Discurso durante a 81ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Considerações sobre a decisão do PMDB de não lançar candidato próprio à Presidência da República.

Autor
Íris de Araújo (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/GO)
Nome completo: Íris de Araújo Rezende Machado
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
POLITICA PARTIDARIA.:
  • Considerações sobre a decisão do PMDB de não lançar candidato próprio à Presidência da República.
Aparteantes
Paulo Paim.
Publicação
Publicação no DSF de 15/06/2006 - Página 20496
Assunto
Outros > POLITICA PARTIDARIA.
Indexação
  • ESCLARECIMENTOS, DECISÃO, PARTIDO POLITICO, PARTIDO DO MOVIMENTO DEMOCRATICO BRASILEIRO (PMDB), RESPOSTA, PROTESTO, SENADOR, AUSENCIA, CANDIDATO, PRESIDENCIA DA REPUBLICA, MOTIVO, FACILITAÇÃO, COLIGAÇÃO PARTIDARIA, ESTADOS, FAVORECIMENTO, DISPUTA, GOVERNO ESTADUAL.
  • REGISTRO, INSUCESSO, CANDIDATURA, PRESIDENCIA DA REPUBLICA, ANTERIORIDADE, PARTIDO POLITICO, PARTIDO DO MOVIMENTO DEMOCRATICO BRASILEIRO (PMDB), FALTA, INCENTIVO, LANÇAMENTO, CANDIDATO, SOLIDARIEDADE, SENADOR, EXPECTATIVA, ENCERRAMENTO, DIVERGENCIA.

A SRª IRIS DE ARAÚJO (PMDB - GO. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão da oradora.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, hoje, eu me havia preparado para falar sobre os programas sociais do Governo Lula, para falar sobre o que tenho ouvido pelas ruas em relação ao contentamento de pessoas de baixa renda que me têm passado a impressão de se sentirem, por causa deles, mais confortáveis. Essas pessoas passam um sentimento de certa plenitude, Senador Paulo Paim. Tenho ouvido isso. Tenho de ser justa nesta tribuna.

Eu me preparei para falar do aspecto positivo, mas também para falar do outro lado da moeda. No entanto, vou deixar esse pronunciamento para a próxima semana, porque, ontem, já no término da sessão, tive a oportunidade de ouvir o fim do pronunciamento do Senador Pedro Simon a respeito do PMDB. Tocou-me muito quando o Senador Pedro Simon protestou desta tribuna contra a decisão do PMDB de não lançar candidatura própria a Presidente da República. Hoje, senti necessidade de falar sobre esse assunto, eu que sou peemedebista praticamente de nascimento: ao longo de minha formação e crescimento, estive no PMDB.

Em seu protesto, o Senador Pedro Simon, que hoje não está aqui - tenho a certeza de que terá notícia da minha fala -, citou Ulysses Guimarães e Tancredo Neves. Essa lembrança tocou profundamente minha alma, porque foram figuras com quem caminhei na minha juventude; eles eram mais velhos, não tão jovens como eu à época, mas aprendi muito com esses importantes políticos. Achei que tinha também de me associar à fala do meu querido amigo e Colega Senador Pedro Simon. Por isso, vim aqui juntar minha voz à daqueles que não podem mais fisicamente falar - S. Exª se referiu às vozes que se calaram pela morte, para dizer que o PMDB poderia estar sendo sepultado.

Muitas vezes, Srªs e Srs. Senadores, os mortos falam, sim! Falam pela história que deixaram! Falam por meio de vozes que ainda ecoam nas praças públicas desde quando, juntos, lutamos pelo restabelecimento das eleições diretas. Essas vozes ecoam nos corações da militância aguerrida que continua se posicionando à espera de novas vozes, de novos comandos capazes de promover um grande levante nacional peemedebista e que, num futuro próximo, deixarão viabilizada a nossa candidatura própria a Presidente de República.

As definições do processo eleitoral brasileiro novamente colocaram o PMDB no centro do debate político. A reunião da Executiva, realizada na segunda-feira, decidiu que o Partido vai mesmo abdicar da candidatura própria à Presidência da República para permitir aos diretórios regionais a mais ampla liberdade para trabalhar alianças, tendo em vista as disputas pelos governos estaduais.

Trata-se, naturalmente, de uma posição controversa, que gera críticas e descontentamentos internos. Tenho, a propósito, recebido um número muito expressivo de e-mails destacando essa questão e, na grande maioria, protestando contra esse fato.

Quero deixar claro que sempre defendi e continuarei defendendo a candidatura própria à Presidência da República, pois julgo que tal procedimento é o mais apropriado para uma legenda da dimensão e da força do PMDB. Um partido que se pretende formador de idéias tem necessariamente de expor no jogo das urnas a oportunidade ímpar de difundir, junto aos 180 milhões de brasileiros, seu pensamento programático, seus projetos para modificar a face de um país historicamente marcado por graves injustiças, por gritantes desigualdades e por condutas que maculam a imagem de seus agentes públicos.

Na verdade, este dilema de ter ou não ter candidato à Presidência persegue o PMDB desde os primórdios da retomada das eleições diretas, depois de o Partido ter comandado, com coragem e com bravura, as memoráveis mobilizações que derrubaram a ditadura militar - mobilizações das quais me orgulho de ter feito parte -, depois de mais de vinte anos de repressão, de tortura e de morte, dessa história que todos conhecemos. É igualmente verdade que, nas ocasiões em que saiu em faixa própria, não conseguiu alcançar índices de votação que fossem compatíveis com sua história e com seu prestígio. De certa forma, esses insucessos alimentaram uma corrente majoritária no Partido que, ao longo dos últimos pleitos, empurrou-nos para longe da faixa própria e para o conseqüente apoio aos presidentes eleitos por outras siglas.

Quero, com veemência, deixar claro que, se o PMDB não foi esfacelado nem destruído nos mais negros períodos da ditadura, não será agora, em pleno florescer democrático, que irá desaparecer, porque está a movê-lo a força irresistível da militância que lhe garante presença ativa no cenário nacional, atuando justamente nas comunidades onde sobrevive o Brasil real.

Diferentemente dos demais Partidos, o PMDB está enraizado no povo. Sua fortaleza estende-se por todos os Municípios do País, consubstanciando uma organização que respira a alma dos mais simples e dos mais humildes. Esse Partido palpita no mesmo ritmo dos corações dos excluídos e convive com os dramas, com as aspirações e com as esperanças dos brasileiros.

Por mais que o PMDB seja criticado pela tendência de análise admitida pela imprensa brasileira, o Partido real, na sua base, é composto por homens e por mulheres que doam o melhor de suas vidas para lutar por uma Nação de justiça e de paz. É por isso que, eleição após eleição, o Partido continua único e verdadeiramente nacional, a abranger do mais simples povoado aos centros urbanos de porte, porque foi constituído no suor das lutas, nas maratonas feitas de puro ideal e de genuíno amor ao Brasil.

Se os líderes nacionais cometem erros, nem por isso pode-se sacrificar a história de uma legenda que é, sim, responsável pelo advento do Brasil democrático e que tomou para si a tarefa de conduzir o País à normalidade institucional, normalidade esta que nos permite o direito de ir e vir, o direito de opinar e de difundir as idéias que geram as grandes transformações.

Concedo, com muito prazer, o aparte do Senador Paulo Paim.

O Sr. Paulo Paim (Bloco/PT - RS) - Senadora Iris de Araújo, ouço aqui seu pronunciamento e o acho muito bonito. Como é bonito vermos um Parlamentar ir à tribuna e fazer uma declaração de amor, de paixão, a seu Partido, à história do seu Partido, ao velho MDB, no qual - tenho orgulho de dizer - votei muitas e muitas vezes! Sem entrar no mérito da polêmica do PMDB, acho seu pronunciamento lindo. Em um momento tão difícil, quando a esperança que se percebe nas ruas com os Partidos diminui - é uma realidade, são fatos -, vemos V. Exª, com carinho, lembrar de líderes do passado, de líderes do presente, não contra ninguém, mas apontando a história, a caminhada do Partido. Como diz o poeta, esse caminho se fez caminhando, e é caminhando que a gente vai apontar o futuro. Faço deste meu aparte uma homenagem a V. Exª e a todos os militantes do velho MDB, a todos os militantes de todos os partidos políticos que acreditam na causa, em primeiro lugar, no programa, nas idéias, nos princípios, nessa caminhada, que é a sua caminhada. Por isso, tenho muito orgulho em fazer este aparte. Estou fazendo um aparte não à Senadora, mas a uma militante das causas populares, das causas sociais. Vou terminar só com um depoimento em torno da discussão do fator previdenciário aqui, neste plenário. Liguei para V. Exª, que me disse: “Paim, se depender de mim - e tomo a liberdade de falar com o Senador Maguito Vilela -, somos a favor de que haja o debate e a votação”. Aquela sua posição mostrou o compromisso com esse debate, e a população sabe o que significa o fator previdenciário. A posição firme de V. Exª e do Senador Maguito Vilela ajudou o encaminhamento do debate da matéria aqui. Mas eu a cumprimento, dizendo ainda que não sei se V. Exª voltará como Senadora ou como Deputada Federal, mas sei que voltará para o Congresso, tenho certeza absoluta. Seu Estado há de nos garantir que V. Exª volte, V. Exª que é uma militante apaixonada pelo seu Partido. No dia em que perdermos as paixões, as emoções, pelas causas que nossos Partidos representam, não estaremos no chamado bom caminho, no bom debate. Parabéns a V. Exª!

A SRª IRIS DE ARAÚJO (PMDB - GO) - Agradeço a V. Exª por ter sentido, realmente, Senador Paulo Paim, o espírito da minha presença neste momento no Senado para falar do PMDB. Diz muito respeito a essa caminhada que V. Exª acaba de mencionar. É algo que sinto, Senador Romeu Tuma, que ora preside a sessão. V. Exª esteve comigo. Estivemos juntos em caminhadas...

O SR. PRESIDENTE (Romeu Tuma. PFL - SP) - Estava pensando nisso agora. Como era bonito ver o povo aplaudi-la, às vezes chegando às lágrimas com os pronunciamentos de V. Exª!

A SRª IRIS DE ARAÚJO (PMDB - GO) - Isso diz respeito à paixão que temos de ter pelo Partido, visto que, lá fora, muitos dependem de nós, da aprovação de projetos que passam pelas nossas mãos, que passam pelas Comissões e que temos de encarar com muita responsabilidade. Enfim, isso diz respeito à paixão que temos de ter pelos nossos Partidos, pelo ideal, pela bandeira de cada um, pelo programa partidário, que está sendo jogado no chão! Senador Paulo Paim, muitas vezes, quero subir a esta tribuna e fazer determinadas denúncias. Não vou terminar de ler este discurso, porque V. Exª provocou aquilo que já estava dentro de mim.

Temos de mudar nosso comportamento! O mundo político está muito arrasado, com tantas denúncias, o que nos envergonha! Na realidade, nós, que freqüentamos aeroportos e locais públicos, às vezes, sentimo-nos constrangidos, de certa forma, de dizer que somos políticos, porque percebemos no olhar do outro à nossa frente, Senador Roberto Saturnino, uma certa censura. Na verdade, penso que nos sentimos complexados em razão do momento que estamos vivendo, em que há falta de comprometimento com os partidos políticos.

(Interrupção do som.)

O SR. PRESIDENTE (Romeu Tuma. PFL - SP) - Desculpe-me, Senadora. Pode continuar com seu discurso.

A SRª IRIS DE ARAÚJO (PMDB - GO) - Obrigada, Sr. Presidente.

Os partidos políticos passaram a ser utilizados, muitas vezes, como siglas para conveniência de pessoas. E isso não pode acontecer. Posso chegar aqui e dizer isso, porque, com meus erros e com meus acertos, estou no PMDB há 40 anos e tenho recebido muitos e-mails pedindo que eu suba aqui e me transforme numa voz peemedebista neste momento.

Ouvi, ontem, o Senador Pedro Simon - é a homenagem que presto a S. Exª, querido companheiro, homem que tem um trabalho extraordinário e que é referência hoje nacional - e, agora, pergunto: quando é que vamos acordar para essa grande realidade do País, que está a pedir de nós uma mudança de comportamento, para que possamos, talvez, cobrar de nosso povo também essa mudança?

Gostaria de dar por lido esse discurso e de dizer que ele foi o desabafo de uma militante.

Muito obrigada.

Era o que eu tinha a dizer, Sr. Presidente.

 

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SEGUE, NA ÍNTEGRA, DISCURSO DA SRª SENADORA IRIS DE ARAÚJO.

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Este texto não substitui o publicado no DSF de 15/06/2006 - Página 20496