Discurso durante a 79ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

Registro de sessão especial do Partido do Movimento Democrático Brasileiro, em que se decidiu pela não apresentação de candidatura própria à presidência da República.

Autor
Pedro Simon (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/RS)
Nome completo: Pedro Jorge Simon
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
POLITICA PARTIDARIA. ELEIÇÕES.:
  • Registro de sessão especial do Partido do Movimento Democrático Brasileiro, em que se decidiu pela não apresentação de candidatura própria à presidência da República.
Publicação
Publicação no DSF de 13/06/2006 - Página 20013
Assunto
Outros > POLITICA PARTIDARIA. ELEIÇÕES.
Indexação
  • COMENTARIO, REUNIÃO, COMISSÃO EXECUTIVA NACIONAL, GOVERNADOR, PRESIDENTE, DIRETORIO REGIONAL, LIDERANÇA, PARTIDO POLITICO, PARTIDO DO MOVIMENTO DEMOCRATICO BRASILEIRO (PMDB), POSTERIORIDADE, REVISÃO, DECISÃO, TRIBUNAL SUPERIOR ELEITORAL (TSE), FLEXIBILIDADE, COLIGAÇÃO PARTIDARIA, ESTADOS, RESULTADO, AUSENCIA, APRESENTAÇÃO, CANDIDATURA, PRESIDENCIA DA REPUBLICA, REITERAÇÃO, PROTESTO, ORADOR, RENUNCIA, REPRESENTAÇÃO PARTIDARIA, TRADIÇÃO, DEMOCRACIA, BUSCA, ALTERNATIVA, POLITICA NACIONAL, TROCA, RECEBIMENTO, CARGO PUBLICO, GOVERNO FEDERAL, APOIO, REELEIÇÃO, REPUDIO, ATUAÇÃO, GRUPO, LIDER.

O SR. PEDRO SIMON (PMDB - RS. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador) - Sr. Presidente, Srs. Parlamentares. Hoje, pela manhã, realizou-se uma sessão especial do Movimento Democrático Brasileiro, para o qual tinham sido convocados, além dos membros da Executiva Nacional, Governadores, Presidentes Regionais e Lideranças Partidárias. A reunião foi marcada pela Executiva na quarta-feira passada, quando o Presidente do Tribunal Superior Eleitoral baixou uma medida e criou um impacto em todo o País, determinando que as eleições fossem todas verticalizadas, seja para Presidente, Governador ou Senador.

Naquela reunião da Executiva, se criou um ambiente realmente muito interessante. Os Líderes Governistas que querem um apoio ao Governo estavam muito preocupados, muito sérios, muito responsáveis, muito angustiados com o que ia acontecer. E as palavras dele foram palavras de bom senso, no sentido de que aqui não dá para ver quem ganhou nem quem perdeu, temos que tomar uma atitude e ver o que vamos fazer para enfrentar essa realidade. Os que queriam e que querem a candidatura própria concordaram. E eu fui um dos que disse que realmente achava que sim.

Concordamos em não realizar a Convenção ontem, domingo, dia 11, marcada pela Justiça Eleitoral, para realizar antes uma nova reunião, essa que foi que feita hoje, para buscar o entendimento, para buscar uma fórmula através da qual o MDB sairia do impasse em que se encontrava.

Acontece que entre a marcação da data de hoje para a realização dessa reunião e a realização dela hoje, o Tribunal deu uma volta de cento e oitenta graus, atendendo a pressões de parlamentares e mais gente e decisões pessoais. O Tribunal resolveu alterar e voltar à posição anterior: verticalização, só para a Presidência da República. Não implicava e não alterava a obrigatoriedade de quem não tivesse candidato à Presidência da República, não poderia fazer também coligações estaduais.

Realizamos a reunião hoje, e o clima era completamente diferente, era claro. Os governistas, mais exaltados, mais firmes, vieram com um pensamento uniforme no sentido de que nada de candidatura própria, nada de realização de Convenção, a candidatura própria estava sepultada.

A discussão entre os Líderes era qual a data do sepultamento. Uns queriam sepultar a candidatura própria hoje; outros queriam deixar para sexta-feira. Os que queriam sepultar hoje argumentavam que o defunto ficaria insepulto e passaria a cheirar mal até sexta-feira. Ter-se-ia que colocar numa câmera funerária.

Interessante: por quinze a zero, a Executiva decidiu que o MDB não vai ter candidato a Presidente. E cada Estado faça o que bem entender. Essa foi a decisão de um longo debate, que durou um ano, no qual, de um lado, estavam Líderes como o Sr. Presidente do Senado, Senador Renan Calheiros; o Senador José Sarney, ex-Presidente da República; o Senador Ney Suassuna, Líder da Bancada; o Deputado Jader Barbalho, ex-Presidente do Partido e ex-Presidente do Senado; o ex-Líder da Bancada e Deputado da Bahia; o ilustre Presidente da Fundação Ulysses Guimarães e ex-Governador do Rio de Janeiro. Todos os governistas, por unanimidade, falaram.

O interessante é que, na última convenção, que lotou o auditório Petrônio Portella, nenhum falou, a tal ponto de que o Presidente Michel Temer dava a palavra para um e, depois, para outro a favor da candidatura própria e não a dava para ninguém contra. Eu levantei uma questão de ordem, dizendo que o Sr. Michel Temer estava sendo parcial porque os que não queriam candidatura própria também queriam falar. Ele concedeu a palavra, mas ninguém falou.

Mas hoje falaram todos. É verdade que a reunião era fechada. Não havia imprensa, não tinha base, mas falaram todos os contrários à candidatura própria. E o argumento é um: também não haveria condições de ter candidatura própria. O problema é fortalecer as candidaturas dos governadores estaduais.

Eu dizia: mas que Partido é este, o maior do País, que se despreocupa de se apresentar com um candidato à Presidência da República em uma eleição, em um momento tão traumatizante como esse? O PSDB e o PT praticamente iniciam a campanha, que começou hoje com o primeiro pronunciamento oficial do candidato de Oposição, dizendo que a quadrilha são quarenta e que o Presidente é o chefe dela? Começou como eu imaginei que ia terminar. Eu pensei que no fim ele fosse dizer isso.

Se ele começa dizendo que o Presidente da República é o chefe da quadrilha de quarenta como vai terminar a campanha, Sr. Presidente? Isso dizíamos nós. O momento é do MDB. A história, o destino colocou nas mãos do MDB o momento que está presente.

O PSDB teve os seus oito anos; o PT, os seus quatro. A situação é dramática. Uma mensagem de paz, de respeito e de concórdia para somar o MDB poderia apresentar. Mas os líderes do MDB, os governistas, estão todos lá. Ministério daqui, Ministério dali, diretoria daqui, diretoria de lá, estão todos com cargos no Governo. E isso pesou mais forte do que uma candidatura à Presidência da República. É estranho como, na reunião de hoje, pude sentir nesses Líderes que falaram como não há, dentro do sentimento deles, um amor, uma dedicação pelo seu Partido, o MDB. Em parte, compreendo o nosso querido Presidente do Senado. Ele era do PCdoB; depois, ele passou para o PRN e, naquela época, jovem, tinha uma garra enorme. Ele pegou o PRN como Governador de Alagoas, e fez dele Presidente da República e foi Líder desse Presidente. Depois, foi Ministro do Fernando Henrique. Depois apoiou a candidatura do Serra para Presidente e, hoje, é apaixonado pelo Lula. O Sr. Sarney, Presidente vitalício da Arena... Precisamos dele para ser candidato... Precisamos, não. Ele se impôs como candidato em uma eleição em que nós precisávamos fazer um racha na antiga Arena para eleger Tancredo no Colégio. Morre Tancredo. Ele fica. O seu filho foi Ministro do Governo Fernando Henrique. A sua filha está no PFL; o outro, no Partido Verde; os seus Líderes estão em vários Partidos. Ele não tem ninguém no MDB a não ser ele. Qual é a paixão que ele tem pelo MDB? E assim são os outros homens. Então, praticamente o MDB parece uma legião estrangeira no comando. Todas as pessoas sem história, sem biografia. Se olharmos para ontem: o Tancredo, o Teotônio, o Ulisses, as Diretas Já, na beiras das cadeias, das prisões, não estava essa gente. Então, eles não conseguem sentir. Fala-se em MDB, na história do MDB, em reviver o MDB, o velho MDB. A gente não está dizendo nada a essa gente. A gente não está falando nada a essa gente.

Hoje, encerrou-se um capítulo do nosso Partido. Questão aberta, cada um segue o caminho que quiser. Interessante é que eu volto a repetir, os mais apaixonados que defendem. Não podemos ter candidato a presidente, porque temos que ter candidato a governador. Temos que fortalecer os governadores. Os que dizem isso nem têm candidato a governador nos seus Estados.

O Dr. Sarney, no seu Estado, o Maranhão, a candidata é a sua filha pelo PFL, não pelo MDB. No Amapá, o candidato é do Partido Socialista, não é do MDB. O Sr. Jader Barbalho, no Pará a candidata é a Senadora PT, não é do MDB. O ilustre Deputado, que é o mais bravo, mais lutador da Bahia, o ex-Líder Geddel, o candidato dele, se for, será do PT. E o nosso Presidente do Senado, Senador Renan Calheiros, tem candidato do PSDB.

Quando eu disse, na reunião de hoje de manhã, que S. Exª não tem candidato do MDB em seu Estado, que o candidato era do PSDB, ele me respondeu: “V. Exª sabe que sou Presidente do Senado e que, nessa condição, não posso ser candidato a governador. Se pudesse, eu seria”. Então, tive que responder: perdoe-me V. Exª, concordo que V. Exª é o primus inter pares, é o grande nome de Alagoas, mas não é o único. Será que Alagoas não tinha um segundo nome do MDB para ser candidato a governador? É V. Exª ou ninguém?

Mas aconteceu. Essa vai ser uma eleição em que o MDB vai assistir a um grande debate. Confio que o Sr. Geraldo Alckmin, um homem sério, um homem de bem, vai debater suas idéias, e o PSDB vai apresentá-las. Confio que o Presidente Lula vai refazer muitos dos seus equívocos.

Há dois pensamentos com relação à Lula: um fala na maldição do segundo mandato e apresenta nomes como o de Fernando Henrique, como o de Perón, como o de Getúlio, como o de Menem; são pessoas que, no segundo mandato, foram muito piores do que no primeiro. Outros, como eu, acham que não, que se pode revisar, alterar, modificar e, talvez, refazer os gravíssimos equívocos que cometeram.

Vamos ver a candidatura da Heloísa Helena, que agora terá mais um ou dois minutos, porque o MDB não tem candidato. Ela vai empolgar porque tem autenticidade. Na disputa que teve com o PT, ela saiu ganhando porque poderia ter sido expulsa por mil razões, mas o PT a expulsou porque ela cumpriu o programa do Partido, votando a favor de não se cortar o vencimento dos aposentados, não se mexer no vencimento dos inativos para baixar. E por isso ela foi cassada. Vejo no Rio Grande uma simpatia enorme em torno da candidatura dela.

O PDT até aqui com a candidatura do ilustre Senador por Brasília Cristovam Buarque. Teremos um grande debate, ao qual nós do MDB vamos assistir como se não fôssemos parte, como se não tivéssemos responsabilidade. O velho MDB, que foi no passado o responsável pela introdução no País da luta democrática, das Diretas Já e da democracia e que poderia apresentar a bandeira da moral, da ética, da seriedade, da dignidade, da justiça social, vai ficar de braços cruzados, assistindo.

Candidato a governador aqui, com o apoio do PT; candidato a governador lá, com o apoio do PSDB; ali adiante, apoiando um candidato a governador do PT, como no Pará; ou apoiando um candidato a governador do PSDB, como em Alagoas. Esse é o papel que deixaram para um partido do tamanho do MDB.

É uma pena, Sr. Presidente, o que eu sinto por esse comando partidário. Faço ressalva ao Presidente do Partido, que agiu com a maior dignidade e tentou de todas as formas a candidatura própria. Mas esse grupo se adonou do Partido, como se fosse uma legião estrangeira. Nunca tiveram um sentimento de afeto, carinho ou amor pelo seu Partido. Vê-se que é alguém que está ali para buscar tirar vantagem até o fim, porque não está nem um pouco preocupado com o que vai acontecer com o Partido. O pensamento é: eu estou aqui, sou líder, secretário, estou na Presidência do Senado; o que eu posso levar agora? Depois, que se dane.

Eu acho que esse foi, talvez, o maior golpe; essa foi a maior paulada que o MDB levou no Brasil. As outras foram da ditadura, do arbítrio, dos generais. Mas essa nós levamos em casa. Quem deu a paulada no MDB foi o seu comando; foram os líderes do MDB, que se aproveitaram dos cargos que receberam do MDB para usarem contra o nosso destino.

Minha fé e meu espiritualismo levam-me a acreditar no futuro e a achar que por mais negra que seja a noite sempre há o raiar de uma luz anunciando a aurora. Eu não sei como, mas nós teremos que escolher o caminho. Eu não sei como será a convivência com essa gente que na verdade não devia estar no MDB, não sei o que fazem no MDB. Vamos ter que escolher uma fórmula e um caminho. O MDB não pode morrer por inanição nas mãos de alguns que estão gordos e fogosos. No que depender deles, o MDB morre à míngua.

Muito obrigado, Sr. Presidente.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 13/06/2006 - Página 20013