Discurso durante a 103ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

Preocupação com a grave situação por que passa o agronegócio no país e defesa de políticas direcionadas ao setor.

Autor
Ramez Tebet (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/MS)
Nome completo: Ramez Tebet
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
POLITICA AGRICOLA.:
  • Preocupação com a grave situação por que passa o agronegócio no país e defesa de políticas direcionadas ao setor.
Publicação
Publicação no DSF de 06/07/2006 - Página 22860
Assunto
Outros > POLITICA AGRICOLA.
Indexação
  • PROTESTO, NEGLIGENCIA, GOVERNO, CRISE, AGRICULTURA, ESPECIFICAÇÃO, ESTADO DO MATO GROSSO DO SUL (MS), PROBLEMA, CONCORRENCIA DESLEAL, SUBSIDIOS, PAIS ESTRANGEIRO, LOBBY, ORGANIZAÇÃO NÃO-GOVERNAMENTAL (ONG), MA-FE, DEFESA, MEIO AMBIENTE, OPOSIÇÃO, DESENVOLVIMENTO CIENTIFICO, REFERENCIA, PRODUTO TRANSGENICO, INDUSTRIA, PAPEL, CELULOSE, RECEBIMENTO, RECURSOS, GOVERNO FEDERAL, PREJUIZO, INTERESSE NACIONAL.
  • ELOGIO, GESTÃO, ROBERTO RODRIGUES, EX MINISTRO DE ESTADO, MINISTERIO DA AGRICULTURA PECUARIA E ABASTECIMENTO (MAPA), EXPECTATIVA, SUBSTITUIÇÃO, TITULAR, REFORÇO, AGRICULTURA, EXPORTAÇÃO, INVESTIMENTO, INFRAESTRUTURA, VIGILANCIA SANITARIA, COMBATE, FEBRE AFTOSA, PECUARIA, DEFINIÇÃO, SEGURO AGRARIO, INCENTIVO, PESQUISA, AMPLIAÇÃO, CREDITOS.

O SR. RAMEZ TEBET (PMDB - MS. Para uma comunicação inadiável. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente Marcos Guerra, Srªs e Srs. Senadores, o tempo é curto para a abordagem de um assunto tão relevante como o que me traz à tribuna. Mas estamos praticamente num recesso eleitoral e sinto-me no indeclinável dever, Sr. Presidente, de falar um pouco sobre os problemas que o agronegócio está enfrentando no nosso Brasil.

V. Exª conhece bem esses problemas. V. Exª sabe que a agroindústria foi o setor da economia brasileira que mais contribuiu para o desenvolvimento nacional nos últimos dez anos. No início do Plano Real, a agricultura foi chamada de âncora verde porque sustentou a fixação de inflação zero. Chegou a contribuir com quase 31% do PIB nacional, em 2003, tendo caído para 27%, em 2005, o que representou uma perda de R$30 bilhões nos últimos 2 anos, segundo cálculos do próprio Governo.

Mas, Sr. Presidente, quero falar especificamente dos obstáculos, porque acho que há uma certa negligência para enfrentar os problemas daqueles que trabalham no campo, principalmente dos agricultores, que já enfrentam - há muito tempo - os subsídios americanos e europeus, que enfrentam o controle dos preços de insumos por empresas estrangeiras, que enfrentam uma atuação agressiva de organizações ambientais.

Aproveito para dizer que devem ser uma preocupação muito grande do Senado da República, da Câmara Federal e por que não dizer do próprio Governo as organizações sociais como as organizações não-governamentais.

As organizações não-governamentais são contra o uso dos transgênicos - sabemos disso. Quando o mundo inteiro evolui, essas organizações trabalham contra: contra a ciência, contra a tecnologia, contra o avanço daqueles que buscam maior produtividade no campo. Elas são contra a ampliação da fronteira agrícola, são contra, agora, as indústrias de papel e de celulose.

Poderão dizer alguns que estou generalizando. Não, não estou generalizando. Quero deixar isso claro, Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores. Estou constatando uma realidade. Não há necessidade de ser um observador mais atento para constatar que há quase 500 mil organizações não-governamentais no País. Um grande número dessas organizações não-governamentais recebe ajuda financeira do Governo Federal e atua contra os interesses nacionais. Portanto, são organizações não-governamentais que diferem daquelas outras que são bem intencionadas, que têm espírito cívico.

Essas a que me refiro são organizações suspeitas, trabalham contra a economia nacional, portanto, trabalham contra o desenvolvimento, contra um maior progresso da agricultura, da pecuária.

Por que não falar hoje das indústrias de papel e de celulose? Por que não se referir, Sr. Presidente, hoje, à energia alternativa, como o biodiesel e o etanol?

Pergunto: diante de um quadro dessa natureza - estou resumindo, pois V. Exª já soou a campainha -, o que o Congresso Nacional está fazendo? O que o Governo Federal, esse sim, está realizando para combater isso? O que está fazendo em favor do homem do campo?

Recentemente, deixou o Ministério da Agricultura um homem de envergadura, sempre leal ao Presidente da República. Ficou três anos e meio no Governo; saiu de lá, com toda a certeza, com o sentimento de dever cumprido, porque lutou de acordo com as hostes do próprio Governo. O Ministro Roberto Rodrigues lutou contra membros do próprio Governo que eram contra os transgênicos. Lutou bravamente - nós sabemos, sabem as nossas federações, sabem as entidades de classe. S. Exª brigou muito.

Não sei o que vai acontecer, Sr. Presidente, se, num gesto de incompreensão, de desconhecimento da realidade brasileira, o Governo tentar aumentar o índice de produtividade, fazendo com que, por exemplo, no setor da pecuária - hoje há uma cabeça por hectare -, passe a haver duas cabeças por hectare. Isso é destruir por completo a pecuária no nosso País.

Não estou me referindo à taxa de câmbio, à flexibilidade ou não do câmbio, à valorização ou não do real diante do dólar. Estou falando de uma firmeza do Governo, de uma necessidade imperiosa que todos estamos sentindo para que o Governo não deixe cair a produção no nosso País. De 115 milhões de toneladas, já estamos na casa dos 100 milhões.

Quando presidi a Sudeco, em 1986, Sr. Presidente, já produzíamos 80 milhões de toneladas. Portanto, subimos pouco. Para a safra de 2007, todos estamos prevendo um decréscimo. Todos os agricultores do Brasil estão endividados, estão despreparados financeiramente para o plantio.

Então, a perspectiva que se avizinha para o setor da agricultura, para o agronegócio, é um panorama cinzento, difícil de ser vencido. É preciso que o Governo atue com uma política que possa realmente ajudar àqueles que trabalham no campo.

É isto, Sr. Presidente, que me traz à tribuna: dizer que o Governo deve ter uma política de investimentos em infra-estrutura sanitária, pois enfrentamos o problema da febre aftosa. É preciso que o Governo defina logo um seguro rural, estimule, cada vez mais, a pesquisa, dê crédito, ajude, em suma, com uma política creditícia compatível com as necessidades daquele que quer plantar, daquele que quer produzir no nosso País.

Sr. Presidente, é isso que me traz à tribuna, porque represento o homem do Centro-Oeste, represento Mato Grosso do Sul. A cada fim-de-semana que vou ao meu Estado, tenho encontro com agricultores, que estão sofridos, estão penalizados, estão endividados, não sabem o que fazer, estão com as suas máquinas paralisadas.

Não tenho resposta para esse pessoal, mas temos cobrado daqui, da tribuna - eu e V. Exª que preside os trabalhos neste momento; os Senadores têm cobrado. Está ali um grande baluarte da agricultura, da pecuária, o Senador Jonas Pinheiro, lutador incansável, que procura alertar o Governo para esse setor tão importante da economia nacional.

Tomara que o substituto do Ministro Roberto Rodrigues faça uma política de acerto na agricultura, porque a agricultura, a pecuária, os produtos do campo, o açúcar, o algodão, a soja, o café são os responsáveis pela balança comercial do nosso País.

Não podemos fracassar nisso, Sr. Presidente. Sinto-me no dever de fazer mais este alerta ao Governo Federal na esperança de que se encontre uma solução imediata. Que o País inteiro venha a conhecer a política do Governo para o desenvolvimento do agronegócio!

Essa é a obrigação de todos quantos governam e dirigem um País.

Era o que eu tinha a dizer, Sr. Presidente.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 06/07/2006 - Página 22860