Discurso durante a 89ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

Alerta aos eleitores sobre a necessidade de rejeitar, através do voto, os candidatos envolvidos em corrupção e atos lesivos aos cofres públicos.

Autor
Ramez Tebet (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/MS)
Nome completo: Ramez Tebet
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
ELEIÇÕES. REFORMA POLITICA. POLITICA DE TRANSPORTES. LEGISLATIVO.:
  • Alerta aos eleitores sobre a necessidade de rejeitar, através do voto, os candidatos envolvidos em corrupção e atos lesivos aos cofres públicos.
Aparteantes
Marco Maciel, Paulo Paim, Tião Viana.
Publicação
Publicação no DSF de 27/06/2006 - Página 21613
Assunto
Outros > ELEIÇÕES. REFORMA POLITICA. POLITICA DE TRANSPORTES. LEGISLATIVO.
Indexação
  • ANALISE, FALTA, CONFIANÇA, SOCIEDADE, INSTITUIÇÃO PUBLICA, CONGRESSO NACIONAL, MOTIVO, IMPUNIDADE, CORRUPÇÃO, SOLICITAÇÃO, POPULAÇÃO, DEMONSTRAÇÃO, REVOLTA, UTILIZAÇÃO, VOTO, FORMA, REPUDIO, IRREGULARIDADE, LEGISLATIVO, EXECUTIVO.
  • CRITICA, DESCUMPRIMENTO, MISSÃO, PARTIDO POLITICO, ABANDONO, IDEOLOGIA, NECESSIDADE, REFORMA POLITICA, IMPORTANCIA, ETICA, POLITICO.
  • CRITICA, LEGISLAÇÃO ELEITORAL, AUTORIZAÇÃO, REELEIÇÃO, PREFEITO, GOVERNADOR, PRESIDENTE DA REPUBLICA, AUSENCIA, ABANDONO, MANDATO ELETIVO, REITERAÇÃO, IMPORTANCIA, VOTO, CONSTRUÇÃO, CIDADANIA.
  • NECESSIDADE, PROPOSTA, GOVERNO FEDERAL, FORMA, AUXILIO, RECUPERAÇÃO, VIAÇÃO AEREA RIO GRANDENSE S/A (VARIG).
  • CRITICA, DESCUMPRIMENTO, FUNÇÃO, LEGISLATIVO, SUBORDINAÇÃO, MEDIDA PROVISORIA (MPV), AUTORIA, EXECUTIVO, NECESSIDADE, ANALISE, DESIGUALDADE REGIONAL, IMPORTANCIA, REVISÃO, FORMA, REPUBLICA FEDERATIVA.

O SR. RAMEZ TEBET (PMDB - MS. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Uma candidata à Presidência da República presidindo os nossos trabalhos, que coisa boa!

Senador Marco Maciel, V. Exª me inspirou, com seu pronunciamento lúcido, atual, didático e importante, a ocupar esta tribuna, não com as luzes de V. Exª, mas com o que eu tenho dentro de mim: uma análise que tenho feito dos acontecimentos. Senador Marco Maciel, eu vou ser mais incisivo do que V. Exª um pouco. Eu não quero acreditar que aqueles valores que presidem uma sociedade verdadeiramente democrática, uma sociedade que nós desejamos cada vez mais igualitária e justa, eu não quero acreditar que esses valores estejam tão em decadência.

Eu não posso admitir, por exemplo, que as absolvições escandalosas ocorridas no Congresso Nacional, mais precisamente na Câmara Federal, onde políticos confessos foram absolvidos, eu não posso admitir que isso desestimule tanto a sociedade brasileira - que parece estar inebriada - colocando em risco as instituições democráticas a que V. Exª tão bem se referiu.

Em verdade, os governos ficam, mas as instituições têm de ser preservadas, elas são permanentes. Não existe democracia sem as instituições básicas previstas na Constituição Federal: O Legislativo, o Executivo e o Judiciário. Todos nós desejamos e as Constituições republicanas brasileiras proclamaram a independência e a harmonia desses Poderes. Mas, em verdade, eu preciso confessar que acho que só tem um jeito de mudar isso: é se aquilo que eu estou chamando de inebriamento da sociedade seja passageiro.

Tomara que, após 9 de julho, após a Copa do Mundo, a vibração cívica retorne aos corações dos brasileiros. E eles, por intermédio do instrumento mais valioso da democracia, possam preservar as instituições a que V. Exª se referiu, escolhendo pelo voto homens de bem, homens dignos, homens honrados, homens que têm interesse pela coletividade, homens que procuram levar esperança, mas não ilusão; homens que costumam cumprir aquilo que prometem ou fazem força para cumpri-lo.

Creio que assim poderemos restabelecer esses valores que - não dá para afirmar categoricamente - me parece estão sendo relegados a um plano secundário. Tanto que V. Exª ocupou esta tribuna, com a categoria de sempre, para reafirmar os princípios básicos de uma sociedade livre e justa, que só pode estar baseada no livre funcionamento das instituições, instituições que realmente representem a sociedade. E cabe à sociedade escolher, pelo voto direto e secreto, os seus representantes. Portanto, vamos ter a oportunidade e a sociedade brasileira não pode perdê-la.

Ainda há homens de bem como a querida Senadora que preside os nossos trabalhos; como V. Exª, que me ouve atentamente; como o Senador Paulo Paim, sempre em defesa dos injustiçados, dos trabalhadores, daqueles que vêem os seus recursos desperdiçados, jogados fora; daqueles que, ao longo de sua vida, perdem salário, o poder aquisitivo de toda uma vida consagrada ao trabalho, quando mais necessitam desses recursos. Não, não pode ser. Positivamente, não pode ser!

Está acontecendo algo no seio da sociedade. Não sou nenhum analista. Longe de mim querer passar-me por um cientista político, analisando o comportamento da sociedade. Posso, sim, como representante do povo sul-mato-grossense e como Senador da República, pedir à sociedade que não desanime. Se algo de errado existe atualmente nesse reino; se muitos cometeram crimes contra o erário, prevaricaram; se muitos praticaram atos de corrupção, de malversação de recursos públicos, está em mãos da sociedade, que os conhece por meio da mídia e dos debates que foram travados nesta Casa e na Câmara Federal, repudiá-los pelo voto e promover um processo de renovação, elegendo representantes dignos e honrados.

É preciso, verdadeiramente - isso V. Exª disse no seu pronunciamento, Senador Marco Maciel -, estarmos preparados para uma mudança de hábitos, para uma mudança de costumes políticos. E essa transformação só pode ocorrer por meio de reformas que, efetivamente, fizermos. E só vamos realizar essas reformas se elegermos para o Senado e para a Câmara pessoas comprometidas com isso, que entendem esses valores, que acham que a cláusula de barreira é muito pouco. É preciso mais, muito mais; é preciso fortalecer os partidos políticos; é preciso fortalecer essas entidades. Não há outra forma democrática.

O que seria da democracia sem a existência de partidos políticos? Infelizmente, no Brasil, a sociedade não está acreditando em partidos políticos. Será que a sociedade está acreditando em partidos políticos? Perdoem-me todos os existentes no Brasil, mas a sociedade não está acreditando. Os partidos políticos não estão cumprindo o seu ideário, não estão cumprindo com a sua missão. E é a esses partidos que cabe a grande tarefa de selecionar e de escolher os candidatos para os diversos pleitos.

Em outras palavras, V. Exª quis dizer, e disse muito bem, que é preciso uma reforma política imediata. Dirão que é um sonhador o Senador de Mato Grosso do Sul: perto das eleições, falar em reforma política! Estamos todos envolvidos com a Copa do Mundo, é verdade, mas, daqui a uns dias, talvez não possa ocupar esta tribuna, e teremos que medir cada palavra que proferirmos aqui, em razão da legislação eleitoral.

No entanto, é preciso votar em homens e mulheres capazes, que querem fazer efetivamente essa reforma política, fazer essa reforma eleitoral.

Senador Paulo Paim, a quem já concederei um aparte, isso não pode continuar assim. Há verdadeiras aberrações na nossa legislação partidária e eleitoral. As incoerências são gritantes e atentam contra nossa inteligência. Já exemplifiquei várias vezes com o fato de que Presidente da República, Governador e Prefeito podem ser candidatos à reeleição e permanecem no cargo até o último dia, mas, se eles quiserem ser candidatos a Senador ou a Vereador, têm que sair do cargo seis meses antes, e os seus parentes estão impedidos de se candidatarem. Veja a gravidade e a incoerência dessa situação! Que legislação é essa?

É um sul-mato-grossense, um homem do Centro-Oeste que faz esta pergunta ao País e ao Congresso ao qual todos nós pertencemos. Será que isso não é uma agressão à nossa própria inteligência? Será que vamos viver de casuísmo em casuísmo, como aconteceu recentemente com a legislação eleitoral que fizemos?

Senadora Heloísa Helena, estamos num período de convenções partidárias, e não há vibração nenhuma. É verdade que estamos no período da Copa do Mundo, mas, afinal de contas, são convenções para escolher Deputados, Governadores, Senadores; candidatos à Presidência da República de diversos partidos ou das mais diversas coligações. Vamos falar a verdade: se não se colocar condução à disposição, se não se garantir o mínimo de conforto - e vamos falar a realidade -, se não houver distribuição de alimentação, o que é proibido, parece que não está acontecendo nada.

Faço um chamamento a todos nós do Congresso: aproveitemos para recuperar o tempo perdido e mostrar que estamos realmente interessados em acabar com a impunidade e fazer não só leis boas, que façamos poucas leis, mas que sejam cumpridas.

A oportunidade da sociedade de participar ativamente é pelo exercício do voto. Esse voto é imperioso, necessário, a arma mais importante da cidadania e não pode ser desprezado.

Sinceramente, espero que haja uma reversão nisso que estou pensando e que muitos estão pensando... Muitos têm escrito sobre essa nostalgia - não é saudade, o termo “nostalgia” está errado -, sobre essa paralisia social, sobre os acontecimentos políticos. Espera-se que isso seja passageiro na vida pública brasileira, na vida republicana brasileira. Quem conhece, pelo menos relativamente, a história da República brasileira, sabe que nunca vivemos período de tamanha incerteza, como o que estamos vivendo hoje.

O Sr. Paulo Paim (Bloco/PT - RS) - Permite-me V. Exª um aparte?

O SR. RAMEZ TEBET (PMDB - MS) - Concedo o aparte ao Senador Paulo Paim.

O Sr. Paulo Paim (Bloco/PT - RS) - Senador Ramez Tebet, fiz questão de fazer este aparte a V. Exª que, como sempre, fez uma homenagem, de forma muito elegante, à Senadora Heloísa Helena, ao Senador Marco Maciel e a mim. Tenho certeza de que também faria ao Senador Tião Viana se S. Exª estivesse no plenário naquele momento. Também rendemos nossas homenagens a V. Exª. Toda vez que V. Exª sobe à tribuna faço questão de aparteá-lo. Em primeiro lugar, quero dizer que concordo com todos os argumentos externados por V. Exª. Creio, inclusive, que o Senador Marco Maciel, quando fez o seu pronunciamento, mostrou suas preocupações. S. Exª quis demonstrar que devemos entrar em um estado de alerta. Tenho recebido, no meu gabinete, por correspondência, documentos de campanhas para o voto em branco. Isso é abrir mão da cidadania e não querer fazer as mudanças adequadas, aquelas que cada cidadão entende cabíveis. O cidadão sabe quem deve permanecer e quem deve sair. Votar nulo, votar em branco, não é inteligente. Ao contrário do que alguns pensam, aquele que anular o voto, que não votar, que se abstiver, que fizer campanha para o voto em branco, na verdade, estará dizendo que concorda com tudo, que não quer fazer mudança alguma. Se concorda, vote a favor; se discorda, vote contra. Por isso, entendo que o discurso do Senador Marco Maciel e o de V. Exª seguem a linha da defesa do processo democrático, da cidadania. Eu diria que vai além: aponta novos caminhos. Temos que ter esperança. Não podemos desanimar porque houve um outro Parlamentar que feriu a ética, os bons costumes e, naturalmente, depôs contra a democracia, contra o próprio Parlamento. Cumprimento V. Exª e confesso-lhe, com a tolerância que está tendo a Senadora Heloísa Helena na Presidência, que sou daqueles... O processo está dado, vai ser conforme as regras do jogo que estão aí, e não vai ter nenhuma alteração. Lamento que, com tantas CPIs, não fizemos uma reforma política e eleitoral, como está propondo V. Exª e como também apontou o Senador Marco Maciel. Vou mais além, e aí termino: não consigo entender como se faz uma política de aliança com um partido num Estado, num Município com outro e, em âmbito nacional, com outro. Temos que pensar muito nisso. Quem tem um projeto efetivamente de nação não pode ter alianças, eu diria, conforme a área eleitoral do Município, do Estado ou de uma região. Um projeto de país com um partido que assim pensa deveria ter uma sincronia lá no Estado, lá no Município, com a proposta em âmbito nacional. Não posso, digamos, no debate político, bater forte no meu adversário por discordar do seu projeto em âmbito nacional, mas lá no Estado minha militância e meu candidato a Governador dizem que eu estou errado e que o adversário é que está correto. Então, esse desencontro me preocupa muito num projeto de país. Mas sei que este não é um debate para o momento, porque somente uma reforma política e eleitoral poderá apontar o caminho definitivo. Confesso-lhe mais: sou parlamentarista - isso não é de agora, sempre fui parlamentarista. Por isso, esse debate todo terá que acontecer aqui na Casa, e o faremos num nível, tenho certeza, de muita qualidade, como V. Exª está propondo. Concluo, dando parabéns a V. Exª. Como é bom, como é bom para este País ter homens públicos como o Senador Ramez Tebet. Meus cumprimentos.

O SR. RAMEZ TEBET (PMDB - MS) - Senador Paulo Paim, V. Exª sabe bem da admiração que lhe tenho e do quanto sigo seu exemplo. V. Exª tem uma bandeira no Congresso Nacional que ninguém lhe tira, que é a defesa intransigente da classe trabalhadora do País. V. Exª tem essa bandeira e a desfralda com tenacidade e com força de vontade verdadeiramente invejáveis. V. Exª usou a palavra “esperança”. Isso é importante. Quantas lutas não foram vencidas porque alguns homens públicos como V. Exª não perderam a esperança! Eu me pergunto o que seria da Reforma Previdenciária que foi feita, se não houvesse pessoas com a vontade e a persistência de V. Exª.

Eu me permito aproveitar a oportunidade para fazer uma saudação a um Senador a quem tanto admiro e quero bem, do fundo do meu coração, que é o Senador Tião Viana, que também me honra, ouvindo essas breves considerações. Pode acreditar que essas considerações partem de um observador que tem espírito cívico, que tem vontade de ajudar e que não partidariza as grandes questões nacionais. A pergunta que devemos fazer são estas: “Isso é bom para o Brasil? O que é melhor para o povo brasileiro?” Aí, sim, deveríamos responder. Se fosse para perder a esperança, não estaríamos aqui.

A Varig tem poucos aviões nos ares, mas ainda tem algumas aeronaves voando por aí, com certeza procurando chegar, como todos nós que temos crença, que temos fé, que acreditamos num ser superior, para que venha a iluminar os homens públicos do nosso País, a fim de que não deixem a Varig com tanta agonia, que já está demais. Vamos salvá-la imediatamente! O Governo deve fazer uma proposta concreta para salvar a empresa. Não deve deixar as coisas correrem por conta só do mercado, não. Apresente uma proposta: “Deste jeito, eu ajudo”. Diga isso pelo menos claramente ao País, àqueles que procuram investir, que têm algum interesse, quer os funcionários da Varig constituídos na sua sociedade, quer as outras empresas ligadas a ela, quem quer que seja. Não permita que uma empresa dessa envergadura vá à falência, sem que haja disposição demonstrada e forte do Governo, para justificar inclusive. Digo isso não porque tive participação ativa, como V. Exª mencionou, na Lei de Recuperação das Empresas, mas porque é duro fechar uma empresa, é duro ver duas empresas voando num país de cerca de 180 milhões de habitantes, dos quais apenas 10% viajam de avião, mas que ajudam este País, que precisam peregrinar para exercer sua atividade, visitar parentes ou seja o que for.

Citei esse exemplo porque a esperança não pode morrer, em nenhum momento, nos nossos corações. Por termos esperança é que continuamos na vida pública. Quem não tem esperança de dias melhores e pensa que está tudo bem, tudo certo não tem vocação pública; está na política ou por lazer, ou por distração, mas não por vocação. Vocação demonstra aquele que, nos momentos mais difíceis, está atento, mostrando seu ponto de vista.

Ouço o Senador Marco Maciel.

O Sr. Marco Maciel (PFL - PE. Com revisão do orador.) - Nobre Senador Ramez Tebet, desejo cumprimentá-lo pelas palavras que profere neste instante e dizer que concordo com suas observações - a meu ver, muito consistentes - sobre o momento político brasileiro. Fazendo minhas as suas palavras, entendo que o povo brasileiro está sendo chamado no dia 1º de outubro a uma decisão muito importante para os destinos da democracia e, de modo especial, para a consolidação de suas instituições. Faço meu o apelo de V. Exª para que o eleitor brasileiro compareça às urnas, não se omita. Padre Vieira disse em sermão que “a omissão é um pecado que se comete não se cometendo”. O povo brasileiro não se deve abster nem muito menos anular o seu voto. Anular o voto é uma atitude negativa e não ajuda em nada a consolidar as nossas práticas democráticas. Como o brasileiro é otimista, capaz de enfrentar adversidades, como tem demonstrado, acredito que esse povo, no dia 1º de outubro, vai comparecer e votar escolhendo os melhores candidatos e sabendo separar o joio do trigo, como na linguagem bíblica. Somente assim vamos superar as dificuldades que estamos atravessando. Vou mais além, na linha de raciocínio de V. Exª. Uma vez eleitos o novo Congresso, o novo Presidente da República e os novos governadores e as assembléias legislativas devemos nos concentrar na realização das chamadas reformas políticas - até preferiria denominá-las reformas institucionais, porque as reformas que a sociedade reclama e o País precisa são mais do que reformas do sistema eleitoral e partidário. Elas avançam no sentido de aperfeiçoar o sistema de governo, reduzindo os atritos que existem entre Executivo, Legislativo e Judiciário. A medida provisória é um exemplo. Sentimos que ela, de alguma forma, limita o funcionamento da instituição congressual. Precisamos avançar também na prática federativa. A Federação está agonizando. A Federação, como diria Carlos Drummond de Andrade se referindo a Itabira, está virando uma fotografia na parede. É uma Federação legal, mas não é uma Federação real. Precisamos, por fim revigorar as instituições republicanas, fazer aquilo que Joaquim Murtinho certa feita afirmou: republicanizar a República. Então, acredito que as palavras de V. Exª caindo em solo fértil. Considero compreensível que o eleitor esteja indiferente, um pouco revoltado com a chamada classe política brasileira, mas é necessário que a sociedade, numa reflexão conjunta, medite mais ainda sobre a significação do voto e sobre a conduta a adotar no primeiro domingo de outubro. Espero que isso aconteça. Dessa forma, acredito que vamos, por uma cidadania ativa, melhorar o País e suas instituições. Esses são os meus desejos. Avançamos muito nos procedimentos eleitorais, sobretudo na apuração dos votos, de forma que horas após o término da votação já são anunciados até resultados finais, sem contestação e sem fraude. Apura-se a verdade eleitoral, como dizem os especialistas; sabe-se exatamente em quem o povo votou em muito pouco tempo. É importante lembrar que o voto, que damos em cerca de trinta segundos, tem reflexo sobre quatro ou oito anos. Daí por que precisamos refletir sobre isso; o eleitor precisa fazer uma boa análise na hora de votar. O processo de votação é muito rápido e ágil no Brasil. Com a votação computadorizada, é proferido com a velocidade dos tempos virtuais. Façamos essa reflexão, com os amigos e com a família, para que possamos inserir o País em um novo quadro e ter, conseqüentemente, uma prática democrática compatível com o País que estamos construindo e que certamente terá uma presença maior na sociedade internacional do Século XXI. É o que espero. Cumprimento V. Exª mais uma vez.

O SR. RAMEZ TEBET (PMDB - MS) - Senador Marco Maciel, do substancial aparte de V. Exª quero ressaltar um aspecto: o da Federação brasileira, que V. Exª já havia mencionado e agora o faz muito bem no seu aparte. Não é possível que essa situação continue ocorrendo. Estamos em descrença, e por quê? Porque o Legislativo tem que legislar e não legisla; quem o faz é o Poder Executivo por meio das medidas provisórias. E o povo fica descrente.

Existe o instituto da medida provisória e hoje tem que haver um instrumento ágil, neste mundo moderno, globalizado em que vivemos, para ocasiões excepcionais, tal como manda a Constituição. No entanto, ou o Executivo acredita demais no Poder Legislativo ou nós estamos muito subservientes ao Poder Executivo, porque este edita uma medida provisória, mas quem tem que analisar os requisitos de urgência e relevância e o próprio mérito da medida provisória somos nós, que, por outro lado, ficamos de mãos atadas, Senador Tião Viana, porque a medida provisória produz efeitos imediatos.

Então, às vezes, é muito grave não aprovarmos uma medida provisória porque ela produz efeitos imediatos; anulá-la significa promover quase uma desordem na matéria a que ela se refere, e nenhuma matéria deixa de estar ligada a outras. Portanto, as conseqüências são difíceis.

Repensar a Federação, como diz V. Exª, significa olhar o Brasil como um todo. E considero isso imperioso, porque as desigualdades regionais são muito grandes em nosso País. Não se pode comparar o que acontece em um Estado com o que acontece em outro Estado da Federação brasileira. É preciso realmente que repensemos a Federação e que o Legislativo assuma verdadeiramente o seu papel, bem como o Executivo.

Temos leis muito boas, mas nada acontece com essas leis. Aprovamos aqui, por exemplo, uma lei muito importante, criando o instituto da Parceria Público Privada. E não conheço projeto algum de parceria público privada, ou seja, em que a iniciativa privada esteja acoplada ao poder público para resolver determinado problema, para construir determinada obra. No setor dos transportes, por exemplo, isso seria muito importante; no transporte portuário, no transporte intermodal ou no transporte ferroviário. Nada disso está existindo porque uma insegurança jurídica paira no ar, já que uma lei se modifica rapidamente por meio de uma medida provisória e por tantos outros fatores.

Então, se não partirmos da esperança de que podemos realizar uma verdadeira reforma política, como a preconizada por V. Exª, não construiremos o Brasil que queremos e seremos ultrapassados pelos países que concorrem conosco. Essa é a verdade.

O Brasil está crescendo? Está. Contudo, superou apenas o Haiti! É grave a análise feita por esse aspecto. Significa que os outros países todos cresceram mais do que o Brasil. Então, só perdemos para o Haiti? É o que dizem os institutos de pesquisa; é o que diz o Banco Mundial.

Então, penso que V. Exª tem toda a razão e fico muito satisfeito por V. Exª ter-me inspirado a ocupar esta Tribuna, porque eu precisava dizer algumas palavras. Não que o seu discurso precisasse ser complementado - longe de mim essa pretensão -, mas o fiz em apoio ao pronunciamento de V. Exª, um apoio ostensivo que não podia ser dado em um aparte, mas sim aqui da Tribuna. É o que estou fazendo, Senador Marco Maciel.

Ouço o aparte do Senador Tião Viana e já encerro, Srª Presidente.

O Sr. Tião Viana (Bloco/PT - AC) - Senador Ramez Tebet, acompanho atentamente esse exercício admirável de lealdade ao Brasil, sobretudo, feito por V. Exª, que hoje suscita um debate sobre a realidade nacional e os desafios que temos pela frente, seguindo um debate muito elevado de nosso Senador Marco Maciel sobre uma reforma estruturante do Estado brasileiro. De fato, carecemos mais do que nunca do amadurecimento de um projeto nacional, um projeto de nação, à altura do tempo que estamos vivendo, deste Século XXI tão desafiante. Quando observamos temas como a biotecnologia, a nanotecnologia e a educação como matriz revolucionária efetiva, constatamos que ainda estamos muito longe de um ponto ideal. E V. Exª enfoca o que é o nosso campo de atuação, que é o da reforma política. De fato, essa é uma dívida herdada de muitos anos neste País, fruto da instabilidade, do pragmatismo partidário e da incoerência da caminhada de muitos partidos políticos no cenário da luta política como um todo. Entendo, assim como V. Exª, que a resposta de frustração social dada pelo voto nulo está muito aquém do que o Brasil e o povo brasileiro merecem. Sempre me incomodo muito, de maneira até admirável, porque vou para o campo da reflexão, da filosofia,quando leio Carlos Heitor Cony, da Folha de S.Paulo - um mago da palavra, que escreve tão bem, com tanta lucidez, e, num espaço tão pequeno, consegue fazer com que raciocinemos muito e reflitamos sobre o que está sendo dito -, dizendo que, sob influência anarquista, prega o voto nulo. Aquilo me incomoda, porque, em um país desse tamanho, com a causa que tem para levar adiante, ainda há quem pregue o voto nulo. Mas é respeitável, é um entendimento filosófico. Penso que devemos insistir sempre, tanto com os convictos, do ponto de vista da fundamentação, que são contrários ao voto dado a quem possa fazer mais pelo País, como com aqueles que, por uma mágoa momentânea, por uma decepção político-partidária momentânea, querem abster-se da votação. Creio que este País precisa de muito mais. Precisamos de um projeto de nação efetivo que corresponda ao que merecem aqueles que fazem a política das boas causas em si. V. Exª deve ter muitos momentos de tristeza na trajetória tão bonita e democrática que tem o seu Partido; eu, em alguns momentos, no meu Partido; e assim outros tantos. E temos um belo debate pela frente, um debate nacional sobre a eleição. Penso que o que deve marcar este momento político é a ruptura com a incoerência, pregada por quem quer que seja, vista a fundo, e a responsabilidade de conduzir este País pelo melhor caminho. Temos muito a mostrar - o que o Brasil pode fazer, aonde ele pode chegar - e um belo debate pela frente. Então, fico muito convicto de que temos que ter a coragem que V. Exª está tendo, de olhar no olho de cada eleitor brasileiro e dizer que política da boa causa tem que estar viva e atuante. Não é um sentimento preconceituoso e negativo do Parlamento brasileiro que vai colocar a boa política à frente. Acredito que temos uma subtração permanente do Parlamento. Esse é um conceito na sociedade que deve acabar. Quando olhamos o encargo orçamentário do Legislativo, verificamos que é muito pequeno, embora pareça ser o causador de todos os males da Nação por ser um Poder menos protegido em termos de estrutura de poder efetivo, de intervenção na sociedade. Está lá o Judiciário blindado; está lá o Executivo blindado, e a pancadaria cai muito sobre o Legislativo. V. Exª suscita um debate muito elevado, que merece, sim, que cada cidadão brasileiro diga que, se há político ruim, nós o colocamos lá. O político não é ruim por ter nascido, crescido e se tornado ruim, mas porque conseguiu enganar alguns ou porque alguns se enganaram ao votar, pensando estar dando um bom voto. Vamos cobrar mais do eleitor e cobrar mais de nós mesmos, para que a equação tenha um bom resultado. Parabenizo V. Exª pelo belíssimo pronunciamento.

O SR. RAMEZ TEBET (PMDB - MS) - Vamos fazer mais do que estamos fazendo, Senador Tião Viana. Quero dizer a V. Exª, deixando a amizade de lado, que o aparte de V. Exª fez o meu pronunciamento crescer, porque gosto muito de política, com toda a sinceridade. Enquanto muitos ridicularizam a política, acho a política a mais nobre de todas as atividades humanas. Ela pode ser a pior delas em determinados momentos, quando exercida por quem não tem dignidade, por quem não honra os compromissos assumidos com o povo. Mas, quando alguém a exerce em benefício do próximo, da sua pátria, do seu país, sem dúvida alguma, é a mais nobre das atividades. Por isso, não podemos perder a esperança. Vale a conclamação para que o povo não perca a esperança e exercite, no dia 1º de outubro, o direito de voto, escolhendo aqueles que entender sejam os melhores para o destino deste País tão grande como o nosso, tão rico como o nosso, mas ainda tão injusto, tão injusto! Esperamos que venham dias melhores. Não vamos - volto a repetir - perder a esperança.

Muito obrigado, Srª Presidente.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 27/06/2006 - Página 21613