O SR. JEFFERSON PÉRES (PDT - AM. Como Líder. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, não me furto ao risco de ser repetitivo ao repercutir desta tribuna, como já o fizeram, ontem, a Senadora Íris de Araújo e, hoje, o Senador Pedro Simon, a preocupante entrevista dada pelo novelista Silvio de Abreu à revista Veja. É preocupante não a entrevista, não as declarações dele, claro, mas o fato revelado por ele segundo o que apurou da pesquisa qualitativa realizada pela Rede Globo, que se refere a boa parte da sociedade brasileira - não sei qual o percentual desse segmento, mas deve ser considerável.

Para aqueles expectadores de todo o Brasil que não a leram, vou ler parte da entrevista: “Como sempre acontece na Globo, realizamos uma pesquisa com espectadoras para ver como o público estava absorvendo a trama da novela Belíssima e constatamos que uma parcela considerável delas - são mulheres, donas-de-casa - já não valoriza tanto a retidão de caráter. Para elas, fazer o que for necessário para vencer na vida é o certo. Esse encontro com o público me fez pensar que a moral do nosso País está em frangalhos.

As pessoas se mostraram muito mais interessadas nos personagens negativos do que nos moralmente corretos.

Diz ele que, há cinco anos, segundo pesquisa realizada em torno de uma outra novela sua, os personagens bons eram os mais queridos; nessa última pesquisa, eles foram considerados enfadonhos. São os chatos, os caretas.

As donas-de-casa não viram nada de errado na conduta de um personagem que forjou provas incriminadoras de um rival para ficar com a mulher dele. As donas-de-casa não viram nada de errado na conduta do Alberto; pelo contrário, ponderaram que, se ele fez aquilo para conquistar a mulher, tudo bem. O fato de um outro ter dado o ‘golpe do baú’ também foi visto com naturalidade.

Na mesma pesquisa - diz ele - colhemos indícios claros de que essa maior tolerância com os desvios de conduta tem tudo a ver com os recentes escândalos na política. Alguns deles deram a seguinte resposta para o fato de se identificar com um personagem: ‘Quero ser a Júlia porque aí eu pago mensalão para todo mundo e ninguém me passa a perna’.”

Pelo visto, os valores morais da nossa sociedade estão em processo de desintegração. Senador João Alberto, isto não é preocupante: é alarmante. O que vai ser de uma sociedade que não tem fundamentos éticos?

Diz Sílvio de Abreu que isso se deve ao comportamento da classe política. Provavelmente, sim. O que aconteceu com o “valerioduto”, a complacência do Presidente da República, maior autoridade do País, para o qual olha toda a sociedade, a complacência com os seus correligionários que praticaram aquilo, a absolvição dos “mensaleiros” pela Câmara dos Deputados, tudo isso leva o povo, o homem comum do povo a raciocinar da seguinte forma: se eles que estão lá roubam o dinheiro que é nosso e ficam impunes, por que eu vou ser honesto? Por que eu, que estou aqui passando necessidades, dando duro na vida, vou ser honesto? Isso contamina toda a sociedade. Não adianta fazerem discursos contra isso. Como já dizia Ruy Barbosa, numa frase famosa, as palavras convencem, mas só os exemplos arrastam. Enquanto os homens públicos derem exemplos como esses que vemos todos os dias, não é de se surpreender, como diz Silvio de Abreu, que a moral do povo brasileiro esteja em frangalhos. É por isso que eu não me surpreenderei se políticos comprometidos forem eleitos ou reeleitos, se os todos os “mensaleiros” voltarem pelo voto do povo. Ainda que eu desagrade a muitos que me ouvem, parece que não é só a classe política que tem uma enorme banda podre, não. Parece que boa parte da sociedade brasileira está num processo de apodrecimento, Sr. Presidente. Repito: isso não é só preocupante, mas é alarmante. Se continuar assim, não sei se haverá futuro para as pessoas que encaram as coisas públicas com seriedade, que vêm militar na política voltados para os interesses públicos. Não sei se esses políticos são aves em extinção, porque parece que o eleitor sério também está em processo de extinção.

Concedo o aparte ao Senador Eduardo Suplicy, com muito prazer.

O Sr. Eduardo Suplicy (Bloco/PT - SP) - Prezado Senador Jefferson Péres, a entrevista de Silvio de Abreu, que V. Exª comenta tão bem, ontem objeto de análise da Senadora Iris Rezende, traz uma preocupação das maiores com respeito aos valores que hoje caracterizam o povo brasileiro. Vejo nas afirmações de Silvio de Abreu um chamado à consciência de todos nós. Essa entrevista impressionou V. Exª pela referência aos valores da ética, da honestidade, de se dizer a verdade, de se ter um comportamento retilíneo; aos valores do respeito ao ser humano, das relações entre as pessoas até no âmbito da família. Trata-se de valores muito importantes na nossa sociedade. Se, por ventura, houve desvios de comportamento no âmbito do Governo, do Congresso Nacional, é importante até que isso seja objeto da análise severa de pessoas como Silvio de Abreu, que muitas vezes tem a qualificação para transformar muito do que ele observa nas novelas brasileiras, que, depois, acabam tendo esse tipo de reflexão. Senador Jéferson Peres, que, juntamente com o Senador Cristovam Buarque, foi designado candidato a Vice-Presidente pelo PDT, tenho convicção de que o povo brasileiro valorizará, sim, os procedimentos, os comportamentos mais retilíneos em nossa vida pública e pessoal. É uma intuição do que percebo, porque tenho certeza de que cada um de nós, pertencentes a cada Partido - e eu, ao Partido dos Trabalhadores -, sentimo-nos na responsabilidade de, se erros existiram, colaborar para que eles sejam corrigidos e superados. É nessa perspectiva, portanto, que tenho a esperança de vivermos num Brasil onde menos delitos e erros de toda ordem sejam cometidos.

O SR. JEFFERSON PÉRES (PDT - AM) - Muito obrigado, Senador Eduardo Suplicy.

O SR. PRESIDENTE (João Alberto Souza. PMDB - MA) - Por gentileza, Senador Jefferson Péres, peço que V. Exª conclua.

O SR. JEFFERSON PÉRES (PDT - AM) - Não posso mais dar apartes? É uma pena.

O SR. PRESIDENTE (João Alberto Souza. PMDB - MA) - Creio que está esgotado o tempo de V. Exª.

O SR. JEFFERSON PÉRES (PDT - AM) - Não poderei ouvir o Senador Romeu Tuma, por exemplo?

O Sr. Romeu Tuma (PFL - SP) - Pretendo apenas dar uma informação.

O SR. JEFFERSON PÉRES (PDT - AM) - Concedo o aparte ao Senador Romeu Tuma por trinta segundos.

O Sr. Romeu Tuma (PFL - SP) - V. Exª está trazendo um assunto importante, que foi discutido na Comissão de Educação hoje pela manhã quando do debate acerca de um projeto de autoria do Senador Pedro Simon, relatado pelo Senador Cristovam Buarque. Trouxeram à baila essa entrevista, criando a cadeira de Ética e Moral para substituir a Moral e Cívica de outros tempos. Entre as propostas, estava o convite ao autor da novela, ao Silvio, para que ele compareça para discutir esses aspectos que foram levantados. Inclusive o Senador Eduardo Azeredo fez uma ponderação de quem começou primeiro a delinear o comportamento da sociedade. V. Exª está de parabéns. Esperamos que ele venha e que V. Exª possa participar da discussão.

(Interrupção do som.)

O SR. JEFFERSON PÉRES (PDT - AM) - Obrigado, Senador Romeu Tuma. Parabéns ao Senador Pedro Simon pelo projeto e parabéns a toda Comissão de Educação por haver não apenas aprovado o projeto que introduz a disciplina Ética no currículo das escolas, mas também pelo convite feito ao Silvio de Abreu para vir a esta Casa discutir tema de tamanha relevância.

Muito obrigado, Sr. Presidente.