Discurso durante a 86ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Comentários sobre a importância da oitava Semana Nacional Antidrogas.

Autor
Paulo Paim (PT - Partido dos Trabalhadores/RS)
Nome completo: Paulo Renato Paim
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
DROGA.:
  • Comentários sobre a importância da oitava Semana Nacional Antidrogas.
Aparteantes
Romeu Tuma.
Publicação
Publicação no DSF de 22/06/2006 - Página 21095
Assunto
Outros > DROGA.
Indexação
  • IMPORTANCIA, SEMANA, AMBITO NACIONAL, COMBATE, DROGA, INCENTIVO, ATIVIDADE, PREVENÇÃO, REDUÇÃO, DEMANDA, OFERTA, TOXICO, PARTICIPAÇÃO, ESTABELECIMENTO DE ENSINO, FAMILIA, COMUNIDADE.
  • COMENTARIO, LEITURA, TRECHO, CARTA, AUTORIA, ADOLESCENTE, USUARIO, DROGA, DESTINATARIO, ORADOR, REGISTRO, NOCIVIDADE, EFEITO, EXPERIENCIA, CONSUMO, ENTORPECENTE.

           O SR. PAULO PAIM (Bloco/PT - RS. Para uma comunicação inadiável. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, agradeço ao Senador Marcos Guerra pela oportunidade. Tenho de ir para a reunião da Comissão do Salário Mínimo, da qual sou Relator. Hoje vamos dialogar com a Cobap, em função desse movimento que existe para garantir o reajuste de 16,7% aos aposentados e pensionistas, do qual todos sabem que sou totalmente a favor.

           Mas, Sr. Presidente, eu não poderia deixar de vir à tribuna para comentar a importância desse encontro internacional sobre drogas de todos os tipos, incluindo o álcool, que vêm matando a nossa juventude. Por isso, vim à tribuna para dar parabéns a todos aqueles que fazem parte do Conselho do Gabinete de Segurança Institucional da Presidência da República e de todas as instituições envolvidas na ação, que teve início na última segunda-feira.

           Destaco aqui a ação da Secretaria Nacional Antidrogas - Senad e do Conselho Nacional Antidrogas, que abrem hoje oficialmente a VIII Semana Nacional Antidrogas, cujo slogan é “Na Prevenção, Dividir Responsabilidade é Multiplicar Resultados”.

           A semana tem o objetivo de estimular a realização de atividades dedicadas à redução da demanda e da criminosa oferta de drogas em nosso País.

           Serão realizadas uma série de atividades, dando ênfase às ações dirigidas à prevenção do uso de droga, desenvolvidas pela SENAD em parceria com outros órgãos do Governo e do conjunto da sociedade.

           Três são os focos das ações: escola, comunidade e trabalho. Isso, sempre vinculado à prevenção e ao ambiente familiar. Ações essenciais que só se vêm somar para conquistarmos o objetivo principal: proporcionar às nossas crianças uma juventude digna, vidas livres de tanta violência.

           Faço meu o apelo do jovem Samuel e de todos que lutam contra as drogas. Nossos jovens, principais atingidos, precisam “tomar as rédeas de suas vidas”.

           Nós, legisladores, temos de fazer a nossa parte. Nós, pais, mães, tios, irmãos, temos de fazer a nossa parte. Repito: nós, irmãos, irmãs, amigos, precisamos fazer a nossa parte. Nós precisamos fazer a nossa parte.

           Sr. Presidente, no tempo que me resta, tentarei ler a carta que recebi do jovem Samuel, exemplo de quem conseguiu sair das drogas. Hoje, falamos com ele em meu gabinete, e ele me autorizou a ler sua carta.

           Diz Samuel em sua carta:

(...) Até os meus quatorze anos, eu era um garoto normal, feliz com a vida, com mil sonhos na cabeça, vários amigos. Na verdade, eu era meio “caxias”, meio “mauricinho”.

(...) Era até um cara esnobe. Eu me achava, realmente, melhor que os outros.

(...) Até que [estou resumindo], nessa mesma idade, aconteceu algo que iria mudar toda a minha vida. Não só minha vida, mas a minha personalidade e da minha família. (...) Fui seqüestrado. (...) Passei doze dias em um cativeiro.

           Ele enumera a situação por que passou quando ficou preso esses doze dias. Depois de doze dias, ele conseguiu sair do cativeiro, voltou para casa, ficou com trauma do seqüestro, tentou voltar à normalidade.

           Diz ele:

Um dia, estava na casa de um amigo e ele me ofereceu um baseado. Na hora, recusei, mas, depois, acabei fumando. Depois disso, sempre que a gente saía, a gente fumava. Tudo era uma desculpa para acender um. A Bia [que era a namorada] ficava “p" da vida, mas ficava calada. Minha família sabia e ficava calada.

Um dia, um amigo me chamou e me deu um pacotinho com pó e eu cheirei. (...) Meus pais descobriram. Tentei parar. (...) Fiz terapia. (...) A Bia engravida.

Fiquei muito feliz. (...) Era uma redenção. (...) Tentei planejar o futuro.

Ao mesmo tempo, via em meus pais e nos pais dela um olhar de preocupação (...), mas, no fundo, eu comemorava no íntimo.

Então, ela teve sangramento no quinto mês da gestação, e a médica pediu repouso, o que ela fez por um mês. Quando tive que viajar para o vestibular, ela foi a uma festa e acabou tendo a nossa filha naquela noite.

Nasceu de seis meses e meio... Viveu durante dez dias longos dez dias. [Morreu.]

Ela tinha vários problemas de saúde [olhe bem as drogas. Oficialmente ela poderia sobreviver ou, se não morresse, teria seqüelas.] Eu amei aquele “serzinho”. Passei o dia e a noite no hospital.

A sensação que eu tinha é que eu tinha que ficar ali, [ao lado dela], se eu saísse ela morreria. Mas não adiantou [ela morreu].

[Quando ela morre, fica desesperado.] (...) Detonei. Perdi a namorada, bati nela, roubei meus pais, meus cunhados, minhas irmãs. Tive overdose, voltei pra rua. Detonei de novo.

Até que um dia eu estava muito doido, fora de mim, quando senti uma picada no meu braço. Tinham injetado em mim o pó. Fiz isso por diversas vezes.

Eu não comia. Estava fora de casa. Abandonei minha família. Destruí o meu lar, que poderia ser muito feliz.

Acabou do jeito que vocês estão vendo. Peguei uma infecção violenta por usar seringa contaminada, o que acabou se transformando em uma artrite reumatóide e em endocardite crônica.

Sou portador do vírus hepatite C e só não peguei AIDS porque Deus não quis, apesar de, durante muito tempo, desconfiar que a minha família sabia, só que não me avisava.

Fiz vários exames que deram negativo. Agora, acredito nele. Estou sem conseguir andar. [Olha bem, Sr. Presidente, as drogas o que fazem!] Desde novembro, coloquei várias próteses. Sinto dores em todo o meu corpo 24 horas por dia. Minha vida jamais será a mesma.

Procuro viver em face da minha vida da forma mais corrente possível. Não há como se revoltar em certos dias. Não há como não ficar deprimido em outros. Em alguns, eu me sinto até feliz. Mas me sentiria mais feliz, se ainda souber, que alguém que esteja se drogando e que esteja assistindo neste momento à TV Senado, ou pensando em fazer isso, leia o que estou escrevendo.

           Aí diz ele àquele que optou pela droga:

Você, que pensa em usar droga, você, que usa droga, tem que saber você é a única pessoa que pode mudar isso. Não adianta os outros falarem. Não adianta os outros te amarem. Isso é muito pouco. O que vale é perceber que tudo isso é uma ilusão, é uma perda de tempo, mesmo que seja para muitos uma fuga.

Não deixe que seja tarde demais. Mude isso agora. Se perceber que não consegue ir sozinho, seja humilde, procure ajuda. Eu não nego. Até hoje, a danada da droga me tenta pensar nela, me faz sentir calafrios pelo corpo, mas me sinto muito bem por hoje estar longe dela.

           Sr. Presidente e aqui, termino, diz o Samuel:

        Talvez, todas essas limitações em que me encontro, [de não poder mais andar] seja uma vantagem: a de não ter a chance de ceder para essa maldita droga. Você não precisa ter que passar pelo que estou passando,[para entender que você tem que sair da droga].

           Diz ele e aqui ele termina:

Olhe para dentro de si. Não deixe ela tomar as rédeas da tua vida. A vida é tua, ela é tua, só tua, e com certeza, de Deus também, [torce por você]. Mas Ele não pode fazer nada se você não der um empurrãozinho.

 

           Sr. Presidente, queria agradecer ao Samuel, que hoje não anda, está parado, pela carta que ele escreveu e permitiu que eu lesse, aqui, de público, pela importância dessa luta que atinge, eu diria, a maioria dos lares do nosso Brasil, do nosso País.

           Senador Romeu Tuma, naturalmente, vou lhe permitir um minuto, por isso Senador, estou elogiando esse seminário internacional da luta contra todo o tipo de droga, não esquecendo que o álcool também é um tipo violento de droga.

           Ouço o Senador Romeu Tuma.

           O Sr. Romeu Tuma (PFL - SP) - Senador Paulo Paim, Senador Efraim Moraes, Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, vim disposto a falar sobre a Semana da Luta Anti-drogas, que hoje se realiza, porque participei, muito emocionado, de uma cerimônia no Palácio do Governo da entrega de diplomas na entrega de diplomas de um programa que nasce, “Diga sim à vida”, com Mauricio de Sousa, da Turma da Mônica, que criou também seu companheiro gaúcho, o Ronaldinho Gaúcho, uma das figuras que vai participar desse programa. Estava lá praticamente todo o Executivo: o Presidente Lula, o Vice-Presidente José de Alencar, o General Félix, o General Uchôa e o professor Carlini, que há mais de quarenta anos é um especialista nessa luta contra as drogas, tentando orientar a juventude. É um programa espetacular, Senador, sabe por quê? Porque é feito para as crianças. Lá havia centenas de crianças que participaram de um concurso de desenhos, de monografias, de fotografias voltadas para a busca pela criança de sua realização por meio de programas especiais que o Governo possa apresentar, em vez da tentativa de realização pelas drogas. Então, recebi um diploma das mãos do Presidente, o que me deixou emocionado. Acredito que é uma honra estar ao lado de Mauricio. O Presidente já tinha entregado alguns diplomas pela manhã, mas disse que o meu e o do Mauricio eram especiais, então eu queria agradecer o diploma e cumprimentar V. Exª por trazer esse assunto hoje à tribuna. Era isso mesmo que eu pretendia falar, mas penso que a eloqüência da carta lida por V. Exª traz algo muito mais forte para a sociedade e tem um alcance maior para a recuperação do usuário e para a prevenção. Não nos esqueçamos de que a repressão tem que continuar, de que temos que combater o traficante, mas olhemos um pouquinho para o lado do usuário e daqueles que não precisam entrar nas drogas para se sentirem felizes perante a sociedade.

           O SR. PAULO PAIM (Bloco/PT - RS) - Obrigado Senador Romeu Tuma.

           Quero mais uma vez agradecer ao Samuel, que me permitiu ler a sua carta na íntegra. É um exemplo, um jovem rapaz que perde o seu filho e que tem a Bia, sua namorada, resistindo a seu lado. Ele pede que a nossa juventude saia dessa. Isso não é ser inteligente. Eu diria que viver com as drogas é ser - desculpem-me a expressão - incompetente. Aquele que faz a opção pela droga é porque foi incompetente. E com isso ele está destruindo toda a sua família, porque isso tem um efeito dominó repercute em toda a família. Se bobear, toda a família vai para o fundo do poço.

           Por isso, Samuel, parabéns a você, um abraço para os seus pais e para a sua hoje esposa. Sei que você não anda mais, mas é bonito ver que, no estado em que se encontra, você disse não às drogas e sim à vida.

           Obrigado, Sr. Presidente.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 22/06/2006 - Página 21095