Discurso durante a 79ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

Comentários sobre matéria intitulada "Piauí mistura o público e o privado", publicada no Correio Braziliense, que trata de denúncia contra o Coordenador de Comunicação do Estado do Piauí.

Autor
Mão Santa (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/PI)
Nome completo: Francisco de Assis de Moraes Souza
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
POLITICA PARTIDARIA. ESTADO DO PIAUI (PI), GOVERNO ESTADUAL.:
  • Comentários sobre matéria intitulada "Piauí mistura o público e o privado", publicada no Correio Braziliense, que trata de denúncia contra o Coordenador de Comunicação do Estado do Piauí.
Aparteantes
Leonel Pavan.
Publicação
Publicação no DSF de 13/06/2006 - Página 19978
Assunto
Outros > POLITICA PARTIDARIA. ESTADO DO PIAUI (PI), GOVERNO ESTADUAL.
Indexação
  • ANALISE, POLITICA NACIONAL, QUESTIONAMENTO, LOBBY, IMPEDIMENTO, CANDIDATURA, PARTIDO POLITICO, PARTIDO DO MOVIMENTO DEMOCRATICO BRASILEIRO (PMDB), PRESIDENCIA DA REPUBLICA.
  • COMENTARIO, ARTIGO DE IMPRENSA, JORNAL, CORREIO BRAZILIENSE, DISTRITO FEDERAL (DF), DENUNCIA, CORRUPÇÃO, GOVERNO ESTADUAL, ESTADO DO PIAUI (PI), ELOGIO, PROCURADOR, APRESENTAÇÃO, QUEIXA, CRIME.

           O SR. MÃO SANTA (PMDB - PI. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador) - Sr. Presidente Alvaro Dias, Srªs e Srs. Senadores, Senador Suassuna, brasileiros e brasileiras, atentai bem, nem tudo está perdido.

           Senador Marco Maciel, 180 anos de Senado! Isto aqui não se reunia nunca, jamais às segundas e sextas-feiras. Esta Casa salvou a pátria de uma ditadura cubana. Daqui eu disse que havia mesada.

           Suassuna, está no jornal em que Cláudio Humberto escreve. O mais independente e competente jornalista disse: “Mão Santa disse que há mesada.” Fui o primeiro a dizer isso. Cláudio Humberto, pode ver isso lá. Eu quero até uma cópia. Isso foi apelidado de mensalão, mas eu já havia denunciado. Daqui chamamos José Dirceu de Zé Maligno. Agora é fácil, mas foi ele que pensou.

           Senador Suassuna, quando daquela reforma da Previdência, reforma que tirava direito dos velhinhos aposentados e proibiu-se haver aposentado trabalhador neste País. Paim sabe que o pobre começa a trabalhar com dez anos de idade. Ô Suassuna, de dez anos para 65 anos são 55 anos. Sou mecânico da máquina humana. A máquina de ferro não dura dez anos, uma automóvel, como a máquina humana, Senador Alvaro Dias, vai agüentar 55 anos, Paim? Não agüenta: está estropiado da coluna, perdeu o dedo. Motivado por isso, eu disse daqui uma coisa que se faz uma vez na vida: nascer, morrer e votar no PT.

           Por que esta Casa funciona às segundas e sextas-feiras? Sensibilidade deste homem do PT, Paulo Paim, quando Vice-Presidente. Aliás, o destino colocou o melhor Vice-Presidente da história da nossa República, Marco Maciel, e o melhor Vice-Presidente em 180 anos de Senado, Paim. Ele, com a sua formação - vamos dizer - nas cadeiras do Parlamento, pós-graduado em Parlamento, a sua aquiescência lhe permitia, e aqui chegavam quatro - Alvaro Dias, você vai entrar na história, mas é como a novela da Globo, aquela em que aparece o Jamanta, bondoso: Alvaro Dias, Efraim Morais, Arthur Virgílio, Antero Paes, Mão Santa; e a aquiescência de Paim permitia a voz do Parlamento, a verdade do Parlamento, e abríamos a sessão de segunda-feira e de sexta-feira, que nunca havia. E foi aumentando. Heloísa Helena estava que nem Joana d’Arc, na fogueira - aliás, estamos no mês da fogueira, de Santo Antônio e São João. O Zé Dirceu contratou uma fogueira. E nós lá, com a aquiescência de Paim, o grande Vice-Presidente, atiramos. Então, foi aumentando. Quatro meses depois, Suassuna, chega esse bravo Alvaro Dias. Não havia, nunca houve sessão segunda-feira e sexta-feira. Os Anais mostram que eu presidi muito mais de cem, porque eu era o mais velho. Aí vem Pedro Simon, Alvaro Dias, com a camisa dez. Assim, começamos a reagir.

           A Câmara está ali. Os sem-terra deram uns ensinamentos neles. Falta de autoridade moral do “comunistinha” que está lá.

           Senador Suassuna, sou filhote político de Petrônio Portella. No meu gabinete, só há dois homens: o Papa, abençoando-me, e eu abraçado, menino, com Petrônio.

           Eu vi - ó “comunistinha”, aprenda com o Piauí - o dia em que se fechou este Congresso. Ô Marco Maciel, Geisel, reforma do Judiciário, lembra-se? Eu estava do lado de Petrônio. A imprensa pediu: diga alguma coisa. Ele só disse o seguinte, Leonel Pavan - ó “comunistinha”, olhe o que é moral: “Este é o dia mais triste da minha vida”.

           Os canhões voltaram, e Geisel mandou abrir. Marco Maciel, Petrônio, Ministro da Justiça, para recepcioná-lo em Parnaíba, fui buscar o melhor carro de um amigo empresário, ditador da moda. O Ministro Petrônio chegou ao Piauí, Parnaíba, a minha serra - ô Leonel Pavan, de Camboriú, olhe a praia!

           Aí meu irmão, que hoje é Deputado Federal, Lauro Correa, o Presidente e Petrônio. Um cortejo para esperar aquele Ministro piauiense. Ô Marco Maciel, atentai bem. Lá no meio, quando vejo, Petrônio grita: “Mão Santa, pára, pára, pára”. Eu disse: “Por que, Ministro? V. Exª está passando mal”. Disse ele: “Tire esses batedores daí”. Autoridade de um Ministro tem de ser moral. Vem cá, Suassuna, esses Ministros aí têm moral? Autoridade é moral. Eu o vi fazer isso no Rio de Janeiro. Está faltando moral neste Congresso. Eu governei o Piauí. Havia sem-terra, havia tudo, mas... Essa é a verdade. Mas por quê?

           Ô Suassuna, nosso líder está encantado no fundo do mar. V. Exª está nos liderando, mas vivemos de passado, de história. V. Exª está aí, Suassuna, não é porque é grande, não. Alberto Silva, que grande! Mão Santa há dois do Piauí. PMDB é que é grande. O povo acreditou na história, na nossa história. Ulysses, encantado no fundo do mar; Teotônio, moribundo com câncer, pregando; o nosso Tancredo, que se imolou, retardou a cirurgia para fazer a transição; Juscelino, cassado, humilhado. Então, o povo acreditou nessa história! Isso é que nos trouxe o Partido. O Partido é que é grande! Os militantes, o povo que acreditou na história e vota no PMDB! Atentai bem: os delegados da convenção, está indo um monte, uma leva; o Marcos Valério está sendo esperado lá no Piauí com uma agência do Banco Rural para nos tomar uma convenção. Mas, ô Suassuna, Ulysses foi que liderou aqui, que se candidatou contra a ditadura, contra Geisel, e nem a ditadura impediu o PMDB de ter candidato. É muita ignomínia, é muita ignorância, é muita audácia do “Jamanta” da República do PT querer que o PMDB não participe da democracia!

           Atentai bem, Suassuna. Ulysses disse: “a corrupção é o cupim que destrói a democracia”. Senador Marco Maciel, nunca vi tanto “cupim”. “A corrupção é o cupim que destrói a democracia”, e aqui se alastra o “cupim”. Lá no meu Piauí - quero dizer-lhe -, olhe a vergonha: é tudo PT. Está aqui no Correio Braziliense. O jornal é bom. Antigamente eu lia os do Rio e de São Paulo. Mas esse jornal é bom. Olhe aqui a safadeza: “O Piauí mistura o público com o privado”. O Secretário de Comunicação inventou; tudo é quadrilha. O Procurador-Geral botou quarenta. Lá deve haver até mais. Só não cita o chefe, o Procurador-Geral. O Jamanta não é o que a gente vê. O homem é tão bom! Não é o meu Jamanta da “Belíssima”.

           Atentai bem: público e privado. Norberto Bobbio - a gente tem de estudar, Lulinha! O Lula diz que cansa ler uma página de livro; é melhor fazer uma hora de esteira. Haja besteira! Segundo Norberto Bobbio, que é o pai da teoria política, do país do Renascimento, Senador vitalício, duas desgraças acabam com a democracia...

(Interrupção do som.)

           O Sr. Leonel Pavan (PSDB - SC) - V. Exª me concede um aparte?

           O SR. MÃO SANTA (PMDB - PI) - Concedo.

           E ficamos fortes, porque o Senador Alvaro Dias foi o quinto homem que chegou - ele estava de licença - e aí deu força para esta Oposição. Quero agradecer.

           Mas atentai bem. Nós estamos nessa democracia.

           Ouço o aparte de V. Exª, Senador Leonel Pavan.

           O Sr. Leonel Pavan (PSDB - SC) - Senador Mão Santa, V. Exª sempre traz fatos novos para a sociedade brasileira; não para nós. V. Exª está sempre mostrando falhas do Governo e alguns novos envolvimentos de pessoas ligadas ao Governo em corrupção. Senador Mão Santa, todos os dias, 80% dos que estão no Senado usam da tribuna para apontar falhas do Governo, para apontar o envolvimento de pessoas do Governo em corrupção. Todos os dias, as revistas IstoÉ, Veja, Exame e outras, da mesma forma, apontam falhas, apontam corrupção. Os jornais, grandes, médios e pequenos, bem como o rádio e a televisão, todos os dias, anunciam problemas que, sem dúvida, empobrecem a política nacional. O Presidente Lula debocha, dizendo: “Podem falar do mensalão! Podem falar ‘isso ou aquilo!’ Que se unam todos e venham!” Ora, isso é abusar. Sua Excelência governa o Brasil como se governasse a sua própria Casa. Não é assim. Sua Excelência governa os nossos bens, os bens de toda a população brasileira, os Municípios, os Estados, a Nação por inteiro. No entanto, debocha dizendo que não há problema, que podem falar que houve corrupção nas estatais, nos Ministérios, que houve envolvimento de pessoas do Governo, que desviaram recursos, que houve caixa dois. Sua Excelência apenas não liga. V. Exª não crê que, talvez, a sociedade brasileira esteja mais preocupada com outros temas do que com a questão nacional? Todos os dias, usamos a tribuna aqui para alertar sobre o atual momento do nosso País, a imprensa também o faz, mas o Presidente da República ignora todos os fatos negativos, considera-se o dono da bola. Ele diz: “eu sou o bom, eu entendo!”, “podem dizer que estou envolvido, não tenho medo”. É claro que tudo isso não é orientação que recebe de seus assessores. Que isso é, realmente, um deboche com a sociedade brasileira, é inegável.

           O SR. MÃO SANTA (PMDB - PI) - Eu queria apenas complementar dizendo que o povo brasileiro é de Deus, é de Jesus, e está escrito: sob os céus, há um tempo determinado para cada propósito. O tempo agora é de pagarmos pelo erro que cometemos. Mas chegará o tempo da alternância no poder, em que o povo, em que a voz rouca das ruas vai se manifestar. Há tempo de nascer, de morrer, de plantar e de colher, e há o tempo de tirar. Nós o elegemos com uma esperança, mas fomos enganados.

           Não vou para o deboche, vou para o entendimento. Ney Suassuna, um homem de muita cultura, e Marco Maciel, membro da Academia Brasileira de Letras, conhecem Norberto Bobbio. Duas desgraças acontecem. Primeiro, o mínimo que se tem que exigir de um governo é a segurança, o direito à vida, à liberdade e à propriedade. Se sequer o Congresso tem segurança, ninguém mais a tem. Acabou. Segundo: quando se une o público e o privado, essa ignomínia.

           O Secretário de Comunicação inventou... Suassuna, é cada uma... Com essa engenhosidade, ele está ganhando do carequinha, do Marcos Valério. Um pai conta: ele formou uma empresa e é ela que cobra a conta da Cepisa, da água, do trânsito, além de emprestar dinheiro para os velhinhos, que os “jamantas” do PT dizem que é barato. É 2,9% ao mês, Lulinha! Isso dá 41% ao ano, porque são juros sobre juros. Aprenda, Jamanta!

           Os velhinhos estão se suicidando. Eu conheço, eu sou médico.

O Sr. Presidente faz soar a campainha.)

           O SR. MÃO SANTA (PMDB - PI) - Um minuto, Sr. Presidente, que representa a grandeza do Paraná.

           O velho, Senador Suassuna, está se suicidando, porque ele é honrado. Ele tinha um salário e, de repente, se tira 41% de seu salário, que já é pouco. Então, ele pega dinheiro emprestado.

           Os juros de um país civilizado são de 2% a 5%. Ele tem seus compromissos. Se deixa de comprar seu remédio, ele morre. Às vezes, a mulher não tem dinheiro para pagar. Então, eles estão se suicidando. São 41%, Lula Jamanta! Atentai bem!

           No Piauí é pior, porque é um Secretário quem faz isso. No meu Governo, isso não acontecia. Aliás, não só no meu; isso não acontecia em nenhum governo, porque os Governadores foram todos homens de grandeza, como Petrônio Portella, Lucídio e Dirceu, que morreu aqui, pois tombou defendendo a Pátria, nossa tradição.

           Nem tudo está perdido...

(O Sr. Presidente faz soar a campainha.)

           O SR. MÃO SANTA (PMDB - PI) - Lá havia um promotor - o Senador Ney Suassuna tem de saber - que era do PCdoB. Ele foi eleito Deputado Federal. Ele foi para o PDT, morreu e está no céu. Eu pensei que não houvesse mais nenhum cristão no Ministério Público, pois a corrupção é grande e se alastra em todos os Poderes. Porém, apareceu um e apresentou uma queixa-crime. É o Procurador Ruszel - está aqui no jornal -, a quem quero homenagear. Acho que ele devia até ser candidato a Senador, porque do jeito que as coisas estão...

           Então, ele apresentou uma queixa-crime. Veio aqui porque lá não havia condições. A Imprensa é o Secretário de Comunicação, que tem essa empresa, que cobra tudo. Não há mais Secretaria de Comunicação.

           É essa vergonha que está o nosso País! Tinha que se alastrar, tinha que chegar. Misturaram o público com o privado! Isso é uma indecência!

           Senador Ney Suassuana, seria como eu, médico, ter um hospital e pegar todo o dinheiro do Governador do Estado para aquele hospital.

           Um elemento do Governo negociando e tirando vantagens... E vantagens ilegítimas, porque os juros que estão por aí são de agiotagem. O Lula é que pensa que é de 2%.

           Senador Paulo Paim, permita-me dizer: fique lá com o seu PT dos trabalhadores honrados e vamos pôr essa turma, essa patota, cujo presidente nacional é Henrique Meirelles, do PB, o “partido dos banqueiros”.

            Manifesto meu entusiasmo. Foi preciso que um jornal de Brasília publicasse a matéria, porque lá, como o homem é Secretário de Comunicação, a matéria não sai. É grande a reportagem, que diz que o Procurador Ruszel Lima Verde veio a Brasília apresentar uma queixa-crime ao Procurador-Geral da República.

           Ainda há homens, lá no Piauí, como o Procurador daqui, que denunciaram quarenta ladrões, todos da intimidade... Só faltou coragem a ele para dizer quem era o chefe. Eu sei que o Jamanta não é, porque hoje à noite eu vou ver a generosidade: “Lula é bonzinho, Jamanta é melhor”.

           Vamos com o PMDB, que é do povo, à luta e às urnas para salvaguardar a maior riqueza da democracia: a alternância no poder.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 13/06/2006 - Página 19978