Pronunciamento de Pedro Simon em 13/06/2006
Discurso durante a 80ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal
Registro de reunião marcada junto ao Juiz de Direito responsável pelo caso da Varig, com a participação de outros Senadores. Lamento pelo sepultamento da candidatura do PMDB à Presidência da República.
- Autor
- Pedro Simon (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/RS)
- Nome completo: Pedro Jorge Simon
- Casa
- Senado Federal
- Tipo
- Discurso
- Resumo por assunto
-
POLITICA DE TRANSPORTES.
POLITICA PARTIDARIA.
ELEIÇÕES.:
- Registro de reunião marcada junto ao Juiz de Direito responsável pelo caso da Varig, com a participação de outros Senadores. Lamento pelo sepultamento da candidatura do PMDB à Presidência da República.
- Publicação
- Publicação no DSF de 14/06/2006 - Página 20369
- Assunto
- Outros > POLITICA DE TRANSPORTES. POLITICA PARTIDARIA. ELEIÇÕES.
- Indexação
-
- ELOGIO, ATUAÇÃO, JUIZ, BUSCA, SOLUÇÃO, RECUPERAÇÃO, VIAÇÃO AEREA RIO GRANDENSE S/A (VARIG), ANUNCIO, REUNIÃO, GRUPO, SENADOR, TRABALHADOR, PROXIMIDADE, DECISÃO.
- COMENTARIO, NEGLIGENCIA, GOVERNO FEDERAL, FALENCIA, VIAÇÃO AEREA RIO GRANDENSE S/A (VARIG), EXPECTATIVA, REVISÃO, DIRETRIZ, CASA CIVIL.
- COMENTARIO, REUNIÃO, COMISSÃO EXECUTIVA NACIONAL, PARTIDO POLITICO, PARTIDO DO MOVIMENTO DEMOCRATICO BRASILEIRO (PMDB), UNANIMIDADE, RENUNCIA, CANDIDATURA, PRESIDENCIA DA REPUBLICA, REITERAÇÃO, REPUDIO, ORADOR, CRITICA, ATUAÇÃO, RENAN CALHEIROS, JOSE SARNEY, NEY SUASSUNA, SENADOR, POSTERIORIDADE, ENCONTRO, PRESIDENTE DA REPUBLICA, COBRANÇA, CARGO PUBLICO, EMPRESA BRASILEIRA DE CORREIOS E TELEGRAFOS (ECT), AGENCIA NACIONAL DE TELECOMUNICAÇÕES (ANATEL), MINISTERIO DA SAUDE (MS), MINISTERIO DOS TRANSPORTES (MTR), TROCA, APOIO, REELEIÇÃO, PERDA, ETICA.
O SR. PEDRO SIMON (PMDB - RS. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Em primeiro lugar, Sr. Presidente, quero dizer que o Senador Paulo Paim, o Senador Heráclito Fortes, o Senador Sérgio Zambiasi e eu, que nos esforçamos muito com relação à Varig, estamos com reunião marcada com os trabalhadores que fazem parte dessa fantástica campanha para manter a empresa, junto ao senhor Juiz de Direito, que está marcando a sua posição de uma maneira emocionante. Realmente, fazia tempo que não se via uma figura do Judiciário marcando a sua posição com tanta firmeza. S. Exª está buscando uma fórmula, uma solução.
Os jornais de ontem foram dramáticos ao mostrarem que o Governo já está com tudo preparado para o fechamento da Varig. Se a Varig fechar, ele já tem um esquema de tudo o que vai acontecer. Até agora não apareceu um esquema do Governo para salvar a Varig - mas a Varig já o tem. O Governo já tem um esquema para o que fazer quando a Varig fechar. Tentemos falar com a Chefe da Casa Civil para que isso não aconteça, Sr. Presidente.
É um dia sério e responsável para a Varig e para o Brasil. Conversaremos com o Sr. Juiz para lhe dar solidariedade e cobertura para as medidas que ele está tomando. Falaremos com o grupo para que ele tenha o estímulo de continuar e, por amor de Deus, o Governo vai sair muito mal desse episódio. Se a Varig fechar, eu direi com todas as letras: foi o Governo. Aquele velho plano antigo do Chefe da Casa Civil, que, quando começou, de saída, já queria entregar a Varig para a TAM e que já estava tudo resolvido - a Varig ficava com 5% e a TAM com 95% -, esta Casa se rebelou. O Governo passou a boicotar, boicotar, boicotar, boicotar. A Varig passou a ter de pagar a gasolina no dia anterior, ou seja, pagar hoje a gasolina que irá usar amanhã, e é o maior credor da Varig. Se a Varig quebrar, quem provocará isso são as empresas estatais - a Petrobras, aeroportos e outros.
Hoje está na chefia da Casa Civil uma pessoa por quem tenho a maior admiração e o maior respeito - bem diferente do anterior. Espero que S. Exª tenha a grandeza de ver que estamos nas 48 horas decisivas, grandeza de ver e ajudar na questão da Varig.
Sr. Presidente, volto a esta tribuna, mas infelizmente, estamos em uma posição que eu não sabia. Pensei que a ordem para falar era primeiramente o Líder e depois o povão. Mas fui informado agora por V. Exª que a ordem é primeiramente o Líder, depois quem tem licença do Líder para falar e, finalmente, o povão. Então, fui reduzido a último. Pensei que era segunda classe, mas sou terceira classe. E, neste Congresso, é assim, Sr. Presidente.
Eu queria falar com o Sr. Jader, na Presidência.
O Sr. Arthur Virgílio (PSDB - AM) - V. Exª é hors-concours, é extraclasse.
O SR. PEDRO SIMON (PMDB - RS) - Obrigado.
Eu queria falar com o Sr. Jader na Presidência. Imagine. Eu tenho tanta mágoa do Sr. Jader que...
O SR. PRESIDENTE (Romeu Tuma. PFL - SP) - Mas V. Exª não está me vendo como tal, não é?
O SR. PEDRO SIMON (PMDB - RS) - Eu quis dizer o Sr. Renan. Por amor de Deus, eu nunca faria isso a V. Exª. Eu tenho V. Exª como uma das pessoas mais corretas e mais dignas. Eu não faria uma comparação dessas. V. Exª não merece.
Mas o Sr. Renan estava ontem na reunião do PMDB. Lá estava ele. O PMDB sepultou a candidatura própria. Há quatro anos, aconteceu o mesmo, sepultaram a candidatura do MDB, e os mesmos foram ao Palácio da Alvorada. E a Rede Globo, por meio do Jornal Nacional e do Jornal da Noite, mostrou-os tomando champanhe com o Presidente Fernando Henrique, festejando o fato de que o PMDB não iria ter candidato.
Pois, ontem, foi a mesma coisa: a Comissão Executiva decidiu não ter candidato. O ilustre Presidente da Fundação, Deputado Moreira Franco, disse que deveríamos sepultar o cadáver da candidatura ontem mesmo, porque alguns queriam deixar para sexta-feira. Mas como vamos deixar insepulto o cadáver, ali, cheirando mal? Essas foram as expressões do ilustre Presidente da Fundação, e, por unanimidade, decidiram que o PMDB não terá candidato.
E saíram dali para comunicar ao Presidente da República. Lá estavam o Sr. Renan; lá estava o Sr. Sarney, que não compareceu a nenhuma reunião da Executiva, nem à reunião do Partido, nenhuma! Mas vai a todas com o Dr. Lula! Lá estava o Sr. Jader, ressuscitando, e foram lá. O argumento que apresentavam, ao Partido, é que não deveríamos apresentar candidato a Presidente da República, primeiro, porque não tínhamos alguém de expressão, segundo, porque o importante é eleger governador. Eleger governador. Presidente deixa para depois. Mas eu dizia: eleger governador é importante. E a candidata a governadora do Jader é a Senadora Júlia, do PT. O candidato do Renan a governador é o senhor do PSDB em Alagoas. O que foi Ministro e que agora é o grande líder do PMDB no Ceará tem um candidato, que é do PT. E o grande líder, Dr. José Sarney, no seu Estado, é como ele diz: “O meu partido é a minha filha, não tem tribunal, não tem nada”. E, no Estado onde ele tem o título eleitoral e é candidato ao Senado, o candidato que apóia a Governador é do PS.
Quando falamos para o Collor... Estou ficando meio velho: pensei no Renan e me lembrei do Collor. Quando eu fui falar para o Renan ontem que Alagoas não tem candidato e deveria ter uma candidatura própria, ele respondeu ao meu questionamento: “V. Exª sabe que Alagoas não tem uma candidatura própria do PMDB porque sou Presidente do Senado e, como tal, é impossível ser candidato”.
Eu disse: “Sei que V. Exª é primus inter pares, o número um não só em Alagoas, mas no Brasil. Será que o Estado de V. Exª não tem um segundo nome, do PMDB, que possa ser candidato a Governador? V. Exª está dizendo publicamente aqui que Alagoas não tem candidato a Governador porque V. Exª é Presidente do Senado e não pode ser. Mas não tem um segundo nome?”
Saíram dali e foram ao Palácio. Foram ao Palácio. Está aqui na Imprensa. O Correio Braziliense está publicando que o Dr. Sarney, que não foi à reunião, estava esperando para ir ao Palácio. Dr. Renan, Dr. Jader, nosso amigo Geddel, da Bahia, esse comando, que é uma espécie de aliança estrangeira, de legião estrangeira que tomou conta do PMDB. Então, foram ao palácio comunicar que o PMDB não terá candidato. Tudo bem. Foram comunicar que o PMDB vai lutar para ter Governadores. Tudo bem. Foram ao palácio para dizer: “Olha, Sr. Lula, nós não temos candidato à Presidência, mas nós vamos lutar e queremos o apoio dos senhores para os nossos candidatos a Governador”. Tudo bem. O Jader vai dizer: “Olha, agora mudou. Eu estava apoiando o PT em Belém do Pará, mas agora que nós não vamos ter candidato, o PT vai nos apoiar em Belém do Pará”.Tudo bem.
Não, foram ao Palácio. Sabe quando nós perdemos o pudor, quando nós não temos... Porque todos nós temos princípios, ética, maneira de agir. Há coisas em que temos até medo de pensar alto. Nós perdemos isso. A reunião deveria ser pelo menos fechada. Fechem a porta, não falem nada. Não, mas saiu no jornal. E, se saiu no jornal, é porque deram. E, uma reunião fechada, no Palácio da Alvorada, com o Presidente da República, se saiu no jornal, é porque tem alguma fonte.
A Executiva Nacional do PMDB decidiu, ontem, por unanimidade, enterrar a candidatura própria do Partido à Presidência. Sem candidato, com o cadáver, ainda insepulto, a Executiva Nacional demarcou a convenção que, por determinação judicial, seria realizada na próxima quinta-feira. No final da sessão, os Senadores Renan Calheiros e José Sarney foram ao Palácio do Planalto comunicar a Lula sobre a decisão do PMDB. Eles confirmaram o apoio da ala governista do PMDB ao projeto de reeleição. Mas ponderaram: é necessário que o Governo resolva com rapidez algumas pendências.
(O Sr. Presidente faz soar a campainha)
O SR. PEDRO SIMON (PMDB - RS) - Mas logo nas pendências, Sr. Presidente? V. Exª não quer ouvir as pendências?
É necessário resolver algumas pendências para que o partido entre firme na campanha. Essas pendências referem-se à nomeação de quadros do PMDB, para a diretoria dos Correios, para a Agência Nacional das Telecomunicações, Anatel, para o Ministério da Saúde, para o Ministério dos Transportes.
No encontro, Lula disse a Renan e a Sarney que, após ser confirmado pelo PT como candidato a reeleição, a convenção ocorrerá no próximo dia 24. Convidará o Presidente Michel Temer para uma conversa institucional.
Outros jornais falam mais, Sr. Presidente.
Esse é o MDB, esse é o velho MDB. Não, eles não sepultaram a candidatura do MDB à Presidência da República lá na convenção. Eles sepultaram a dignidade, a ética e a moral da coisa pública lá no Palácio da Alvorada, e sepultaram um nu sem um mínimo de vergonha, sem um mínimo de grandeza, escancaradamente. E já estavam doidos para resolver, resolver, resolver, porque o Governo teria dito que não faria as nomeações enquanto não ficasse resolvido que o MDB não teria candidato. E, ontem, resolvido o assunto, eles foram apresentar a conta. Parece que o Garotinho ainda quer entrar em juízo porque a juíza mandou fazer a convenção. Mas parece também que a Executiva vai entrar contra porque não quer fazer a convenção, alegando que não tem candidato. O Garotinho quer se inscrever como candidato e quer entrar em juízo dizendo que quer a convenção. E a informação que tenho é de que o Lula não paga a conta enquanto não resolver esse problema; e estão numa angústia tremenda. Essa é o nosso MDB, Sr. Presidente.
Eu disse ontem, lá, o que digo aqui: não tenho identidade nenhuma com essa gente, Sr. Presidente: Sarney, Renan, Jader, Suassuna, não tenho identidade, mas não vejo identidade nenhuma dessa gente com o MDB; uma legião estrangeira da qual estão à frente. Pegaram e estão usurpando empregos, favores, vantagens, emendas, vale tudo para manterem os próprios privilégios.
V. Exª esteve fantástica ontem no programa Roda Viva, Senadora Heloísa Helena, fantástica. No fundo, a imprensa estava fazendo o papel dela, mas foi duro para que V. Exª pudesse aparecer melhor. Vejo com muita alegria a candidatura de V. Exª, mas acho que o MDB tinha o direito e a obrigação de ter um candidato.
Numa hora como essa em que parece, de certa forma, que as pesquisas nossas querem arquivar a ética, os bons costumes, a moral e a dignidade, alguém me disse que se aparecer o Lula roubando um supermercado e filmarem, e botarem na televisão, eles vão dizer que o Lula estava roubando para dar para os pobres; porque nada pega contra ele, porque o Governo está aí, pairando acima de tudo e acima de todos. Mas um dia essas coisas virão. Assim como as coisas da ditadura estão aparecendo hoje, esses dias virão à tona. Estou aqui para dizer: Sarney, Renan, Suassuna, essa gente que está usando o nome do MDB sem reunir o Partido - a Bancada do MDB nunca se reuniu, a Executiva não se reuniu, o diretório não se reuniu -, quais são os nomes que eles estão levando ao Palácio e em nome de quem a não ser dos seus interesses?
Gente como o Dr. Renan, que desde que abandonou o velho PCdoB - um grande partido - para arrumar dinheiro para a campanha do Collor, foi Líder do Collor, Ministro do Fernando Henrique, coordenador da campanha do Serra e hoje o todo-poderoso do Lula.
Ontem, Senadora Heloísa, perguntaram-lhe o que a Senhora tinha com o PT. Mas quem poderia imaginar que os homens de confiança do Lula, no Congresso Nacional, seriam o Sarney, o Renan, o Suassuana, o Jader, o Geddel? Esses são os homens da confiança do Lula, esses são os socialistas puro que o Lula tem como coordenação do seu Governo.
Venho aqui em nome dos que estão mortos, dos que não podem falar. Ah! se Ulysses estivesse vivo, Tancredo, Teotônio! Ah! se os nossos velhos companheiros pudessem se expressar! Mas hoje é um dia que parece que estamos sepultados, como disse o Presidente da fundação: “Vamos sepultar essa gente; são cadáveres insepultos que estão ali”. E eles foram festejar a nossa morte distribuindo os cargos. Não sei se beberam champanhe. Da outra vez, a televisão os filmou bebendo champanha. Mas o Fernando Henrique é mais elegante, tem o estilo francês, a champanha era mais apropriada. Naquela vez não apareceu a distribuição dos cargos. Dessa vez eles foram mais objetivos: a champanha fica para lá; vamos logo distribuir os cargos.
É uma pena, Sr. Presidente. Estou a pensar com a minha gente sobre o que fazer. Primeiro, deixar muito claro, mas muito claro que nós não temos nada a ver com esta gente: Dr. Sarney, Dr. Renan, Dr. Suassuna. Essa gente não é o MDB. Não tem nada a ver com a nossa história, com o nosso Partido, estão usurpando o MDB. Mas um dia isso vai terminar, Sr. Presidente.
Muito obrigado.