Discurso durante a 72ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Posicionamento contrário ao instituto da reeleição. (como Líder)

Autor
Alvaro Dias (PSDB - Partido da Social Democracia Brasileira/PR)
Nome completo: Alvaro Fernandes Dias
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
ELEIÇÕES. POLITICA PARTIDARIA.:
  • Posicionamento contrário ao instituto da reeleição. (como Líder)
Aparteantes
Almeida Lima.
Publicação
Publicação no DSF de 07/06/2006 - Página 19263
Assunto
Outros > ELEIÇÕES. POLITICA PARTIDARIA.
Indexação
  • REITERAÇÃO, OPOSIÇÃO, REELEIÇÃO, DEFESA, ALTERAÇÃO, LEGISLAÇÃO ELEITORAL.
  • DENUNCIA, ATUAÇÃO, PRESIDENTE DA REPUBLICA, ANTECIPAÇÃO, CAMPANHA ELEITORAL, REELEIÇÃO, DESRESPEITO, BRASILEIROS, UTILIZAÇÃO, INFRAESTRUTURA, GOVERNO FEDERAL, COMPROMISSO, POLITICA PARTIDARIA, REUNIÃO, ORESTES QUERCIA, EX GOVERNADOR, ESTADO DE SÃO PAULO (SP), PARTIDO POLITICO, PARTIDO DO MOVIMENTO DEMOCRATICO BRASILEIRO (PMDB), OFERTA, ACORDO, CANDIDATURA, VICE PRESIDENCIA.
  • DENUNCIA, CONTRADIÇÃO, INCOERENCIA, NEGOCIAÇÃO, PARTIDO POLITICO, PARTIDO DOS TRABALHADORES (PT), EX GOVERNADOR, AUTORIDADE, TROCA, ACUSAÇÃO.

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DISCURSO PROFERIDO PELO SR. SENADOR ALVARO DIAS NA SESSÃO DO DIA 1 DE JUNHO, DE 2006, QUE, RETIRADO PARA REVISÃO PELO ORADOR, ORA SE PUBLICA.

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O SR. ALVARO DIAS (PSDB - PR. Como Líder. Com revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, tenho, reiteradamente, desta tribuna, combatido o instituto da reeleição no nosso País, por acreditar que não alcançamos o estágio de amadurecimento político necessário.

E, ontem, tivemos mais um exemplo disso. De forma inusitada, o Presidente Lula transformou o Palácio do Planalto em comitê eleitoral, recebendo o ex-Governador Orestes Quércia para oferecer-lhe inclusive a vice. No Palácio do Planalto, no gabinete do Presidente, em desrespeito não à Oposição, em desrespeito ao País, o Presidente Lula tratava da sua reeleição. Estava em campanha no seu gabinete, transformando o palácio dos despachos em comitê eleitoral da sua campanha.

E o ex-Governador Quércia, conforme publica Josias de Souza em seu blog, disse: “Lula ofereceu-lhe a oportunidade de indicar o vice dele próprio e o de Aloizio Mercadante, candidato ao governo paulista.”

Aliás, ontem, a televisão também apresentava, à saída do Palácio do Planalto, a entrevista do ex-Governador de São Paulo Orestes Quércia fazendo essa afirmativa. Portanto, comprovando que o ato praticado no gabinete do Presidente Lula foi um ato próprio de campanha eleitoral.

É possível usar o Palácio do Planalto em campanha? É admissível que se utilize o horário de despacho no gabinete presidencial para tratar da campanha política?

Agora, Sr. Presidente, o que desencanta na política, o que desvaloriza o político é, sem dúvida, a contradição, a incoerência. O Partido dos Trabalhadores sempre se referiu ao ex-Governador Orestes Quércia e o qualificou utilizando expressões, no mínimo, impublicáveis ou pouco condizentes com esta tribuna do Senado Federal.

Numa entrevista concedida à Agência Nordeste, em novembro do ano passado, o ex-Governador Quércia comentava o tratamento recebido do PT e os comentários sobre a sua atuação como homem público.

Olhem o que diz Orestes Quércia: “O PT é uma grande decepção para todo mundo em matéria de corrupção, de assalto aos cofres públicos. Se eles (os petistas), que sempre foram meus adversários aqui em São Paulo, tivessem conseguido provar na justiça 1% do que disseram no Brasil, eu teria sido enforcado em praça pública. Foi tanta guerra contra mim, depois que deixei o Governo de São Paulo, sem nenhuma razão de ser. Na época que fui Governador, o Gushiken (Luiz Gushiken, assessor de Lula) entrava todos os dias com uma acusação na justiça contra mim. Ele, aliás, tinha um escritório especializado nisso - e o José Dirceu também.” - palavras de Orestes Quércia.

O Sr. Almeida Lima (PMDB - SE) - Permite-me V. Exª um aparte Senador Alvaro Dias?

O SR. ALVARO DIAS (PSDB - PR) - Vou conceder o aparte a V. Exª daqui a pouco. Só vou trazer outros exemplos da relação Quércia/PT.

Na campanha presidencial de 1994, quando ambos disputaram a Presidência, a troca de ofensas entre o Lula e o Quércia aconteceu nos seguintes termos: Quércia disse que “o candidato da direita é Lula com seu partido fascista”, ao que o petista respondeu dizendo que Quércia usava “métodos semelhantes aos da Gestapo”.

Ao oferecer a tréplica, Orestes Quércia disse: “...Lula pertence a um partido que durante o dia finge defender os trabalhadores e, à noite, bebe uísque com a burguesia”. E arrematou dizendo: “Lula nunca dirigiu nem um carrinho de pipoca”.

A resposta de Lula, Senador Almeida Lima: “...é verdade que nunca dirigi um carrinho de pipoca, mas também nunca roubei a pipoca”.

Um debate em nível elevado.

Disse Lula: “Eu fiquei satisfeito com a conversa, uma conversa boa. Eu conheço o Quércia desde 1974 e disse textualmente para ele que o PT trabalha fortemente com a idéia de que haja uma aliança formal entre o PT e o PMDB” - esse é o Presidente Lula definindo o encontro de ontem com Orestes Quércia.

Portanto esqueçam o que disseram antes. É preciso que ouçam apenas o que estão dizendo agora. Porque, agora, o que interessa é o eleitor, o que interessa é o voto, não importa coerência, compromissos, não importa ética, nada vale nesta altura dos acontecimentos, a palavra não tem valor nenhum, que se desvalorize, de forma definitiva, a palavra dos políticos. O que importa, agora, é o interesse eleitoreiro.

Senador Almeida Lima, concedo o aparte a V. Exª

O Sr. Almeida Lima (PMDB - SE) - Nobre Senador Alvaro Dias, o aparte é para estender a V. Exª os meus parabéns. V. Exª faz um brilhante pronunciamento, importante para o momento político que vivemos. V. Exª resgata a História e é importante que assim se faça, exatamente para dar uma lição a essas pessoas que, hoje, com muita facilidade, esquecem as agressões mútuas que trocaram no passado recente, de forma vergonhosa, buscando apenas holofotes e atingir o eleitorado brasileiro. Lamento essa postura. O que vi, ontem, na televisão, tenha certeza que, para mim, foi repugnante, sobretudo porque integro os quadros do PMDB. Sinceramente, não é este PMDB que integro e que defendo. Aproveito a oportunidade para dizer também que lamento as palavras que ouvi, há poucos instantes, do Senador Eduardo Suplicy - e lamento também a ausência do Senador neste exato momento - ao sugerir o nome do nobre Senador Pedro Simon como companheiro de chapa do Presidente Lula. Não tenho procuração para falar em nome de Pedro Simon, falo em meu nome, falo por mim, mas que isso, sem dúvida alguma, no meu modo de ver, representa uma agressão à história e ao comportamento de Pedro Simon, não tenho a menor dúvida. E tenho certeza de que S. Exª não merece tanto e que o Senador Eduardo Suplicy não deveria ter feito sugestão tão equivocada, tão errada, tão inoportuna como esta. Muito obrigado.

O SR. ALVARO DIAS (PSDB - PR) - Concordo com V. Exª, Senador Almeida Lima.

E concluo, Sr. Presidente. Não me cabe dizer desta tribuna quem tem razão em relação às acusações. Têm razão o PT e o Presidente Lula ao atacarem de forma frontal Orestes Quércia num passado recente? Ou tem razão Orestes Quércia ao acusar, como fizeram o PT e o Presidente Lula nesse mesmo passado recente?

O que imagino é que os brasileiros estarão a dizer: “ambos estão com a razão”.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 07/06/2006 - Página 19263