Discurso durante a 120ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

Reflexão sobre a motivação que levam as pessoas a se engajarem na vida pública.

Autor
Ney Suassuna (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/PB)
Nome completo: Ney Robinson Suassuna
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
ATUAÇÃO PARLAMENTAR. DESENVOLVIMENTO REGIONAL.:
  • Reflexão sobre a motivação que levam as pessoas a se engajarem na vida pública.
Aparteantes
Leonel Pavan.
Publicação
Publicação no DSF de 01/08/2006 - Página 25583
Assunto
Outros > ATUAÇÃO PARLAMENTAR. DESENVOLVIMENTO REGIONAL.
Indexação
  • APRESENTAÇÃO, BIOGRAFIA, ORADOR, EMPRESARIO, AREA, EDUCAÇÃO, JUSTIFICAÇÃO, VIDA PUBLICA, ATUAÇÃO PARLAMENTAR, SENADO.
  • REGISTRO, INFERIORIDADE, DESENVOLVIMENTO, ESTADO DA PARAIBA (PB), COMPARAÇÃO, ESTADOS, REGIÃO NORDESTE, GESTÃO, ORADOR, SENADOR, CONSTRUÇÃO, POLO PETROQUIMICO, EXPECTATIVA, LEILÃO, INICIO, EXPLORAÇÃO, PETROLEO, DEFESA, INCENTIVO, EXTRATIVISMO, MINERAL, INDUSTRIA, CERAMICA.
  • ANALISE, FALTA, DESENVOLVIMENTO SOCIAL, ESTADO DA PARAIBA (PB), NECESSIDADE, INVESTIMENTO, INFRAESTRUTURA.

O SR. NEY SUASSUNA (PMDB - PB. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, em campanha, no meu querido Estado da Paraíba, tenho ouvido, com freqüência, qual o motivo de as pessoas se lançarem na vida pública sabendo que ficarão expostas, que poderão ser caluniadas, que poderão enfrentar o ódio dos adversários, que não param de maquinar contra. No entanto, por que essas pessoas aceitam passar por todos esses sacrifícios, por todos esses vexames?

Fiquei analisando o porquê disso e concluí que um pouco é vaidade - não resta dúvida -, mas que a grande maioria está aqui, nesta Casa, por ideal e por uma razão simples. Poderíamos viver tranqüilamente, de forma mais calma. Vejamos meu caso. Terminei o curso de Ciências Econômicas na Paraíba e fui para São Paulo em busca de emprego. No dia em que saí de lá, outros 48 jovens também saíram da minha cidade por não existir emprego na Paraíba. A cada ano, 40 mil jovens completam 18 anos na Paraíba - essa é a média -, e não há empregos. Saímos - lembro-me como se fosse hoje - todos os que se haviam formado na mesma universidade em busca de emprego. Inicialmente, fui para São Paulo, onde trabalhei com o Prefeito Faria Lima. Posteriormente, fui para o Rio de Janeiro, porque não havia gostado muito de São Paulo. No Rio, fiz concurso para a Federal do Rio de Janeiro e para o Ministério do Planejamento, ingressando em ambos. Permaneci cinco anos no Ministério, até que, um dia, após alguns meses de férias nos Estados Unidos, tomei conhecimento do mundo do computador e resolvi abrir uma faculdade de Computação. A partir daí, não quis mais voltar ao serviço público. Pedi demissão e fui cuidar das faculdades. Comprei alguns colégios - eu os tenho em vários lugares no Brasil e no exterior; hoje, há alunos em 48 países - e vi que precisava ajudar a evitar que outros jovens não passassem pelo mesmo sacrifício por que passei. Quem quiser saber o que é isso saia do seu Estado, deixe seus amigos e vá para outra cultura, onde até nosso sotaque é motivo de gozação. Nós, do Nordeste, somos vistos no sul como cidadãos de segunda categoria. Porteiro, guarda, trabalhador de construção civil, são poucos os que escapam a essa sina. Depois de tudo isso, ainda fiz Administração de Empresas, Pedagogia e duas pós-graduações. Foi, então, que cheguei à conclusão de que era hora de entrar para a vida pública, para prestar serviço, ajudando por ideal.

Vejam só: não entrei como Deputado ou como Prefeito, mas como Senador. Primeiramente, fui suplente de Antônio Mariz e, depois, enfrentei um dos mitos do meu Estado, Tarcísio Burity, Governador eleito por duas vezes. Comecei com 3%, e ele, com 46%, e estou aqui com o mandato de Senador. Não foi a vez dele naquela época.

Quando fazemos novamente um périplo pela Paraíba, verificamos que conseguimos mudar muito pouco em nosso Estado. Verificamos que os outros Estados estão crescendo com mais rapidez que o nosso. Pernambuco, por exemplo, além do Porto de Suape e de muitos empreendimentos, está construindo uma refinaria; o Ceará, além de um poço importante, está fazendo uma siderúrgica; o Rio Grande do Norte, por sorte, está construindo o maior aeroporto de carga do País e ainda tem petróleo, sal e camarão.

O meu Estado não tem tido essa sorte e, embora seja o ponto mais oriental do País, o que nos traz algumas vantagens relativas, continua precisando de obras estruturais. Estamos lutando, eu e o Senado Maranhão, para levarmos para lá um pequeno pólo petroquímico. Já que vai haver uma refinaria no Estado vizinho, que, na Paraíba, pelo menos possamos ter um pólo petroquímico!

Sonhamos todos, Sr. Presidente, que a Paraíba dê sorte na exploração do petróleo. As pesquisas já foram feitas, e, em 5 de novembro agora, vai haver leilão na área de Sousa. Tenho certeza de que vamos conseguir iniciar a exploração de petróleo na Paraíba com sucesso, seja em Sousa, seja na costa.

Mas existem muitas coisas para se fazer. A área mineral precisa ser urgentemente incentivada. Lá, inclusive, há pedras preciosas, como é o caso da turmalina paraíba, que é até mais cara do que diamante - só existe lá e, por isso, tem esse nome. É uma pedra diferenciada, cujo grama custa US$30 mil quando é inteiramente limpa.

Precisamos investir também na exploração do caulim e de vários minerais, o que nos permitirá, com toda certeza, produzir muita cerâmica. Já temos várias indústrias de cerâmica, mas precisamos implementar muitas outras.

Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, são muitas as nossas vulnerabilidade na saúde, na segurança, na educação, porque não há investimentos de vulto acompanhando o pouco desenvolvimento do Nordeste e o grande crescimento populacional. É necessária uma política racional de planejamento do País e da região para investimentos no Nordeste, a fim de se diminuir a diferença entre Sul, Sudeste e Nordeste. Do contrário, vamos alavancar, cada vez mais, essa diferença entre as Regiões e aumentar o fosso entre elas.

O Nordeste tem muitas potencialidades, seja turística, seja - como disse - mineral, seja na área de indústrias, porque a mão-de-obra é muita e barata. Temos matéria-prima para muitos setores, mas, infelizmente não temos obtido os investimentos necessários.

Quando chega a época de campanha, tudo isso é revisado, tudo isso é falado, mas, depois, pouco disso se consegue. Nos doze anos em que estou nesta Casa, todos os dias presto contas ao meu Estado por meio das rádios e das TVs. Todos os dias, Sr. Presidente, presto contas do que fiz no dia anterior, dizendo a que Ministérios fui, onde procurei arrumar recursos, para que prefeituras consegui recursos. Acho que cumpro minha missão com uma boa parcela de sucesso, mas isso não basta para resolver o problema de toda uma Região que abrange mais de um terço da população brasileira. Os investimentos não são suficientes, e estamos perdendo mais espaço, embora haja a garantia constitucional de se investir mais no Nordeste. Mas isso fica só na Constituição, pois não tem funcionado nem para o Nordeste nem para o Centro-Oeste.

Diante desse quadro, pergunta-se insistentemente a todos os homens públicos: por que continuar numa profissão tão complicada, tão difícil e, às vezes, com tão poucos sucessos? Por que tanta insistência para conseguir esses sucessos?

Ouvi, há pouco, o discurso do companheiro que me antecedeu, quando ele falava de Orçamento. Realmente, o Orçamento tem de ser impositivo, as emendas de bancada não devem ficar à mercê de serem elas a favor ou contra o Governo. Isso deveria deixar de existir. Deveria haver um Orçamento impositivo, sim, em que estabelecêssemos que ele teria de ser cumprido pelo Governo, nem que fosse por meio de um processo gradual, em que pelo menos uma parte do Orçamento fosse cumprida. Como está hoje, isso é apenas um faz-de-conta, em que o Governo diz que pretende cumprir e em que a gente faz de conta que acredita, porque, quando chega a hora, vemos que não acontece a obra nem o desenvolvimento. Com relação ao Nordeste, estamos muito prejudicados.

Não é diferente no Estado de V. Exª, um dos mais prejudicados pela República no ano passado, pois houve quebra no preço do arroz, da soja, do trigo, além de problemas de seca. Ainda perdeu muito por ser um Estado exportador, e os recursos não entram, pois não cumpriram também a lei como deviam.

O Sr. Leonel Pavan (PSDB - SC) - Senador Ney Suassuna, permita-me um aparte?

O SR. NEY SUASSUNA (PMDB - PB) - Pois não.

O Sr. Leonel Pavan (PSDB - SC) - Vejo V. Exª falar sobre a agricultura em nosso País, sobre a queda de preço dos produtos agrícolas. Mas a quem devemos responsabilizar? Tenho percorrido - até farei um pronunciamento sobre isso, daqui a pouco - meu Estado, Santa Catarina, e tenho visto os agricultores desesperados em alguns lugares, por causa da seca; em outros, por causa da geada; em outros, por causa da estiagem. Quem deve socorrer os agricultores, principalmente o agricultor familiar? Eles plantam arroz, milho e feijão e dependem exclusivamente da agricultura para sobreviver. Percorri o oeste de Santa Catarina, neste final de semana, na região serrana, no meio-oeste e no oeste, regiões que vivem da agricultura, principalmente da agricultura familiar. Há desespero, há tristeza no semblante dos agricultores. Há tristeza, porque não há ninguém para socorrê-los. O Governo prometeu milhões de reais, aprovados aqui no Congresso, mas exige uma papelada, uma burocracia enorme, e não libera os recursos. Além de não receberem os recursos, de não serem atendidos, eles estão vendo seus filhos desesperados, por causa das dificuldades por que passam seus pais. Eles, sem terem o que fazer, estão indo embora do campo, abandonando as terras. Estão indo para as cidades grandes, pois vêem pela televisão, todos os dias, coisas bonitas: praias, empregos, negócios, imagens lindas, propagandas fantásticas. Eles deixam o campo e, ao chegarem às grandes cidades, Senador Ney Suassuna - sei que V. Exª é muito sensível a essas questões -, deparam-se com outra dificuldade. Eles são agricultores e entendem de terra, sabem como manusear a terra, como cuidar das galinhas, dos suínos, da vaca, que sustenta a família com a produção do leite. Eles entendem de enxada, porque trabalham manualmente para produzirem batata, feijão, assim por diante. Eles não são profissionais das grandes cidades, como balconistas, secretários, carpinteiros, pedreiros, motoristas. Eles não têm a experiência da grande cidade. E, muitas vezes, Senador Ney Suassuna, o desespero leva essas pessoas à criminalidade, à marginalidade. Precisa o Governo ter muito cuidado com a falta de atenção aos agricultores do nosso País.

O SR. NEY SUASSUNA (PMDB - PB) - V. Exª está coberto de razão. Mas, quando falava da agricultura no Estado do nobre Presidente, eu dizia que mesmo um Estado desenvolvido, como é o Rio Grande do Sul, que não sofre os problemas do Nordeste, também tem passado dificuldades. As dificuldades são muitas em todo o País. Mas, na minha região, no meu Estado, a carência é muito maior, porque não só a agricultura é muito mais difícil, como também não há uma política agrícola e as obras estruturais inexistem. Assim, terminamos sendo um grande fornecedor de mão-de-obra para o Sul, para o Sudeste e até para o Centro-Oeste. São as famílias se despedaçando, para que seus filhos saiam em busca de emprego, quando estes deveriam estar fixados lá, quando deveria haver um planejamento que nos permitisse, Senador, fazer uma administração mais racional.

Continuo, com tristeza, afirmando que, embora existam tantas carências, não temos conseguido fazer, na velocidade que queremos, atendimento a todo esse elenco de necessidades insatisfeitas. Isso tem deixado aflitos todos os que têm obrigação ou compromisso com o crescimento do Nordeste. Não há mais Sudene, o Banco do Nordeste praticamente exauriu seus recursos com a aplicação que foi bastante. Estamos com dificuldades, sim.

Era isso, Sr. Presidente, que eu queria trazer na tarde de hoje. Os desafios são ainda muito grandes, e quem tem o ideal de servir, com toda a certeza, vai ficar nessa angústia, clamando por soluções que possam aliviar essa Região que tanto já deu ao Brasil e que tanto tem perdido em relação ao que precisaria receber de investimento!

Muito obrigado.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 01/08/2006 - Página 25583