Discurso durante a 117ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

Contrariedade em razão das tentativas constantes de envolverem S.Exa. com a máfia dos sanguessugas.

Autor
Serys Slhessarenko (PT - Partido dos Trabalhadores/MT)
Nome completo: Serys Marly Slhessarenko
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
EXPLICAÇÃO PESSOAL. COMISSÃO PARLAMENTAR DE INQUERITO (CPI), AMBULANCIA.:
  • Contrariedade em razão das tentativas constantes de envolverem S.Exa. com a máfia dos sanguessugas.
Aparteantes
Heloísa Helena, Ideli Salvatti, João Batista Motta, Marco Maciel, Roberto Saturnino, Romeu Tuma.
Publicação
Publicação no DSF de 26/07/2006 - Página 25048
Assunto
Outros > EXPLICAÇÃO PESSOAL. COMISSÃO PARLAMENTAR DE INQUERITO (CPI), AMBULANCIA.
Indexação
  • ESCLARECIMENTOS, ATUAÇÃO PARLAMENTAR, ORADOR, NEGAÇÃO, PARTICIPAÇÃO, CORRUPÇÃO, AQUISIÇÃO, AMBULANCIA, AUSENCIA, CRIAÇÃO, EMENDA, LIBERAÇÃO, RECURSOS FINANCEIROS, CONSTRUÇÃO, POSTO DE SAUDE, FAVORECIMENTO, EMPRESA, PARENTE, PAVIMENTAÇÃO, RODOVIA, ESTADO DE MATO GROSSO (MT).
  • REGISTRO, LEVANTAMENTO DE DADOS, ORADOR, MINISTERIO DA SAUDE (MS), PREFEITURA, ESTADO DE MATO GROSSO (MT), COMPROVAÇÃO, AUSENCIA, PARTICIPAÇÃO, CORRUPÇÃO.
  • CRITICA, DENUNCIA, SOLICITAÇÃO, ORADOR, EMPRESTIMO, EMPRESA, PARENTE, PAGAMENTO, DIVIDA, CAMPANHA ELEITORAL, REGISTRO, APRESENTAÇÃO, PRESTAÇÃO DE CONTAS, CAMPANHA, COMPROVAÇÃO, TRIBUNAL REGIONAL ELEITORAL (TRE), AUSENCIA, DEBITOS.
  • COMENTARIO, AUSENCIA, INFILTRAÇÃO, ASSESSOR LEGISLATIVO, ORADOR, DEPOIMENTO, ACUSADO, COMISSÃO PARLAMENTAR MISTA DE INQUERITO, AMBULANCIA.
  • ESCLARECIMENTOS, AUTORIZAÇÃO, POLICIA FEDERAL, JUSTIÇA, QUEBRA DE SIGILO, CONTA BANCARIA, TELEFONE, ORADOR.

A SRª SERYS SLHESSARENKO (Bloco/PT - MT. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão da oradora.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, volto a esta tribuna para falar de algo que realmente me contraria profundamente.

Há dois meses, mais ou menos, tentam envolver-me com essa turma de mafiosos, de bandidos: a turma dos sanguessugas.

Em primeiro lugar, quero limpar terreno e dizer que sou superfavorável a essa CPMI. Ela, que tem o objetivo de desvendar a corrupção nessa área, é da maior importância. Então, que se limpe o terreno! Aqui, ninguém é contra isso. Aliás, fui a quarta ou a quinta a assinar o documento para a implantação da CPMI. Meu nome está lá.

Espero que esta seja a última vez que ocupo esta tribuna para falar sobre o assunto, que, realmente, me causa grande repulsa.

Somente ontem, Srªs e Srs. Senadores, tive acesso, enfim, a um depoimento da tal turma dos sanguessugas, prestado em juízo. Ele se resume a uma página.

Srªs e Srs. Senadores, em primeiro lugar, digo-lhes que já oficiei o documento a quem tinha de oficiar para buscar todos os dados: Ministério da Saúde, prefeituras etc. Eu já tinha os dados das prefeituras, mas ainda estou providenciando mais alguns, assim como todos os documentos do Ministério da Saúde que provem que somos obrigados a colocar 30% das nossas emendas na área da saúde. Quero tudo oficial.

Entretanto, apesar de não poder citar trechos do depoimento, porque ele é sigiloso - tive acesso a ele porque era do meu interesse, sou citada no documento -, o acusado, o acuado, o delator premiado, o bandido falou.

Apesar de tudo isso, alguns fatos e revelações beiram ao absurdo! Primeiro: as investigações eram sobre ambulâncias. Como não houve jeito de me incriminarem por meio dessa investigação, de repente, leio no depoimento do bandido o seguinte - só para citar alguns exemplos; há muitos: “a Senadora é autora de uma emenda de R$300 mil para um posto de saúde em Pontes de Lacerda”. Imputam a mim essa emenda! Procurei saber de quem era a emenda e descobri que se tratava de um recurso extra-orçamentário. Eu nem sabia que havia posto de saúde sendo construído lá, muito menos que se tratasse de emenda minha! Isso não tem nada a ver comigo! Não é emenda minha!

Outro exemplo: disseram que o anel viário de Pontes de Lacerda é emenda minha, Srs. Parlamentares! Ela nem passou perto de mim! A emenda é de quatro parlamentares cujos nomes não vou citar, porque não quero que ninguém diga que, para me defender, estou acusando alguém.

Procurem, investiguem, busquem saber! Nem passei por perto dessa emenda! Ela é de autoria, se não me engano, de um grupo de três ou quatro parlamentares; há deputados e, se não me engano, um senador também.

Mas não interessa, não vou citar os nomes. Há como saber quem são os autores. É fácil. A emenda está lá.

Mas para que o bandido diz que é de minha autoria?!

Outro exemplo: asfalto no bairro Pedra 90.

Foram vistoriar minha vida profundamente. Disseram que se tratava de ambulância, mas, aqui, no documento, há asfalto, há ponte, há posto de saúde, há hospital, há tudo sendo atribuído a mim! O delator premiado, acuado e acusado diz que “foi uma construtora ligada a um genro da Senadora, uma tal construtora Dinâmica”.

Essa construtora não existe. Pelo menos, ontem, Mato Grosso pôs-se a vistoriar o assunto, a procurar que construtora é essa, de quem é, que construtora tem esse nome. E pior que isso, Srªs e Srs. Senadores, disseram que a construtora era do meu genro e que a emenda era minha, no valor de R$2,5 milhões, para asfaltar o bairro Pedra 90; que esses recursos foram para a construtora. Não se encontra essa construtora. Espero que alguém a encontre.

Em segundo lugar, Srªs e Srs. Senadoras, os R$2,5 milhões da minha emenda, que caíram lá no dia 31 de dezembro de 2004, voltaram para o Tesouro, porque a prefeitura estava inadimplente.

Como é que posso ter participação em um negócio desse?! A prefeitura estava inadimplente. Minha emenda caiu lá e voltou inteirinha! A prefeitura é do PSDB. Isso é demonstração de que não faço discriminação.

O Prefeito Wilson Santos, de Cuiabá, que é do PSDB, é testemunha desse fato. Ele lamentou profundamente o ocorrido. Assumiu a prefeitura em um sábado, no dia 1º de janeiro de 2005. Na segunda-feira, dia 3, ele me ligou na maior alegria: “Senadora, V. Exª é minha opositora, mas o primeiro recurso que saiu para a prefeitura foi no valor de R$2,5 milhões, para o asfaltamento de um dos bairros mais necessitados de Cuiabá, é emenda de V. Exª. Muito obrigado! Ficarei eternamente grato etc.”. Porém, quando conferiu os fatos, verificou que o prefeito anterior tinha deixado a prefeitura inadimplente. Resumo da ópera: o dinheiro voltou para o Tesouro, e nem ouvi falar nessa história! Agora, dizem que o dinheiro foi para o asfaltamento por meio da empresa Dinâmica, que, supostamente, é do meu genro! Ela não é do meu genro, não existe essa empresa e nem o dinheiro nem asfalto saíram!

Está difícil! Até que enfim consegui ter acesso a este depoimento para poder desmontá-lo.

Pelo visto, Srªs e Srs. Senadores, estão querendo passar minha vida a limpo como um todo. Mas, em parte, isso é bom. É bom porque as pessoas que me conhecem sabem da minha história, e as que não me conhecem vão ficar me conhecendo.

Já que não há ambulâncias, é preciso buscar outras armações, outras coisas.

Aí, dizem que houve solicitação de dinheiro para o dono da empresa a fim de pagar dívida de campanha minha, um ano depois da campanha.

Senhores, é fácil, é facílimo verificar essa informação. Basta ir ao TRE de Mato Grosso. No dia seguinte à eleição, estava pronta a minha prestação de contas. Sem dever R$1,00! Eu saí da campanha, apresentei a prestação de contas no prazo e não deixei dívida sequer de R$1,00. Como é que alguém andava pedindo dinheiro para pagar dívida de campanha minha? Que se confira no TRE. Está lá. É um dado concreto.

Não vou mais negar minha participação ou não nessa coisa imunda. Vou apenas apresentar dados e fatos. Só. Porque é inadmissível quererem colocar meu nome junto a essa turma da bandidagem. São empresários bandidos e parlamentares que comungaram com isso, bandidos também. Não vão me colocar junto não. De tudo que está sendo dito, as provas são evidentes, são concretas. Eu respondo por minhas emendas e pelo meu gabinete.

Concedo um aparte ao Senador Marco Maciel.

O Sr. Marco Maciel (PFL - PE. Com revisão do orador.) - Nobre Senadora Serys Slhessarenko, gostaria de, em breve intervenção, dizer que V. Exª pratica um ato extremamente importante de esclarecer os fatos. Concorre assim para que, não somente esta Casa, mas também a sociedade saibam da sua conduta. Daí por que eu a cumprimento pela iniciativa das explicações que oferece ao Senado Federal e à Nação.

A SRª SERYS SLHESSARENKO (Bloco/PT - MT) - Obrigada a V. Exª, Senador Marco Maciel.

Concedo o aparte à Senadora Ideli Salvatti.

A Srª Ideli Salvatti (Bloco/PT - SC) - Senadora Serys Slhessarenko, em primeiro lugar, parabenizo V. Exª até pela paciência. Conversamos pelo telefone, no final da manhã, e V. Exª me relatou que estava bastante indignada - como não pode ser diferente -, e que estava se preparando para vir à tribuna, com toda a calma do mundo, a fim de prestar esclarecimentos. E não é a primeira vez, não é, Senadora? Porque a acusam, e quando fica claro que para aquela acusação não há sustentação, mudam; quando fica claro que, para a segunda acusação também não há sustentação, mudam de novo... É visível a necessidade - neste caso, digo que é necessidade - de incluir no processo de investigação alguém do PT. É uma necessidade. É algo como: se não acontecer, alguma coisa vai estar errada. Eu não quero dizer que não possa ter acontecido, mas, indiscutivelmente, a tenacidade com que V. Exª, reiteradas vezes, vem e desmonta uma acusação, e eles montam outra, é digna de nota e de registro nesta Casa. E o interessante, Senadora Serys Slhessarenko, é que essa história dos sanguessugas só veio a público agora em virtude da CPMI, que a está desnudando, o que criou um grande estardalhaço. As pessoas se esqueceram de como isso veio a público. O nosso Ministro Waldir Pires criou um sistema em que seriam sorteados 50 municípios por mês. Foi feita uma varredura, e começaram a surgir, entre 2003 e 2004, as coincidências. Ou seja, toda vez em que se comprava ambulâncias de determinadas empresas, havia superfaturamento. E isso era algo que acontecia, como o trabalho da Planam, desde 1999. A Controladoria-Geral da União - o Ministro Waldir Pires - identificou o fato, e, a partir das auditorias, chamou a Polícia Federal, que instalou toda a escuta para investigar inclusive as ligações com os parlamentares. E, hoje, precisam porque precisam porque precisam colocar no colo do PT essa questão. Isso se transformou em obsessão, e talvez V. Exª seja uma das principais vítimas dessa obsessão. Existe a obsessão de transformar a questão, cuja iniciativa de investigação partiu, reafirmo, do Governo, do Ministro Waldir Pires à época em que estava na Controladoria-Geral da União, com a parceria da Polícia Federal, que, aliás, está aí com uma outra operação, cortando na própria carne, prendendo inúmeros funcionários da própria da própria Polícia Federal envolvidos em falcatruas, no Rio de Janeiro, questão de alteração em processos, em uma demonstração de que se está envolvido, se há indícios, vai sofrer as punições... E a mesma obsessão está cada vez mais demonstrada em outras situações. Por exemplo, fiquei estarrecida quando apareceu o nome do Deputado João Grandão em uma manchete: “Apareceu, finalmente”. É importante mantermos a calma. Que V. Exª continue tendo calma e tranqüilidade para desmontar as sucessivas tentativas de colocá-la em situações que não têm vinculação nem responsabilidade.

A SRª SERYS SLHESSARENKO (Bloco/PT - MT) - V. Exª diz que ficou perplexa quando viu a manchete relacionada ao Deputado João Grandão. V. Exª viu apenas uma manchete; imagine eu, que vejo manchetes há 60 dias! Há 60 dias, manchetes repetitivas. Todo dia, manchetes em todos os jornais de Mato Grosso. Quando eles vêem que a coisa fica meio feia, dizem: “Não, ela não está nisso”. No outro dia, manchete de novo. Quer dizer, há uma necessidade ímpar de colocar todo mundo na mesma sacola.

Mas reforço a importância da CPMI. Que outras surjam em outros setores, para acabar com a safadeza e com a corrupção.

Mas é preciso ter cautela. Uma delação premiada é algo muito perigoso, mas, de repente, faz-se necessária. Eu já disse: se for para limpar o País, que seja com minha dor, mas que se limpe!

O Sr. Roberto Saturnino (Bloco/PT - RJ) - Senadora Serys Slhessarenko, peço este aparte para dizer o óbvio: não havia necessidade de V. Exª vir à tribuna para dar explicações ao Senado Federal, pois, nesta Casa, todos a conhecem e são capazes de garantir, por unanimidade, sua isenção e seu afastamento de todo esse caso de corrupção que se tornou famoso nas últimas semanas e no qual pretendem, de toda forma, incluir o PT. A manchete em um jornal do Rio de ontem era a sentença “afinal, chegamos ao PT”, porque era preciso encontrar alguém. O aparte da Senadora Ideli Salvatti foi muito esclarecedor. V. Exª dá essa explicação ao público que nos escuta e que nos vê pela televisão e que não tem conhecimento do propósito firme de encontrar Parlamentares, qualquer pessoa ligada ao PT, nesse imbróglio todo que foi descoberto, como disse a Senadora Ideli Salvatti, por um esforço do Governo Lula, por meio da Controladoria-Geral da União. Nunca, em nenhum outro Governo, pesquisou-se tanto e se desvendou tanta desonestidade, tanto desvio de dinheiro público, como neste Governo, por meio da Controladoria-Geral, do Ministério Público, dos próprios organismos e das CPIs criadas. Que outro governo permitiu criar quatro CPIs durante sua vigência? Isso tudo nos coloca em situação de enfrentarmos todo esse tiroteio, para desmascararmos esse propósito de envolver o PT e o nome de V. Exª, que está muito acima de tudo isso que pretendem imputar-lhe.

A SRª SERYS SLHESSARENKO (Bloco/PT - MT) - Obrigada, Senador Roberto Saturnino.

Finalizando, Sr. Presidente, agradeço a V. Exª pela extensão do tempo a mim destinado. Antes, porém, quero dizer que nunca, Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, ninguém da minha família interferiu na minha atuação Parlamentar! Tenho quatro filhos extremamente preparados, pós-graduados, independentes, e nunca ninguém interferiu na minha vida política!

Concedo o aparte ao Senador Romeu Tuma.

O Sr. Romeu Tuma (PFL - SP) - Sr. Presidente, boa tarde! Boa tarde, Senadora Heloísa Helena! Parabéns pelo trabalho de V. Exª! A Senadora Ideli Salvatti está trazendo algum noticiário, mas o que eu disse pela manhã repito para V. Exª, Senadora Serys Slhessarenko. V. Exª sabe meu posicionamento desde o início. Fui até à CPI para participar de uma reunião e para discutir aspectos administrativos. Estão fazendo acusações a oitenta parlamentares, com provas. Eu as tenho lido nos jornais. Citam três, quatro Senadores. Por isso, quero saber onde está a materialidade dessas citações. Peço que informem à Corregedoria, para não parecer que estamos de braços cruzados. Foi a Corregedoria da União, é claro, que apurou em primeira mão. Isso já faz mais de um ano. Acompanhei, de perto, o trabalho da Polícia Federal, que não entrou no mérito de quem tem o fórum privilegiado. Enfim, Senadora, pedirei as notas taquigráficas do discurso de V. Exª. Estou reclamando dessa CPI, que ficou nas mãos de três pessoas. Não estou reclamando, nem suspeitando. Penso que o Deputado Biscaia é um homem sério, correto, decente. Mas os três estão fazendo...

A Srª Ideli Salvatti (Bloco/PT - SC) - Quais três?

O Sr. Romeu Tuma (PFL - SP) - Os três que presidem a CPI. Então, tomamos conhecimento das notícias por intermédio dos jornais.

A SRª SERYS SLHESSARENKO (Bloco/PT - MT) - Exatamente.

O Sr. Romeu Tuma (PFL - SP) - Não sei se a Senadora Heloísa Helena, aqui presente permanentemente, concorda comigo! Às vezes, precisamos discutir. O Plenário é que decide. Não adianta dizer que não vai fazer relatório agora, que o fará depois, ou que não vai chamar fulano... É difícil. Não sei se o que está nos jornais tem fundamento ou não. Requeri, por intermédio do Deputado Biscaia, cópia de todos os depoimentos, já que não adianta falar sobre as acusações que envolvem V. Exª ou outrem. É preciso examinar toda a infra-estrutura de baixo para cima para sabermos até onde se espalhou a sujeira dos “sanguessugas”.

A SRª SERYS SLHESSARENKO (Bloco/PT - MT) - Exatamente.

O Sr. Romeu Tuma (PFL - SP) - Não sei se isso foi posto aí, Senadora Ideli Salvatti. Inclusive, citei V. Exª com base no art. 14 do Regimento, mas o fiz com todo o carinho e com todo o respeito, Senadora Serys, mas fico aflito, angustiado. Estou apavorado com o que dizem os jornais! Requeiro, Sr. Presidente, cópia do discurso da Senadora Serys Slhessarenko.

A Srª Ideli Salvatti (Bloco/PT - SC) - Senadora, V. Exª me permite um aparte?

A SRª SERYS SLHESSARENKO (Bloco/PT - MT) - Antes de conceder o aparte à Senadora Ideli Salvatti, quero dizer ao Senador Romeu Tuma que, é óbvio, V. Exª pode requerer cópia da nossa fala. No entanto, posso ajudar mais ainda. Eu quero ajudar!

Senador Romeu Tuma, há pouco, eu dizia à Senadora Ideli Salvatti que, há dois meses, sou vítima das piores manchetes que se possam imaginar.

O Sr. Romeu Tuma (PFL - SP) - Eu vi.

A SRª SERYS SLHESSARENKO (Bloco/PT - MT) - V. Exª viu, V. Exª tem acompanhado. A aflição é grande. Como eu disse, minha família, meus filhos, todos estão horrorizados. As manchetes são gigantescas. Disputo o Governo do meu Estado contra duas candidaturas dificílimas, pois são poderosas, fortes. Todo esse ataque ininterrupto está sendo feito à minha pessoa. Ao surgir uma denúncia, nós a desmontávamos, mostrávamos as provas, mas, depois, surgiam outras. Senador, é incrível, pois são emendas e empresas que não existem, são emendas que nunca fiz. Nunca pensei em fazê-las. São emendas de autoria de outros Parlamentares, mas tudo é jogado nas minhas costas. Finalmente, ontem, tive acesso à página - não posso citar trechos, porque está sob sigilo -, por meio do meu advogado, que trata do depoimento, em juízo, do bandido com delação premiada, acuado, acusado...

O Sr. Romeu Tuma (PFL - SP) - Filho do proprietário da empresa.

A SRª SERYS SLHESSARENKO (Bloco/PT - MT) - Exatamente.

Tive acesso ao depoimento dele ontem. É um escândalo o depoimento dele! É totalmente contraditório e mentiroso!

O Sr. Romeu Tuma (PFL - SP) - Por isso, requeiro esse depoimento, para mostrarmos todo o seu teor.

A SRª SERYS SLHESSARENKO (Bloco/PT - MT) - Eu o tenho por inteiro, mas ele é sigiloso. Tenho aqui as questões, que já as respondi. Não só V. Exª poderá requerê-lo, como faço questão de, ainda hoje, fazer um relatório com justificativas, para, então, passar às mãos de V. Exª.

O Sr. Romeu Tuma (PFL - SP) - Sr. Presidente, suspendo meu requerimento e aguardo a informação da Senadora.

A SRª SERYS SLHESSARENKO (Bloco/PT - MT) - Muito obrigada.

A Srª Ideli Salvatti (Bloco/PT - SC) - Senadora Serys Slhessarenko...

A SRª SERYS SLHESSARENKO (Bloco/PT - MT) - Pois não, Senadora.

A Srª Ideli Salvatti (Bloco/PT - SC) - Somente quero fazer um registro. O documento é sigiloso, mas, enquanto acontecia o depoimento sigiloso, membros da CPI saíam para dar entrevista de quinze em quinze minutos. Fico admirada: vão abrir processo por que o Senador Sibá Machado foi acusado de infiltrar assessor. Mas foi permitida a entrada de assessores mediante consulta prévia sobre se poderiam ali permanecer. Não foi especificado quem seria o assessor.

A SRª SERYS SLHESSARENKO (Bloco/PT - MT) - Senadora, o pior é dizerem que eu infiltrei assessor. Eu nem lá estava! Eu não sabia de nada! Disseram: “A Senadora infiltrou um assessor”. Por que eu iria infiltrar um assessor? Em primeiro lugar, se era proibida a entrada de assessor, não deveriam tê-la permitido; em segundo lugar, se a autorizaram, ponto!

Resumindo: sou totalmente contra o tal sigilo, porque, se não fosse isso, não estaria acontecendo nada disso e tudo estaria esclarecido. Enfim, isso faz parte do processo, e devemos conviver com o sigilo.

Para encerrar, Sr. Senador Alvaro Dias, que preside a sessão, como eu dizia, nunca ninguém da minha família interferiu na minha atuação parlamentar e política! Por que o meu genro interferiria nisso, por intermédio das formas que aparecem? “Empresa Dinâmica é ligada ao genro da Senadora!” Estão procurando até hoje a empresa, e ninguém a encontrou ainda. “Emenda que a Senadora fez para favorecer, de certo, a empresa que era ligada ao genro.” Eu insisto em dizer que ninguém, até agora, achou essa empresa em Mato Grosso.

Minha emenda não foi liberada, porque a Prefeitura estava inadimplente, apenas para citar um exemplo. São questões extremamente difíceis: “Há um cheque na conta do genro”. Todo mundo quebra os sigilos bancário, fiscal e telefônico. Eu, meu ex-marido e todos os meus filhos quebramos, na primeira acusação, os sigilos bancário, fiscal e telefônico, desde criancinha, como dizemos - não é desde quando sou Senadora, não, mas sim durante toda a minha vida! Absolutamente todos os meus sigilos estão à disposição da Polícia e da Justiça! Não apenas os meus sigilos estão à disposição, mas os dos meus filhos, que são adultos e independentes, como eu já disse aqui. São médicos, advogados, psicólogos, engenheiros, todos pós-graduados, doutores, independentes, donos dos seus destinos, muito melhores na vida do que a mãe deles, economicamente falando. Todos, imediatamente, autorizaram a quebra de seus sigilos. Inclusive, meu ex-marido também o fez, dando prova de extremo bom caráter, porque ele não tinha nada a ver com essa história, mas pode ser que queiram saber de longos tempos. Mande quebrar! Está autorizado a quebrar o meu sigilo também! Eu já não sei mais o que fazer.

Sr. Presidente, agora, aparece essa história surrealista!

Concedo o aparte à Senadora Heloísa Helena. Depois, eu o concederei ao Senador João Batista Motta.

A Srª Heloísa Helena (P-SOL - AL) - Senadora Serys Slhessarenko, de fato, V. Exª já teve a oportunidade de conversar comigo sobre isso. Conversei com V. Exª também. Já tive a oportunidade, inclusive, de aqui dizer que preciso ver provas para não acreditar que V. Exª está dizendo a verdade. V. Exª é correta quando se restringe, ao contrário de alguns que fazem apartes ou comentários, à sua defesa, porque não adianta tentar desqualificar a CPI, não adianta desqualificar a indicação e a inclusão de um outro nome, porque, como bem disse V. Exª, é uma CPI que investiga bandido, marginal. É por isso que bem disse V. Exª, desde o início, quando assinou a CPI, que é uma CPI que tem de ir até o fim. Se há Ministro ou ex-Ministro da Saúde, Senador, Deputado, empresário ou prefeito envolvidos, quem quer que seja, é preciso apresentar à opinião pública quem são os verdadeiros envolvidos, para que os inocentes não estejam na generalização perversa e para que os culpados sejam punidos. Às vezes, a pessoa diz assim: “Fulano não está envolvido”. Vá lá ver os cheques, a discussão bancária, tudo certo! Portanto, V. Exª está correta em estimular a CPI a trabalhar, em dizer que é importante que a Comissão Parlamentar de Inquérito vá até o fim nas investigações, porque está apurando bandido que está roubando dinheiro público, como bem disse V. Exª em outros pronunciamentos e hoje também.

A SRª SERYS SLHESSARENKO (Bloco/PT - MT) - Está certo. Quero deixar muito claro, mais uma vez, que fui uma das primeiras a assinar a CPI. Acho-a da maior importância, mas me preocupa quando acontece isso. Talvez, seja por isso que os bandidos estejam querendo me envolver, tanto os bandidos Parlamentares, que não são poucos, quanto os bandidos empresários. Essa pode ser uma das situações pela qual querem me envolver.

O Sr. Romeu Tuma (PFL - SP) - Senadora, abusando da bondade de V. Exª e do Presidente, V. Exª me permitiria um aparte?

A SRª SERYS SLHESSARENKO (Bloco/PT - MT) - Pois não, concedo o aparte a V. Exª.

O Sr. Romeu Tuma (PFL - SP) - Quero referir-me não só a V. Exª, mas ao que a Senadora Ideli me falou sobre o Senador Sibá. Ao que eles me perguntaram, eu falei: “Eu não posso abrir nada, porque quem fez a diligência a Cuiabá é que tem de ter a liberdade de representar oficialmente se houve dolo ou não”. Não há problema assessorar alguém, mas, se houve o dolo, se ele levou para tirar informações, eles têm de escrever e mandar para o responsável pela apuração. Foi isso que falei, Senadora. V. Exª pediu para que eu esclarecesse, e eu o estou fazendo ao vivo para a sociedade e para os Parlamentares. Agradeço-lhe e peço-lhe desculpas.

A SRª SERYS SLHESSARENKO (Bloco/PT - MT) - Agradeço a V. Exª.

Antes de conceder o aparte ao Senador Motta, já finalizando, quero dizer que apareceu agora essa história surreal de eu ter infiltrado um assessor meu na sala da CPI para ficar sabendo das coisas. Mas que coisas?! Eu não sabia que ia ser denunciada de algo, que iam falar sobre a minha pessoa. Por que eu iria infiltrar ali um assessor? Houve um telefonema - e aí eu também tenho coisa concreta para dizer - do Senador Sibá, dizendo - eu nem estava em Cuiabá: “Senadora, estamos sem carro. V. Exª pode nos emprestar um carro?”. Liguei para os meus assessores - era muito cedo -, dizendo: “Por favor, mandem um carro com motorista para atender os Senadores. Os Senadores e os Deputados precisam de condução”. Mandei alguém lá. Foi exatamente isso. Isso é fácil de ver. Quebrem o meu sigilo telefônico e o do Senador Sibá! Gente, eu já estou querendo prova concreta de tudo! As coisas são tão malucas - desculpem-me o termo -, tão absurdas! Se eu pedi para alguém se infiltrar lá, deve haver alguma ligação! A ligação foi clara: “A senhora pode emprestar um carro?”. “Vou providenciar.” Saí correndo. Chamei um, chamei outro, que estava com o telefone desligado, porque ainda era muito cedo. Enfim, conseguimos alguém que fosse ao hotel para auxiliar no que fosse necessário na condução desse veículo com essas pessoas. Ponto final. Isso é fácil de saber: basta que quebrem meu sigilo telefônico! E tenho a certeza de que podem quebrar também o do Senador Sibá, que conversou comigo. Foi exatamente essa a conversa.

Está virando surrealismo, alucinação, ficção científica.

Concedo o aparte ao Senador João Batista Motta.

O Sr. João Batista Motta (PSDB - ES) - Senadora Serys, quem a conhece está estupefato durante todo esse tempo em que assiste ao seu sofrimento, mas quem está em casa, na poltrona, vendo-nos, está chegando à seguinte conclusão: como o pronunciamento do Senador Flexa Ribeiro bate certinho com o seu? O que S. Exª disse ali, V. Exª reclama da mesma coisa aqui. S. Exª fala de um projeto de desmoralização do Poder Legislativo. No entanto, diz que esse projeto é do Governo de V. Exª, que é do PT, para permanecer no poder, para tirar o foco dos verdadeiros ladrões, dos verdadeiros bandidos, e para espalhar a lama em todos os Parlamentares. É lógico que há bandidos e ladrões em qualquer esfera da nossa sociedade, inclusive dentro do Congresso Nacional. Mas será que há 100, 200 Parlamentares envolvidos? Acredito que não.

Quantos inocentes poderão estar em condição de igualdade com V. Exª, mas o projeto de fazer mal a nossa democracia e ao nosso País está fazendo com que incluam também alguns aliados para despistar o interesse e o objetivo dessa gente que não tem pudor nem respeito pelo ser humano, muito menos pelo seu semelhante. Muito obrigado.

A SRª SERYS SLHESSARENKO (Bloco/PT - MT) - Muito obrigada, Senador.

Sr. Presidente, agradeço a V. Exª e repito aquilo que sempre digo: o meu Estado de Mato Grosso, todos aqueles que me elegeram e os que não votaram em mim, tenham muita tranqüilidade, fiquem muito tranqüilos e em paz porque esta Senadora nunca cometeu, não está cometendo e não cometerá nenhum ato, nenhuma ação que possa envergonhá-los. Saibam que nasci com dignidade, entrei na política com dignidade, posso largar a política - claro, algum dia largarei -, mas a minha dignidade nunca será maculada.

Muito obrigada.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 26/07/2006 - Página 25048