Discurso durante a 106ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Solicita atenção para a Associação dos Autistas do Estado do Amazonas. Proposta para as áreas de saúde e de educação especial no Estado do Amazonas.

Autor
Arthur Virgílio (PSDB - Partido da Social Democracia Brasileira/AM)
Nome completo: Arthur Virgílio do Carmo Ribeiro Neto
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
POLITICA SOCIAL. ESTADO DO AMAZONAS (AM), GOVERNO ESTADUAL. ELEIÇÕES.:
  • Solicita atenção para a Associação dos Autistas do Estado do Amazonas. Proposta para as áreas de saúde e de educação especial no Estado do Amazonas.
Publicação
Publicação no DSF de 11/07/2006 - Página 23305
Assunto
Outros > POLITICA SOCIAL. ESTADO DO AMAZONAS (AM), GOVERNO ESTADUAL. ELEIÇÕES.
Indexação
  • REGISTRO, VISITA, ENTIDADE, APOIO, DEFICIENTE MENTAL, ESTADO DO AMAZONAS (AM).
  • CRITICA, GOVERNO ESTADUAL, ESTADO DO AMAZONAS (AM), CONTRATAÇÃO, EX PREFEITO, PROPOSTA, ORADOR, CANDIDATO, GOVERNADOR, ALTERAÇÃO, ADMINISTRAÇÃO PUBLICA, ANUNCIO, DEMISSÃO COLETIVA, POLITICO, SERVIÇO PUBLICO, TRANSFERENCIA, RECURSOS, CARGO PUBLICO, SISTEMA UNICO DE SAUDE (SUS).
  • ANUNCIO, INTERESSE, ORADOR, CRIAÇÃO, SECRETARIA ESPECIAL, ESTADO DO AMAZONAS (AM), SETOR, MINERAÇÃO, JUVENTUDE, ENSINO ESPECIAL.
  • REGISTRO, EXPERIENCIA, APRENDIZAGEM, DEFICIENTE MENTAL, INSTITUIÇÃO ASSISTENCIAL, ESTADO DO AMAZONAS (AM).
  • PROMESSA, FISCALIZAÇÃO, GASTOS PUBLICOS, GOVERNO ESTADUAL, POSSIBILIDADE, ELEIÇÃO, ORADOR, GOVERNADOR, ESTADO DO AMAZONAS (AM).

O SR. ARTHUR VIRGÍLIO (PSDB - AM. Pronuncia o seguinte discurso. Com revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, estive hoje, pela manhã, em Manaus, visitando a Associação de Amigos dos Autistas do meu Estado e trouxe para mostrar à Casa alguns trabalhos extremamente interessantes.

Este é um desenho feito por um menino autista, no computador, com muita facilidade, com muita criatividade. Esta aqui é uma pintura feita pelo Edinho, filho da Diretora do Centro de Convivência Magnólia, que funciona com o mínimo de ajuda estatal. O talento de Edinho é para o desenho; o do Natan é para o computador. Aqui, outro desenho do Edinho: um coração. E vejam o que ele escreveu: “Paz”. E é um menino autista.

Há lá um outro menino, chamado Vladimir, também autista. Se a ele se perguntar, por exemplo, que dia da semana vai cair, no ano de 2009, o dia 25 de setembro, ele responderá. E podemos conferir, no calendário, que a resposta estará correta.

Há um outro autista que, só de ir aos médicos, dentistas, em excursões pela cidade, para conhecer pontos turísticos, decorou, pura e simplesmente, todas as linhas dos ônibus de Manaus, todas. Perguntei a ele como eu faria para sair de Puraquequara - um bairro na zona rural rodoviária da minha cidade. E ele relacionou: “linha 027, 033, 096”, citou todas de uma vez.

Portanto, são pessoas que merecem a atenção que têm tido, num quadro, Sr. Presidente, que reflete, como sempre, a reunião de pais, a associação de pais e de pessoas que não têm parentesco com autistas, visando a enfrentar as dificuldades tais como elas se apresentam.

Existem quatro associações de amigos de autistas no Amazonas, e a principal dirigente é a Drª Telma Viga.

Senhor Presidente, fico impressionado porque no meu Estado há uma prática - o ex-Governador agia assim, o atual Governador também age desse jeito: para efeitos eleitorais contratam-se ex-prefeitos. Então, cria-se um conselho para nada, um conselho para coisa alguma, e nomeiam ex-prefeitos; alguns dos quais pessoas que se dão comigo, pessoas minhas amigas, pessoas que já me ajudaram em eleições, outras que já me combateram também em eleições.

Não estou aqui para discutir eleição. Estou aqui para dizer que, quando me dispus a disputar essa eleição para o Governo do Estado do Amazonas, é para ser muito claro, dizer claramente, por exemplo, para ex-prefeitos que ex-prefeito não é profissão. Profissão é carpinteiro, profissão é militar, policial, enfermeiro; ex-prefeito não é profissão. E, se não é profissão, é evidente que não contratarei nenhum e demitirei todos, porque quero dinheiro para cuidar dos autistas e não para dar sinecuras a quem vá, porventura, oferecer sustentação eleitoral ao partido do poder.

Vamos fazer uma reforma administrativa muito profunda, extinguindo cargos, extinguindo secretarias, reduzindo-as ao mínimo necessário para o funcionamento da máquina, acabando com a figura do “asponismo”. Chega de “aspones”. Os “aspones” corroem o tecido financeiro e o tecido moral da administração pública. Não posso aceitar que não tenhamos como oferecer o transporte adequado, o tratamento odontológico, o tratamento médico, tudo aquilo de que precisam não só os autistas, mas todos os portadores de necessidades especiais. Então, é uma opção. Há quem prefira apaniguar os “aspones” ou contemplar eleitoreiramente os seus ex-prefeitos. Eu, de maneira muito clara, muito nítida, defino agora, antes do pleito, que é para ninguém se enganar comigo, o que farei após 1º de janeiro de 2007, com muita clareza.

Por exemplo - para não termos ilusões quaisquer - é prática, pois começou com outro Governador, passou para o atual - eles fingem que não se gostam, mas são iguais -, começou com eles aquela história de pegar o deputado fulano, o vereador sicrano, e passar milhões de reais por ano para essas pessoas para prestarem serviços odontológicos de baixa qualidade ou para não prestarem serviços quaisquer. O objetivo não é prestar qualquer serviço, mas eleger e reeleger aquelas pessoas para elas darem sustentação a esse poder carcomido que nós vamos derrotar no Estado do Amazonas.

Então, estou sendo muito claro. Digo a essas pessoas, aos beneficiários desses projetos - deputados, vereadores, o que sejam - que eles têm uma oportunidade clara. Sou leal em relação ao meu povo, sou leal em relação aos meus companheiros e sou leal em relação aos meus adversários. Eu os escolhi para meus adversários. Eles façam tudo para que eu não logre a eleição para o Governo do Amazonas. Ou seja, se fracassarem na tentativa de me derrotar, no dia 1º de janeiro, eles todos passarão a não contar com nenhum tostão de dinheiro público para alimentar suas arapucas que fingem prestar serviço de saúde sem prestar serviço de saúde algum. E, mais ainda: dia 1º, suspenderei com um decreto; dia 2, conclamarei o Ministério Público a estar na porta de cada um deles para que expliquem - o Governador atual, os administradores de hoje - cada tostão do dinheiro público desviado para esses fins, que nada têm a ver com saúde pública. E o dinheiro que sobrar vai ser enfiado, literalmente, dignamente, no Sistema Único de Saúde, porque é disso que o Amazonas precisa.

Não quero, pura e simplesmente, iludir ninguém. E digo: a partir de agora, terei os ex-prefeitos trabalhando contra mim no interior.

Ótimo! Eu fiz a escolha, é uma escolha minha. Trabalhem, porque, se querem manter os empregos, sabem que não vão manter, porque vou demitir todos, aqueles que são meu amigos e aqueles que não são amigos. Vou demitir todos! Não ficará um para contar a história.

Vou simplesmente dissolver o tal Conselho, um Conselho absurdo, que paga milhares de reais por mês a pessoas que não têm o que fazer na máquina pública, quando vemos os autistas à mingua de médicos, de odontólogos, de remédios, de tratamento especializado, em um Estado que não tem sala especial nas escolas públicas para autistas, que não tem escolas especiais para autistas, que não tem as pré-oficinas e nem tem, muito menos, as oficinas pedagógicas, que seriam o complemento, o quarto ciclo de um aprendizado, ao fim do qual o autista poderia ser, por exemplo, como o Natan, alguém que ganharia a sua vida, ainda que protegido pela sua família, como desenhista, ou, como o Edinho, um pintor, ou seria alguém como o Vladimir, que tem um cérebro fantástico, ou como o outro menino, de cujo nome não me lembro agora, que decora os números dos ônibus. Eles todos seriam aproveitados de modo a terem a vida mais aproximada possível dos padrões de normalidade, dos que nós dizemos que são os normais, esses da sociedade dominante, da sociedade envolvente, a sociedade que envolve os altistas.

É meu objetivo, em um Estado que é uma das maiores províncias minerais do mundo, Sr. Presidente, e que não tem um órgão estadual que cuide de mineração, criar um órgão que cuide desse setor. Para isso, terei de enxugar a máquina, tirar tudo que é secretaria inútil para poder criar um órgão útil que vai cuidar de mineração, para dar dinheiro aos cofres do Estado e para que o Estado deixe de amamentar parasitas e passe a cuidar de seres humanos que merecem os cuidados, sobretudo os mais desvalidos.

Nós vamos criar, depois do enxugamento da máquina, uma secretaria da juventude, cujo titular terá, obrigatoriamente, menos de trinta anos de idade. Ele será a nossa interlocução com a sua geração e será a interlocução da sua geração com os de mais idade através da promoção de políticas públicas que efetivamente interessem aos jovens.

Do mesmo modo, vamos criar uma secretaria de educação especial, dedicada não só aos autistas, que foram o meu tema de hoje, mas dedicada, essa secretaria, com recursos, com prestígio, com tratamento sério, a todos os portadores de necessidades especiais do meu Estado.

Sr. Presidente, hoje vi um menino que é de uma família que migrou da Paraíba para o Amazonas e foi duramente sorteado pelo destino. Ele é cego, surdo, mudo, epilético, sofre de retardamento mental e é autista. Ninguém o aceitava. O Centro de Convivência Magnólia, dirigido pela Drª Telma, o aceitou. Mas ela não pode manter o menino, não tem como manter o menino lá. Ele vai dormir em sua casa, onde não encontra instalações adequadas para ter seu sofrimento, sua sina amenizada.

Estou aqui com um catatau de coisas que minha assessoria preparou, a partir do telefonema que passei para o meu gabinete hoje, mas amanhã, certamente, voltarei ao assunto.

Basicamente, eu gostaria de dizer que vou lutar muito, em qualquer circunstância. Mas, se Governador, vou fazer, com toda tranqüilidade, a secretaria de educação especial, porque aprendi outra coisa: no meu Estado os autistas são muito maltratados, mas eles ainda vão ficando na escola até 13 anos de idade. A partir daí eles não podem ser mais aceitos nas escolas do meu Estado. Então, nem sequer maltratados nas escolas eles vão ser. Eles vão para casa e ficarão enclausurados. Então, temos que pensar em levar cidadania para quem, muitas vezes, é um gênio que não pode expressar a sua genialidade dentro dos padrões que nós conhecemos da sociedade que aí está.

Hoje, Senador Eduardo Azeredo, aprendi algumas coisas. Aprendi que há quatro tipos de autismo: há o autista severo, aquele que tem uma dependência quase que total durante toda a sua vida, o que não o impede de fazer cálculos complexos, como, por exemplo, multiplicar 3.027 por 33 e oferecer o resultado na hora; há o autista de dificuldade média, que desenvolve as suas habilidades com um pouco mais de facilidade, e há o autista mais simples. Todos são extremamente delicados. Pelo que entendi da explicação que me deram, há um outro tipo que é conhecido como autista “asperger”, palavra que suponho que seja da língua inglesa, mais ou menos isso.

Este é um tipo de autista que pode, perfeitamente, fazer um concurso público. Ele dificilmente é reprovado, pela sua inteligência tão genial. Ele se revela “asperger” pela sua impaciência. É aquele que diz, de repente, que hoje não trabalha mais, que não quer mais saber de tal coisa e sai. Ele, quando toma conhecimento do que é, atinge padrões de enorme normalidade. Ele pode, tranqüilamente, se casar, constituir família, ter uma vida bastante boa, bastante decente.

Aprendi muito hoje e resolvi dar um depoimento que saísse do escrito, que está muito bem feito pela assessoria competente que tenho.

Mas o fato é que eu queria, basicamente, assumir esse compromisso, homenagear aquelas pessoas abnegadas que cuidam dos autistas no meu Estado, bem como dizer que aprendi muito. Quero dizer mais: certas condições se impõem. É imoral, é indecoroso que um Estado fique sustentando, com fins eleitorais, “aspones”, cabos eleitorais de vários níveis, do ex-Prefeito ao que fica fazendo trabalho de rua, tudo dentro da máquina pública, quando chegamos a um centro como esse e vemos que falta tudo. Falta automóvel, falta tudo, não tem nada, a não ser a abnegação de meia dúzia de pessoas da sociedade e a abnegação de pais que querem ver os seus filhos com a situação amenizada.

Eu percebi que não é possível oferecer uma proposta renovadora para o meu Estado e não fazer uma opção. A opção está feita com muita clareza. Entre os ex-Prefeitos, entre os quais amigos meus, que demitirei, todos, sem exceção, os amigos e os não amigos, no dia 1º de janeiro de 2007, entre eles e os portadores de necessidades especiais, opto pelos segundos; entre os “aspones” e os autistas, os deficientes mentais, os portadores de deficiências físicas graves, eu opto pelos segundos, sem dúvida alguma.

Eu percebo, Senadora Lúcia Vânia, que não se pode fingir que dá para contemporizar com todo o mundo. Eu não quero fazer, de forma alguma, o papel do habilidoso viciado. Não quero! Não sou habilidoso viciado. Se sou habilidoso, não sei; viciado não sou. Se não sou viciado, não sei se sou habilidoso. Mas, ainda que eu fosse habilidoso, eu não poderia ser o habilidoso viciado, até porque viciado eu não sou e viciado eu me recuso a ser. Coloco, então, as cartas todas na mesa.

Encerro lembrando -me de episódios tristes que o meu Estado está vivendo. O mandato popular está se descaracterizando. A figura do economista brilhante, do engenheiro trabalhador que se credencia, do advogado eloqüente que se candidata, do líder sindical bravo que se candidata para representar a sua categoria, o seu segmento, está desaparecendo.

Aparece lá um sujeito que tem uma estripulia chamada Pró-Dente... Tenho um filho que é Deputado Estadual e pediu a cassação do suposto Deputado, mas não conseguiu, porque este tem uma maioria acachapante que é a favor disso. Mas ele cumpriu o dever dele!

Esse tal Pró-Dente recebe, junto com outros parecidos, milhões de reais por ano, supostamente para prestar assistência de saúde. Mas a saúde no meu Estado está falida! Não prestam assistência de saúde, nem são eles a prestar. Deve ser o Sistema Único de Saúde!

Tenho dito a eles, Senadora Lúcia Vânia, com muita clareza também, que costumo ler, quando falo com a imprensa, a lista desses Deputados e Vereadores. Eu leio a lista: fulano de tal, entidade tal; beltrano de tal, entidade tal; sicrano de tal, entidade tal. Eu digo: “Torçam para que eu não me eleja. Torçam”.

Daqui do Senado, eu posso falar, mas não posso fazer nada contra eles. Torçam para que eu não me eleja! Se eu me eleger, nem um tostão mais irá para esse parasitismo, para essa desavergonhada manifestação de desrespeito ao dinheiro público. Mais ainda: se assino o decreto acabando com essa farra do dinheiro público, provocarei o Ministério Público a estar com eles no dia seguinte a minha posse - no dia seguinte. Eu quero explicação sobre cada tostão!

Está aí uma grande motivação para eles trabalharem, motivação para trabalharem de modo a não deixar que eu chegue ao Governo do meu Estado. Eu chegar ao Governo do meu Estado significa o fim de linha para eles, o fim da carreira deles, o fim desse desrespeito que faz com que eles se sirvam do dinheiro público enquanto o povo do Amazonas vê seus autistas e portadores de necessidades especiais amesquinhados à fome e desrespeitados em seus direitos básicos.

Sendo assim, as cartas estão todas postas, cada um escolhe o seu lado, e eu escolhi o meu: estou com os autistas e contra essa gente que lhes surrupia a esperança e a vida.

Muito obrigado.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 11/07/2006 - Página 23305