Discurso durante a 77ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Homenagem de pesar pelo falecimento do jornalista e radialista Fiori Giglioti.

Autor
Eduardo Suplicy (PT - Partido dos Trabalhadores/SP)
Nome completo: Eduardo Matarazzo Suplicy
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM.:
  • Homenagem de pesar pelo falecimento do jornalista e radialista Fiori Giglioti.
Publicação
Publicação no DSF de 09/06/2006 - Página 19827
Assunto
Outros > HOMENAGEM.
Indexação
  • HOMENAGEM POSTUMA, RADIALISTA, JORNALISTA, ESTADO DE SÃO PAULO (SP), ESPECIALIZAÇÃO, COBERTURA, ESPORTE, FUTEBOL, ELOGIO, VIDA PUBLICA.

O SR. EDUARDO SUPLICY (Bloco/PT - SP. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Senador Renan Calheiros, quero agradecer ao Senador Magno Malta.

Srªs e Srs. Senadores, fechem as cortinas! Silêncio no estádio! Fiori Giglioti morreu. Neste instante, estão os seus amigos, familiares e tantas pessoas que o admiravam no cemitério do Morumbi, acompanhando os seus momentos finais, o seu funeral.

O poeta da bola, o homem que criou a linguagem do futebol que conhecemos; que “inchou” a nossa paixão pelo futebol; que disse que éramos os melhores do mundo e nos fez acreditar nisso, porque também acreditava; que incentivou e formou os locutores das rádios brasileiras nos deixou, nesta madrugada, aos 77 anos.

Ele tinha nome de flor: “Fiore Giglioti”. Em italiano quer dizer “flor-lírio”, ou “flor de Liz”. Nasceu em Barra Bonita, em São Paulo, lugar onde o rio Tietê é limpo e lindo, e os canaviais deixam no ar aquele cheiro doce de açúcar.

Tratava os companheiros de trabalho com afeto e qualquer repórter ou narrador queria ficar ao seu lado. Exigia que a profissão fosse respeitada, brigava por condições de trabalho, defendia seus companheiros.

Cresceu e fez todo mundo crescer.

E era também com muito afeto que via uma partida de futebol. Quem é que não se lembra da famosa “entrada” do Fiore? Era assim:

“Caríssimos senhores e senhoras ouvintes. Carinhosamente iniciamos mais uma transmissão de uma partida de futebol. Aaaabrem-se as cortinas! O espetáculo já vai começar!”

Fiore Giglioti é conhecido também por ter sido um dos jornalistas e radialistas que mais souberam usar o rádio, considerado o mais criativo meio de comunicação de massa.

            É que o rádio depende da imaginação de cada ouvinte. Uma pessoa num só lugar fala para milhões. Cada uma delas visualiza a narração. É um grande exercício que mistura a nossa parte racional e emocional. Por isso, é chamado de “meio quente”.

Fiore Giglioti esquentou o rádio mais ainda. São frases suas:

“O tempo passa!”... - quando os jogadores enrolavam em campo.

“O tempo tenta passar, mas não passa” - quando enrolavam mais ainda.

“Agüenta, coração!” - ele gritava para a preparação de cobranças de faltas ou pênaltis.

“Gol! Gol. Gooool! Uma beleeeeeza de gol!” - e dizia o nome do jogador várias vezes: “Pelé, Pelé”.

“É fogo, torcida brasileira!” - quando alguém perdia uma oportunidade, ou quando ficava na expectativa de mudar o placar.

“O crepúsculo do jogo” - nos minutos finais da partida.

Fiore Giglioti foi o jornalista que mais cobriu Copas do Mundo: foram 10. Não se sabe de outro igual no planeta. Era tão querido, tão amado, que foi campeão em outra coisa: recebeu 162 títulos de cidadania.

Alegre, foi o inspirador da Rádio Camanducaia, um programa de humor sobre futebol que contagiava qualquer paulista.

Começou a trabalhar, ainda muito jovem, na Rádio Bandeirantes - “desde o tempo da rua Paula Souza”, gostava de esclarecer. Depois, passou para a Tupi. E brincava com isso: “dos baixos do Tamanduateí para os altos do Sumaré”.

Em seguida, foi para a Rádio Panamericana, que era especializada em esportes - hoje é a nossa querida Jovem Pan. Até o ano passado trabalhou na Rádio Record, cobrindo os jogos, comentando a partida, inventando um jeito de falar muito rápido para que o torcedor e ouvinte, em casa, imaginasse o grande espetáculo que ele gostava de anunciar. Desde abril último, estava trabalhando na Rádio Capital.

Além do futebol, dizia que tinha mais três paixões: Adelaide, a mulher; Marcos e Marcelo, os filhos. “E tenho meus filhotes amados, os cães, que são meus melhores amigos”. Falava em todos o tempo todo: na família, nos animais e na bola em campo. Era assim o alegre Fiore Giglioti, que pregava a bondade como verdadeira ideologia.

Encontrei Fiore Giglioti em algumas viagens. Em certa ocasião, transmiti-lhe o quanto, desde menino, aprendi a admirá-lo, devido ao seu trabalho como jornalista e locutor esportivo. Como todos os brasileiros, eu vibrava com Fiore Giglioti na Rádio Bandeirantes, onde ele trabalhou por 40 anos, e nas demais rádios em que trabalhou, quando tão bem narrava os jogos de futebol de meus times favoritos, o Santos Futebol Clube e a Seleção Brasileira.

Na semana que vem, Senador Magno Malta, começa a Copa do Mundo e Fiore Giglioti não estará nem na Alemanha nem em nossa casa. É que estará ocupado, no céu, ajudando o Brasil a trazer a Copa pela sexta vez.

Muito obrigado.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 09/06/2006 - Página 19827