Discurso durante a 117ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

Considerações a respeito da produção de barrilha no Brasil. (como Líder)

Autor
José Agripino (PFL - Partido da Frente Liberal/RN)
Nome completo: José Agripino Maia
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
POLITICA MINERAL. GOVERNO FEDERAL, ATUAÇÃO. DESENVOLVIMENTO REGIONAL.:
  • Considerações a respeito da produção de barrilha no Brasil. (como Líder)
Publicação
Publicação no DSF de 26/07/2006 - Página 25151
Assunto
Outros > POLITICA MINERAL. GOVERNO FEDERAL, ATUAÇÃO. DESENVOLVIMENTO REGIONAL.
Indexação
  • COMENTARIO, IMPORTANCIA, BARRILHA, DESENVOLVIMENTO, INDUSTRIA BASICA, CRITICA, GOVERNO FEDERAL, INEXATIDÃO, DECLARAÇÃO, GARANTIA, AUTO SUFICIENCIA, PRODUÇÃO, PETROLEO, BRASIL.
  • REGISTRO, INSUCESSO, PRIVATIZAÇÃO, COMPANHIA NACIONAL DE ALCALIS, IMPEDIMENTO, AUTO SUFICIENCIA, PRODUÇÃO, BARRILHA, BRASIL.
  • DETALHAMENTO, FORMA, PRODUÇÃO, BARRILHA, COMENTARIO, IMPORTANCIA, RETOMADA, FUNCIONAMENTO, FABRICA, ESTADO DO RIO GRANDE DO NORTE (RN), COMPANHIA NACIONAL DE ALCALIS.
  • ANALISE, REDUÇÃO, PRODUÇÃO, BARRILHA, MOTIVO, POLITICA CAMBIAL, CRITICA, OMISSÃO, GOVERNO FEDERAL, REITERAÇÃO, NECESSIDADE, ESTADO DO RIO GRANDE DO NORTE (RN), FUNCIONAMENTO, ALCALIS DO RIO GRANDE DO NORTE S/A (ALCANORTE).
  • DEFESA, NECESSIDADE, CANDIDATO, PRESIDENTE DA REPUBLICA, IDENTIFICAÇÃO, VOCAÇÃO, ESTADOS, GARANTIA, INVESTIMENTO, INCENTIVO, DESENVOLVIMENTO REGIONAL, CONTRIBUIÇÃO, DESENVOLVIMENTO ECONOMICO, PAIS.

O SR. JOSÉ AGRIPINO (PFL - RN. Como Líder. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, Senador Geraldo Mesquita, V. Exª sabe o que é carbonato de cálcio?

O Sr. Geraldo Mesquita Júnior (PMDB - AC) - Seria o calcário?

O SR. JOSÉ AGRIPINO (PFL - RN) - Não, não é a cal, é a barrilha.

Pergunto-lhe ainda: por que poucos brasileiros sabem disso? A barrilha é um item industrial primordial para qualquer País que queira ser grande; é indústria de base. V. Exª acabou de tomar um gole de água em um copo de vidro. O vidro do copo em que V. Exª tomou o gole de água é composto por sílica e boa quantidade de carbonato de cálcio, a barrilha.

Presidente Tuma, V. Exª está sentado com os braços debruçados sobre uma poltrona, recoberta de couro, tingido de azul, em que, seguramente, a barrilha está presente no tingimento do couro, no clareamento da sua roupa, no vidro da bancada, na tinta deste prédio. Indústria de base está presente em várias coisas do nosso dia-a-dia.

Senador Geraldo Mesquita, lembra que Lula deitou e rolou com a auto-suficiência do petróleo, que não foi atingida ainda? Mas ele deita e rola falando da eficiência como se fosse dele.

A eficiência da Petrobras vem de anos e anos. Pelo contrário, no Governo Lula, ela caiu de velocidade em matéria de crescimento de produção. Estamos a caminho, é verdade, da auto-suficiência até quase por uma inércia da capacidade de prospecção e produção de petróleo da nossa competente Petrobras, mas também pela mudança no padrão, na matriz energética brasileira, que, em grande parte, engordada pela produção de álcool anidro, que substituiu milhões e milhões de barris de petróleo do consumo doméstico e do gás que se descobriu, inclusive no meu Estado do Rio Grande do Norte, em Guamaré, de onde sai o gás que vai reabastecer o gasoduto Nordeste, o Gasene. Sai de Guamaré para o Ceará, chega até Pernambuco, interligando-se com Alagoas e vai embora.

Digo isso porque, Presidente Tuma, estou mortificado com o que aconteceu no Governo Lula.

O Brasil foi produtor de barrilha durante anos, por meio da Companhia Nacional de Álcalis.

Senador Sérgio Zambiasi, no Rio Grande do Norte, meu Estado, lamentavelmente, por uma sucessão de azares - e só encontro essa explicação -, perto do Município de Macau, há um grande cemitério que dá dó ver. São os pilares, as peças de concreto, as tubulações, os equipamentos do que seria a fábrica de barilha, a Alcanorte, que daria a auto-suficiência na produção de barilha ao Brasil.

No processo de privatização, lamentavelmente, o adquirente, um homem decente, entrou em dificuldade financeira e dela não saiu. Com a dificuldade financeira do grupo que comprou a Alcanorte, no processo de privatização, ficou sepultado o projeto e o sonho do meu Estado de trazer a auto-suficiência na produção de barilha para o Brasil.

Deixe-me explicar, Senador Geraldo Mesquita, o que é barilha, de que é feita a barilha. A barilha é carbonato de cálcio. É um pó, um granulado. É feito de quê? De calcário, de sal e de calor. A fábrica da Companhia Nacional de Álcalis do Rio de Janeiro, na década de 50, antiqüíssima, obsoleta, mas em funcionamento, no seu começo, buscava o calcário sugando conchas do fundo de uma lagoa. O custo da sucção eram motores elétricos, energia elétrica. Sugavam do fundo das lagoas conchas de calcário que eram depois moídas e transformadas em pó de calcário.

O sal sempre veio do meu Rio Grande do Norte, em navios; sal transportado de mil, dois mil e tantos quilômetros, e o gás, o insumo, o calor é o gás que vem da Bolívia, que vem da região, pago a preço internacional.

No meu Estado, a Alcanorte - veja que feliz coincidência e que azar do meu Estado, de a fábrica ter caído nas mãos de um grupo por quem tenho apreço, mas que faliu - está situada em Macau. Macau é a terra do sal. A 20 Km, não mais do que isso, talvez 15 Km da fábrica de barrilha estão as salinas de Macau - 99% do sal do Brasil está ali. Em vez de se transportar o sal por 2 mil Km, transporta-se por 10 Km.

O calcário aflora, é encostado. E não é 1 Km ou 2 Km; é em cima da fábrica. É em cima; é só cavucar um pouco o solo e está o calcário exposto. O gás está em Guamaré, a 40 km. Junta-se gás, calcário e sal e produz-se barrilha. Mas minha fábrica está parada. Parada por quê? Parada porque existia a fábrica da Álcalis, em Cabo Frio, que, de qualquer maneira, produzia, importando-se barrilha a um preço razoável. Foi-se levando e, como o grupo que comprou a Alcanorte entrou em dificuldade, o nosso sonho ficou adormecido.

Lula se vangloria da auto-suficiência do petróleo.

Sabe o que aconteceu? Senador Geraldo Mesquita, V. Exª sabe que o agribusiness está sendo penalizado. Nós estamos com uma bomba acessa na nossa mão, que vai explodir no ano que entra, seja em que Governo for - suponho que no Governo Alckmin -, decorrente do câmbio desfavorável que já fez uma grande vítima: o Ministro Roberto Rodrigues, que, para não assistir à explosão da bomba, pediu demissão.

O agribusiness, Senador Romeu Tuma, vai pagar o preço da quebradeira em função da taxa de câmbio, que fez com que a nossa produção chegasse ao exterior por um preço que não remunera o produtor interno e que está quebrando, está na bicicleta, rodando porque não pode parar.

Muito bem, esse mesmo câmbio quebrou a Álcalis. Explico a V. Exª. A Companhia Nacional de Álcalis produzia barrilha por um preço X, sugando, num primeiro momento, as conchas do fundo da lagoa, e, mais recentemente, transportando o calcário de Minas Gerais, via rodoviária - imagine que loucura! -, enquanto a minha Alcanorte estava lá, dormindo, aguardando uma solução. De qualquer maneira, produzia e vendia. Por quê? Porque US$1,00 valia R$3,00. Então uma tonelada de barrilha era importada com o dólar valendo R$3,00.

O que aconteceu agora? O dólar caiu para R$2,20. O comprador de barrilha - produtor de vidro, a indústria vidreira, a indústria de tinta, seja qual for -, evidentemente passou a comprar a barrilha importada porque o preço é muito melhor. Resultado: parou a CNA, a Companhia Nacional de Álcalis, há três meses.

Estão lá os funcionários todos parados, e a auto-suficiência do petróleo, bradada, cantada em prosa e verso pelo Governo Lula, se contrapõe à “zeração”. Em vez de auto-suficiência de barrilha que teríamos condições de ter, que é a indústria de base, nós temos produção zero, o que gera dependência total de uma indústria de base. Estratégico, bem estratégico!

Uma Nação que tenha vergonha na cara não pode deixar de ter a sua produção, se puder tê-la, de barrilha. Pois Lula, que se vangloria da auto-suficiência de petróleo, está assistindo a isso e não dá uma palavra. Não dá uma palavra, uma palavra; está assistindo caladinho à produção de barrilha nível zero no Brasil.

A Companhia Nacional de Álcalis encerrou as atividades, está parada, enquanto, no meu Estado, a Companhia Nacional de Álcalis tem um filhote chamado Alcanorte, com condições de produzir barrilha para competir com barrilha importada a dólar no valor de R$ 2,20, R$ 2,10, R$ 2,00, porque é tudo juntinho, um ao lado do outro. Mas Lula não faz nada. Lula não faz nada; não move uma palha pelo meu Estado, Presidente Romeu Tuma. Lula não faz nada. Levou a refinaria de petróleo embora - ele e Hugo Chávez - e agora assiste caladinho a débâcle da produção de barrilha de Cabo Frio, sem tomar uma providência qualquer com relação à barrilha que pode e deve ser produzida no Rio Grande do Norte, meu Estado.

O homem da auto-suficiência do petróleo é o homem da “zeração” da produção de barrilha no Brasil - bem essencial, produto consumido num mundo de coisas do qual o Brasil não pode abrir mão.

Tomei conhecimento deste fato há bem pouco tempo e não me contenho, até porque sou um batalhador pelas coisas do meu Estado. Sou um encantado com o turismo do meu Estado, que construí como Governador. Sou um encantado com a produção de camarão, de fruta tropical, de petróleo e de gás do meu Estado. Sou um lutador em busca do PVC, que algum dia ainda vou ver sendo produzido a partir da energia da Termoaçu, do sal de Macau e do eteno do gás do Rio Grande do Norte. Sou um encantado com a perspectiva no meu Estado de produção de barrilha. Mas sou um desencantado com este Governo.

Senador Efraim, ou este Governo acaba, ou nós, do Nordeste, nos acabamos, porque, nessa questão do veto do crédito rural, do veto dos aposentados, do veto dos empregados domésticos, nesse descaso com relação àquilo que temos como vocação natural, a barrilha, que é uma vocação natural do meu Estado, não se está nem aí. Deus nos livre!

Este é o meu brado de protesto, Sr. Presidente, protesto de quem quer ver o Nordeste realmente se soerguendo. Eu já disse - e vou repetir dez mil vezes - que quem quiser presidir este País e quiser soerguer o Nordeste tem de identificar qual é a vocação natural de cada Estado. Por exemplo, da Bahia, qual a vocação mais importante para ser viabilizada agora, depois de tantas que foram viabilizadas? De Alagoas, qual é? De Sergipe, qual é? De Pernambuco, qual é? Da Paraíba? Qual é o grande trunfo que a Paraíba pode oferecer na sua economia ao Brasil, desde que haja investimento? Qual a vocação natural da Paraíba, que está apenas aguardando investimento para se viabilizar e se oferecer ao País? Qual é a grande vocação do meu Estado? Um dos exemplos é a barrilha e o PVC. Qual é o grande atrativo de investimentos - viável; não falo de favor, mas de algo viável, competitivo - que o Ceará, o Piauí, o Maranhão podem oferecer?

Estamos precisando de um Presidente da República que identifique isso, que identifique essas oportunidades e que tome compromisso com os Estados do Nordeste, não lançando mão daquele negócio de “coitadinho”, de esmola, de favor, que gera dependência. Estamos precisando de um Presidente da República que queira bem, de verdade, ao Nordeste e se dê ao trabalho de identificar essas oportunidades de investimento para que seus Estados possam dar emprego para seus desempregados de forma competitiva e digna, não dependente, não estabelecendo a dependência do brasileiro pobre em relação ao Governo com Bolsa-Família ou com bolsa de qualquer coisa. A Bolsa é importante, sim, mas não pode ser só isso. Tem que haver fundamentalmente a aplicação de recursos, a mobilização de investidores em cima de oportunidades reais de investimento como forma de os Estados oferecerem ao País uma contribuição efetiva ao crescimento nacional. Esta é a minha tese, este é meu desejo e este é meu protesto, que espero que seja ouvido, e que o próximo Presidente, seja quem for - e espero que seja Geraldo Alckmin -, possa atendê-lo de forma a dar, de maneira digna, uma oportunidade real aos nordestinos de contribuírem para o crescimento do País.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 26/07/2006 - Página 25151