Discurso durante a 75ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Voto de repúdio pela passagem de um ano desde as comprovadas denúncias de irregularidades que abalaram o país e ficaram conhecidas como "escândalo do mensalão".

Autor
Arthur Virgílio (PSDB - Partido da Social Democracia Brasileira/AM)
Nome completo: Arthur Virgílio do Carmo Ribeiro Neto
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
MANIFESTAÇÃO COLETIVA. GOVERNO FEDERAL, ATUAÇÃO.:
  • Voto de repúdio pela passagem de um ano desde as comprovadas denúncias de irregularidades que abalaram o país e ficaram conhecidas como "escândalo do mensalão".
Publicação
Publicação no DSF de 07/06/2006 - Página 19227
Assunto
Outros > MANIFESTAÇÃO COLETIVA. GOVERNO FEDERAL, ATUAÇÃO.
Indexação
  • SUSPEIÇÃO, NATUREZA POLITICA, MANIFESTAÇÃO COLETIVA, INVASÃO, SEM-TERRA, CONGRESSO NACIONAL, OBSTACULO, DEBATE, ANIVERSARIO, IMPUNIDADE, DENUNCIA, CORRUPÇÃO, GOVERNO FEDERAL, PROPINA, MESADA, CONGRESSISTA, GRAVIDADE, LESÃO CORPORAL, SERVIDOR, CAMARA DOS DEPUTADOS.
  • LEITURA, TRECHO, ARTIGO DE IMPRENSA, INTERNET, PERIODICO, ISTOE, ESTADO DE SÃO PAULO (SP), INVESTIGAÇÃO, IRREGULARIDADE, PRESIDENTE, SERVIÇO BRASILEIRO DE APOIO AS MICRO E PEQUENAS EMPRESAS (SEBRAE).
  • CRITICA, OMISSÃO, BANCADA, PARTIDO POLITICO, PARTIDO DOS TRABALHADORES (PT), ESCLARECIMENTOS, PARTICIPAÇÃO, TUMULTO, SEMELHANÇA, NEGLIGENCIA, CORRUPÇÃO, CRISE, POLITICA NACIONAL, PROTESTO, TENTATIVA, OFENSA, CONGRESSO NACIONAL.

O SR. ARTHUR VIRGÍLIO (PSDB - AM. Pronuncia o seguinte discurso. Com revisão do orador.) - Sr. Presidente, antes de mais nada, peço à Mesa que se informe a respeito das condições de saúde do funcionário da Câmara.

O SR. PRESIDENTE (Romeu Tuma. PFL - SP) - Já me informei, Senador, por solicitação do Senador Flávio Arns.

O SR. ARTHUR VIRGÍLIO (PSDB - AM) - E como ele está, Sr. Presidente?

O SR. PRESIDENTE (Romeu Tuma. PFL - SP) - Ele está na UTI, em coma induzido, estável, mas em estado grave.

O SR. ARTHUR VIRGÍLIO (PSDB - AM) - Senador Antonio Carlos Magalhães, V. Exª, com a experiência que tem de Parlamento, de vida pública, hoje procurou o Líder José Agripino, o Presidente do meu Partido, Senador Tasso Jereissati, e a mim para que atentássemos a importância do seu requerimento. V. Exª supunha - e era natural que fosse assim - que a tarde inteira fosse dedicada ao debate do requerimento. V. Exª supunha isso.

Hoje, faz exatamente um ano que eclodiu o escândalo do mensalão. As revistas e os jornais no fim de semana noticiaram isso, e era de se supor que alguém fizesse o requerimento para pedir voto de repúdio ou para qualquer outra manifestação e que esse tema galvanizaria a tarde de hoje.

Digo isso porque, Senadora Heloísa Helena, não tenho dúvida de que certamente pessoas, como massa de manobra, foram arrastadas pelos marginais que praticaram o que intentaram na Câmara. Tenho quase certeza de que os líderes daquele movimento quiseram impedir que obtivéssemos, nos jornais de amanhã, nos jornais televisivos de hoje, uma repercussão ampla para o fato do mensalão. Afinal de contas, aqui se falou muito pouco no requerimento do Senador Antonio Carlos Magalhães, falou-se muito pouco em mensalão. Completa hoje um ano de impunidades, um ano de escândalos continuados, um ano de desalento para o povo brasileiro. E agora estamos deixando para segundo plano o que deveria ter sido a matéria essencial, a matéria nobre de hoje, jamais para comemorar, mas para lamentar esse triste aniversário de um ano de impunidade, um ano de desalento, um ano de comprovadas ações de corrupção que, pura e simplesmente, se perdem na bruma dessa coisa opaca, quando se trata de esclarecer, que é o Governo Lula.

Temos aqui matéria do jornalista Hugo Marques no site da revista Istoé, dizendo que pegaram o Okamotto, que o relatório do Coaf estaria por complicar a vida do Presidente do Sebrae:

Sob as tarjas estão as movimentações financeiras da empresa Red Star, que em português significa Estrela Vermelha, especializada na venda de canetas, bonés e estrelinhas do PT. Okamotto foi sócio-gerente da empresa até junho de 2003 e depois transferiu as cotas para a mulher e a filha.

A Red Star movimentou R$645 mil na conta corrente no Bradesco, entre maio de 2002 e agosto de 2005. Nesse período, o Coaf concluiu que o valor movimentado pela Red Star é “incompatível com o patrimônio” Enfim, vamos aguardar para saber se é por aí mesmo que se pega o Okamotto ou se tem coisa mais grave, tipo valerioduto.

Encerro, dizendo que o Congresso deve ficar alerta, Deputado Arnaldo Madeira, porque hoje não conseguimos discutir o mensalão. Não conseguimos. Hoje vimos a ação de vandalismo, e talvez o acidente tenha sido a concussão cerebral no servidor da Câmara, Senador Flávio Arns. Talvez o Maranhão tenha pensado assim: “Puxa vida, eu vou desviar o assunto, vamos entrar lá, vamos fazer dessas pessoas do MLST - que não é movimento social coisa nenhuma - uma massa de manobra para que não seja discutido mensalão, roubo de dinheiro público, corrupção”. E conseguiram! Talvez não tenham calculado bem a dosagem. Dizem que a diferença entre o remédio e o veneno é a dose, porque quase tudo que é remédio serve para veneno e tudo que é veneno serve para remédio. Depende da dose.

      Ouço o aparte do Senador Magno Malta.

O Sr. Magno Malta (PL - ES) - Senador Arthur Virgílio, um raciocínio que não foi feito e eu gostaria de fazer...

O SR. PRESIDENTE (Romeu Tuma. PFL - SP) - Senador, solicito que V. Exª seja breve, porque estamos em encaminhamento de votação e não há aparte. V. Exª pode se inscrever para discutir a matéria.

O Sr. Magno Malta (PL - ES) - Certo. Não é fácil cooperar com um pronunciamento de Arthur Virgílio, mas quero cooperar com esse raciocínio. Imagine se o fato acontecesse de forma invertida e um desses baderneiros que tivesse sido atingido por um segurança da Câmara. O circo estaria armado. E os direitos humanos?

O SR. ARTHUR VIRGÍLIO (PSDB - AM) - Aí o Zé Dirceu voltava e como presidente da Comissão de Ética.

O Sr. Magno Malta (Bloco/PL - ES) - Nós estaríamos vivendo um circo neste momento. Se um baderneiro desses estivesse agora na UTI com traumatismo craniano, aí sim, teríamos longas sessões de discursos sobre direitos humanos, sobre um trabalhador ferido caminhava para a morte. Mas é um segurança da Câmara, também um trabalhador. Soube que foi atingido, Senador Arthur Virgílio, com essas vigas de alumínio que fazem a separação dos ambientes. Para V. Exª acrescentar ao seu pronunciamento já tão brilhante, afirmo que, se tivéssemos vivido uma situação invertida, teríamos ouvido outro tipo de discurso nesta Casa, segundo a Senadora Heloísa Helena, daqueles que fazem um discurso quando freqüentam o acampamento e outro quando estão aqui.

O SR. ARTHUR VIRGÍLIO (PSDB - AM) - Sr. Presidente, peço tempo para encerrar, um minuto basta.

Chamo a atenção da Casa para este fato. Tomara que errado esteja eu. Tomara que não estejam, a essa hora, dizendo: “ Mas, Maranhão, não era para ter feito isso na cabeça do homem”. Tomara! Cai como uma luva esse movimento. O dia de hoje é simbólico, faz um ano do mensalão. Por que não invadir a Câmara, que já está tão atingida pela impunidade, pelo mensalão, pela falta de cassação? Por que não agir dessa forma com a Câmara? Devem pensar assim: “O povo nem reclama. O povo acha bom. O povo não está ligando para aquele pessoal”. De repente, acontece um acidente.

O fato é que nós aqui, hoje, pouco ou quase nada, ou nada, a rigor, discutimos o que deveria ter sido discutido. Precisávamos deplorar, mais uma vez, um ano de impunidade, um ano de desalento, um ano de corrupção comprovada,um ano de palavras soltas ao vento pelo Presidente da República, que agora já fala até de futebol. Não fala em Francenildo, mas fala em futebol.

O Sr. Efraim Morais (PFL - PB) - Senador, mais uma coincidência neste Governo. Quando a imprensa, com certeza, iria comentar o mensalão, aparece um fato, por coincidência, sobre o Poder Legislativo, sempre contra o Poder Legislativo. Tudo preparado, tudo bonitinho, como vem acontecendo. Isso é fato, não tem o que discutir. Quando a imprensa ia tratar do mensalão com destaque, vem um fato para que o assunto não seja abordado. Lamentavelmente, o Governo prepara tudo, ensaia tudo e as coisas acontecem.

O SR. ARTHUR VIRGÍLIO (PSDB - AM) - Ouço o Senador Heráclito Fortes.

O Sr. Heráclito Fortes (PFL - PI) - Senador Arthur Virgílio, alerto para um fato para que vejam a gravidade e a má intenção desse ato. É um ato criminoso? Sim, mas é um ato criminoso localizado. Senão vejamos, no blog do Noblat tem uma faixa do Movimento Pró-Lula dos Sem-Terra, sei lá, que “condena parlamentares do PSDB e do PFL pelo boicote na votação do Orçamento, prejudicando o desenvolvimento do País”. Senador, o País todo sabe que quem segurou a votação do Orçamento foi o PT, foi a base do Governo, que não queria votar.

O SR. ARTHUR VIRGÍLIO (PSDB - AM) - E quem desviou?

O Sr. Heráclito Fortes (PFL - PI) - Pois é!

O SR. ARTHUR VIRGÍLIO (PSDB - AM) - Porque uma coisa é quem segurou e outra coisa é quem desviou.

O Sr. Heráclito Fortes (PFL - PI) - Vejam bem, deram inclusive o mote para esse pessoal eventualmente agredir Parlamentares daqueles dois Partidos, a partir do momento em que se incitam as pessoas com faixas dessa natureza. Sobre o Orçamento já nem se fala mais. O Lula já está gastando aí. Hoje, gastou no “Castanholão”, um açude novo que ele lançou no Ceará. Queria apenas chamar a atenção para esse fato, Senador Arthur Virgílio, que é da maior gravidade, para ver que nada disso foi obra do acaso. Isso é produto de uma manobra altamente estudada, dentro daquilo que eu dizia aqui na semana passada: o PT não estava preparado para ser poder e está menos preparado ainda para deixá-lo. Isso é apenas o começo. Muito obrigado.

O Sr. ARTHUR VIRGÍLIO (PSDB - AM) - E para dar explicações, então, aí a coisa se agrava. Eu penso, Senadora Heloísa Helena - V. Exª que é uma especialista em Regimento -, em apresentar projeto de resolução.

A partir da aprovação do projeto, fica obrigado o PT a dar explicações sobre os casos graves do País, porque não é possível uma resposta protocolar aqui, uma resposta pela metade acolá e, depois, o abandono do plenário, não se dá a menor importância. É algo que realmente não faz bem à saúde política deste Congresso e deste País.

Há uma pessoa em estado grave, em coma, fruto da ação comandada por um baderneiro, que não é um baderneiro qualquer, é um baderneiro que tem assento no diretório nacional do PT e que é secretário nacional de movimentos sociais, como se isso fosse movimento social. Daqui a pouco o PCC também vai reivindicar o seu status.

É muito simples. Não pode continuar essa matemática torta. Essa gente se evade do plenário, não dá explicações, imagina que, ao fim e ao cabo, tudo vai se acomodando ao sabor dos interesses que, meramente, visam à manutenção no poder de um grupo que está fazendo mal ao País. E o País, mais cedo ou mais tarde, dar-se-á conta disso.

Concedo um aparte ao Senador Almeida Lima.

O Sr. Almeida Lima (PMDB - SE) - Senador Arthur Virgílio...

O SR. PRESIDENTE (Romeu Tuma. PFL - SP) - Senador, eu pediria que V. Exª fosse breve, porque o tempo já se esgotou.

O SR. ARTHUR VIRGÍLIO (PSDB - AM) - É o último aparte, Senador.

O Sr. Almeida Lima (PMDB - SE) - Serei sucinto, para dizer a V. Exª, corroborando as palavras dos Senadores Efraim Morais e Heráclito Fortes, que, de fato, nada disso é por acaso. Evidentemente que o ato de hoje pode não ter sido traçado nos pormenores para acontecer hoje. Mas recordo-me, exatamente no dia em que retornei de viagem e fiz o pronunciamento sobre a não-aceitação do requerimento da CPI, de que eu mostrava matéria da Folha de S.Paulo daquele dia, sobre Ricardo Berzoini...

(Interrupção do som.)

O Sr. Almeida Lima (PMDB - SE) - ...reunido, em São Paulo, com a UNE, com a CUT e com o MST.

E tenha certeza V. Exª de que não foi planejando outra coisa, porque a matéria se refere, de forma muito clara, exatamente às manifestações de rua, se precavendo para alguma sanção que o Congresso Nacional pudesse aplicar ao Presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

Eles estão organizados exatamente para isso. E esse cidadão, o chefe desse bando de hoje... Eu estava lendo agora o meu correio eletrônico, e uma das pessoas que se correspondem comigo fez questão de me mandar uma foto em que aparece exatamente esse cidadão em audiência, sentadinho ao lado do Senhor Presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Está aqui a imagem: ele ao lado de Sua Excelência o Senhor Presidente da República, em despacho no Palácio do Planalto. Esse cidadão não é agricultor, não é trabalhador rural, não é sem-terra. É filho de usineiro e é engenheiro mecânico.

Portanto, nada disso é por acaso. Obrigado pelo aparte, Senador.

O SR. ARTHUR VIRGÍLIO (PSDB - AM) - Encerro, Sr. Presidente, de maneira bem sucinta.

Não podemos nos esquecer de que, hoje, faz um ano que eclodiu o escândalo do chamado mensalão.

Um ano de corrupção comprovada, de absoluta impunidade para todos os acusados e de tentativas de acobertamento de um lado e de outro. O Presidente diz que foi traído, não diz por quem. Os que supostamente foram os traidores ficam mudos, quando são convocados a prestarem contas à Nação, por meio do Congresso Nacional.

Um ano! Talvez tenha vindo a calhar para eles, com exceção do afundamento do malar do funcionário da Câmara dos Deputados. Mas cheira-me muito fortemente a ação planejada de gente inescrupulosa, irresponsável, essa ação que, ao mesmo tempo, mataria a repercussão na imprensa brasileira do primeiro ano do mensalão e, ainda, lançaria mais um pouco de desprestígio sobre o Congresso Nacional. Se isso é verdade, não são eles os primeiros, não inovaram.

Não foi diferente do que fez Mussolini, não foi diferente do que fez Hitler, não foi diferente do que fez Chávez, quando procurou depreciar o Congresso que encontrara, até substituí-lo por um outro dócil a ele e agora sem a presença de nenhum opositor.

Imaginem se Lula já sonhou ou não sonhou com um Congresso sem Oposição a ele. De repente, livre de todos nós - aqui temos duas ou três pessoas do Governo, observa-se que temos uma maioria esmagadora de pessoas da Oposição neste momento.

É cômodo não falar, é cômodo não dizer nada, é cômodo se omitir, é cômodo fingir que não aconteceu o que aconteceu: o atentado à vida do funcionário da Câmara. É tão cômodo! Quem sabe não tenha ele sonhado e rolado da cama de tão bom que estava o sono, rolou na cama, delirou, imaginando que seria melhor um País sem Oposição.em que não se questiona corrupção, em que se tem uma imprensa amordaçada.

Um país sem oposição, uma sociedade civil que não pode se manifestar nas ruas nem se organizar. Esta, sim, é a que incomoda: a sociedade civil que não se confunde com esse MLST do Sr. Bruno Maranhão.

Eu queria tanto que os Senadores do PT dissessem - pelo amor de Deus, digam! - que isso é um movimento social. Digam que é um movimento social legítimo. Digam que faz um bom papel pela reforma agrária no País. Mas não dizem. E eu estou ficando surdo com tanto silêncio. Eu estou ficando surdo, Sr. Presidente. Isso é um atentado a mim. Fizeram o que fizeram com o funcionário da Câmara e agora estão me tornando surdo. Estou surdo com o silêncio da Bancada do PT. Não dizem que é um movimento que serve ao País. É sempre assim. Mas nada como um dia depois do outro para o Brasil construir o seu rumo histórico.

Hoje é dia de repúdio a essa violência que, a meu ver, foi armada para nós não falarmos aqui em

“mensalão”.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 07/06/2006 - Página 19227