicas.

O Brasil precisa, urgentemente, da postura política de seus gestores. O Brasil precisa de governantes de posição firme, clara, definida, de espírito livre de ideologias.

O Brasil precisa de governantes de espíritos desarmados, independentes e democráticos. O Brasil precisa de governantes que tenham autoridade não pela força, nem pelas ameaças ou chantagens, mas pela retidão de postura, de comportamento, pelo caráter zeloso no cumprimento do seu dever de cidadão e de homem público.

Chega de salvador da Pátria! Chega de corporativismo! Chega de “idealismo” barato e interesseiro! Chega de bravatas e verborréias!

Urge a necessidade de um choque de qualidade na gestão administrativa do País, com as seguintes providências, dentre outras:

1. Desarmar a “orgia” pública.

2. Desarticular a corrupção, dando exemplo de serenidade e de respeito pelo contribuinte.

3. Desarmar a ambição desenfreada dos gestores públicos e de diretores de empresas, etc.

4. Fazer ver a todos, por meio de bons exemplos do governo, que ser correto e responsável é prazeroso, gratificante, e faz a alegria e a gratidão do povo.

O Brasil precisa de gestores públicos comprometidos com a justiça, e não de feitores, como está acontecendo: de um lado, os burros de carga, que são os trabalhadores, produtores e comerciantes, abastecendo os cofres do governo com suor e até o sangue de seus esforços; do outro lado, a farra dos gestores. De cada milhão arrecadado, apenas cem mil são aplicados, os outros novecentos mil ficam retidos nos ralos da corrupção, saciando a gula dos gestores e seus confrades.

O Brasil precisa de uma pessoa despojada de ambições desenfreadas, alguém de espírito humano desapegado das vaidades ideológicas ou corporativistas. Qualquer brasileiro livre e de bons costumes e com formação humana e acadêmica mínima pode governar este País com grande chance de ser bem sucedido. (...)

O espaço está aberto para quem tiver a coragem de assumir esta postura política.

Sr. Presidente, a reprodução desta mensagem de um professor do interior do País, envolvido diariamente com a realidade brasileira, comprova que há um clamor nacional por modificações profundas no comportamento dos agentes públicos, para que restauremos o Brasil, recuperando a credibilidade ferida de morte por tantos escândalos.

O pior de todos os comportamentos, o mais inaceitável, é aquele em que os agentes públicos avaliam que o povo brasileiro não está acompanhando de perto a crise - o que garantiria a continuidade de todos.

O Sr. Leonel Pavan (PSDB - SC) - V. Exª me permite um aparte?

A SRª IRIS DE ARAÚJO (PMDB - GO) - Concedo, com o maior prazer, um aparte ao Senador Leonel Pavan.

O Sr. Leonel Pavan (PSDB - SC) - Senadora Iris de Araújo, é brilhante o pronunciamento de V. Exª, do qual até peço uma cópia. Fico impressionado com o tom que V. Exª imprime a ele. V. Exª diz o que o Brasil precisa de um homem público inteligente, competente, uma pessoa preparada, capaz, que realmente faça com que o Brasil cresça. V. Exª coloca, com muita lucidez, que o Brasil precisa de um choque de gestão, de uma chacoalhada. O Brasil precisa gastar mais em investimentos, precisa gastar mais com as pessoas e não com a máquina pública. Parabéns pelo seu pronunciamento. Até quero pedir ao Líder, Senador Arthur Virgílio, um espaço para V. Exª na nossa liderança. O discurso que a Senadora Iris de Araújo está fazendo é brilhante. Ela chama a atenção do Governo para as necessidades do Brasil; diz que não temos mais condição de continuar convivendo com as pessoas que hoje, no Governo, estão levando o nosso Brasil ao caos. O Brasil, realmente, precisa de um choque de mudança, de um choque de gestão para voltarmos a crescer. Parabéns, Senadora!

A SRª IRIS DE ARAÚJO (PMDB - GO) - Agradeço ao nobre Senador.

Senador Leonel Pavan, nada mais sou aqui que o retrato do que vejo lá fora, do que sinto. Se eu não puder representar desta tribuna o sentimento do meu povo e, neste momento, de um simples professor do interior, que, com muita propriedade, reforça o sentimento de indignação do povo brasileiro em relação ao que está acontecendo no mundo político, não teria sentido ser sua representante.

Concedo um aparte ao Senador Arthur Virgílio.

O Sr. Arthur Virgílio (PSDB - AM) - Senadora Iris, o Senador Leonel Pavan expressou, mais que o sentimento do meu Partido, o sentimento da Casa. V. Exª teve uma passagem pelo Senado, antes desta, que deixou de fato saudades. Deixou a imagem da respeitabilidade, da cordialidade para com os seus colegas, para com os seus companheiros de trabalho, de labuta e, além da sensibilidade de mulher atenta à questão social do País, a marca da independência que, desta feita, volta mais evidente do que nunca. Da última vez em que V. Exª subiu à tribuna para fazer um pronunciamento de porte, como ocorre no Grande Expediente da Câmara - aqui não o chamamos assim -, seu discurso chamou primeiramente a atenção de um Senador, se não me engano do Senador Antonio Carlos; depois, se não me engano, do Senador José Agripino, eu próprio, Senador Tasso Jereissati, Senador Romeu Tuma. Ou seja, nós todos fomos nos alertando para o seu discurso independente, altivo, e a aparteamos em sinal de aprovação e admiração. Volto a repetir o gesto. Meus parabéns.

A SRª IRIS DE ARAÚJO (PMDB - GO) - Agradeço a V. Exª o oportuno aparte, que enobrece o meu pronunciamento.

Continuando meu pronunciamento.

Tenho a nítida certeza de que a resposta a todo esse cenário de desvios será na dada no momento certo e que somente sobreviverão aqueles que realmente estejam dispostos a doar o melhor de si para construir uma Nação limpa, uma Nação justa, uma Nação que honre a grandeza de seu maravilhoso povo.

Já passou a hora de o Brasil celebrar uma postura de tipo realmente novo, que resgate as esperanças de seus cidadãos, colocando-nos num caminho de harmonia e de prosperidade. É inaceitável, Sr. Presidente, que uma pátria com tamanhas potencialidades ainda exiba ao mundo as cenas degradantes da corrupção, da violência, do estrelato do crime organizado, da morte nas filas de hospitais, do atraso educacional, do caos na infra-estrutura, da destruição das rodovias e da falência da agricultura.

Não é possível que não sejamos capazes de dar um basta a essa cultura destrutiva herdada, geração após geração, sem que exista um líder sequer capaz de expressar, com honestidade e singeleza de propósitos, os anseios de um povo que tão-somente aspira à paz e à normalidade para que possa trabalhar e produzir.

Com toda a sinceridade, os três Poderes constituídos - Executivo, Legislativo e Judiciário - precisam parar de atrapalhar a vida de nosso povo! Isso seria o mínimo exigível, porque, na realidade, o de que precisaríamos seria um choque institucional de dimensão que mexesse na essência de uma Nação destroçada em seus valores e que continua a reproduzir métodos de conduta absolutamente condenáveis do ponto de vista do respeito aos direitos fundamentais da pessoa humana.

A atual crise não é puramente política e econômica. Ela é muito mais profunda. Alicerça-se nos fundamentos da formação nacional. Ampara-se em leis sinuosas, cuidadosamente montadas para eternizar a impunidade.

Tem a cumplicidade das corporações. Mantém-se, há décadas, graças ao poder do dinheiro de grandes grupos econômicos que tudo podem.

De uma maneira terrível, esses “desvalores” buscam inserir-se na alma do povo, tentando-nos convencer de que tudo é parte do jogo, de que não vale a pena lutar, de que o melhor é se juntar e perpetuar o sistema.

Entretanto, Sr. Presidente, a mensagem de um digno professor do interior deste País, São Luiz de Montes Belos, interior do Estado de Goiás, que li aqui, o Professor Aparecido José dos Santos, demonstra que esta situação chegou ao limite: está na perigosa linha que separa a nossa secular tolerância da nossa indignação - aquela que, como confirma a História, pode muito bem ser explosiva!

Creio que o povo não dorme em berço esplêndido e que logo, logo reagirá com a legítima arma de que dispõe: o voto, que simboliza o início de uma nova etapa da vida brasileira que, esperemos, seja a da restauração, a etapa da renovação, da reconstrução.

Em nome da esperança, era o que tinha a dizer.

Muito obrigada.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 31/05/2006 - Página 18519