Discurso durante a 107ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Comentários à matéria intitulada "Ética dá voto?", de autoria do cronista Merval Pereira, do jornal O Globo de hoje.

Autor
Pedro Simon (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/RS)
Nome completo: Pedro Jorge Simon
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
ELEIÇÕES. POLITICA PARTIDARIA.:
  • Comentários à matéria intitulada "Ética dá voto?", de autoria do cronista Merval Pereira, do jornal O Globo de hoje.
Aparteantes
Eduardo Suplicy, Jefferson Peres.
Publicação
Publicação no DSF de 12/07/2006 - Página 23505
Assunto
Outros > ELEIÇÕES. POLITICA PARTIDARIA.
Indexação
  • COMENTARIO, NOTICIARIO, JORNAL, O GLOBO, ESTADO DO RIO DE JANEIRO (RJ), ASSUNTO, CAMPANHA ELEITORAL, ATUAÇÃO, PRESIDENTE DA REPUBLICA, REUNIÃO, CONCESSÃO, CARGO PUBLICO, ESCALÃO, MINISTERIO, PARTIDO POLITICO, PARTIDO DO MOVIMENTO DEMOCRATICO BRASILEIRO (PMDB), SOLICITAÇÃO, TRANSCRIÇÃO, ANAIS DO SENADO, TRECHO, ARTIGO DE IMPRENSA, QUESTIONAMENTO, ETICA, ELEIÇÕES, ALTERAÇÃO, DIRETRIZ, REPRESENTAÇÃO PARTIDARIA, PARTIDO DOS TRABALHADORES (PT), PREVISÃO, CONTINUAÇÃO, ILEGALIDADE, CONTABILIDADE, CAMPANHA.
  • COMENTARIO, AFASTAMENTO, TARSO GENRO, EX PRESIDENTE, PARTIDO POLITICO, PARTIDO DOS TRABALHADORES (PT), ABANDONO, DECISÃO, RECUPERAÇÃO, ETICA.
  • REITERAÇÃO, REPUDIO, PERMANENCIA, CARGO PUBLICO, PRESIDENTE, BANCO CENTRAL DO BRASIL (BACEN), REU, PROCESSO JUDICIAL, SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL (STF), CRIME DO COLARINHO BRANCO.
  • ANUNCIO, DEBATE, COMISSÃO DE EDUCAÇÃO, AUTOR, EMISSORA, TELEVISÃO, ESTADO DO RIO DE JANEIRO (RJ), ASSUNTO, PESQUISA, DESVALORIZAÇÃO, ETICA, OPINIÃO PUBLICA, VINCULAÇÃO, IMPUNIDADE, CORRUPÇÃO, CLASSE POLITICA.
  • ELOGIO, ETICA, EDUARDO SUPLICY, SENADOR, PARTIDO POLITICO, PARTIDO DOS TRABALHADORES (PT), CANDIDATO, REELEIÇÃO.

O SR. PEDRO SIMON (PMDB - RS. Pronuncia o seguinte discurso. Com revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Parlamentares, interessante a coluna do ilustre cronista Merval Pereira no jornal O Globo de hoje. “Ética dá voto?” - pergunta o jornalista. Essa matéria está cercada de outra que se refere à volta dos políticos: os técnicos equacionaram o problema dos Correios, o que parecia que ia levar muito mais tempo, mas os políticos voltaram ao comando dos Correios.

Outra matéria: “Severino guarda 320 mil reais em casa”. Vai gastar mais de um milhão na campanha, mas os amigos vão custear.

A outra matéria que cerca a do jornalista é: “Lula defende a entrega de cargos”. Lula acha que o Ministério deve ser entregue de cima a baixo - “porteira fechada”. Fechou a porteira, e ali só entra alguém daquela agenda.

Vamos ver, então, uma competição interessante: o Ministério do PMDB versus o Ministério do PT, versus o Ministério de não sei o quê. Em que vai terminar?

A matéria mais importante: “Lula recebe cúpula do PMDB em meio a mais pressão por cargos”. Quem estava lá, quem não estava não sabemos. Mas o jornal O Globo notifica, com a manchete: “Entre os presentes estava Jader”, o que já dá o gabarito dos membros que fizeram parte daquela reunião. Mas a pergunta é esta: “Ética dá voto?”

A defesa da ética, que já foi uma bandeira que diferenciava a atuação dos petistas na política brasileira, depois que se revelou apenas retórica eleitoral passou também a ter, por parte dos “pensadores” do partido, uma interpretação toda própria, como parece ser toda pessoal a ética do próprio presidente da República, que considera não apenas aceitável ser desinformado sobre questões cruciais que atingiram toda a estrutura de seu governo, como insiste em repetir os mesmos erros que geraram os fatos delituosos que finge ignorar, como a desafiar a opinião pública.

Uma das “promessas” que o PT fez durante os momentos mais agudos da crise política que se envolveu a administração de Lula foi de que as coordenações das campanhas políticas não seriam mais misturadas com as do PT, para evitar “mal-entendidos”.

Essa mistura de contabilidade petista com a da campanha de 2002 teria levado o então tesoureiro do partido, Delúbio Soares, a exorbitar de suas funções, segundo a versão oficial. Pois muito bem, vem a campanha para a reeleição e o que acontece? O novo tesoureiro do PT, Paulo Ferreira, vai dividir as funções com o prefeito de Diadema, José de Filippi Júnior, da mesma forma que Delúbio dividia as funções com Antonio Palocci, ex-prefeito de Ribeirão Preto. [...]

Filippi Jr. pertence à dinastia petista que vem desde os anos 1990 do século passado ocupando prefeituras do interior, onde nasceu a prática de arrecadação de “dinheiro não contabilizado” para as campanhas petistas, segundo acusações de fundadores do partido, como César Benjamin, hoje candidato a vice de Heloísa Helena, e Paulo de Tarso Venceslau.

Além desse “pedigree”, Filippi carrega consigo uma outra sina, que parece perseguir os petistas do alto escalão: não tem como explicar o pagamento, com recursos próprios, de uma multa que recebeu por ilícitos eleitorais. Teve de recorrer a um “tio Mário” [...].

E o “tio Mário” emprestou R$180 milhões, assim como Lula recorreu a Paulo Okamotto para pagar sua dívida ao Partido.

É impressionante esse artigo, Sr. Presidente. Peço sua transcrição, na íntegra, nos Anais.

Ouço V. Exª, Senador Jefferson Péres.

O Sr. Jefferson Péres (PDT - AM) - Senador Pedro Simon, V. Exª se reporta ao artigo de hoje do jornalista Merval Pereira. V. Exª com certeza leu a resposta dada por um vice-presidente do PT, ex-assessor especial do Presidente da República, quando lhe perguntaram se não haveria constrangimento na presença dos mensaleiros no palanque do Presidente. Resposta textual: “Eles vão participar do palanque do presidente como todos os que apóiam a reeleição. O único constrangimento seria se eles não tivessem votos”. E não preciso dizer mais nada, Senador!

O SR. PEDRO SIMON (PMDB - RS) - Penso que esse comentário, cuja transcrição peço na íntegra,merece uma análise muito profunda.

Quando Tarso Genro assumiu a Presidência do Partido, afirmou que o faria para refundar o PT: “Eu refundarei o PT. O problema do PT não é o Judiciário, não é a Procuradoria, não é a Comissão de Ética, nem a Comissão Mista, nem o Plenário. O problema do PT é o congresso do PT, é a convenção do PT, é o diretório do PT. Nós é que temos de punir a nossa gente; nós é que temos de liberar, de limpar o PT, de separar os que são dos que não são”.

Vim a esta tribuna e dei nota dez ao Tarso. Eu disse que ele faria um favor fantástico ao PT, algo realmente extraordinário, porque, do fundo da desgraça, do fundo do abismo em que havia sido colocado, o Partido renasceria das cinzas, e nasceria um novo PT. É claro que o Ministro Tarso, ao falar isso, deve ter conversado com o Presidente Lula. Ele não diria “Vou fundar um novo PT”, sem falar com o Presidente Lula. Mas três meses depois, o Sr. Tarso Genro estava fora da direção do PT. Elegeram outro.

O Sr. Jefferson Péres (PDT - AM) - Senador Pedro Simon, permita-me um aparte.

O SR. PEDRO SIMON (PMDB - RS) - Já lhe darei o aparte.

Elegeram outro Presidente, que não pensou em punir os culpados, que não pensou em abrir inquérito contra os culpados, mas que decidiu qualquer assunto com relação a mensalista ou coisa que o valha só no ano que vem. Este é um ano eleitoral.

O Sr. Jefferson Péres (PDT - AM) - Desculpe-me interrompê-lo mais uma vez, Senador Pedro Simon, mas um homem da estatura de V. Exª merece ser aparteado mais de uma vez. Assisti ao último capítulo da novela Belíssima, da Globo, e me ficou aquela cena inesquecível, em que a grande vilã, interpretada pela excepcional atriz Fernanda Montenegro, depois de ter driblado a polícia, entra no avião a jato, a caminho de Paris, olha para baixo e diz com olhar de desprezo: “Bando de idiotas!”. Penso que, neste momento que o País vive, é dessa maneira que pessoas como eu e V. Exª, como os brasileiros todos de bem, que são milhões, são olhados por essa gente. Eles nos olham, Senador, e pensam: “Bando de idiotas!”.

O SR. PEDRO SIMON (PMDB - RS) - Não diria que V. Exª é um desses, mas que V. Exª é referência nesta Casa. V. Exª é um nome que tenho orgulho de ter como amigo. E tenho uma felicidade muito grande em acatar as idéias de V. Exª com tanta facilidade.

Tenho visto a irritação de V. Exª e tenho reconhecido essa pergunta do jornalista. Vou ser muito sincero, Senador, nunca pensei se ética dá voto. Até, com toda sinceridade, na minha opinião, ética não dá voto. O que é ética? É fazer o que deve ser feito, é fazer as coisas que devem ser feitas. A ética não faz caridade, a ética não tem a grandeza de fazer justiça, de distribuir favores. Não. É apenas fazer a parte dele. Um cidadão que é ético não significa que ele seja mais do que ninguém, não significa que ele deva agradecimentos de quem quer que seja. Um cidadão, que pode ser um empresário, pode ser um político, que tem atos de grandeza, de espírito público, que pega parte de sua renda e distribui, que trabalha para os pobres, que faz uma série de atos de generosidade, de caridade, esse merece o respeito, merece credibilidade, merece o agradecimento e, se fosse o caso, mereceria voto. Agora, ética não merece voto. Ética é a obrigação de fazer aquilo que deve ser feito.

O Sr. Jefferson Péres (PDT - AM) - Vou interrompê-lo pela terceira vez.

O SR. PEDRO SIMON (PMDB - RS) - Pode falar, é uma honra para mim.

O Sr. Jefferson Péres (PDT - AM) - O grande, inolvidável e imortal Jorge Luís Borges, Prêmio Nobel de Literatura Argentino, dizia o seguinte, Senador Pedro Simon: A pessoa que se comporta eticamente pensando em vantagem, essa pessoa não é ética.

O SR. PEDRO SIMON (PMDB - RS) - Não é ética. Aliás, V. Exª diz com uma rara felicidade: se sou ético porque quero angariar voto, quero angariar credibilidade, quero somar, não vou conseguir somar. Aliás, é o que diz o Evangelho; ou seja, se você quer fazer o bem, se você quer fazer caridade, se você quer fazer algo de positivo, se você quer dar uma esmola, faça-o em silencio. Que a sua mão direita não saiba o que a sua mão esquerda fez. Se você quer rezar, recolha-se em seu quarto e reze em silêncio. Não faça isso na sinagoga, gritando para que todo mundo ouça. Se você quer fazer jejum, arrume-se, faça a barba normalmente, para que ninguém veja que está fazendo jejum. Se você fizer jejum fazendo assim, já teve a sua compensação. Se você der esmola mostrando para todo mundo, você já teve a recompensa aqui e não terá lá em cima. Se a sua ética é para você aparecer, para todos olharem, para mostrar que é bonito, não é mais ética. É um sentimento que pode ter qualquer nome, menos esse.

Assim, concordo: ética não dá voto, meu querido amigo Merval Pereira e nem deve ter por objetivo buscar o voto. O que deve ser analisado é o exagero da falta de ética e, à medida que as pessoas demonstram não ter ética, é mais do que não ter ética. As pessoas que são criminosas e cometem delitos, isso é muito mais que não ter ética. Ética é o cidadão receber ou não receber, pegar ou não pegar uma van. Agora, crime é crime. Por exemplo, o cidadão que está sendo denunciado pelo Supremo Tribunal Federal; o cidadão que o Procurador da República denunciou. O cidadão que cometeu um delito e permanece no cargo, como o Presidente do Banco Central!?

Não posso dizer que o Presidente do Banco Central é criminoso, mas também não posso dizer que ele é inocente, já que o Procurador-Geral da República fez uma denúncia contra ele, essa denúncia foi aceita pelo Supremo Tribunal Federal, está na mão de um Procurador. O Procurador aceitou a denúncia. Ele está sendo processado no Supremo. Presidente do Banco Central!

Em que país um presidente de Banco Central é processado e continua presidente do banco? No Brasil, ele continua Presidente do Banco Central e ainda é promovido a Ministro. Não conheço outro lugar onde o presidente do Banco Central é Ministro. Ministros são: o Ministro da Fazenda, o Ministro do Planejamento, o ministro de não sei o quê. Presidente do Banco Central é presidente de banco central. No Brasil, temos um Ministro Presidente do Banco Central.

Nem é questão de ética, meu querido Merval Pereira; não é uma questão de ética. Não posso querer analisar se o Presidente do Banco Central tem ou não ética. Ele está sendo denunciado por crime. Não posso chamá-lo de criminoso, porque ainda não foi julgado, mas, se a denúncia foi feita pelo Procurador-Geral da República, aceita pelo Supremo e está na mão do Ministro do Supremo, ele não poderia ser promovido a Ministro. Ele não poderia estar lá. Esse é o Governo do Senhor Lula. Como esse caso, há mais. Outros Ministros deste Governo têm processo no Supremo.

Tem mais gente que está sendo denunciada e está no Governo. Essa é a pergunta a se fazer.

No jantar de ontem com o Presidente estava lá o Sr. Jader, que está sendo denunciado no Supremo. E dizem que vai ser o coordenador do MDB na campanha do Senhor Lula. Um cidadão que renunciou ao Senado para não ser condenado, que é denunciado pelo Procurador-Geral da República e que o Supremo aceitou a denúncia. Mas aonde é que o Lula quer chegar?

Olha, volto a dizer. Quando o Sr. Tarso Genro assumiu a Presidência do PT, acreditei nele, pois o considero um homem de bem. Quando ele assumiu a articulação e começou a falar, acreditei nele, porque pensei que a articulação de uma organização que fizesse partidos participarem, e não grupo, e não o Sarney e o Renan resolverem tudo e nomearem tudo em nome do PMDB, o partido participar, porque há uma diferença muito grande entre o que pensa e o que faz. E, infelizmente, os que pensam no PT estão caindo fora.

Está ali meu amigo Suplicy. Esse pensa. Esse fala.

Mas penso que o meu amigo Suplicy no PT é mais ou menos que nem eu no MDB. Dr. Renan, Dr. Sarney, Dr. Suassuna, quando o Pedro Simon fala na tribuna e critica o MDB, dizem: São coisas do Simon. Simon pensa que está num mosteiro e não numa Casa política. O Suplicy deve ser mais ou menos assim no PT. Lembro-me quando o Suplicy insistiu, porque ele achava que o Lula deveria vir aqui no início do ano e fazer a apresentação, o ridículo que se falou. E quando foram feitas acusações contra o Lula, o Senador Suplicy disse: Não, o Lula tem de ir lá no Senado pedir para falar. E fala. Cá entre nós, se o Lula chegasse aqui, pedisse a palavra e falasse, íamos ter de respeitar. Ele falou?

“São coisas do Suplicy”.

Olha, meu ilustre Presidente Lula - antigamente, eu dizia: olha, meu amigo Lula, não sei se posso dizer isso, porque se eu falar ele é capaz de dizer que não - Vossa Excelência não está seguindo o melhor caminho. Apesar de Vossa Excelência falar em certa humildade e pedir ao PT que não ande de salto alto, quem vê a sua maneira de falar e de agir sente que Vossa Excelência acha que já ganhou. A Globo acha que Vossa Excelência já ganhou; na verdade, ela faz uma forcinha danada para que isso aconteça. e ainda há coisas em que a Globo jamais erra.

Realmente, ilustre Presidente, vi o final da novela e, a propósito, hoje aprovamos na Comissão de Educação - o Senador Paulo Paim teve a gentileza de fazer a sua defesa - um convite para que o autor da novela Belíssima viesse falar na Comissão da Educação.

O SR. PRESIDENTE (Romeu Tuma. PFL - SP) - Também defendi, Senador, fui signatário ao lado de V. Exª.

O SR. PEDRO SIMON (PMDB - RS) - Muito obrigado.

Ele virá à Comissão para falar sobre o que disse nas páginas amarelas da revista Veja. Ele disse que, ao ver as enquetes que a Globo faz diariamente sobre os seus personagens para dar andamento à novela, teve um choque tremendo. Nas pesquisas de cinco anos atrás, o povo ainda torcia para o mocinho e para a mocinha, mas hoje o mocinho é visto como um chato. O mocinho era um homem bacana casado com uma mulherona, e o malandro fez de tudo e pegou a mulher dele. A resposta das pesquisas foi que ele agiu corretamente, agiu bem, pois ele gostava da mulher, que era bonita. Quanto ao marido dela, disseram que era um chato e tinha de perder a mulher mesmo. Essa foi a resposta obtida na enquete popular que a Globo fez. Isso é muito grave.

Mais adiante, falando sobre essa mesma enquete, ele diz que as manchetes políticas são apresentadas como as grandes responsáveis por essa mudança de pensamento da mocidade em cinco anos. É o que eles vêem acontecer na classe política, na qual roubam, matam e nada acontece.

É a impunidade que eles sentem e vêem. Aconteça o que acontecer na classe política, quem está ganhando está sempre por cima. E é aquela história: ladrão de galinha é que pega cadeia. Aliás, eu já disse e repito aqui: o Maluf agüentou trinta anos com a imprensa em cima dele e saiu ileso. Quando saiu no jornal que ele estava envolvido com negócio de frango, eu disse: “Vão pegá-lo”. E pegaram. Pegou cadeia.

Concedo um aparte ao Senador Eduardo Suplicy.

O SR. PRESIDENTE (Romeu Tuma. PFL - SP) - Senador Eduardo Suplicy, eu pediria que V. Exª fosse rápido porque o tempo está esgotado.

O Sr. Eduardo Suplicy (Bloco/PT - SP) - Serei muito breve. Senador Pedro Simon, V. Exª lembrou a sugestão que fiz ao Presidente Lula. Quero dizer que se trata de uma sugestão que o Presidente Lula poderá a qualquer momento aproveitar; não foi feita especificamente para esta ou para aquela situação. Quero dizer, em primeiro lugar, que se trata de algo possível do ponto de vista constitucional, está permitido pela Constituição. O Presidente, se assim achar adequado, poderá aqui vir um dia, basta que combine com o Presidente do Senado Federal. Poderá Sua Excelência fazer uma exposição sobre os assuntos que avaliar relevantes. Poderá ser combinado, digamos, de os Líderes ou os que estes designarem formularem observações, perguntas, ao qual o Presidente poderá responder. Quando fiz essa sugestão ao Presidente, inclusive por carta, o Ministro Tarso Genro observou que não a considerava adequada. Acontece que, poucos dias depois, ele disse que já havia previsão na Constituição daquilo que é possível e do que não é possível. Pois bem; poucos dias depois, por ocasião da comemoração dos 180 anos do Senado, estando o Presidente Lula em Viena, o Presidente da República em exercício era o Senador Renan Calheiros, nosso Presidente. Como Presidente da República, Sua Excelência compareceu ao Senado. Naquele dia coincidiu de todos os Líderes falarem sobre um mesmo tema - eu tive a honra de ser designado pela Líder Ideli Salvatti para fazer uma reflexão sobre os 180 anos do Senado. Logo após a palavra de cada um dos Líderes, o Presidente da República em exercício naquele dia, o Senador Renan Calheiros, também falou, respondeu às reflexões que os diversos Senadores fizeram. Com isso, eu apenas quero aqui ilustrar que a Constituição brasileira permite que isso seja feito. Se o Presidente Lula um dia quiser, espontaneamente, aqui vir para dialogar com os Congressistas, não há impedimentos. Aliás, isso será bastante saudável. Era esse o exemplo que queria apresentar para mostrar que é possível e constitucional a sugestão. Agradeço a lembrança de V. Exª.

O SR. PEDRO SIMON (PMDB - RS) - É muito pura a reflexão do Senador Suplicy. Não precisaria a repercussão do lado de lá ser tão madrasta. Aliás, eu quero dizer que, se há uma pessoa vitoriosa no Brasil hoje, é o Senador Suplicy.

Sei o esforço que o PT fez para que o Senador Suplicy não fosse candidato ao Senado.

O Sr. Eduardo Suplicy (Bloco/PT - SP) - Perdão, Presidente. Senador Pedro Simon, a base do PT quis e, se alguém cogitou de maneira diferente...

O SR. PEDRO SIMON (PMDB - RS) - Não estou falando na base.

O Sr. Eduardo Suplicy (Bloco/PT - SP) - Não, mas V. Exª sabe que o PT é, sobretudo, a sua base, são todos os filiados do partido.

O SR. PEDRO SIMON (PMDB - RS) - Então deixe-me corrigir.

O SR. PRESIDENTE (Romeu Tuma. PFL - SP) - Eu pediria que não houvesse o debate, porque o tempo já se esgotou.

O SR. PEDRO SIMON (PMDB - RS) - Todos sabem o esforço que a cúpula do PT fez para V. Exª não ser candidato. Até para o Quércia ofereceram a candidatura, mas o Quércia respondeu que não seria candidato, primeiro, porque há quatro anos ele fez um acordo com o PT, mas o PT não o cumpriu: em vez de votar nele - e ganhou V. Exª -, o PT votou no candidato do PCdoB; segundo, mesmo que o PT quisesse cumprir, se ele fosse candidato - o PT cortaria a candidatura de V. Exª -, o povo iria responder em cima dele por achar que ele tinha sido o algoz da candidatura de V. Exª, por achar que ele tinha tirado V. Exª do páreo.

V. Exª vai ser reeleito, mas já é um grande vitorioso. Acho isso importante, porque V. Exª mantém a sua linha, V. Exª diz o que tem de dizer. Pena que Frei Betto e outros tantos tenham saído. Isso eu disse pessoalmente a Frei Betto quando ele comunicou que continuava amigo do Lula, mas que não podia continuar ali. Se os homens que têm de ficar do lado dele caem fora, os outros vão tomar conta.V. Exª ficou. Está aqui, não mudou uma vírgula do seu pensamento, diz o que tem de dizer. Pena que os Suplicy sejam tão poucos no PT. Pena que aquele glorioso PT, fantástico, do qual eu era um admirador, do qual tinha até inveja - inveja cristã, mas inveja -, tenha mudado. V. Exª ainda mantém o movimento, a garra, a seriedade, a dignidade e a correção de antes, mas não sei de quantos mais podemos dizer o mesmo.

Muito obrigado, Sr. Presidente.

 

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DOCUMENTO A QUE SE REFERE O SR. SENADOR PEDRO SIMON EM SEU DISCURSO.

(Inserido nos termos do art. 210, I, § 2º do Regimento Interno.)

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Matéria referida:

“Ética dá voto?”


Este texto não substitui o publicado no DSF de 12/07/2006 - Página 23505