Discurso durante a 109ª Sessão Deliberativa Extraordinária, no Senado Federal

Aprovação de projeto que denomina Aeroporto Wilson Fonseca o Aeroporto de Santarém - PA. Repúdio às escutas clandestinas feitas no escritório político de S.Exa. em Belém.

Autor
Ana Júlia Carepa (PT - Partido dos Trabalhadores/PA)
Nome completo: Ana Júlia de Vasconcelos Carepa
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
POLITICA DE TRANSPORTES. SEGURANÇA PUBLICA. ELEIÇÕES.:
  • Aprovação de projeto que denomina Aeroporto Wilson Fonseca o Aeroporto de Santarém - PA. Repúdio às escutas clandestinas feitas no escritório político de S.Exa. em Belém.
Aparteantes
Arthur Virgílio, Renan Calheiros, Romeu Tuma.
Publicação
Publicação no DSF de 13/07/2006 - Página 23990
Assunto
Outros > POLITICA DE TRANSPORTES. SEGURANÇA PUBLICA. ELEIÇÕES.
Indexação
  • REGISTRO, APROVAÇÃO, PROJETO DE LEI, DENOMINAÇÃO, AEROPORTO, MUNICIPIO, SANTAREM (PA), ESTADO DO PARA (PA), HOMENAGEM, MUSICO.
  • PROTESTO, DESCOBERTA, ESCUTA TELEFONICA, ESCRITORIO, ORADOR, ESTADO DO PARA (PA), SOLICITAÇÃO, INVESTIGAÇÃO, CRIME, POLICIA FEDERAL.
  • QUALIDADE, ORADOR, CANDIDATO, GOVERNADOR, ESTADO DO PARA (PA), DEFESA, CONTINUAÇÃO, PROGRAMA ASSISTENCIAL, BOLSA FAMILIA, ACESSO, ENERGIA ELETRICA, POPULAÇÃO, FINANCIAMENTO, ENSINO SUPERIOR, JUVENTUDE, AUMENTO, RECURSOS FINANCEIROS, Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (PRONAF).
  • DENUNCIA, INSTALAÇÃO, ESCUTA TELEFONICA, AMEAÇA, INTEGRIDADE CORPORAL, ORADOR, ACUSADO, GRILAGEM, HOMICIDIO, TRABALHADOR RURAL, ESTADO DO PARA (PA), AGRADECIMENTO, ROMEU TUMA, SENADOR, ACOMPANHAMENTO, INVESTIGAÇÃO, CORREGEDORIA, SENADO.

A SRª ANA JÚLIA CAREPA (Bloco/PT - PA. Pela ordem. Sem revisão da oradora.) - Sr. Presidente, agradeço a V. Exª por me conceder a palavra neste momento.

Inicialmente, faço um registro importante para a nossa terra, que foi a aprovação de um projeto que se denominou Aeroporto Wilson Fonseca o Aeroporto de Santarém. Wilson Fonseca foi um maestro muito reconhecido, um orgulho não só para o povo de Santarém, para o povo da região do Baixo Amazonas, mas para todo o povo do Pará.

Quero falar a todos, Sr. Presidente, às Senadoras e aos Senadores, a todos que se encontram aqui e a todos aqueles que nos ouvem e nos assistem, Senador Paim. Infelizmente, não vou relatar uma situação boa, mas uma situação grave.

Há mais ou menos um mês, solicitamos um trabalho de limpeza no meu escritório político que funciona em Belém, no Estado do Pará. Esse trabalho foi feito porque várias pessoas amigas, colaboradores, começaram a me alertar, várias situações começaram a acontecer, mostrando exatamente que minha atuação política, ao mesmo tempo que trazia simpatias, também estava me angariando muitos inimigos. Aliás, não acredito que existam muitos, mas alguns. Inimigos, acredito que poucos. E digo mais: essas pessoas, esses inimigos são mais bandidos do que políticos, com certeza.

E qual não foi a minha surpresa quando depois, ao final dessa limpeza, foram encontrados dois equipamentos eletrônicos de escuta clandestina, colocados um na ante-sala do meu escritório e outro na calha da lâmpada onde funciona um pequeno auditório utilizado para reuniões.

É o absurdo da audácia instalarem dois aparelhos de escuta clandestina no meu escritório político, Senador Renan. Grande parte dos Senadores mantém escritório em seus Estados.

Aonde nós chegamos!

E eu, como não poderia deixar de ser, comuniquei o fato à Polícia Federal e solicitei uma perícia técnica no meu escritório, como também estou solicitando a investigação que espero aponte os responsáveis por essa violação. Trata-se de uma atitude típica de gente baixa, de gente covarde, de gente mesmo, Senador - infelizmente, palavras fortes, sim! -, canalha. Essa é a realidade.

Eu quero dizer que este momento pré-eleitoral é muito propício para esse tipo de artimanha, para esse tipo de jogo sujo como a escuta clandestina. Aliás, eu não vou me surpreender se, daqui até as eleições, aparecerem denúncias forjadas, publicadas aqui ou ali, como já aconteceu no passado recente, quando tentaram manchar meu nome, manchar minha honra, com denúncias completamente caluniosas. Uma a uma, todas caíram. E caíram as denúncias, porque elas eram calúnias. E eram calúnias que visavam unicamente atingir, sim, a minha honra, o meu trabalho como Senadora da República.

E eu quero dizer aos meus eleitores, aos meus companheiros do PT, aos meus companheiros dos outros Partidos, ao povo do Pará, a minha família - minha família está sabendo disto neste momento, Senador, porque eu não havia falado para ninguém até fazer esta denúncia à Polícia Federal -, a todos esses que têm me acompanhado que nós devemos estar preparados para um grande confronto.

Eu não iria ser, mas sou, sim, candidata a Governadora do meu Estado. Então, vamos ter um grande enfrentamento, um grande enfrentamento, e, infelizmente, com esse tipo de arma de baixo nível. Um enfrentamento entre aqueles que querem continuar o Bolsa Família, que querem os programas como o Luz Para Todos; que querem continuar as mudanças que começaram a acontecer neste País; que fizeram com que os recursos do Pronaf crescessem de 2,4 bilhões para 10 bilhões agora nesta safra; que querem o ProUni, enfim, que querem tantos programas importantes e aqueles que querem, infelizmente, a volta a uma situação para a qual este País já havia dito “não”, ou seja, a situação das privatizações e do desemprego.

Nesse confronto, infelizmente, os adversários já estão utilizando esse tipo de expediente torpe e criminoso. Isso é crime! Escuta clandestina é crime. Vejam a audácia: colocar escuta clandestina no escritório de uma Senadora da República!

Quero dizer que esse tipo de crime, a escuta clandestina, a calúnia, a denúncia plantada de forma torpe é a forma de fazer política de baixo nível.

Mas quero dizer que não se preocupem. Se quiserem debater no campo das idéias...

O Sr. Arthur Virgílio (PSDB - AM) - Senadora, V. Exª me permite um aparte?

A SRª ANA JÚLIA CAREPA (Bloco/PT - PA) - Concedo um aparte ao Senador Arthur Virgílio.

O Sr. Arthur Virgílio (PSDB - AM) - V. Exª tem idéia de quem possa ter feito isso?

A SRª ANA JÚLIA CAREPA (Bloco/PT - PA) - Como?

O Sr. Arthur Virgílio (PSDB - AM) - V. Exª tem idéia...Tem alguma pessoa para acusar? Algo...?

A SRª ANA JÚLIA CAREPA (Bloco/PT - PA) - Senador, não gosto de fazer como fizeram comigo. Mas eu desconfio que são os mesmos que me caluniaram...

O Sr. Arthur Virgílio (PSDB - AM) - Quais são?

A SRª ANA JÚLIA CAREPA (Bloco/PT - PA) -...que V. Exª inclusive sabe - os mesmos grileiros de terra, o mesmo grupo de empresários. Aliás, não são empresários, Senador. Seria até uma ofensa aos empresários. São bandidos, que grilam terras no nosso Estado, que participam de consórcios, que assassinam trabalhadores rurais. É esse mesmo grupo que veio aqui. Inclusive um cidadão, o Sr. Mário Rubens - não quero acusá-lo, mas estou falando de desconfiança - fez uma acusação.

E o resultado da CPI da Biopirataria, Senador Arthur Virgílio, sabe qual foi? Comprovaram que todas as denúncias foram fraudulentas. Todas! Comprovaram que houve uma fraude quando disseram que havia sido divulgado, num relatório prévio, que existiam ligações telefônicas da minha assessora com um grupo de madeireiros. Foi fraude, porque foi provado, pela quebra de sigilo, que nunca aconteceu aquilo, que o telefone não era dela, e a CPI tinha documento. Isso é mais grave. Por isso, solicitei ao Presidente Renan Calheiros e estou fazendo outro requerimento, Senador Renan, para que peça à Câmara que apure esse tipo de fraude. O resultado da CPI: o relator indicou - e foi aprovado - que esse cidadão fosse indiciado por denunciação caluniosa.

Fui ameaçada no passado!

Lembro-me de que vim à tribuna pedir a polícia do Senado - o Senador Renan Calheiros sabe disso -, porque, no final do ano passado, fui ameaçada no meu gabinete. Pelas informações que tenho e que não posso divulgar, parte desse mesmo grupo...Não é uma pessoa única, entendeu? Na verdade, existe um grupo por trás dessas pessoas. E aí infelizmente usam, e há interesse politiqueiro, sim.

Se quiserem fazer o debate no campo das idéias, nós vamos fazê-lo; se quiserem comparar governos, nós o faremos; mas, se quiserem partir para a baixaria, nós vamos combater duramente 24 horas por dia, porque eu não tenho medo. Eu vou reagir com toda a firmeza necessária a cada ataque que fuja do campo da política, que fuja da divergência que nós aqui, em muitos momentos, exercitamos com firmeza, mas de forma democrática e saudável. Isso é democracia.

O Sr. Arthur Virgílio (PSDB - AM) - Senadora Ana Júlia, algum desses que ameaça V. Exª é candidato a alguma coisa? Estou sem entender um pouco.

A SRª ANA JÚLIA CAREPA (Bloco/PT - PA) - Senador, quero lhe dizer que infelizmente não posso colocar aqui, porque tenho algumas informações sigilosas. Mas existem políticos, no mínimo Deputados, envolvidos.

O Sr. Arthur Virgílio (PSDB - AM) - Com grilagem ou alguma coisa...?

A SRª ANA JÚLIA CAREPA (Bloco/PT - PA) - Quero só dar essa informação, certo?

O Sr. Arthur Virgílio (PSDB - AM) - Está bom. Obrigado a V. Exª.

A SRª ANA JÚLIA CAREPA (Bloco/PT - AM) - Não estou fazendo acusação, até porque não vou caluniar sobre aquilo que não está provado, mas tenho todo o direito, pelo histórico do que tem acontecido, de dizer que nós temos nossas suspeitas.

Mas não posso dizer que são... Eu não sei. Espero que a Polícia Federal, que vai investigar, chegue... Acho difícil. Por quê? Porque o aparelho que foi achado já não estava mais... Claro, um aparelho que funciona com uma bateria, a bateria tem uma duração, e não estava mais... Então,...

O Sr. Romeu Tuma (PFL - SP) - Tem impressão digital, Senadora. Pode ser que, pela impressão digital, se possa chegar...

A SRª ANA JÚLIA CAREPA (Bloco/PT - PA) - Pois é, mas infelizmente não tinha mais, Senador, apesar da perícia técnica que foi feita pela Polícia.

O Sr. Romeu Tuma (PFL - SP) - Só queria, se V. Exª permitisse, um aparte. Sr. Presidente, a Corregedoria não pode intervir, porque a queixa foi feita diretamente à Polícia Federal. Quer dizer, se estiver envolvido alguém aqui, que acho que não, pelo que V. Exª descreve,...

A SRª ANA JÚLIA CAREPA (Bloco/PT - PA) - Não. Também não acredito nisso.

O Sr. Romeu Tuma (PFL - SP) - ...então a Corregedoria poderá acompanhar as investigações que estão sendo feitas pela Polícia Federal, se V. Exª assim o determinar. Agora, a intervenção é difícil. Mas acho que o acompanhamento valeria a pena, se a Senadora assim o desejasse.

A SRª ANA JÚLIA CAREPA (Bloco/PT - PA) - Com certeza, Senador. Eu até lhe agradeço.

O SR. PRESIDENTE (Renan Calheiros. PMDB - AL) - Qualquer providência que for necessária nós vamos encaminhar, para que esses absurdos não continuem a acontecer no Brasil.

A SRª ANA JÚLIA CAREPA (Bloco/PT - PA) - Obrigada, Senador.

Eu quero dizer que eu não vou me intimidar com esse tipo de baixaria, como eu falei aqui, porque é típica daqueles que têm medo do debate aberto, que têm medo de realmente debater as idéias políticas e que, por isso mesmo, não conseguem sequer admitir a hipótese da disputa política ser feita somente no terreno do debate, da militância, da clareza de propostas.

É lamentável ter que comunicar esse fato, mas eu até o faço porque nós já imaginamos o que poderá acontecer até as eleições, o tipo de matérias plantadas, como já o fizeram antes, o tipo de calúnias plantadas como já fizeram antes.

Assim, Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, principalmente ao povo do meu Estado e à minha família, que tão preocupada ficou no momento em que fui ameaçada, preciso dar essa satisfação. Vamos encarar isso com muita tranqüilidade, porque penso que quem faz isso é covarde, não tem coragem de enfrentar democraticamente o debate.

Não vamos cometer nem a mesma vilania, nem a mesma calúnia, nem a mesma covardia. Vamos enfrentar com a coragem que temos enfrentado, Senador, pois a história de nossa militância diz que é assim que temos enfrentado no nosso Estado.

Muito obrigada.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 13/07/2006 - Página 23990