Discurso durante a 84ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Homenagem pelo centenário de nascimento de dom Alexandre Gonçalves Amaral, primeiro arcebispo de Uberaba, falecido em 2002.

Autor
Aelton Freitas (PL - Partido Liberal/MG)
Nome completo: Aelton José de Freitas
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM.:
  • Homenagem pelo centenário de nascimento de dom Alexandre Gonçalves Amaral, primeiro arcebispo de Uberaba, falecido em 2002.
Publicação
Publicação no DSF de 21/06/2006 - Página 20971
Assunto
Outros > HOMENAGEM.
Indexação
  • HOMENAGEM, CENTENARIO, ANIVERSARIO DE NASCIMENTO, ARCEBISPO, ESTADO DE MINAS GERAIS (MG), ELOGIO, VIDA PUBLICA.

O SR. AELTON FREITAS (Bloco/PL - MG. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Senador Renan Calheiros, Srªs e Srs. Senadores, tudo farei para ser breve, mas não tinha como deixar de manifestar desta tribuna o centenário de nascimento de Dom Alexandre Gonçalves Amaral, primeiro Arcebispo de Uberaba, falecido em 2002, que está sendo celebrado com numerosos eventos, notadamente em Uberaba e em Carmo da Mata, sua terra natal, desde o último dia 12 de junho. As manifestações de carinhoso apreço, envolvendo a memória do ilustre cidadão, têm plena razão de ser.

Alexandre Gonçalves Amaral foi um dos nomes mais importantes da história religiosa brasileira. Dotado de sabedoria incomum e cultura invejável, notabilizou-se pelos seus hábitos de vida singelos e por uma entrega apaixonante à vocação apostólica abraçada. Bispo mais novo do mundo à época da sagração, era, ao falecer, o Bispo com maior tempo de presença eclesial da história da Igreja.

Dom Alexandre deixou plantada no Triângulo Mineiro, na vasta região abrangida pela Província Eclesiástica de Uberaba - que compreende também as Dioceses de Patos de Minas, de Uberlândia e de Ituiutaba -, uma obra admirável nas áreas universitária e social.

Reconhecido nacionalmente como o “Bispo da Ação Católica”, defendeu, com ardor, desde seus primeiros momentos de vida religiosa, a participação ativa dos leigos nas ações da Igreja.

Fiel aos princípios espirituais e humanísticos, de postura cívica e democrática sempre destemida, deixou registros de conduta e postura altivas na defesa dos valores que conferem dignidade à vida humana.

O livro Um certo Dom, de autoria do meu amigo e conterrâneo, o jornalista Cesar Vanucci, biógrafo de Alexandre, traz relatos da vida que refletem a maneira impecável de agir do grande brasileiro, cujo centenário agora se reverencia.

Um dos relatos de destaque sobre Dom Alexandre feito por César Vanucci, acontece em abril de 1964 na Congregação da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras Santo Tomás de Aquino. A instituição fora invadida por dois cidadãos que acusaram a direção e o corpo docente da Escola, como era moda fazer na época, de subversivos. Eles iam dando nomes e fatos e o Arcebispo ia anotando. Ao final, o Arcebispo declarou, em alto e bom som, debaixo de aplausos, que não permitiria que desconhecidos, ignorantes de tudo quanto acontecia na Escola, afirmassem falsidades e infâmias a respeito da atuação dos profissionais da casa. Apontou-lhes a porta da rua, por onde saíram calados e desmoralizados publicamente.

Outro trecho da vida de lutas de Dom Alexandre, extraído da mesma fonte, o livro Um Certo Dom, do escritor mineiro Cesar Vanucci, diz respeito ainda a 1964, quando, após o Golpe Militar, alguns políticos da região do Triângulo Mineiro, notadamente em Uberaba, passaram a estimular a prisão de adversários e de mais um bocado de gente considerada incômoda aos seus humores e negócios.

A lista abrangia padres, freiras, educadores, jornalistas ligados à Ação Católica e à combativa imprensa católica. Prisões chegaram a ser feitas, mas o terror foi enfrentado com coragem pelo Bispo. Do alto de sua autoridade moral incontestável, Dom Alexandre exigiu o fim dos excessos. Retirou da prisão, com pedido de desculpas dos carcereiros, as pessoas alcançadas pela injustiça, três ou mais cidadãos acima de qualquer suspeita, cujos nomes figuravam no rol dos culpados eleitos pelos políticos. Foi para a rádio, no programa semanal que mantinha na Difusora, e condenou as arbitrariedades, citando expressamente os seus autores. Era um homem compromissado com a verdade, com princípios, com valores éticos, com a celebração permanente da vida.

Ainda não satisfeito por completo com os resultados de suas intervenções, Dom Alexandre foi para a capital mineira encontrar-se com o Governador Magalhães Pinto, no Palácio da Liberdade, em abril de 1964. Em mais uma amostra de exercício de cidadania, fez uma exposição detalhada do que estava ocorrendo. Falou das arbitrariedades praticadas contra o interesse comunitário. Apontou os responsáveis, civis e militares possuídos de ódio irracional. Exigiu que o Governo pusesse cobro nos desmandos.

Sua palavra vigorosa sensibilizou o Governador Magalhães Pinto, pois, em poucos horas as autoridades envolvidas na perseguição descabida a adversários do poder político dominante foram afastadas de suas funções.

Sr. Presidente, Senador Renan Calheiros, Srªs e Srs. Senadores, brasileiros que nos assistem pela TV Senado, creio haver conseguido retratar, com algumas pinceladas, o perfil do grande mineiro e brasileiro, cujo centenário desejo aqui reverenciar.

Associando-me às manifestações com que a sociedade mineira homenageia a memória desse seu filho ilustre, solicito que a Mesa do Senado faça chegar ao conhecimento do Arcebispado de Uberaba, do Poder Público Municipal de Uberaba, da Academia de Letras do Triângulo Mineiro, responsáveis pela programação comemorativa do centenário de nascimento de Dom Alexandre Gonçalves Amaral, nossa manifestação de aplausos e de solidariedade com relação à sua inspirada iniciativa.

Uma vida luminosa como a de Dom Alexandre deixa uma lição definitiva e perene para todos nós.

Muito obrigado.

Era o que eu tinha a dizer, Sr. Presidente.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 21/06/2006 - Página 20971