Pronunciamento de Jorge Bornhausen em 19/07/2006
Discurso durante a 114ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal
Avaliação da administração do governo Lula.
- Autor
- Jorge Bornhausen (PFL - Partido da Frente Liberal/SC)
- Nome completo: Jorge Konder Bornhausen
- Casa
- Senado Federal
- Tipo
- Discurso
- Resumo por assunto
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GOVERNO FEDERAL, ATUAÇÃO.:
- Avaliação da administração do governo Lula.
- Publicação
- Publicação no DSF de 20/07/2006 - Página 24745
- Assunto
- Outros > GOVERNO FEDERAL, ATUAÇÃO.
- Indexação
-
- REITERAÇÃO, AVALIAÇÃO, GESTÃO, GOVERNO FEDERAL, DESCUMPRIMENTO, PROMESSA, CAMPANHA ELEITORAL, PARALISIA, INCOMPETENCIA, POLITICA FISCAL, POLITICA EXTERNA, POLITICA DE DESENVOLVIMENTO, FALTA, ETICA, ADMINISTRAÇÃO PUBLICA, EXCESSO, NOMEAÇÃO, MEMBROS, PARTIDO POLITICO, PARTIDO DOS TRABALHADORES (PT), NEGLIGENCIA, CORRUPÇÃO, INFERIORIDADE, CRESCIMENTO ECONOMICO, AUSENCIA, MELHORIA, EDUCAÇÃO, SAUDE, GRAVIDADE, CRISE, AGRICULTURA, INEFICACIA, VIGILANCIA SANITARIA, GASTOS PUBLICOS, PUBLICIDADE, MANIPULAÇÃO, OPINIÃO PUBLICA, EXPECTATIVA, RESULTADO, ELEIÇÕES, ALTERAÇÃO, SITUAÇÃO.
O SR. JORGE BORNHAUSEN (PFL - SC. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, no próximo dia 24, segunda-feira, a atual administração do PT e do Presidente Lula completam 1.300 dias. Faltam, portanto, poucos dias para ainda termos que agüentar a incompetência, a leniência com a corrupção e a ausência de ações e obras administrativas.
Quando este Governo completou cem dias, assumi a tribuna deste Senado e mostrei as contradições, as paralisias, os retrocessos e as imprudências do Presidente naqueles primeiros momentos de governo.
Mostrei as contradições em relação ao discurso de sua campanha, o qual ele abandonara, as contradições em relação ao aumento de tributos, o que, nos seus programas de televisão, ele dizia que iam diminuir, as contradições em relação à criação de Ministérios, pois escolheu, em vez de especialistas, aqueles candidatos do PT derrotados nos Estados, procurando tomar conta do poder pelo poder e misturando o PT com o próprio Governo.
Mostrei a contradição da política recessiva, que deu ao Brasil naquele ano um crescimento zero.
Mostrei também a paralisia nas obras de infra-estrutura. Neste caso, cito que uma das primeiras providências do Governo Lula foi suspender a licitação da BR-101, em Santa Catarina, no trecho sul, que só voltou a ser licitada e teve iniciadas suas obras dois anos depois.
O projeto Fome Zero não passou de um engodo publicitário.
Mostrei a paralisia na defesa da propriedade privada, nomeando para cargos públicos pessoas ligadas ao MST. A paralisia na segurança pública, os retrocessos, como a diminuição dos poderes das Agências, a partidarização de órgãos como a Funasa e o Instituto Nacional do Câncer, que já apresentavam, naquela época, os resultados negativos da partidarização.
Falei do tratamento, por medida provisória, do setor elétrico, das imprudências na política externa, privilegiando Fidel e Chávez, colocando a Alca em situação de examiná-la de forma ideológica.
Passou-se um ano e tivemos a oportunidade de mostrar, novamente, que o Governo só havia aumentado impostos e tributos: a CSLL, de 8% para 9%; a Cide, de 0,3% para 0,8%; o PIS/Pasep, de 0,65% para 1,65%. Havia aumentado as bases das prestadoras de serviço, naquela época, de 12% da receita bruta para 32%. Mantivera a CPMF em 0,38%. A CSLL das contribuições financeiras passou de 3% para 4%. E o resultado do Governo foi medíocre. O resultado final daquele ano de 2003 foi zero, num mundo crescendo a quase 5%, quando países em condições semelhantes à nossa cresceram 7%, 8%, 9%, 10%.
Voltei a dizer aqui, no segundo ano de Governo, que nada havia a comemorar, apenas a lamentar.
No campo ético, no dia 13 de fevereiro de 2003, surgiu o célebre caso Waldomiro Diniz, que mostrou a imagem inicial de um Governo leniente com a corrupção, que não se preocupava com o dinheiro público e que não cuidava do Partido que havia chegado ao poder e tomado a grande maioria dos postos para poder arrecadar, ilicitamente, recursos que, inclusive, vinham do próprio Poder Público.
Lembro que, no início da campanha eleitoral, houve a desfaçatez de dirigentes do Banco do Brasil em adquirir R$70 mil para um show de uma campanha que já estava sendo recheada de recursos pelo “valerioduto”, via VisaNet, do próprio Banco do Brasil.
As eleições mostraram, em 2004, que realmente o Brasil começava a reagir à incompetência e à corrupção.
A economia, que cresceu 5% e foi objeto de foguetes por parte do Governo e de seus liderados, na verdade, cresceu pouco, menos do que devia, porque cresceu 5% sobre zero, enquanto o mundo cresceu 5% sobre 5% e enquanto países chamados emergentes, como o Brasil, cresceram 6% sobre 6%, 7% sobre 6%, 9% sobre 9%, mostrando que pouco alcançamos num mundo favorável ao desenvolvimento e ao crescimento.
O terceiro ano, então, tornou-se dramático. Primeiro, aquela ameaça do Governo sobre as prestadoras de serviço com a MP nº 232, que durou de janeiro a abril, até que entendeu a impossibilidade de vê-la aprovada no Congresso Nacional em face da reação não só dos Congressistas, mas dos pequenos e microempresários, que não aceitaram aquele esbulho do Governo Lula e do PT, que queria aumentar, mais uma vez, a base das prestadoras de serviço, indo para 40%, quando já tinha sido aumentada de 12% para 32%.
A eleição para a Presidência e para a Mesa da Câmara dos Deputados já veio a demonstrar a divisão do Governo. Aí surgiram os graves casos de falta de ética que redundaram nas CPIs, aquela cena do cidadão dos Correios recebendo propina do “valerioduto”, a confissão do Sr. Duda Mendonça de que havia, para pagar a campanha do Presidente Lula e do PT em 2002, recursos que vieram de paraísos fiscais, muitos deles desviados diretamente dos cofres públicos, como foi o caso Banco do Brasil/VisaNet.
O mar de lama aumentou a tensão e a indignação do povo brasileiro quando, por meio do Supremo Tribunal Federal, foi determinada a instalação da CPI dos Bingos. Triste momento, triste realidade de um Governo leniente com a corrupção e que permitiu que seu Partido tomasse conta do poder, com o intuito do poder pelo poder e de se perpetuar no poder.
O crescimento da economia no terceiro ano também foi medíocre, 2,3%. E aí vimos que houve um crescimento pífio da produtividade, embora o mundo continuasse a crescer. Aqui no Brasil, só cresciam duas coisas: de um lado, a carga tributária, fazendo do contribuinte um burro de carga; de outro lado, a publicidade governamental, vergonhosa, que se acelerou ainda mais nos próximos anos.
Nenhum resultado prático na Educação. A Unesco revelou que 50% dos alunos têm problemas de compreensão com a leitura e que, no Brasil, a oitava série equivale à quarta de outros países.
Na saúde, os problemas do SUS e as reclamações aumentaram.
A agricultura passou a viver o seu pior momento, e sinto que continua a viver o seu pior momento, especialmente no meu Estado, Santa Catarina, onde a falta de vigilância sanitária permitiu o retorno da aftosa, e, com isso, as exportações de suínos para a Rússia paralisaram por falta de responsabilidade de um Governo que não tem a sensibilidade para ver a produção aumentar e os empregos serem gerados. Agora mesmo, estamos com um novo caso, por falta de saúde preventiva, o dos frangos, grave, Newcastle, e já atinge também, não bastasse a gripe aviária no mundo, a produção de Santa Catarina.
Por isso, quando chegamos ao quarto ano de Governo, já não tínhamos esperança. O medo, que diziam ter sido vencido pela esperança, voltou a ser a desilusão de todos. Lamento. Estamos chegando a 1.300 dias de Governo.
E o que aconteceu em 2004? A continuação dos escândalos públicos apurados, a desmoralização de um Governo incompetente e leniente, repito, com a corrupção, um Governo que quis se apropriar daquilo que não fez por meio de uma publicidade oficial escandalosa, para manter o Presidente da República em níveis e em patamares maiores que os que tem. E seus índices certamente vão descer, porque ele não merece a confiança da sociedade brasileira.
Estamos gastando mais de R$2,6 milhões em publicidade por dia. Quantas obras paralisadas há no Brasil, e este dinheiro sendo posto fora com uma publicidade apenas para enaltecer um Governo incompetente e corrupto? Dois milhões e seiscentos mil reais por dia é um absurdo, um escândalo, uma fraude eleitoral.
Por isso, na próxima segunda-feira, ao chegarmos a 1.300 dias de Governo, nada temos a comemorar, só a lamentar. A única esperança é que falta pouco tempo para acabar este desgoverno do Lula e do PT e para termos, por meio das urnas democráticas, uma vitória das Oposições que possa representar a redenção do povo brasileiro.
Lamento, sinceramente, ter de fazer um discurso dessa natureza.
Muito obrigado, Sr. Presidente.