Discurso durante a 86ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Mensagem de admiração e reverência ao grande vulto da política brasileira, Leonel de Moura Brizola. (como Líder)

Autor
Sérgio Zambiasi (PTB - Partido Trabalhista Brasileiro/RS)
Nome completo: Sérgio Pedro Zambiasi
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM.:
  • Mensagem de admiração e reverência ao grande vulto da política brasileira, Leonel de Moura Brizola. (como Líder)
Publicação
Publicação no DSF de 22/06/2006 - Página 21167
Assunto
Outros > HOMENAGEM.
Indexação
  • HOMENAGEM, ANIVERSARIO DE MORTE, LEONEL BRIZOLA, LIDER, POLITICA NACIONAL, EX GOVERNADOR, ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL (RS), ESTADO DO RIO DE JANEIRO (RJ), FUNDADOR, PARTIDO POLITICO, PARTIDO DEMOCRATICO TRABALHISTA (PDT), ELOGIO, VIDA PUBLICA, CONTRIBUIÇÃO, DEMOCRACIA.

O SR. SÉRGIO ZAMBIASI (PTB - RS. Pela Liderança do PTB. Sem revisão do orador.) - Srª Presidente, Senador Heloísa Helena; Srªs e Srs. Senadores, compromissos de última hora não me permitiram estar presente à sessão matinal em memória ao nosso grande Líder gaúcho Leonel Brizola. Mas, graças a sua generosidade, Senadora Heloísa Helena, e a dos demais Colegas, tenho agora a oportunidade de deixar aqui, desta tribuna, uma mensagem de admiração e reverência a este grande vulto da história brasileira.

Eu não poderia deixar de somar-me aos pronunciamentos; entre tantos outros, ao do Senador Cristovam Buarque, proponente da sessão, que destacou o compromisso de Brizola com o aprofundamento da democracia, o fim da corrupção e o combate à criminalidade e às desigualdades sociais, ancorado, com certeza, em uma proposta para a educação universal e de qualidade; à emoção do meu querido conterrâneo Senador Paulo Paim, ao fazer votos pela permanência dos ideais de Brizola, norteador e luz em sua vida; à humildade e ao desabafo do nosso grande mestre Senador Pedro Simon, ao reconhecer divergências e, ao mesmo tempo, sua admiração pela figura de Brizola, destacando a luta pela justiça social como outra grande marca de Brizola, além da firmeza nas posições assumidas. Ou, ainda, como disse V. Exª, Senadora Heloísa Helena: “Brizola sempre honrou a sua história de vida na defesa das causas populares e jamais se vendeu”.

Nascido em Cruzinha, interior de Carazinho, filho de família pobre e órfão de pai muito cedo, o menino Itagiba, seu nome de batismo, tinha tudo para engrossar as estatísticas da marginalização e da exclusão social. Porém, persistente e determinado, Leonel Brizola encontrou no Pastor metodista Isidoro Pereira o apoio necessário para atravessar a difícil fase de infância de menino pobre.

Driblando seu destino, Leonel Brizola sai da sua Carazinho aos 14 anos de idade para estudar. Tudo o que tinha era uma carta de apresentação do prefeito de Carazinho a uma escola, que não o aceitou, por não ser aquele o período do ingresso. Vinha, como se diz, com a cara e a coragem. Muita coragem, diga-se de passagem, pois o obstinado menino preferiu enfrentar a Capital gaúcha a voltar derrotado para o interior.

Engraxou sapatos, foi trocador de balança e ascensorista da Galeria Chaves, no Centro de Porto Alegre. Mas realizou seus estudos, chegando até a Universidade Federal do Rio Grande do Sul, onde fez o curso de Engenharia.

Essa obstinação por estudar talvez tenha marcado definitivamente a trajetória e o homem público que foi Leonel Brizola, Senador Magno Malta. Se ele inscreveu seu nome para sempre na história dos governantes brasileiros que muito fizeram pela educação, seguramente muito se deve à sua história pessoal, às suas experiências pessoais e à acertada percepção de que sem o ensino não há futuro.

Eu mesmo, menino de origem tão humilde quanto a de Brizola, sou um dos milhares de exemplos de quem encontrou uma chance de estudar em uma das 6.300 pequenas escolas que ele espalhou pelo interior do Rio Grande do Sul, num ousado plano educacional feito ao seu tempo de Governador do meu Estado. As chamadas “brizoletas”, ou escolas rurais, que até bem pouco tempo ainda faziam parte da paisagem de quem se deslocasse pelo interior gaúcho, bem como os CIEPs, no Rio de Janeiro, até hoje são exemplo de seu esforço e de sua prioridade em favor da educação.

Vem dos tempos de estudante universitário a admiração de Brizola pelo Presidente Getúlio Vargas, o que o levou a fazer sua opção pelo PTB. Líder da então chamada Ala Moça do partido, Brizola inicia em 1946 uma exitosa carreira política com sua eleição à Constituinte Estadual, com apenas 25 anos de idade.

Foi o início de uma longa carreira política, que o levou à Prefeitura de Porto Alegre, à Câmara dos Deputados, ao Governo gaúcho e, por duas vezes, ao Governo do Rio de Janeiro. Além das grandes realizações como executivo, Brizola inscreveu seu nome na coluna dos verdadeiros estadistas ao liderar, do Rio Grande, o movimento da Legalidade, episódio pelo qual conclamou os brasileiros à resistência ao golpe que então se articulava para a queda do Presidente João Goulart.

O Palácio Piratini transformou-se numa heróica trincheira em defesa da Legalidade. O povo alistou-se como voluntário e mobilizou-se. Dos porões do palácio, Brizola fez corajosos pronunciamentos na famosa cadeia de rádio que requisitara para ganhar consciências para a causa democrática.

Em que pese a força política desse movimento, o golpe sobreveio a 31 de março de 1964, resultando num longo e prolongado exílio de Brizola no Uruguai, na Argentina e, por fim, nos Estados Unidos. Ele só retornaria ao País com a anistia, em 1979, quando, após o conhecido episódio da perda da sigla PTB, funda o PDT, Partido Democrático Trabalhista, no dia 26 de maio de 1980.

No Brasil redemocratizado, Brizola elege-se duas vezes Governador do Rio de Janeiro e concorre à Presidência da República. Internacionalmente respeitado como líder político, sua biografia está repleta de coragem moral e idealismo, de desapegos pessoais e amor à causa pública. Brizola foi ousado, persistente, admirado até mesmo pelos adversários, por sua rara capacidade de combater com lealdade. Homem de retidão inquestionável, provou que é possível fazer política com honradez e amor à coisa pública, o maior legado que deixa às gerações futuras.

Srª Presidente, Senadora Heloísa Helena, poucas oportunidades, mesmo sendo gaúcho, eu tive de conviver com Leonel Brizola, mas jamais escondi minha admiração por sua fibra e coragem.

Para encerrar este pronunciamento, lembrando a figura de Brizola, eu gostaria de citar um verso do Hino da Independência, com o qual, segundo contam seus correligionários, ele gostava de encerrar os inúmeros atos políticos que protagonizava: “Ou ficar a Pátria livre, ou morrer pelo Brasil”.

Ele lutou pela Pátria livre e morreu pelo nosso Brasil.

Leonel de Moura Brizola estará para sempre na galeria dos vultos históricos que, através dos tempos, têm forjado o caráter da gente gaúcha, ao lado de Bento Gonçalves, Alberto Pasqualini e Getúlio Vargas, num rico legado de luta em favor do interesse público, da justiça social e do amor à Pátria Brasil.

Antes de concluir, Senadora Heloísa Helena, conto uma rapidíssima passagem dos poucos contatos pessoais que tive o privilégio de ter com Brizola. Em um sábado pela manhã, em visita aos estúdios da Rádio Farroupilha, onde trabalhei durante tantos anos - eu era o apresentador naquela manhã -, quando ele era candidato a Presidente da República, um ouvinte perguntou-lhe como conseguia sobreviver a tantas turbulências em sua vida política. Ele, com seu jeito carismático e espontâneo, que lhe era característico, respondeu-lhe e a tantos quantos o ouviam, na minha frente, sendo eu testemunha privilegiada: “Amigo, eu sou como planta do deserto, que na estiagem se alimenta de gotas de orvalho”.

Muito obrigado.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 22/06/2006 - Página 21167