Discurso durante a 87ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Discussão da questão do Fundeb e da Varig. Estudos elaborados por S.Exa. analisando até que ponto o que vem acontecendo na política brasileira está contribuindo para que os costumes e a moral de nossa sociedade sejam atingidos.

Autor
Pedro Simon (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/RS)
Nome completo: Pedro Jorge Simon
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
EDUCAÇÃO. POLITICA DE TRANSPORTES. TELECOMUNICAÇÃO.:
  • Discussão da questão do Fundeb e da Varig. Estudos elaborados por S.Exa. analisando até que ponto o que vem acontecendo na política brasileira está contribuindo para que os costumes e a moral de nossa sociedade sejam atingidos.
Aparteantes
Paulo Paim.
Publicação
Publicação no DSF de 23/06/2006 - Página 21329
Assunto
Outros > EDUCAÇÃO. POLITICA DE TRANSPORTES. TELECOMUNICAÇÃO.
Indexação
  • NECESSIDADE, APROVAÇÃO, FUNDO ESPECIAL, FAVORECIMENTO, EDUCAÇÃO BASICA, TENTATIVA, OPOSIÇÃO, IMPEDIMENTO, VOTAÇÃO, MOTIVO, ATRASO, EXCESSO, MEDIDA PROVISORIA (MPV), EXPECTATIVA, ACORDO.
  • COMENTARIO, FALTA, INTERESSE, GOVERNO FEDERAL, RECUPERAÇÃO, EMPRESA DE TRANSPORTE AEREO, VIAÇÃO AEREA RIO GRANDENSE S/A (VARIG).
  • REGISTRO, ESTUDO, ORADOR, ANALISE, INFLUENCIA, TELEVISÃO, COSTUMES, SOCIEDADE, BRASIL, VINCULAÇÃO, ACEITAÇÃO, POPULAÇÃO, CRISE, FALTA, ETICA, POLITICA NACIONAL.

O SR. PEDRO SIMON (PMDB - RS. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, é uma honra falar sob a Presidência de V. Exª, cuja capacidade e credibilidade dia a dia se consolidam nesta Casa, embora V. Exª tenha vindo em uma época difícil. Acho que esta não era a época sonhada para se conhecer o Senado. Mas creio que isso vai passar. Voltaremos a ter uma Casa serena e tranqüila, a Câmara Alta da República como já foi e deverá voltar a ser.

Sr. Presidente, primeiro faço questão de falar sobre o Fundeb. Há pouco conversava com o Presidente Renan e com os Parlamentares da Oposição, no sentido de buscarmos um grande entendimento para que o Fundeb seja votado imediatamente. Há dez projetos de empréstimos para os Estados, que a Oposição não quer votar, e as medidas provisórias. Mas acho que esse projeto é tão importante, é tão significativo e necessário! E não é a primeira vez em que fazemos um grande entendimento e, com base nele, votamos um projeto como esse do Fundeb.

As discussões que tinham de ser feitas já foram feitas. Eu, por exemplo, discuti muito essa matéria. Eu dizia que não devíamos fazer com o Fundeb como se fez com os produtos de exportação. A Lei tirou o ICMS das exportações, garantindo que o Governo Federal indenizaria os Estados da diferença - a Lei Kandir. E hoje está aí. O Rio Grande do Sul, por exemplo, não recebeu quase R$ 3,5 bilhões, porque o Governo Federal, pura e simplesmente, não compensa. Não cumpre a Lei Kandir. O Rio Grande do Sul é um grande exportador. E, como fruto dessas exportações, não recebemos o ICMS. A Lei diz que compete ao Governo Federal fazer a indenização. E o Governo não a faz e não dá bola.

Temos medo de que o Fundeb estoure na Prefeitura, que termine a Prefeitura tendo de pagar - o Governo está dizendo que depois repassará para a Prefeitura. Queremos colocar na lei a determinação de que o Governo Federal tem de repassar para a Prefeitura. Foi feita uma emenda nesse sentido. E agora o Plenário votará, ou essa emenda, que é de minha autoria, ou o projeto como veio do Governo - não importa -, que está para ser votado no plenário. Prefeitos de todo o Brasil fizeram esse apelo, tendo à frente o Prefeito Paulo Ziulkoski. E isso ainda não foi votado por uma razão só: está trancada a pauta porque, de um lado, não se votam os empréstimos e, de outro, o Governo envia as medidas provisórias.

Fiz um apelo aos Líderes de todos os Partidos e também ao Senador Renan. S. Exª me disse que vai insistir e que, provavelmente na próxima semana, conseguiremos um acordo de Liderança para pôr a matéria imediatamente em votação.

Segundo ponto: a Varig. O Senador Paulo Paim, o Senador Sérgio Zambiasi, eu e um grupo pensávamos que o assunto tinha tido uma grande solução. Esse juiz fantástico que está impedindo a implosão da Varig aceitou a proposta dos funcionários e permitiu que o caso fosse adiante. O que me deixa apavorado são as manifestações dos homens do Governo, Ministros e autoridades, no sentido de desmontar a Varig, dizendo que o BNDES não vai dar o empréstimo - dá para Deus e todo o mundo, para empresa pública e privada, estatal e multinacional, seja o que for, mas não para a Varig, não. O Governo já anuncia que tem um projeto pronto para quando a Varig explodir.

Olha, Senhor Presidente Lula, o senhor vai ficar com a responsabilidade de que este Governo boicotou, derrotou a Varig, derrubou a Varig do ar, porque há outros interesses que este Governo quer que estejam no lugar da nossa Varig.

O Sr. Paulo Paim (Bloco/PT - RS) - Permite-me V. Exª um aparte, Senador Pedro Simon?

O SR. PEDRO SIMON (PMDB - RS) - Pois não, Senador.

O Sr. Paulo Paim (Bloco/PT - RS) - Senador Pedro Simon, fiz questão de fazer um aparte a V. Exª, que vai à tribuna defender os interesses do nosso Estado, o Rio Grande do Sul. É esse o dever de cada um dos Senadores. E todos o fazem aqui de forma muito firme e competente. V. Exª vai na mesma linha. V. Exª quer que direitos assegurados para o Rio Grande - e está aí a Lei Kandir - sejam cumpridos, devido naturalmente à situação difícil do nosso Estado. Fala-se muito, inclusive eu, V. Exª e o Senador Zambiasi, da discussão de um pacto federativo. Falamos muito da importância de um encontro de contas e das dívidas, na busca de uma saída positiva para o nosso Estado com a participação do Governo Federal. Mas isso não depende somente de nós Senadores. Tem que haver todo um entendimento dos Governadores e do próprio Governo Federal, cuja contribuição muito contará, com certeza absoluta. E V. Exª tem iniciativa nesse sentido. Tenho o prazer de defender junto com V. Exª a busca de saídas para o nosso Estado. Mas V. Exª entra em um outro assunto também de suma importância e que tem a ver com o Rio Grande do Sul e tem a ver, naturalmente, com o Brasil, que é a nossa Varig, uma referência da aviação perante o mundo. Eu dizia ontem, Senador Pedro Simon - e vou reafirmar agora - que tenho muita esperança ainda. E V. Exª lembra bem que o BNDES faz empréstimo - desculpe a expressão que vou usar - para Deus e para o diabo. E é impossível que, num momento como este, se uma empresa como a Varig for à falência, haverá o prejuízo para o País de US$ 10 bilhões, não aconteça o empréstimo que pode ficar entre US$ 100 milhões e US$ 150 milhões. Espero que seja dada essa decisão logo, e que o Consórcio dos trabalhadores... Senador Pedro Simon, ontem, dizia eu, por que não houve outros investimentos no leilão? Por que não se apresentaram?

O SR. PEDRO SIMON (PMDB - RS) - Porque estavam esperando falir e pegar as linhas de graça.

O Sr. Paulo Paim (Bloco/PT - RS) - Estavam esperando a falência. Exatamente, exatamente. É para ganhar todas as linhas, a concessão, de graça. Por isso, todo mundo chegou lá dizendo que iam se apresentar, cinco, seis investidores, e ninguém apresentou. Eles surpreenderam porque o Consórcio dos trabalhadores se habilitou. E o juiz, ao qual nós, do Senado - não apenas os Senadores do Rio Grande do Sul, como outros Senadores também -, encaminhamos para a OAB o voto de aplauso, competente, qualificado, de forma sábia e querendo o melhor para o País, disse: não vou decretar falência; vou conceder para o Consórcio dos trabalhadores. E como foi dito aqui ontem pelo Senador Ramez Tebet, o autor da Lei de Recuperação das Empresas - e teremos que, um dia, fazer uma homenagem ao Senador Ramez Tebet aqui pela aprovação dessa lei -, o juiz dos Estados Unidos poderia ter decretado praticamente a falência da Varig se aceitasse a iniciativa daqueles que são credores da Varig. Não, deu mais um mês. É impossível que não façamos a mesma coisa.

O SR. PEDRO SIMON (PMDB - RS) - Também deu prazo. E são empresários americanos...

O Sr. Paulo Paim (Bloco/PT - RS) - Exatamente, empresários americanos. Por isso é que quero, com a mesma firmeza de V. Exª e de outros Senadores que já o fizeram, insistir na linha da busca de uma saída, para que possamos ver a Varig voltando a voar não somente no céu do Brasil, mas no mundo todo, como ela sempre fez. Parabéns, Senador Pedro Simon!

O SR. PEDRO SIMON (PMDB - RS) - Agradeço muito a V. Exª. E quero, com muita clareza, dizer: o Governo Lula será responsabilizado pelo que acontecer com a Varig, pela omissão, pelo boicote que vem fazendo até aqui. Creio que alguém deve chamar a atenção do Presidente Lula. Se o BNDES negar esse empréstimo, que é de US$ 75 milhões, quantia que a Varig precisa até amanhã, é porque realmente o Governo quis concluir o boicote. Vai ser uma missa fúnebre muito triste e muitos caixões serão conduzidos pelo Brasil com o nome de Lula como o responsável pela morte da Varig.

Sr. Presidente, estou fazendo uma série de estudos, analisando até que ponto o que vem acontecendo na política brasileira está contribuindo para que os costumes e a moral de nossa sociedade sejam atingidos. Tenho dito muitas vezes aqui e tenho projetos de lei no Congresso discutindo o problema da televisão brasileira. Acho que ela é muito aberta. Não quero, pelo amor de Deus, não me passa pela cabeça estatizá-la ou que o Governo meta a mão, o que seria uma desgraça. Mas acho que a universidade e a sociedade deveriam ter regras para ver até que ponto a televisão pode ajudar e colaborar com a cultura, com a ética e com a moralização do povo brasileiro.

O que me chama muito a atenção é o problema das novelas, quando vejo o estilo delas atingindo no âmago os costumes da sociedade brasileira.

Estou aqui com as páginas amarelas da Veja e não nego aos senhores que não consegui dormir sem ler três vezes, chocado, essa entrevista do grande produtor de novelas Sílvio de Abreu. Impressionaram-me a franqueza e os dados que ele apresentou: “Uma parcela das espectadoras já não valoriza tanto a retidão de caráter”. A Globo faz pesquisas diárias sobre o capítulo, sobre as personagens para ver o que os telespectadores acham disso.

E com relação à novela Belíssima, são “(...) 59 pontos no ibope e é sintonizada por sete em cada dez espectadores no país”. Ele diz: “Uma parcela das telespectadoras já não valoriza tanto a retidão de caráter. Para elas, fazer o que for necessário para se realizar na vida é o certo”.

O Sr. Sílvio de Abreu se confessa chocado com a descoberta de que o público mudou seu modo de encarar os desvios de conduta dos personagens. Diz ele: “Como sempre acontece na Globo, realizamos uma pesquisa com espectadoras para ver como o público estava absorvendo a trama e constamos que uma parcela considerável delas já não valoriza tanto a retidão de caráter. Para eles, fazer o que for necessário para se realizar na vida é o certo. Esse encontro com o público me fez pensar que a moral do país está em frangalhos”. É o autor da novela que faz, que escreve e que recebe diariamente a pesquisa feita pela própria Globo que diz isto: “Esse encontro com o público me faz pensar que a moral do País está em frangalhos”.

A Veja pergunta: “Será que está?” Abreu responde: “As pessoas se mostram muito mais interessadas nos personagens negativos do que nos moralmente corretos”.

Vejam que coisa fantástica, que transformação fantástica que se está verificando! Antigamente, as jovens se identificavam com as mocinhas, os jovens se identificavam com os mocinhos das novelas. Presidi uma Comissão que debateu o problema da televisão brasileira. Vimos ali uma coisa interessante: naquela época, os jovens, as jovens, os trabalhadores, os operários do Estado de São Paulo, aqueles que levam duas horas de ônibus para chegar em casa, quando chegavam, viam a novela e se identificavam com os personagens. Naquele momento, eles tinham uma dupla personalidade: eles não iam dormir se sentindo como aquela pessoa que levantou de madrugada, com fome, que sofreu. Eles iam dormir se sentindo como aquela personagem da novela e dormiam tranqüilamente. Isso ocorria porque as pessoas se identificavam com aquelas personagens.

Mas, hoje, diz Abreu: “As pessoas se mostram muito mais interessadas nos personagens negativos do que nos moralmente corretos”. Continua ele: “Na minha novela anterior, As Filhas da Mãe, há coisa de cinco anos, o comportamento dos grupos de pesquisa era totalmente diferente. Os personagens bons eram os mais queridos”. Os personagens eticamente corretos, que tinham boa atuação, tinham boa aceitação por parte do público. “Nessa última pesquisa - repare que isso é fantástico, Sr. Presidente -, eles foram considerados enfadonhos por boa parte das espectadoras.” Quer dizer, a pessoa se identifica com o mau, com o quer vencer, com o que faz a tramóia. Esse ele acompanha. O bom, o correto, o certo é enfadonho, é um chato. Este é o pensamento dos telespectadores. “Elas se incomodavam com o fato de a protagonista Júlia ficar sofrendo em vez de se vira e resolver sua vida de forma pragmática. Outro exemplo são as opiniões sobre Alberto, o personagem que não mediu esforço para tirar de seu caminho o Cemil, um bom moço, e roubar sua pretende, Mônica. Alberto fez uma falcatrua para desmanchar o romance do rival. Em qualquer outra novela, isso faria o público automaticamente ficar do lado do mocinho”. Mas hoje os assistentes da novela não acharam nada de mais na conduta do Alberto, que fez tudo de errado para ganhar a mulher. “Pelo contrário: ponderaram que, se ele fez aquilo para conquistar um mulherão, tudo bem. O fato de o André ter dado um golpe do baú na Júlia também foi visto com naturalidade. As espectadoras achavam que, se ele precisava de dinheiro, não havia mal em ficar com ela. Colocamos então que o canalha a estava roubando e as espectadoras retrucaram: deixa disso, daqui a pouco eles vão ficar bem. O fato de André ser bonito era suficiente para ganhar o prêmio máximo numa novela, que é ficar com a mocinha. Na mesma pesquisa, colhemos indícios claros” -isso é importante, Sr. Presidente. -“de que essa maior tolerância com os desvios de conduta tem tudo a ver com os escândalos recentes da política.

Isso é científico; é uma pesquisa que a Globo faz para si. Ela faz isso para conduzir a novela, para ver se aquele personagem está agradando, se o outro não está agradando, como faz, como não faz. E a resposta é essa tolerância com os maus personagens, essa mudança de costume, de considerar os honestos uns chatos. As falcatruas são certas, se ele as fez para pegar a mulher. Essa mudança do espírito tem tudo a ver com os escândalos recentes na política brasileira.

Diz ele: O nível intelectual do brasileiro de maneira geral está abaixo do que era na década de 60 ou 70, porque as escolas são piores e o estudo já não é valorizado como antigamente”. E soltamos foguetes aqui porque triplicou o número de universidades; hoje há universidade em todos os cantos. “Houve um dia, não custa lembrar, em que cursar a universidade era um objetivo de vida. O valor não é mais fazer alguma coisa que seja dignificante. As pessoas querem subir na vida, ganhar dinheiro a qualquer custo, e dane-se o resto”.

Sr. Presidente, estou apenas, neste final de sessão, trazendo a debate o final dessa frase: as pessoas querem subir na vida, e dane-se o resto. Vou aprofundar este estudo, Sr. Presidente; vou aprofundar este estudo.

Tenho dito desta tribuna que a sociedade brasileira não tem mais referência, a Igreja, as lideranças da Igreja, a política, os militares, os intelectuais, os homens de imprensa. De repente, não mais que de repente, as pessoas que lêem jornal, que assistem a televisão e acompanham o debate, a política não têm referência. Mas eu não imaginava que tinha chegado a este ponto. Juro que não imaginei que tinha chegado neste ponto.

As pessoas que assistem às novelas, Sr. Presidente, são simples, são de bons sentimentos, geralmente são pessoas que vêem na novela a distração da sua vida. Levantam-se às 6 horas, vão para o trabalho, geralmente não voltam para almoçar em casa, nas grandes cidades. Chegam em casa às 7 ou 8 horas da noite, jantam, ligam a TV, assistem às novelas e vão dormir. De repente, essas pessoas mudaram!

Não sei se estou sendo feliz em transmitir o que estou pensando, mas de repente essas pessoas vêem o mundo de outra maneira.

(Interrupção do som.)

O SR. PEDRO SIMON (PMDB - RS) - De repente essas pessoas estão achando que o vilão é que está certo. É claro que essas pessoas, na vida delas, vão se conduzir assim. É claro que, cinco anos atrás, elas olhavam o mocinho que se comportava bem, se identificavam com ele e torciam para ele. E agora acham que ele é um chato e que deve ser colocado fora; ficam do lado do que queria ganhar de qualquer jeito. E é o que vão fazer na vida deles; é o que vão realizar no dia-a-dia deles, com a família deles.

Portanto, essa deterioração que esse ilustre cidadão fala que está acontecendo é a deterioração da sociedade brasileira, o que de mais grave, de mais triste que pode acontecer.

E ele disse que tem a certeza absoluta de que isso que está acontecendo tem ligação direta com os escândalos da classe política. Tem ligação direta com os escândalos da classe política!

(Interrupção do som)

O SR. PEDRO SIMON (PMDB - RS) - Repare se isso não é motivo para se parar para pensar, se isso não é motivo para refletirmos.

Tenho falado muito, Sr. Presidente, principalmente agora que o meu Partido foi para fundo do poço, com companheiros de vários Partidos e fora de Partido. Ainda hoje, na nossa reunião mensal, nosso grupo de religião, na missa, falava com o Secretário-Geral da CNBB. Eu disse que temos que criar grupos. E estávamos numa mesa muito interessante. Estava um Ministro do PT; um Deputado que era do PT e está no P-SOL; um Deputado que agora está no PSDB; eu, que estou no PMDB; um outro que estava no PDT, numa mesa, todos com o mesmo pensamento. Quando entramos na política, pensávamos igual e, hoje, pensamos igual. Cada um de Partido diferente, cada um num caminho diferente. Então eu dizia ali, hoje de manhã, que vamos ter que nos reunir. Não estou dizendo que vamos nos reunir para fazer um Partido - isso vamos discutir depois.

(Interrupção do som.)

O SR. PEDRO SIMON (PMDB - RS) - De repente, vamos pegar um grupo de 20 ou de 30 e vamos debater, vamos analisar e, lá pelas tantas, vamos apresentar um documento à sociedade sobre um determinado assunto, com a assinatura de V. Exª, do Paim, do fulano, do Ministro do PT, do fulano de tal do PMDB. E pelos nomes vão dizer: Não, essas pessoas eu respeito. É uma maneira de ter alguma referência.

Um documento do PMDB alguém leva a sério? Com todo o respeito, hoje, o documento do PT alguém leva a sério? Uma nota do PSDB alguém leva a sério? A classe política alguém leva a sério? Tínhamos grandes jornalistas, o Castelo Branco, o Castelinho, cujas publicações esperávamos para ver. Alguém leva a sério hoje? São grandes jornalistas, mas todos com suas opiniões pessoais. Eles pensam aquilo. Até respeito o pensamento dele, que pensa aquilo, mas não é uma referência.

Isso me leva a crer que temos que correr com essa atitude. Penso que devíamos convidar esse cidadão para vir conversar conosco aqui no Senado; ouvi-lo na Comissão de Educação. Convidá-lo para, na melhor das condições, abrirmos um debate sobre essa matéria. E é o que pretendo fazer. Pretendo convidar o Sr. Sílvio de Abreu para aprofundar o pensamento que ele manifestou nas “Páginas Amarelas” da Veja. Ele que venha dizer aqui - estou dizendo isso com o maior respeito -, para nós ouvirmos. Temos que ouvir de sua boca - morrer de vergonha, mas ouvir - que essas coisas acontecem, em grande parte, pelo que a classe política está fazendo. Ele que venha dizer isso para nós aqui. É importante que ele venha, porque ele está certo. Nós vamos ouvir o debate e ver o que podemos fazer.

É claro que é uma coisa fantástica. Eu aqui usei o exemplo da televisão. É a primeira vez que venho falar isso, porque, nas vezes que tenho vindo, é para bater na televisão, principalmente na novela das oito. Vim aqui para contar que, quando eu era mais moço, saí de Caxias, e havia uma região, chamada Santa Justina, onde nós políticos do PTB encerrávamos todas as campanhas.

(Interrupção do som.)

O SR. PEDRO SIMON (PMDB - RS) - Encerrávamos nossas campanhas em Santa Justina, e toda a vila estava lá. Era no salão paroquial da Igreja - aquelas gurias com vestidos de chita até o chão. Havia um almoço e, depois do almoço, dançava-se música gaúcha ou música italiana. Passou-se o tempo e eu não pude mais ir lá. Sete ou oito anos depois, os caras me cobraram: “Simon, tu tens que ir lá. Faz tempo que tu não vais lá. Os caras estão cobrando porque não vamos lá”. Decidimos, então, que, quando a campanha encerrasse, depois da eleição, iríamos lá.

Chegamos lá. Era a mesma gente. A televisão tinha chegado - antes, não havia televisão nem luz. E o que eu vi ali... Era igual a uma boate no Leblon: as gurias de minissaia; dentro do salão da Igreja, mas em um canto, uma boatezinha com luz negra, e as músicas e danças as mais modernas. Então, eu dizia que, com todo o respeito, era um erro colocar a novela das oito para o Brasil inteiro assistir e levar para o Brasil inteiro o que acontecia no Leblon, que não era a sociedade do Brasil inteiro.

Reparem que, hoje, tenho que vir aqui para falar exatamente o contrário, quando um diretor, um produtor, o Sr. Sílvio de Abreu, um dos melhores criadores de novelas, vem mostrar-nos isso. “A moral está torta” - é o título da reportagem.

E o subtítulo é: “O autor de Belíssima fala do sucesso e fracasso da novela e revela-se chocado com a tolerância do público com personagens canalhas”.

Formularei e, por meio de V. Exª, Sr. Presidente, encaminharei um requerimento convidando o Sr. Sílvio de Abreu para que nos honre com a sua presença na Comissão de Educação, onde poderemos analisar sua entrevista. Talvez ele possa até trazer alguns colegas e alguns elementos das pesquisas que eles fizeram para nos levar adiante.

Agradeço a tolerância de V. Exª, Sr. Presidente. A matéria realmente era importante.

Muito obrigado.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 23/06/2006 - Página 21329