Discurso durante a 114ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

Resposta às acusações do envolvimento de S.Exa. com a "máfia das ambulâncias".

Autor
Ney Suassuna (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/PB)
Nome completo: Ney Robinson Suassuna
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
COMISSÃO PARLAMENTAR DE INQUERITO (CPI), AMBULANCIA.:
  • Resposta às acusações do envolvimento de S.Exa. com a "máfia das ambulâncias".
Publicação
Publicação no DSF de 20/07/2006 - Página 24747
Assunto
Outros > COMISSÃO PARLAMENTAR DE INQUERITO (CPI), AMBULANCIA.
Indexação
  • COMENTARIO, PUBLICAÇÃO, IMPRENSA, RELAÇÃO, NOME, DENUNCIA, COMISSÃO PARLAMENTAR MISTA DE INQUERITO, CORRUPÇÃO, AQUISIÇÃO, AMBULANCIA, INCLUSÃO, ORADOR, CITAÇÃO PESSOAL, SERVIDOR, MINISTERIO DA SAUDE (MS), REGISTRO, DESCONHECIMENTO, PROCESSO, SIGILO, JUSTIÇA.
  • REGISTRO, APRESENTAÇÃO, EMENDA, AQUISIÇÃO, AMBULANCIA, MUNICIPIOS, ESTADO DA PARAIBA (PB), AUSENCIA, PROXIMIDADE, HOSPITAL, VENDA, EMPRESA, SUSPEIÇÃO, IRREGULARIDADE, RESPONSABILIDADE, PREFEITO, OPERAÇÃO.
  • LEITURA, RESPOSTA, ADVOGADO, SERVIDOR, MINISTERIO DA SAUDE (MS), ESTADO DE MATO GROSSO (MT), DESMENTIDO, ACUSAÇÃO, ORADOR, ENTREVISTA, JORNAL, CORREIO BRAZILIENSE, DISTRITO FEDERAL (DF), IRREGULARIDADE, DIVULGAÇÃO, INFORMAÇÃO, SIGILO, JUSTIÇA, EXPECTATIVA, COMPROMISSO, COMISSÃO PARLAMENTAR MISTA DE INQUERITO, EMPRESA BRASILEIRA DE CORREIOS E TELEGRAFOS (ECT), INVESTIGAÇÃO, DEFINIÇÃO, CULPA, INOCENCIA.

O SR. NEY SUASSUNA (PMDB - PB. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Muito obrigado, Sr. Presidente.

Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, a cada momento, temos surpresas na vida política - nem sempre, elas são agradáveis. No entanto, quando optamos pela vida pública, na mesma hora, estamos assinando um certificado de que queremos virar vitrine. Todos nós somos uma vitrine, em que é sempre possível receber uma pedra - isso faz parte.

De ontem para hoje, saiu uma relação de parlamentares citados na CPMI das Ambulâncias. Meu nome está incluído nessa relação. A primeira pergunta que fiz foi: que relação é essa? Essa relação foi feita pelo Ministério Público de Mato Grosso, no primeiro momento, quando foram citados nomes via jornal. O meu nome foi citado, naquela hora, pela Srª Maria da Penha, que trabalhava no Ministério da Saúde. Nela, havia o nome de muitos parlamentares e foi publicado pela imprensa que seria solicitado a todos os citados informações sobre o tal assunto.

Eu me surpreendi muito, porque o assunto está em segredo de Justiça. Como alguém pode responder sobre algo que desconhece? Agora mesmo, há poucos minutos, um repórter me perguntou: “Senador, o que o senhor respondeu?” Eu disse: ”Como é que você respondeu em relação ao assunto da Dona Paula?“. Ele falou: “Que Dona Paula?”. Eu perguntei: “Você não conhece Dona Paula?” Ele respondeu: “Não”. Eu disse: “Então, se você não conhece Dona Paula, você está na mesma situação. Eu também não sei qual é o assunto.” Tudo que posso informar é que eu não conheço nenhuma dessas pessoas e que eu nunca tratei com nenhuma dessas pessoas que nunca tratei com nenhuma dessas pessoas. Um parlamentar que, em seu primeiro mandato completo - estou aqui há doze anos -, teve o desprendimento de dar ou consertar, com recursos próprios, oitenta e duas ambulâncias... Eu pegava a ambulância, comprava e a entregava para o município, ou eu pegava a ambulância do município levava para Campina Grande e mandava fazer a parte mecânica, a parte de lataria, trocava pneu, ajeitava freio, fazia tudo e a entregava novinha à prefeitura.

E a que se deve a importância desse equipamento para as cidades paraibanas? Porque, infelizmente, só temos um setor de saúde que preste em Campina Grande ou em João Pessoa, Sr. Presidente. Isso deve ser semelhante no Estado de V. Exª, onde as cidades pequenas, quando muito, têm um posto de saúde e, às vezes, sequer dispõem do médico. Não há como se fazer um atendimento.

Mas a verdade é que a relação foi feita antes de se ouvir qualquer pessoa, as pessoas que seriam chamadas.

Hoje, pela manhã, procurei o Presidente da CPMI, Deputado Biscaia, e comentei duas coisas. Eu disse ao Deputado que já iria me antecipar, por estar em campanha na Paraíba, fornecendo todas as informações que sei genericamente, porque não sei o que consta do processo, uma vez que ele está tramitando em segredo de justiça. É estranho que, enquanto os nomes já estão divulgados, do assunto as pessoas que tiveram os nomes divulgados não tenham conhecimento. E eu vou responder o que sei: que não conheço nenhuma dessas pessoas, nunca tratei com nenhuma delas.

Nos dois últimos anos, consegui, por meio de emendas, 29 ambulâncias para a Paraíba, das quais apenas 15 foram compradas dessa empresa.

O interessante, Sr. Presidente, é que nem eu, nem V.Exª, ou qualquer parlamentar fará a compra. Quem compra é o prefeito. Apenas apresentamos a emenda, a pedido do prefeito. É assim que é feito. Portanto, não somos os executores das licitações.

Como disse, no meu primeiro mandato, dei 82 ambulâncias. No segundo, ,consegui 29, nesses últimos dois anos - e até louvo o Governo Lula, porque anteriormente não existia isso.

Ocorre que o dinheiro destinado à Saúde - e é bom que a população saiba - está ligado diretamente ao PIB. Cada vez que sobe o PIB, a Saúde sobe junto. E o Governo, nos últimos anos, quis tirar dinheiro para esgotamento sanitário. Foi aquele protesto geral. Então, cada parlamentar foi obrigado a colocar 30% da sua emendas na área de Saúde. Não havia opção: 30% da emenda tinha que ser da área da Saúde. E para quê? Para equipamento? Não há solução, porque, para equipar uma cidade do interior, onde não há médicos, enfermeiros. Portanto, a única solução seria a ambulância.

Diante desse quadro, tivemos uma infinidade de boatos. E o que me coube? Dizer que não conheço, e não conheço realmente; que nunca tratei com essas pessoas. Para mim, isso não teria significado, porque estamos falando de 15 ambulâncias, de emendas de R$ 80 mil; estamos falando de R$ 1,2 milhão. Hoje, uma ambulância dessas custa hoje, seja ela da Peugeot ou da Fiat, por volta de R$ 70; R$ 76 mil, uma ou outra. Estamos falando de R$ 1,2 milhão.

Veja, Sr. Presidente, que, quando fazemos essas contas, constatamos do que se está falando, porque se faz mistério sobre este assunto. Contudo, na Paraíba, não tive e não tenho essa preocupação; estou com a consciência inteiramente tranqüila.

Finalmente, o meu pedido ao Presidente Antonio Carlos Biscaia foi exatamente no sentido de que aprofunde as investigações. Sei que, à medida que aprofundarem as investigações e à análise dos fatos, vão encontrar a resposta que o Sr. Ney Suassuna não tem absolutamente nada a ver com isso.

A outra atitude que eu poderia tomar seria entrar na Justiça. Contra quem? Contra o Sr. Marcelo, meu ex-funcionário, e que, no dia em que eu soube que teve o problema, mandei demitir na mesma hora. O Sr. Marcelo, embora demitido, nos seus depoimentos, afirmou que eu não sabia absolutamente nada, e foi também acionar na justiça D. Maria da Penha e o Sr. Vedoin.

            Já recebi a resposta de D. Maria da Penha, que qualifica as pessoas e diz o seguinte:

O interpelante imputa à Srª Maria da Penha Lino duas notícias, segundo este, inverídicas, ofensivas e caluniosas, veiculadas no jornal Correio Braziliense, em data de 08/05/2006 e 18/05/2006, onde foram feitas referências ao interpelante como Tio Ney, da Paraíba, e, ainda, uma afirmação supostamente feita pela interpelada de que Suassuna receberia dinheiro do esquema.

Pois bem, cumpre esclarecer primeiro [isso é a advogada dela respondendo à interpelação] que todos os processos relacionados aos supostos envolvidos no esquema de fraude da venda de ambulâncias, decorrente da operação realizada pelo Ministério Público Federal e Polícia Federal e denominada ‘sanguessugas’, tramitam em segredo de justiça.

Dessa forma, não poderiam ser veiculados na imprensa quaisquer fatos constantes dos autos, quanto menos transcrições de ligações telefônicas gravadas em decorrência da quebra de sigilo. Há de se apurar a fonte de que emanam tais informações para a responsabilidade dos infratores.

Aqui a advogada tem sua razão. Um crime está sendo perpetrado e ela reclama disso.

         Feita essa ressalva, a interpelada esclarece que se manteve em absoluto silêncio em relação à imprensa local ou nacional no que tange aos fatos ligados à chamada operação sanguessuga e seus envolvidos, não tendo feito, em nenhum momento, qualquer tipo de afirmação.

O primeiro momento em que a interpelada falou à imprensa foi no dia 8 de junho de 2006, em entrevista coletiva dada aos jornais da cidade de Cuiabá, Mato Grosso, de forma totalmente responsável, sem fazer imputação a qualquer pessoa.

A interpelada jamais fez referência ao Senador Ney Suassuna, não se refere a este como Tio Ney da Paraíba, haja vista inexistir qualquer tipo de parentesco entre o interpelante e a interpelada, e muito menos afirmou perante a imprensa que havia recebido dinheiro de qualquer esquema.

A presente interpelação judicial é totalmente incabível em face de Dona Maria da Penha Lino e cabe ao interpelante buscar informações quanto às notícias veiculadas junto ao jornal Correio Braziliense, responsável pelas informações divulgadas e detentor de sua fonte.

Diante do exposto, entendo suficientes as explicações dadas.

Sandra Cristina Alves, OAB 7.544, do Mato Grosso.

Assinado em 11 de junho de 2006, em Cuiabá.

Ou seja, nos surpreendemos um pouco mais ainda quando vemos que, quando se pergunta sobre o assunto na Justiça, a suposta fonte diz que não abriu a boca para acusar ninguém hora nenhuma.

Estou aguardando as outras duas interpelações para juntar tudo isso ao processo e entregar na CPMI. Mas, Sr. Presidente, Srªs. e Srs. Senadores, não quero receber solidariedade nenhuma de ninguém, quero só que a justiça seja feita ao se aprofundarem as investigações, porque quem não deve não teme, e não tenho nenhum temor; pelo contrário, quero que se aprofunde. Quem tiver culpa no cartório: punição. E quem não tiver, que tenha coragem de dizer: “Fulano é inocente”.

Essas são minhas considerações. É nesse sentido, Sr. Presidente, que uso a tribuna para fazer essa declaração.

Muito obrigado.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 20/07/2006 - Página 24747