Discurso durante a 72ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Comentários aos artigos "Um Líder Carismático" e "Chavez agora patrocina cirurgias".

Autor
Leonel Pavan (PSDB - Partido da Social Democracia Brasileira/SC)
Nome completo: Leonel Arcangelo Pavan
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
PRESIDENTE DA REPUBLICA, ATUAÇÃO. SAUDE. POLITICA EXTERNA.:
  • Comentários aos artigos "Um Líder Carismático" e "Chavez agora patrocina cirurgias".
Aparteantes
Heráclito Fortes, Ideli Salvatti, José Jorge.
Publicação
Publicação no DSF de 02/06/2006 - Página 18887
Assunto
Outros > PRESIDENTE DA REPUBLICA, ATUAÇÃO. SAUDE. POLITICA EXTERNA.
Indexação
  • LEITURA, TRECHO, ARTIGO DE IMPRENSA, ANALISE, VIDA PUBLICA, PRESIDENTE DA REPUBLICA, PROCESSO, VITORIA, PODER, PARTIDO POLITICO, PARTIDO DOS TRABALHADORES (PT), COMPARAÇÃO, NAZISMO.
  • SOLICITAÇÃO, TRANSCRIÇÃO, ANAIS DO SENADO, ARTIGO DE IMPRENSA, QUESTIONAMENTO, ACORDO, PREFEITURA, BRASIL, GOVERNO ESTRANGEIRO, VENEZUELA, REALIZAÇÃO, CIRURGIA, OFTALMOLOGIA, REPUDIO, SECRETARIO, SAUDE, ESTADO DE PERNAMBUCO (PE), MOTIVO, POSSIBILIDADE, OCORRENCIA, TERRITORIO NACIONAL, CRITICA, INTERFERENCIA, SOBERANIA NACIONAL.

            O SR. LEONEL PAVAN (PSDB - SC. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, eu estava lendo um artigo, escrito por Rodrigo Constantino*, intitulado “Um Líder Carismático”, que traz uma epígrafe de Schopenhauer: “Quem espera que o diabo ande pelo mundo com chifres será sempre sua presa.” Diz o artigo:

            Era uma vez um sujeito humilde que resolveu entrar para o Partido dos Trabalhadores logo no começo de sua existência. Foi praticamente um dos fundadores do partido. Tamanha era sua influência sobre os demais membros, que logo se tornou o maior líder dentro do partido. Praticamente redigiu o programa que seria defendido pelo partido. Este programa era uma mistura de socialismo com nacionalismo.

            O programa defendia a “obrigação do governo de prover aos cidadãos oportunidades adequadas de emprego e vida”. Alertava que “as atividades dos indivíduos não podem se chocar com os interesses da comunidade, devendo ficar limitadas e confinadas ao objetivo do bem geral”. Demandava o “fim do poder dos interesses financeiros”, assim como a “divisão dos lucros pelas grandes empresas”. Também demandava “uma grande expansão dos cuidados aos idosos”, e alegava que “o governo deve oferecer uma educação pública muito mais abrangente e subsidiar a educação das crianças com pais pobres”.

            Defendia que “o governo deve assumir a melhoria da saúde pública protegendo as mães e filhos e proibindo o trabalho infantil”. Pregava uma “reforma agrária para que os pobres tivessem terra para plantar”. Combatia o “espírito materialista” e afirmava ser possível uma recuperação do povo “somente através do bem comum à frente do bem individual”. O meio defendido para tanto era o centralismo do poder.

            O Líder era muito carismático e sua retórica populista conquistava milhões de seguidores. Ele contava com um brilhante “marqueteiro”, que muito ajudava na roupagem do “messias restaurador”, enfeitiçando as massas. Foi projetada a imagem de um homem simples e modesto, de personalidade mágica e hipinotizadora, um incansável batalhador pelo bem-estar do seu povo. Seus devaneios megalomaníacos eram constantes. Sua propaganda política incluía constante apelo às emoções, repetindo idéias e conceitos de forma sistemática, usando frases estereotipadas (...)

            Permitam-me aqui dizer, Sr. Senadores, que este artigo fala de uma pessoa hoje conhecida por todos no mundo inteiro.

O Estado [segundo ele] seria a locomotiva do crescimento econômico, da criação de empregos e do resgate do orgulho nacional. A liberdade individual era algo totalmente sem importância neste contesto.

Seu Partido dos Trabalhadores finalmente chegou ao poder, através da mesma democracia que era vista com desdém por seus membros. Uma farsa para tomar o poder. O real objetivo tinha sido conquistado. As táticas de lavagem cerebral tinha surtido efeito. Uma vez no governo, o líder foi concentrando mais e mais poder para o Estado, controlando a mídia, as empresas, tudo. Claro que o resultado foi catastrófico, como não poderia deixar de ser. O povo pagou uma elevada conta pelo sonho do “messias” que iria salvar a pátria.

Caro leitor, o líder carismático descrito acima não é quem você está pensando. Ele é, na verdade, Adolf Hitler, líder do Partido dos Trabalhadores Nacional-Socialista da Alemanha, mais conhecido apenas como “nazistas”. Schopenhauer estava certo no alerta da epígrafe. O diabo costuma se vestir de nobre altruísta. Os chifres aparecem somente depois que a vítima vendeu-lhe sua alma. Aí já é tarde demais.

            Esse artigo está bastante relacionado com o que está ocorrendo atualmente no Brasil.

            Sr. Presidente, leio também no jornal uma nota de repúdio: “O acordo foi realizado entre o governo venezuelano e a Prefeitura de Abreu e Lima, sem envolver o Governo federal e estadual, e foi questionado por entidades médicas”.

            Essas são matérias que saíram ontem na imprensa nacional dizendo que Hugo Chaves está levando pessoas do Brasil para fazerem cirurgias de catarata na Venezuela.

            Nota de repúdio do Secretário Municipal de Saúde do Estado de Pernambuco, Ivanildo Cruz, que considerou “um presente” a iniciativa venezuelana e afirmou que os pacientes esperavam há muito tempo pelas cirurgias.

            Para o Presidente da Sociedade de Oftalmologia de Pernambuco, Vasco Bravo, o presente é “de grego”. “A comunidade oftalmológica repudia a ajuda”, afirmou ele, ao considerar um absurdo a viagem para fazer as cirurgias quando elas poderiam ser realizadas no País.

            Todos se recordam de que, no Governo de Fernando Henrique Cardoso, José Serra fez um mutirão de cirurgias de cataratas no Brasil em que idosos eram atendidos. Hoje estamos vendo o novo líder da América do Sul, Hugo Chávez - S. Exª esteve recentemente no Brasil fazendo palestras e apresentando sugestões para diminuir a crise na agricultura do Brasil -, levar pessoas do nosso Brasil, do interior de Pernambuco, para fazer cirurgias de catarata na Venezuela. Isso é o cúmulo! O Presidente Lula tem de acordar! O seu amigo Hugo Chávez está lhe ensinando a governar o País.

            Nós todos vimos pela imprensa o novo líder da América do Sul...

            O Sr. José Jorge (PFL - PE) - V. Exª me permite um aparte, Senador Leonel Pavan?

            O SR. LEONEL PAVAN (PSDB - SC) - Senador José Jorge, nosso futuro Vice-Presidente da República, concedo-lhe um aparte com muito prazer.

            O Sr. José Jorge (PFL - PE) - Senador Leonel Pavan, quero me solidarizar com V. Exª. Realmente, o Presidente Hugo Chávez está dando uma lição ao Presidente Lula ao encher um jato de pernambucanos para fazer cirurgia de olhos na Venezuela. O governo do Presidente Lula poderia fazer essas cirurgias no País com muito menos recursos. Uma passagem aérea Recife...

            Uma passagem aérea Recife-Caracas custa muito mais do que uma cirurgia de catarata. É necessário que o Governo do Brasil olhe o que está acontecendo na América Latina. O Presidente Lula, que queria ser o grande líder da América Latina, perdeu a liderança para os petrodólares de Hugo Chávez. É preciso que o Brasil preste atenção ao que está acontecendo. O episódio com a Bolívia foi uma lição, e a operação nos olhos é a segunda lição que Hugo Chávez está dando ao Brasil. Meus parabéns a V. Exª.

            O SR. LEONEL PAVAN (PSDB - SC) - Senador José Jorge, agradeço o seu aparte e, a propósito, quero fazer aqui um lembrete. Aliás, há pouco a Senadora Ideli lembrou esse assunto. Num pronunciamento em Santa Catarina, fui me referir ao Senador José Jorge e acabei me referindo aos dois Josés do Senado Federal. Felizmente, temos dois Josés bons, enquanto o PT tem José Genoíno e José Dirceu. Há uma diferença muito grande entre os dois Josés que temos aqui no Senado, do PFL, e os dois Josés do PT. Então eu queria apenas fazer esta lembrança: há uma diferença muito grande.

            A Srª Ideli Salvatti (Bloco/PT - SC) - Foi apenas um problema de memória. V. Exª não conseguia se lembrar, e eu tive de ajudá-lo. Senador José Jorge, pode ter certeza de que houve socorro a tempo para que seu nome não passasse em branco.

            O SR. LEONEL PAVAN (PSDB - SC) - O socorro mostrou que José Jorge é conhecido muito mais pela oposição, tamanha é a cobrança que ele faz para que o Governo seja um governo transparente e atenda os idosos, faça as cirurgias de catarata, atenda os agricultores, atenda o Norte e o Nordeste, trabalhe com lisura, com honestidade, com ética. Tudo isso...

            Tudo isso é o nosso Vice-Presidente José Jorge.

            Concedo um aparte, com muita honra, ao Senador Heráclito Fortes.

            O Sr. Heráclito Fortes (PFL - PI) - Senador Leonel Pavan, não é um aparte, é apenas uma observação. A Senadora Ideli, que quis mostrar ao Brasil um ato falho de V. Exª, terminou mostrando um ato falho dela própria, que é a fixação que tem por V. Exª. Observe os detalhes: esse pequeno deslize foi suficiente para chamar a atenção da Senadora, o que é bom. Fique sabendo que ela o persegue dia e noite, sem parar, é implacável. Muito obrigado.

            O SR. LEONEL PAVAN (PSDB - SC) - Depois daquela bela lembrança, concedo um aparte à Senadora Ideli.

            A Srª Ideli Salvatti (Bloco/PT - SC) - Senador Leonel Pavan, V. Exª é testemunha de que me preocupo com vários aspectos da atuação de V. Exª, mas de maneira construtiva. Hoje V. Exª está muito bonito, a gravata está combinando com a camisa e com o terno - até brincamos com isso! Agora, em termos de perseguição, Senador Leonel Pavan, o que teria a dizer aqui neste plenário, que é testemunha de algo obsessivo? Não sei mais se o problema é psicológico ou psiquiátrico!

            O Sr. José Jorge (PFL - PE) - Isso é paixão!

            A Srª Ideli Salvatti (Bloco/PT - SC) - Senador Leonel Pavan, V. Exª pode ter certeza de que poderá contar comigo todas as vezes em que forem necessárias contribuições para a sua elegância e para sua memória.

            O Sr. Heráclito Fortes (PFL - PI) - Senador Leonel Pavan, para que não seja necessário invocar o art 14, invoco o testemunho de V. Exª. V. Exª sabe que não é fixação, não é psicológico nem psiquiátrico, mas se trata de um bom produto. Quando temos um bom produto para explorar, exploramos. Prova do rendimento - V. Exª é testemunha disso - é que eu fui consagrado em Santa Catarina, que, depois do Piauí, é o Estado que mais e-mails me manda, e o faz religiosamente.

            O Sr. José Jorge (PFL - PE) - É verdade.

            O Sr. Heráclito Fortes (PFL - PI) - Então, eu tenho de continuar explorando o produto. Fui até convidado a disputar o Senado daqui a quatro anos com V.Exª!

            A Srª Ideli Salvatti (Bloco/PT - SC) - Vá lá, vai ser bom.

            O Sr. Heráclito Fortes (PFL - PI) - Acho fantástico isto: o povo de Santa Catarina me tem como herói.

            A Srª Ideli Salvatti (Bloco/PT - SC) - Eu acho que vai ser boa a disputa. Da última vez, inclusive, a disputa foi polarizada com o PFL.

            O SR. LEONEL PAVAN (PSDB - SC) - Eu queria retomar o meu discurso.

            O SR. PRESIDENTE (Romeu Tuma. PFL - SP) - O orador precisa terminar o seu discurso.

            O Sr. Heráclito Fortes (PFL - PI) - Sendo um piauiense, tenho certeza de que Santa Catarina irá me receber tão bem como recebeu V. Exª, que é paulista. Santa Catarina acolhe bem as pessoas.

            O SR. LEONEL PAVAN (PSDB - SC) - Permitam-me, Srs. Senadores, eu estou aqui como um juiz da paz.

            A Srª Ideli Salvatti (Bloco/PT - SC) - Volto a dizer: a disputa anterior já foi com o PFL. Não há problema na repetição.

            O SR. PRESIDENTE (Romeu Tuma. PFL - SP) - Por gentileza, esse debate cruzado não pode ocorrer. Se V. Exª não conceder o aparte, eu vou cortar o microfone.

            O SR. LEONEL PAVAN (PSDB - SC) - Permita-me, Sr. Presidente...

            O SR. PRESIDENTE (Romeu Tuma. PFL - SP) - Senador José Jorge, eu estou aqui pensando o que sentirá, daqui a meio século, aquele que ler os Anais do Senado e vir esse tipo de discussão.

            Continua com a palavra o Senador Leonel Pavan.

            O Sr. Heráclito Fortes (PFL - PI) - Tenho certeza de que este Plenário é democrático.

            O SR. LEONEL PAVAN (PSDB - SC) - Conceda-me por favor, Sr. Presidente, apenas mais dois minutos para encerrar o meu pronunciamento.

            O SR. PRESIDENTE (Romeu Tuma. PFL - SP) - A Presidência concede a V.Exª apenas dois minutos para encerrar o seu pronunciamento.

            O SR. LEONEL PAVAN (PSDB - SC) - Eu queria encerrar o meu pronunciamento abordando o artigo do Sr. Rodrigo Constantino, intitulado “Um Líder Carismático”.

            O artigo mostra que existe uma coincidência muito grande entre o que Adolf Hitler fazia e o que se faz hoje em relação ao atual Governo. Registro o meu repúdio, da mesma forma que existe o repúdio do Secretário de Saúde de Pernambuco e, com certeza, de toda a população brasileira, ao ver que o líder e Presidente da Venezuela, Hugo Chávez, está dando orientações ao Presidente Lula de como governar o Brasil e de como governar os países em geral, já que aqui não são resolvidos os problemas da Saúde, já que aqui não se dá continuidade aos programas sociais.

            Quem não se recorda daquele mutirão de cirurgias de catarata liderado pelo ex-Ministro da Saúde José Serra? Agora Hugo Chávez tem de transportar pessoas idosas do Brasil para fazerem cirurgias na Venezuela! Isso é uma vergonha para nós, brasileiros, que estamos falando em Fome Zero, que estamos falando em projetos sociais, que estamos falando em conquistas, em investimentos para as pessoas menos assistidas. Hugo Chávez, que já de apoderou do projeto do gás, que apresentou um projeto para Lula sair da crise da agricultura, agora está querendo resolver os problemas do País porque o nosso Governo se mostra incapaz de atender os mais necessitados.

            Sr. Presidente, quero deixar registradas nos Anais desta Casa essas matérias, tanto a que trata do transporte de brasileiros para a Venezuela para fazerem cirurgia de catarata, bem como do artigo intitulado: “Um líder Carismático”, por Rodrigo Constantino.

            Agradeço, Sr. Presidente, esta oportunidade. E que fique o nosso repúdio e a nossa vergonha de termos um Brasil tão forte e tão pujante pedindo socorro para Venezuela, e logo para quem, para Hugo Chávez.

 

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            DOCUMENTO A QUE SE REFERE O SR. SENADOR LEONEL PAVAN EM SEU PRONUNCIAMENTO.

            (Inserido nos termos do art. 210, inciso I e § 2º, do Regimento Interno.)

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            Matéria referida:

            “Chávez agora patrocina cirurgias”;

            ”Um Líder Carismático”.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 02/06/2006 - Página 18887