Discurso durante a 84ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Exaltação ao esporte como importante fator de congraçamento entre os povos. Apelo em favor da aprovação do Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica - Fundeb. Necessidade de que a sociedade brasileira se ocupe com as soluções para o gritante quadro de violência que assusta o país.

Autor
Íris de Araújo (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/GO)
Nome completo: Íris de Araújo Rezende Machado
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
ESPORTE. SEGURANÇA PUBLICA. EDUCAÇÃO.:
  • Exaltação ao esporte como importante fator de congraçamento entre os povos. Apelo em favor da aprovação do Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica - Fundeb. Necessidade de que a sociedade brasileira se ocupe com as soluções para o gritante quadro de violência que assusta o país.
Publicação
Publicação no DSF de 21/06/2006 - Página 20852
Assunto
Outros > ESPORTE. SEGURANÇA PUBLICA. EDUCAÇÃO.
Indexação
  • REGISTRO, CAMPEONATO MUNDIAL, FUTEBOL, IMPORTANCIA, ESPORTE, INTEGRAÇÃO, POPULAÇÃO, PARALISAÇÃO, PAIS, APOIO, COMPETIÇÃO ESPORTIVA.
  • CRITICA, AUSENCIA, MOBILIZAÇÃO, POPULAÇÃO, REIVINDICAÇÃO, SOLUÇÃO, GOVERNO FEDERAL, IMPUNIDADE, VIOLENCIA, NEGLIGENCIA, SAUDE, EDUCAÇÃO, DESEMPREGO, ABANDONO, IDOSO, AUMENTO, CRIANÇA, TRAFICO, DROGA, PROSTITUIÇÃO, CORRUPÇÃO, DESIGUALDADE SOCIAL, NECESSIDADE, TRANSFORMAÇÃO, JUSTIÇA, TRABALHO, IGUALDADE, OPORTUNIDADE, RESPEITO, DIREITOS HUMANOS, CRESCIMENTO ECONOMICO, DISTRIBUIÇÃO DE RENDA.
  • COMENTARIO, NECESSIDADE, APROVAÇÃO, FUNDO DE DESENVOLVIMENTO, EDUCAÇÃO BASICA, OBJETIVO, AUMENTO, INVESTIMENTO, EDUCAÇÃO, MELHORIA, QUALIFICAÇÃO, PROFESSOR.
  • APREENSÃO, VIOLENCIA, ATUAÇÃO, CRIME ORGANIZADO, ESTADO DE SÃO PAULO (SP), REGISTRO, DADOS, UTILIZAÇÃO, POPULAÇÃO, ARMA DE FOGO, ANUNCIO, CONFERENCIA, ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS (ONU), PAIS ESTRANGEIRO, ESTADOS UNIDOS DA AMERICA (EUA), OBJETIVO, OBRIGAÇÃO, MEMBROS, ORGANISMO INTERNACIONAL, ASSINATURA, TRATADO, REFORÇO, CONTROLE, COMERCIO, ARMA.

A SRª IRIS DE ARAÚJO (PMDB - GO. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão da oradora.) - Obrigada, Sr. Presidente.

Srªs e Srs. Senadores, antes de iniciar o assunto que me traz a esta tribuna, gostaria de me referir à Senadora Ideli Salvatti, manifestando a ela a minha solidariedade como mulher política que tem acompanhado o desempenho da Senadora aqui, neste Plenário e nas Comissões.

A Senadora tem demonstrado, logicamente, como Líder do Governo, uma coragem muito grande no posicionamento que tem assumido.

Senadora Ideli, a sua indignação procede, e eu nem lhe dou o benefício da dúvida. Acredito em você.

Mesmo que o Brasil ainda não encante o mundo com seu futebol-arte, é impressionante observar esse sentimento de unidade nacional que toma conta de todos nós nestes dias de Copa. Sim. O esporte é um importante fator de congraçamento entre os povos e quase sempre está associado à saudável convivência entre competição e paz, uma harmonia na diversidade que, seguramente, faria muito bem ao nosso País naqueles setores em que não existem convergência alguma: na política e na economia, em especial.

Fico, nos meus sonhos, imaginando como seria espetacular se o País parasse integralmente, como nos dias de jogos da seleção, não apenas para se emocionar com os lances dos nossos craques, mas principalmente para exigir, num movimento pra frente, uma mobilização extraordinária, em que fossem solucionadas as pendências históricas que nos envergonham e nos entristecem: a impunidade, a permanência da violência brutal, o descaso para com a saúde e a educação, a falta de oportunidades de trabalho que tolhe a esperança de nossos jovens, o desrespeito e o abandono a que estão submetidos os idosos, a cooptação de adolescentes e crianças para o mundo da prostituição e essa incrível desesperança que parece contagiar corações, ante a demonstração de falta de amor ao Brasil por parte daquelas autoridades que, infelizmente, maculam a atividade pública.

Só mesmo o futebol possui esse fabuloso poder de nos levar às ruas para manifestar o nosso patriotismo e o nosso amor ao País.

Mesmo com as desconfianças em relação a Parreira e aos Ronaldos, as cidades estão coloridas de verde e amarelo. O Governo parece respirar, já que as críticas não têm o mesmo poder de repercussão e a economia dá uma pisada no acelerador. Tudo gira em torno dos 180 milhões de técnicos que fazem questão de debater a seleção que imaginam ideal para a conquista do hexa.

Quisera este patriotismo em ação todos os dias do ano e não apenas nos períodos de Copa! Uma Nação mobilizada não permitiria o engenho da corrupção, não avalizaria os atos que ferem a nossa dignidade; estaria a postos para exigir a permanente justiça e a diminuição das desigualdades que criam este terrível abismo social entre miseráveis e milionários num País com tantas riquezas e tantas possibilidades econômicas.

Uma Nação mobilizada toma o futuro em suas mãos, constrói com o esforço de todos a sua grandeza e o bem-estar das multidões, faz dos sonhos realidade ao não mais se submeter às vaidades de um pequeno grupo que apenas visa aos seus próprios interesses pessoais em detrimento das necessidades maiores da população.

O dia em que a sociedade brasileira compreender a imensa força de que é possuidora, teremos dado o passo decisivo, essencial para descortinar as verdadeiras transformações requeridas por todos: trabalho, justiça, igualdade de oportunidades, respeito aos direitos fundamentais da pessoa humana, concórdia, tolerância, crescimento com distribuição de renda - e a desejada paz.

Enquanto isso, teremos ainda que conviver com situações que nos assustam pelo seu grau de insensatez e irracionalidade. O conceituado jornalista Gilberto Dimenstein nos alerta com o título de sua coluna “Pensata”, no Folha Online de segunda-feira: “Pensem menos em futebol”, disse. O motivo: segundo ele, “a mistura de Copa do Mundo e eleições, além da conhecida falta de prioridade à educação, está colocando em risco a aprovação de uma medida (Fundeb) que vai transferir, em quatro anos, R$ 4 bilhões de verbas federais para o ensino básico. Pode não ser muito, mas é o que se conseguiu depois de demoradas negociações”.

O pior, de acordo com o jornalista, é que “está para expirar a validade do sistema de financiamento do ensino fundamental (Fundef) e, se o novo mecanismo não for aprovado, entraremos num buraco jurídico, no qual quem será dragado é o ensino”. E quase nada tem se avançado, apesar da gravidade do assunto. Concluindo, o jornalista diz: “o Congresso está montando uma armadilha para o País numa questão tão estratégica como educação. É necessário, portanto, que os políticos pensem um pouco menos em futebol e em eleições para evitar essa armadilha”.

Como se sabe, Sr. Presidente, o Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica (Fundeb) aumenta os recursos aplicados pela União, pelos Estados e pelos Municípios na educação básica pública e melhora a formação e o salário dos profissionais da educação, segundo o MEC. Com duração de 14 anos, de 2006 a 2019, atenderá os alunos da educação infantil, do Ensino Fundamental, Médio, e da educação para jovens e adultos e será implantado de forma gradativa nos quatro primeiros anos. O objetivo é atender, no quarto ano de vigência, 47,2 milhões de alunos com investimentos públicos anuais de R$ 50,4 bilhões, dos quais R$ 4,3 bilhões provenientes da União.

Fico, portanto, imaginando que enormes prejuízos terá a educação brasileira caso a medida não seja aprovada a tempo. Afinal, estamos em Copa do Mundo. Como será possível sensibilizar e mobilizar os Parlamentares para esta causa tão urgente, que pode nos criar um gargalo caso não seja apreciada? O pior de tudo é a suspeita de que questões de ordem político-eleitoral possam estar por trás do desinteresse da matéria.

Sr. Presidente, não se pode pensar em atividade pública sem bom senso. Está passando da hora de as mulheres e os homens de bem que atuam no Parlamento, independentemente de interesses eleitorais, darem uma demonstração de patriotismo e de amor a este País, como todos fazemos quando se trata da Seleção, quando o País inteiro fica coberto de verde e amarelo e até as criancinhas pequenas. Ensino é um bem sagrado que determina a superação do atraso para o ingresso no chamado mundo civilizado e desenvolvido. Nossas consciências não nos permitem afrontar a defesa deste bem e deste princípio essencial.

Ao lado desta questão, precisaríamos mais e mais estar ocupados com os desdobramentos das soluções para o gritante quadro de violência que continua a assustar o Brasil ainda mais fortemente desde que o crime organizado literalmente parou São Paulo.

Também na segunda-feira, uma pesquisa divulgada por ONGs pró-desarmamento revela que um em cada dois brasileiros foi ou conhece alguém vítima de arma de fogo. Cinqüenta e um por cento dos brasileiros, mais da metade da população, já estiveram frente a frente com a morte representada pelas armas ou conheceram pessoas nessa situação de perigo, o que se traduz num dado absolutamente alarmante.

Além disso, a preocupação de tornar-se vítima da violência é mais disseminada entre os brasileiros: 94% disseram temer essa possibilidade, uma proporção maior que a de Países como a Guatemala, que viveu uma guerra civil até os anos 90. Para se ter uma idéia do quanto o crime nos perturba, basta dizer que, na Índia, onde apenas 3% da população declarou ter sido ou pelo menos conhecer vítima de arma de fogo, o nível de preocupação com a violência é de 41%. No Canadá, essas proporções alcançam 9% e 36%, respectivamente.

A pesquisa foi divulgada uma semana antes da Conferência das Nações Unidas sobre Armas Leves, que começa no próximo dia 26 em Nova York. As ONGs que fazem parte da iniciativa, incluindo a Anistia Internacional e, no Brasil, o Instituto Sou da Paz, usarão os dados para pressionar os países da ONU por um tratado internacional que possibilite e regularize maior controle do comércio mundial de amas de fogo.

Sr. Presidente, os três temas que aqui trago, aparentemente distintos, estão todos dentro de uma premissa essencial: devemos vibrar e torcer por nossa Seleção, mas tanto melhor que nosso patriotismo se estenda também à formulação de um amplo movimento nacional que, pelo menos, nos garanta educação de qualidade, a aposta no futuro e a tão desejada paz, o anseio maior de todos os brasileiros no presente.

É por aí que começamos a construção de um País realmente à altura das exigências de nosso povo.

Era o que eu tinha a dizer.

Muito obrigada.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 21/06/2006 - Página 20852