Discurso durante a 80ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Voto de pesar pelo falecimento professor pernambucano José Leite Lopes, pioneiro das Ciências Físicas no Brasil e fundador do Centro Brasileiro de Pesquisas Físicas.

Autor
Marco Maciel (PFL - Partido da Frente Liberal/PE)
Nome completo: Marco Antônio de Oliveira Maciel
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM.:
  • Voto de pesar pelo falecimento professor pernambucano José Leite Lopes, pioneiro das Ciências Físicas no Brasil e fundador do Centro Brasileiro de Pesquisas Físicas.
Publicação
Publicação no DSF de 14/06/2006 - Página 20350
Assunto
Outros > HOMENAGEM.
Indexação
  • HOMENAGEM POSTUMA, PROFESSOR UNIVERSITARIO, CIENTISTA, FISICO, ELOGIO, CONTRIBUIÇÃO, DESENVOLVIMENTO CIENTIFICO, BRASIL, MUNDO, LEITURA, TRECHO, HOMENAGEM, PUBLICAÇÃO, IMPRENSA.

O SR. MARCO MACIEL (PFL - PE. Para encaminhar a votação. Com revisão do orador.) - Sr. Presidente, Senador Renan Calheiros, ao saudá-lo, cumprimento também as Srªs e os Srs. Senadores aqui presentes.

Venho à tribuna do Senado, nesta sessão matutina, para, a exemplo de outros colegas, também trazer o meu sentimento de pesar pelo falecimento do grande físico José Leite Lopes, que nasceu no Recife, capital do meu Estado, em 28 de outubro de 1918. Secundando as palavras do Senador Roberto Saturnino, bem assim requerimento apresentado no mesmo sentido pelo Senador José Jorge, desejo, neste instante, associar-me ao sentimento da Casa no pesar pelo falecimento de tão ilustre cientista.

Leite Lopes, entre muitos títulos, era PhD pela Universidade de Princeton, título obtido em 1946; foi professor da primeira Escola Latino-Americana de Física da Universidade Nacional do México; titular de Física Teórica da Universidade Federal do Rio de Janeiro; professor visitante de universidades francesas - inclusive porque ele lá se exilou no período de 1964 a 1967 e também professor visitante em instituições norte-americanas.

Ele aliava a vida universitária a uma enorme participação política em instituições acadêmicas, entre outras na Academia de Ciências do Terceiro Mundo, em Trieste, Itália; Academia de Ciências da América Latina, com sede em Caracas, Venezuela; Société Française de Physique e Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência, da qual foi eleito Presidente de honra pelo seu Conselho na 50ª Reunião realizada em 1998.

Exercia, desde 1955, a condição de Secretário Científico da Organização das Nações Unidas (ONU); foi Diretor do Centro Brasileiro de Pesquisas Físicas de 1960 a 1964; Professor visitante da Faculdade de Ciências de Orsay, da Universidade de Paris, de1964 a 1967; e Professor Titular da Universidade de Strasbourg, de 1970 a 1986.

Possuía inúmeras condecorações, como o Grande Oficial da Ordem de Rio Branco, talvez a maior comenda que o Itamaraty concede a cidadãos nacionais; Officier dans l´Ordre National du Mérite, do governo francês; e a Grã-Cruz da Ordem Nacional do Mérito Científico, outorgada em 1994; e várias medalhas. Recebeu o prêmio Estácio de Sá do Governo do Rio de Janeiro em 1987, o Prêmio Nacional de Ciência Álvaro Alberto, figura que tão significativamente marca o desenvolvimento.das pesquisas nucleares em nosso País, e também o prêmio científico Unesco, em 1999.

Possuía vários títulos honoríficos, tais como o de Professor Honoris Causa, da Universidade do Estado do Rio de Janeiro e da Universidade Federal do Estado de Pernambuco, este concedido em 1988.

Eu diria, com relação a Leite Lopes, que a ele se pode aplicar as palavras de Terêncio: “nada do que era humano lhe era estranho”.

            Por quê? Porque ele era um homem que, embora ministrasse na área de ciências exatas, era também - e sobretudo, penso - um humanista, preocupado com as questões que diziam respeito às grandes indagações filosóficas e tinha uma visão ampla das grandes questões sociais brasileiras. Daí por que ele não foi um cientista que ficou adstrito ao laboratório, desenvolvendo estudos na área da física e contribuindo para seu desenvolvimento, como lembrou o Senador Roberto Saturnino. Isso lhe propiciou também formar gerações de pessoas que se dedicaram à física no Brasil e ao debate das questões ideológicas e dos problemas nacionais.

No passado, afirmava-se que o brasileiro era pouco vocacionado para as chamadas ciências exatas. Hoje, graças a figuras como Leite Lopes, podemos dizer que avançamos, e muito, nesse território. Também avançamos, e muito, no desenvolvimento de ações voltadas para uma melhor compreensão dos problemas do universo e, de um modo especial, do nosso País.

Fundador do Centro Brasileiro de Pesquisas Físicas (CBPF), do Instituto de Física da Universidade Federal do Rio de Janeiro e primeiro Presidente da Sociedade Brasileira de Física, o pernambucano Leite Lopes foi uma das figuras centrais da ciência brasileira nas últimas décadas.

Não foi por outra razão que o jornal O Globo, de hoje, mencionou, com grande destaque, a sua morte - é bom lembrar que, nos seus últimos anos de vida, ele morava no Rio de Janeiro:

Um dos maiores expoentes de uma geração de cientistas comprometida com o desenvolvimento científico e tecnológico, mas também com aspectos sociais e políticos do País. Dessa forma, amigos, colegas de profissão e ex-alunos descreveram José Leite Lopes um dos maiores nomes da ciência brasileira, físico reconhecido internacionalmente...

O Mestre Leite Lopes, que tanto admirava, como disse, nascido no Recife, concluiu o curso secundário, no Colégio Marista, graduou-se em química industrial na Escola de Engenharia, hoje integrada à Universidade Federal de Pernambuco. Prosseguiu seus estudos no Rio de Janeiro, onde se bacharelou em Física.

Não gostaria, Sr. Presidente, de deixar também de mencionar aqui uma declaração, que considero muito apropriada, do professor Ennio Candotti, atualmente Presidente da Sociedade Brasileira Para o Progresso da Ciência, publicada na Folha de S.Paulo:

Ele não só ensinou a muitos de nós o que é física, mas também como se deve fazer política científica. Aprendemos que não bastava sermos bons cientistas. Precisávamos estar atentos aos problemas sociais e econômicos do País.

Por isso que não seria exagero qualificá-lo não somente como um dos grandes cientistas brasileiros, mas também como alguém que tinha uma visão ampla do mundo, uma inquietação com os problemas sociais e, de modo especial, com as questões que afetavam o Brasil - seu processo de desenvolvimento, a busca da correção das desigualdades -, que ainda marcam o espaço social brasileiro.

Essa visão de Leite Lopes pode se sintetizar em uma fala sua - aliás, também publicada na Folha de S. Paulo de hoje. Disse ele sobre a necessidade de despertar o interesse pela ciência:

Prazer você tem também vendo belas pinturas, vendo belas esculturas, vendo belas arquiteturas, vendo a bela arte, como você tem prazer na física. Eu tive esse prazer ao fazer um trabalho original e ao propor umas idéias novas.

Isso confirma a personalidade do Professor José Leite Lopes.

Daí por que, Sr. Presidente, além da inserção em Ata de voto de pesar pelo passamento de tão ilustre figura, como foi requerido pelo Senador Roberto Saturnino, pelo Senador José Jorge, por mim e por outros Colegas - fossem da mesma forma apresentadas condolências à família, de modo especial ao filho Sérgio Leite Lopes, que continua a obra do pai, ao Governo de Pernambuco, presidido pelo Governador Mendonça Filho, já que ele era desse Estado, e às instituições científicas às quais o ilustre físico pertencera.

Encerrando minhas palavras, Sr. Presidente, eu gostaria de expressar, mais uma vez, algo que penso - e é o sentimento de toda a Casa - sobre o pesar pelo falecimento de tão pranteada figura do mundo científico, filosófico, cultural e, por que não dizer, político da sociedade brasileira, nome notável de José Leite Lopes, que tantos serviços ofereceu, de forma proba e responsável, ao nosso País.

            Muito obrigado, Sr. Presidente.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 14/06/2006 - Página 20350