O SR. ROBERTO SATURNINO (Bloco/PT - RJ. Para encaminhar a votação. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, o grande professor Leite Lopes não era carioca, ele era pernambucano, e daí as homenagens que os Senadores de Pernambuco prestam à memória desse grande brasileiro.

Mas Leite Lopes desenvolveu sua vida profissional quase toda no Rio de Janeiro. Formou gerações. Faleceu aos 87 anos no Rio. Era um homem que tinha milhares de pessoas e de alunos admiradores e devotados à sua figura. Foi um dos grandes nomes da Ciência brasileira, como professor, como pesquisador. Atuou no campo da Física, especialmente, no estudo das partículas fundamentais, das forças fundamentais da natureza. Seus estudos e suas pesquisas deram origem a descobertas muito importantes na Física mundial, dando origem até aos estudos de um dos ganhadores do Prêmio Nobel.

Posso afirmar, sem dúvida - e o faço com apoio em muitas opiniões de políticos e de pessoas que observam a vida brasileira -, que Leite Lopes, um dos grandes nomes da Ciência brasileira como pesquisador e como professor, foi também o maior nome da Ciência brasileira na atuação da política científica. Ele foi um dos defensores primordiais da idéia de que o desenvolvimento da ciência, base do desenvolvimento tecnológico, é um dos pilares essenciais da formação da economia do País, da formação da cultura do País, da formação do caráter do País.

Leite Lopes foi, junto com César Lattes, fundador do Centro Brasileiro de Pesquisas Físicas, uma das entidades que mais fizeram avançar a Física brasileira, os estudos, as pesquisas, as descobertas desse grande Centro, localizado no Rio de Janeiro.

Também foi um dos fundadores e um defensor incansável da estruturação do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq). Leite Lopes atuava em todos os momentos em que se discutia a formação, a constituição de um instituto, de uma entidade que defendesse e proporcionasse o desenvolvimento da Ciência no Brasil.

Igualmente, foi um dos propulsores, um grande defensor da Comissão Nacional de Energia Nuclear - pode-se dizer que foi praticamente um dos fundadores -, assim como o foi também do Instituto de Física da Universidade Federal do Rio de Janeiro, onde atuou em grande parte de sua vida de professor.

Constitui uma das figuras principais na constituição da Financiadora de Estudos e Projetos (Finep), uma entidade que tem proporcionado ao Brasil, ao longo de muitos anos, possibilidades, por meio de financiamentos, para o desenvolvimento de pesquisas científicas e tecnológicas de grande significado para a economia e para a Nação brasileiras.

Eu, particularmente, tive ocasião de testemunhar, no BNDES, onde se constituiu núcleo formador da Finep, a presença quase diária de Leite Lopes a discutir com os economistas, com os técnicos e com a direção do BNDES a importância da formação da Finep. Lembro-me muito da figura dele, que era admirável e admirada por todos nós, nesse esforço de batalhador pela formação de órgãos governamentais, de órgãos alavancadores da Ciência e da Tecnologia do País. Tem muitos trabalhos e artigos publicados, dentre os quais destaca-se seu livro Ciência e Libertação, em que justamente defende a tese de que o desenvolvimento científico é base do desenvolvimento tecnológico e alavanca essencial de desenvolvimento da economia nacional, até condição sine qua non, desse próprio processo de desenvolvimento.

Assim, Sr. Presidente, é de se lamentar essa grande perda da Ciência brasileira, essa grande perda da política brasileira e - por que não dizer? - dessa política científica e tecnológica a que ele tanto se dedicou.

Por essa razão, é justa essa homenagem que o Senado presta à sua memória, à sua família e às entidades a que se dedicou com tanto empenho durante toda a sua vida. E foi com enorme sentimento de pesar, mas de justiça, que subscrevi esse requerimento de manifestação do Senado pelo pesar desse passamento de pessoa tão importante para a vida científica e política brasileira.

Obrigado, Sr. Presidente.