Discurso durante a 77ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Repúdio à tese defendida pela ala governista de que não há nomes fortes para concorrer à Presidência, pelo PMDB.

Autor
Mão Santa (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/PI)
Nome completo: Francisco de Assis de Moraes Souza
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
ELEIÇÕES. MANIFESTAÇÃO COLETIVA. POLITICA PARTIDARIA.:
  • Repúdio à tese defendida pela ala governista de que não há nomes fortes para concorrer à Presidência, pelo PMDB.
Publicação
Publicação no DSF de 09/06/2006 - Página 19679
Assunto
Outros > ELEIÇÕES. MANIFESTAÇÃO COLETIVA. POLITICA PARTIDARIA.
Indexação
  • REGISTRO, HISTORIA, BRASIL, EVOLUÇÃO, DEMOCRACIA, IMPORTANCIA, IDEOLOGIA, POLITICA PARTIDARIA, COMENTARIO, PROXIMIDADE, ELEIÇÃO, POSSIBILIDADE, INSUCESSO, REELEIÇÃO, CAMPANHA ELEITORAL, ESCLARECIMENTOS, POVO.
  • COMENTARIO, DECLARAÇÃO, SACERDOTE, IGREJA CATOLICA, FALTA, AUTORIDADE, PRESIDENTE, CAMARA DOS DEPUTADOS, CONGRESSISTA, CONDENAÇÃO, SEM-TERRA, VIOLENCIA, MANIFESTAÇÃO COLETIVA.
  • PROTESTO, GRUPO, PARTIDO POLITICO, PARTIDO DO MOVIMENTO DEMOCRATICO BRASILEIRO (PMDB), APOIO, REELEIÇÃO, PRESIDENTE DA REPUBLICA, OBJETIVO, OBTENÇÃO, CARGO PUBLICO, DEFESA, ORADOR, APRESENTAÇÃO, CANDIDATURA, VALORIZAÇÃO, DEMOCRACIA, SUGESTÃO, PEDRO SIMON, CANDIDATO.

O SR. MÃO SANTA (PMDB - PI. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, brasileiras e brasileiros que nos assistem pelo Sistema de Comunicação do Senado; Professor Cristovam Buarque, atentai bem! Vivemos um dos momentos mais difíceis da nossa história democrática. Atentai bem, Professor Cristovam Buarque! Esse negócio de democracia é do povo. Democracia é coisa do povo. O dono da democracia é o povo. O Professor Cristovam Buarque ensinou muito por aí, Presidente Marcos Guerra: etimologicamente, governo do povo. E isso tudo começou - e o mundo aceita -, Senadora Roseana Sarney, quando um homem disse: o homem é um animal político. Aristóteles disse, e ninguém contestou, Marcos Guerra. E esse animal político buscou formas de governos. Muitas delas existiram na história do mundo. A forma que prevaleceu pregava que os reis seriam um deus e, misticamente, deus seria um rei no céu. E com isso governaram a maior parte da história do mundo. Mas o povo não estava satisfeito. Estava bom para quem estava na corte, no Palácio. O povo estava sofrido, José Jorge, amargurado, decepcionado, mas o povo é bravo. Enganam-se àqueles que desprezam o povo. O povo, enfurecido, foi às ruas e gritou: liberdade, igualdade e fraternidade!

Caíram, então, todos os reis do mundo! O nosso Brasil passou cem anos para ouvir esse grito, mas acabaram caindo. Foram cem anos para caírem os reis daqui, José Jorge.

E nós viemos. Olhai a vergonha, Marcos! Descobriram este Brasil - era muito chão e muita terra. Os portugueses diziam: oh, quintal grande! E mandaram para cá, Roseana, muitos bandidos de Portugal, ricos e condenados. Eram amigos do rei e foram para aquele quintal, que era o Brasil.

Capitania hereditária. Havia pessoas boas, mas havia as que não prestavam, ricos - como sempre, o rico, por cima. Passava as penas, vai para o Brasil.

Atentai bem, José Jorge, você, que quer ser Presidente da República! Aquele pernambucano, aquele que veio aqui e sujou o nome Maranhão, o Líder, Roseana, é lá de Pernambuco.

Então, capitania hereditária. Depois, não deu certo. Cada um fazia o que queria. Muitos não tinham formação moral. Não deu certo. Assim, os portugueses unidade comando e unidade direção, governo-geral. Todos nós estudamos isso. Tomé de Souza, Duarte da Costa... Depois, vieram eles mesmos, os imperadores. Ô, Roseana, só houve uma mulher. Ela governou por instantes, mas fez a mais bela página, libertando os escravos. Todos foram homens, um atrás do outro. Capitania Hereditária, Governador-Geral, imperadores. Roseana, entramos nesta República.

Dom João VI, uma vez, disse: “Filho, coloque essa coroa, antes de um aventureiro...” O aventureiro era Simón Bolívar: fazer da República, derrubando reis. Quase ele entra aqui.

Atentai bem, Marcos! Estamos nesta República. Símbolo dela: Rui Barbosa. Vêm um militar, outro militar, quiseram colocar o terceiro militar, Roseana, e convidaram-no para votar o Ministério da Fazenda, a chave do cofre. Todos são fortes. Vejam o Palocci como era forte. Está com a chave do cofre... Aí, Rui disse: “Não troco a trouxa de minhas convicções pelo Ministério”. Agora, os traquinos estão trocando as convicções por carguinhos... Ninguém tem mais convicção democrática.

Professor Cristovam, desligue esse telefone, porque o último que você recebeu o demitiu. Atentai bem! Ligue-se com o povo. O povo pode fazê-lo Presidente da República, Cristovam. Está nada decidido, não.

Não está nada decidido, não. Se você não ganhar do Lulinha, vai ganhar de quem? Se você derrotar com sabedoria o Jamanta, poderá ser o Presidente. Fique atento. Ligue-se ao povo. O povo é que é a força.

Está aí o resultado: o Lula só tem 40%. Não precisa saber muito, não; até ele entende disso. Eu nunca vi, com 40%, ganhar eleição.

A Roseana sabe: eu comecei uma eleição no Piauí com 4% - o outro tinha 67%. O povo é sábio, o povo é atento, o povo é quem decide. Não vá abdicar, não. O povo não está errado, não. Estamos errados nós, os políticos.

Está aqui um padre, e minha mãe me ensinou a nunca falar de padre. Eu sou Francisco, da Igreja católica. Eu não vou comentar se ele está bom. A minha mãe está no céu, era Terceira Franciscana. Não fale de padre!

Roseana, este é um Congresso hipócrita. O Senador Tasso, que é do São Francisco, é cristão. Aprendemos lá a não falar de padre. É um padre que está dizendo isto aqui, um bispo: Dom Tomás Balduíno - com um nome desse, eu não sei se ele é bom, mas o nome é de santo. “Congressistas não tem autoridade moral para condenar sem-terra que invadiram a Câmara”. Eu não falo de padre, estou só lendo. Se quiser, Senador Tasso... A mamãe... Este é um Congresso hipócrita, sem autoridade moral.

Ô, comunistinha Presidente da Câmara, crie vergonha! Olhe o que o padre está dizendo. Você não bota polícia.

E quando houve uma convenção do PMDB aqui - olha, Roseana! -, havia até cavalaria! Eu nunca vi tanto soldado numa convenção do PMDB. O padre é que está dizendo aqui: “Esse é um Congresso hipócrita e sem autoridade moral. São pessoas não dignas do cargo que ocupam. Insisto: não têm autoridade para condenar os pobres.” Isso é para o comunistinha da Câmara. Vejam onde ele nos meteu.

Olha, eu conheço isso, Tasso Jereissatti. Meu caminho aqui foi longo e sinuoso. Tasso. Petrônio Portella. O Piauí é para ensinar, sou discípulo dele. No meu gabinete só há dois homens: eu, tomando a bênção ao Papa - o que está no céu! - e o Petrônio. Eu era novinho. Tasso, eu era muito novo, e o Petrônio Portella, Ministro da Justiça. Aprenda, Roseana. Petrônio Portella - atentai bem! - pediu a um amigo um carro. Era do tipo Galaxie, ditador da moda. Eu ia ao lado de Petrônio, que era Ministro da Justiça, com o Dr. Lauro Corrêa e um irmão meu, deputado federal. Íamos o Piauí, Parnaíba, Petrônio, e de repente - atentai bem! Aprenda, Renan; aprenda, comunista da Câmara! - Petrônio olhou e disse: “Mão Santa, Mão Santa, pára, pára, pára!” Eu disse: “Olha, o que é isso? Está passando mal?” Ele respondeu: “Tire esse negócio de batedor. A autoridade é moral.” Esse povo entrou aqui porque vocês não têm moral! Eu fui Governador de Estado e enfrentei tudo facilmente. Não havia revolta de polícia.

Eu fui lá falar pelo alto-falante. A autoridade é moral! Eles fizeram isso aqui porque, como o padre disse, são hipócritas, são sem moral!

Eu vi Petrônio dirigir isso aqui. Ele enfrentava era os canhões. Fecharam isso aqui, e ele disse: “É o dia mais triste da minha vida”. Só essa palavra e os militares reabriram. Está faltando aqui moral, vergonha, dignidade, e digo isso entristecido.

O meu Partido, o maior Partido, o PMDB, Tasso, capitanias hereditárias. Esses traquinas querem fazer do PMDB capitanias hereditárias: cada um com um pouquinho ali e ali. Os portugueses viram que isso não deu certo, traquinas ignorantes! Que vergonha eu sinto! Que vergonha desse PMDB! Ulysses, encantado no fundo do mar, estaria envergonhado. Teotônio, com câncer, moribundo, pregando, com coragem. Tancredo, que se imolou - era uma cirurgia boba, de diverticulite, como dezenas que operei -, retardou para ver a transição. Juscelino, que foi cassado, ficava bem aí onde está Cristovam Buarque. E agora o nosso Partido grandioso... Ulysses candidatou-se contra Geisel, e agora não temos candidato a Presidente da República porque não há nomes? Que o raio o parta! Um partido que tem um Pedro Simon, vamos e venhamos! Que vergonha esse Partido hoje, hein? Eu devia ter voado quando o Senador Tasso Jereissati me convidou para ir para os Tucanos. O Partido dos pilantras se reúne e diz: “Não temos candidato. Vamos ser o rabo do PT, o rabo da corrupção”. E Ulysses, o que disse, Senador José Jorge? Ulysses disse: “Ouça a voz rouca das ruas”. É o povo. O povo está lamentando. Ulysses disse - atentai bem! -, Senador Marco Maciel: “A corrupção é o cupim que destrói a democracia”. Nunca vi tanto cupim, Senador Tasso Jereissati. A corrupção é o cupim que destrói a democracia, e lá está o PMDB.

            Esse Presidente que temos, Michel Temer, é extraordinário. Conheço todos os Presidentes; nenhum é melhor do que Michel Temer, ninguém é mais firme, mais decente, mais sábio e correto. E ele vai levando. Mas aí tem: estão trocando e vendendo nosso PMDB, que é do povo, não é deles, pelos “carguinhos”. E por que estou aqui dizendo isso, Senador Tasso Jereissati? Porque o PMDB é grande. Ele me possibilitou, ele me deu a legenda, e estou aqui. Foi assim que veio Ulysses, Tancredo, Teotônio, Juscelino, e quero que outros venham. Tirar o PMDB dessas eleições é como tirar o Brasil da Copa do Mundo, Senador Tasso Jereissati. O povo não participa, fica sem experiência. O povo é que é soberano e que decide se o PMDB deve ter candidato. E os companheiros do PMDB que querem fazer este País voltar às capitanias hereditárias devem ter mais vergonha. É uma vergonha.

José Jorge, Ulysses se candidatou contra Geisel. Foram quatrocentos votos de Geisel, setenta de Ulysses, dezesseis autênticos,...

(Interrupção do som)

O SR. MÃO SANTA (PMDB - PI) - ...porque achavam que ele não devia vir um dia. Eu acho que devia.

Petrônio Portella defendia Geisel. Outra bela peça que está na história democrática.

Quero dizer a V. Exª que tem os olhos da cor da Bandeira do Brasil, verde esperança, Senador Tasso Jereissati, que essa Ordem e Progresso já era. Pensei que o PT ia colocar uma bandeira vermelha, Tasso, mas ele foi na branquinha lá, Ordem e Progresso. Colocou baderna. Baderna!

Então essas são as nossas palavras. E vamos salvar a democracia, que é do povo. Foi o povo na rua. E vai haver um grande juiz nesse jogo democrático. Esse Marco Aurélio é firme, é inteligente, é competente e deu um impacto para dar uma esperança de que o Brasil ainda tem algum comando, alguma decência, alguma dignidade.

            Então, convoco aqui...

(Interrupção do som)

O SR. MÃO SANTA (PMDB - PI) - Sessenta por cento dos brasileiros não querem Lula. John Fitzgerald Kennedy ganhou de Eisenhower oito anos depois da guerra. Empurrava Nixon. Ele colocou o retratinho dele e uma palavra: Liderança. Pode ser o seu retrato.

Não sei se as mulheres vão achá-lo tão bonito como Kennedy, mas V. Exª tem muito saber e pode ganhar esses 60%. E o meu Partido com Pedro Simon. Eu disse, Tasso, que se V. Exª tivesse sido candidato a Presidente, eu tinha criado asas e saído do PMDB para abraçar a sua candidatura.

            Estamos aqui para dizer que o PMDB está sob um comando. Napoleão era francês. O francês é tímido - até para tomar banho dá trabalho -, mas, com um comandante grande, ele vale por cem mil. Nós temos um velho comandante, Michel Temer, que defende candidatura própria.

(Interrupção do som.)

O SR. MÃO SANTA (PMDB - PI) - E o nome do Partido é o nome das virtudes: Pedro Simon. Então, vamos atrás. O povo já decidiu. E eu disse, aqui da tribuna, que três coisas a gente só faz uma vez na vida: nascer, morrer e votar no PT.

Vamos salvar o que a democracia nos oferece: a alternância do Poder. Que cada um volte a olhar a bandeira do País e que nela possamos ler: Ordem e Progresso, indo à luta, indo às urnas, com o PMDB e todos os partidos, salvaguardando a alternância e a vitória do povo do Brasil.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 09/06/2006 - Página 19679