Discurso durante a 75ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Considerações sobre a necessidade de que o Brasil continue promovendo as reformas do Estado, com destaque para as mudanças num modelo tributário que já se revelou distorcido e ineficiente.

Autor
Valmir Amaral (PTB - Partido Trabalhista Brasileiro/DF)
Nome completo: Valmir Antônio Amaral
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
REFORMA TRIBUTARIA.:
  • Considerações sobre a necessidade de que o Brasil continue promovendo as reformas do Estado, com destaque para as mudanças num modelo tributário que já se revelou distorcido e ineficiente.
Publicação
Publicação no DSF de 07/06/2006 - Página 19252
Assunto
Outros > REFORMA TRIBUTARIA.
Indexação
  • ANUNCIO, GOVERNO FEDERAL, ENCAMINHAMENTO, CONGRESSO NACIONAL, PROPOSIÇÃO, REFORMULAÇÃO, ENSINO SUPERIOR, ESPORTE, SAUDE, APREENSÃO, ORADOR, FALTA, PRIORIDADE, REFORMA TRIBUTARIA, DIFICULDADE, TRAMITAÇÃO, COMENTARIO, NOTICIARIO, IMPRENSA, ANALISE, DIVERGENCIA, INTERESSE, ALTERAÇÃO, SISTEMA TRIBUTARIO NACIONAL, ESPECIFICAÇÃO, IMPOSTO SOBRE CIRCULAÇÃO DE MERCADORIAS E SERVIÇOS (ICMS), ARRECADAÇÃO, AMBITO ESTADUAL, CONFLITO, ESTADOS.
  • DETALHAMENTO, ALTERAÇÃO, TRIBUTOS, POLITICA FISCAL, NECESSIDADE, INTEGRAÇÃO, MODELO, REFORMA TRIBUTARIA, PREPARAÇÃO, BRASIL, PERDA, ESTABILIDADE, ECONOMIA INTERNACIONAL.

            o sr. valmir amaral (ptb - df. Sem apanhamento taquigráfico.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, o Brasil padece de muitos males, mas o pior deles é a resistência em combatê-los, em remover os vícios estruturais e preparar-se para o futuro, sem que isso, de alguma forma, implique descurar do presente ou ignorar a necessidade de medidas emergenciais. Nesse caso se enquadra a tão propalada reforma do Estado, que há muitos anos vem-se processando de forma tímida, incompleta e ineficaz.

            Recentemente, o Governo Federal anunciou o encaminhamento, ao Congresso Nacional, de algumas proposituras que considera prioritárias: o projeto de lei da Reforma Universitária; o de incentivo ao esporte amador; e a proposta de regulamentação da venda fracionada de medicamentos. A Reforma Tributária, segundo divulgou a Gazeta Mercantil, em sua edição de 25 do mês passado, é também preocupação governamental, assim como a Lei Geral das Micro e Pequenas Empresas e a reestruturação do Sistema Integrado de Pagamento de Impostos e Contribuições das Microempresas e das Empresas de Pequeno Porte - o Simples.

            Ora, Sr. Presidente, sem desmerecer os projetos listados pelo Governo Federal, parece-me que a Reforma Tributária não vem recebendo o tratamento prioritário que merece. Mais ainda, vejo poucas possibilidades de essa matéria vir a ser promulgada ainda este ano, como se cogitava, para que, ao lado de outras reformas, num contexto de reorganização do Estado, proporcionasse um cenário favorável ao crescimento econômico e à geração de empregos.

            Nas últimas décadas, o sistema tributário brasileiro sofreu tantas reformas que apenas de longe lembra aquele modelo idealizado na reforma de 1966. Apesar de tantas e tamanhas modificações, não conseguiu atender às expectativas dos entes públicos, do empresariado e, muito menos, dos contribuintes. Não se reconhecem, no modelo vigente, as virtudes que dele se pretende, como a saúde financeira do Estado, a preservação de sua capacidade de investimento, a justiça fiscal e a eficácia como instrumento de política econômica. Isso, a despeito de uma carga tributária que oprime o contribuinte e inibe os investimentos, situada em torno de 37% do PIB nacional.

            O Governo Federal, como maior beneficiário na repartição dos recursos arrecadados, não parece se empenhar a fundo para aprovar um novo modelo tributário. Evidentemente, essa responsabilidade deve ser compartilhada com a classe política e com os demais entes públicos, pois há um reconhecimento unânime de que o modelo deve ser modificado, mas as interpretações das diversas correntes e os interesses das diversas bancadas são conflituosos, quando não antagônicos.

            Essas diferentes expectativas justificam o comentário do Correio Braziliense, ao analisar as expectativas de mudanças no sistema tributário:

            “As correntes divergem em quase tudo, mas uma certeza as une: a convicção de que o sistema tributário nacional é complexo, ineficiente e socialmente injusto. É também ele que dificulta os investimentos, a produção, a distribuição da renda e o crescimento do País. Essa constatação é invariavelmente seguida de uma frustração. Há pelo menos dez anos o País discute a reforma tributária sem sair do lugar”.

            Para o periódico, o ICMS, com 27 diferentes legislações e 47 alíquotas do imposto, “é, ao mesmo tempo, o mais complexo e ineficiente item do regime atual e o mais intransponível obstáculo à sua reforma”.

            De fato, o ICMS, por representar com sobras a maior parte da arrecadação estadual, tem dificultado os entendimentos relativos à reforma tributária, e, por ser cobrado na origem, tem ocasionado uma interminável e autofágica guerra fiscal, com efeitos nocivos para todos os entes federados.

            No Governo Lula, como ocorreu também nos governos anteriores, as mudanças têm sido pontuais. Embora tragam benefícios, faltam-lhes organicidade para gerar efeitos mais consistentes, no sentido de aprimorar a justiça fiscal, desonerar de forma significativa os investimentos e reduzir a carga tributária.

            Fatiada a Reforma Tributária, como lembra o Correio Braziliense, o Governo Lula logrou aprovar a prorrogação da CPMF e da DRU. Além disso, reduziu a zero as alíquotas do IPI sobre quase todos os bens de capital para investimento; tornou a Cofins um imposto sobre valor agregado, diminuindo a cobrança em cascata; taxou os produtos importados com a cobrança do PIS e da Cofins, buscando equalizar as condições de competitividade entre os artigos importados e os produtos nacionais; promoveu incentivos à produção e ao investimento, com a chamada MP do Bem; e corrigiu em quase 19%, nos dois últimos anos, a tabela do Imposto de Renda da Pessoa Física.

            O periódico lista, também, o que falta fazer, enfatizando, desde logo, a reforma do ICMS, com a federalização do imposto, a unificação das 27 legislações numa única lei federal e a redução de 47 para cinco alíquotas; falta, ainda, desonerar os gêneros de primeira necessidade, como a cesta básica e os medicamentos; e reduzir a cobrança de impostos sobre intermediação financeira, entre outras medidas reclamadas pelo setor produtivo e pelos contribuintes em geral.

            Desse cenário, Sr. Presidente, pode-se observar que as mudanças adotadas até o momento têm-se revelado benéficas, mas são pontuais e não conferem organicidade ao sistema tributário. Enfim, o modelo continua distorcido e ultrapassado, com benefícios muito reduzidos para uma carga tributária que foi considerada a mais ineficiente entre 117 países analisados numa pesquisa do Fórum Econômico Mundial. Além de tributar com excessivo rigor o setor produtivo e a classe trabalhadora, o modelo vigente escancara suas contradições ao deixar de fora da base contributiva uma economia informal que supera 30% do Produto Interno Bruto.

            As ponderações que trago ao exame deste Plenário coincidem com um período de nervosismo do mercado financeiro, abalado com as ações do crime organizado e, principalmente, com a elevação do dólar. Essa insegurança do mercado financeiro mostra, Srªs e Srs. Senadores, a fragilidade da nossa economia, que nos últimos dois ou três anos vinha se beneficiando de uma conjuntura internacional altamente favorável.

            Em editorial com o título “O Preço da lição incompleta”, o Jornal do Brasil, no último dia 23, considerou a queda nas bolsas de valores e a elevação acentuada do dólar “o prenúncio do que de mais grave poderá ocorrer com a economia brasileira no futuro breve”, para concluir que “o País não fez a lição de casa que deveria ter feito para enfrentar períodos de turbulência futura”.

            Com os sinais de aceleração inflacionária nos Estados Unidos, tornam-se mais preocupantes os indícios de desaquecimento da economia mundial, com conseqüências mais perigosas para os países emergentes. Após ressaltar que o Brasil obteve crescimento medíocre entre 2004 e 2005 (2,7% ao ano, enquanto outras nações emergentes cresceram em média 7% ao ano), o periódico alerta: “Não é demais insistir na tese de que, sem resolver seus problemas fiscais, o Brasil continuará subjugado pelos juros imorais e pela carga tributária asfixiante”.

            O esforço de tornar nosso País mais competitivo e menos vulnerável às conjunturas internacionais passa pelo enxugamento das despesas e pelos ganhos de produtividade. Portanto, Sr. Presidente, é imprescindível que o Brasil continue promovendo as reformas do Estado, com destaque para as mudanças num modelo tributário que já se revelou distorcido e ineficiente, para não sucumbirmos aos cataclismos econômicos e buscarmos nosso lugar no concerto dos países desenvolvidos.

            Muito obrigado!

            Era o que eu tinha a dizer, Sr. Presidente.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 07/06/2006 - Página 19252