Discurso durante a 126ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

Apresentação de documento em sua defesa, tendo em vista as acusações de envolvimento com a "máfia das sanguessugas".

Autor
Magno Malta (PL - Partido Liberal/ES)
Nome completo: Magno Pereira Malta
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
COMISSÃO PARLAMENTAR DE INQUERITO (CPI), AMBULANCIA.:
  • Apresentação de documento em sua defesa, tendo em vista as acusações de envolvimento com a "máfia das sanguessugas".
Publicação
Publicação no DSF de 05/08/2006 - Página 26164
Assunto
Outros > COMISSÃO PARLAMENTAR DE INQUERITO (CPI), AMBULANCIA.
Indexação
  • ELOGIO, DISCURSO, SERGIO ZAMBIASI, SENADOR, RESGATE, CULTURA, BRASIL.
  • DEFESA, INOCENCIA, ORADOR, DESMENTIDO, ACUSAÇÃO, IRREGULARIDADE, PARTICIPAÇÃO, AQUISIÇÃO, AMBULANCIA.
  • COMENTARIO, AUSENCIA, APRESENTAÇÃO, EMENDA, FAVORECIMENTO, EMPRESA, VENDA, AMBULANCIA, DEFESA, INOCENCIA, CHEFE DE GABINETE.
  • COMENTARIO, DESCONHECIMENTO, PROVIDENCIA, FORMA, AQUISIÇÃO, VEICULO AUTOMOTOR, DEPUTADO FEDERAL, CESSÃO, ORADOR.
  • LEITURA, DOCUMENTO, AUTORIA, DEPUTADO FEDERAL, CONFIRMAÇÃO, INOCENCIA, ORADOR, AUSENCIA, ACORDO, EMPRESARIO, EMPRESA, AMBULANCIA, FORNECIMENTO, VEICULO AUTOMOTOR.
  • EXPECTATIVA, JUSTIÇA, CONFISSÃO, REU.

O SR. MAGNO MALTA (Bloco/PL - ES. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Cumprimento o Senador Zambiasi, o Senador Leomar, os telespectadores da TV Senado e todas as pessoas presentes.

Parabéns pelo pronunciamento, Senador Zambiasi, nosso radialista premiado, querido, campeão. V. Exª, quando falava do “Negrinho do Pastoreio”, fez-me voltar no tempo, à minha infância. O meu irmão mais velho, que deve estar nos assistindo, apanhou muitas vezes em sala de aula por causa da história do Negrinho do Pastoreio - naquela época, apanhava-se de palmatória por não saber a tabuada. Era preciso fazer uma leitura em sala de aula, ler um texto do Negrinho do Pastoreio, e ele, por não saber ler bem, apanhava. Em uma dessas leituras em que não se saiu muito bem, ele apanhou de uma professora chamada Neli, que puxou a orelha dele com tanta força porque ele não aprendia nada do livro Negrinho do Pastoreio que a orelha sangrou.

Fui lá, peguei o braço dele e o arrastei da sala de aula. Saímos chorando juntos e fomos embora. Chegamos em casa, ele com a orelha sangrando, e contamos para minha mãe aquela loucura da professora esperando o apoio dela. Minha mãe pegou no braço dos dois e nos levou de volta para a escola. Se tivesse nos apoiado, talvez nunca mais tivéssemos voltado à escola. O “Negrinho do Pastoreio”, sem dúvida alguma, é parte significativa da nossa história, como é da história de milhões de brasileiros.

Quero lhe parabenizar por tão bem articulado pronunciamento, tão bom de se ouvir. Acho até que V. Exª deve fazer um requerimento à Mesa para publicar uma separata. É muito importante que o povo do seu Estado a tenha e o povo do Brasil também. Portanto, sugiro-lhe que faça uma separata e a faça publicar pela Gráfica do Senado, pois V. Exª estará fazendo um bem à cultura do Brasil, à memória cultural brasileira e, entre as muitas coisas que marcarão seu mandato nesta Casa, certamente essa separata será lembrada.

Senador Sérgio Zambiasi, volto a esta tribuna - e voltarei tantas vezes quantas forem necessárias - para me defender. Aparteei o Senador Arthur Virgílio para dizer que as pessoas são vitimadas por ilações e, quando não têm o veículo para se defender, são rotuladas definitivamente. Não me refiro a quem não quer se defender, porque, numa hora como esta, muitos querem, de fato, Sr. Presidente, é se esconder.

Muitos não têm coragem de aparecer; a outros não falta coragem, mas fatos contundentes e verdadeiros que possam trazer a verdade à tona e lhes garantir a inocência. Aqueles que têm, têm de levantar a cabeça. Essas coisas abatem, essas coisas, Sr. Presidente Sérgio Zambiasi, ferem a alma de quem tem história, de quem constrói história e de quem tem família, de quem preza valores.

No meu caso, construí uma história com muita dificuldade, com muita luta, cheguei ao Senado da República com muita luta. A minha história e o meu histórico é de enfrentamento, nunca comunguei de atos indignos e muito menos de atos que pudessem trazer lesão ao Erário Público, ao Poder Público.

Então, reafirmo ao povo do Brasil - e não me alongarei - que nada há - e, por isso, nada posso temer - que me ligue à chamada Máfia dos Sanguessugas. Uma CPI precisa ter fato determinado, e o fato que determinou essa foram emendas no Orçamento direcionadas para a empresa Planam. Eu nunca apresentei emendas para favorecer essa empresa, não existe emenda de Magno Malta nesse sentido. Vejam como isso é hilário! Não existe! Não sei se feliz ou infelizmente, tenho até de fazer a defesa do Sr. Vedoin: ele nunca me propôs corrupção, e não o fez porque não podia ter feito, pois nunca esteve comigo, nunca esteve em meu gabinete, embora façam a ilação de que o meu Chefe de Gabinete sabia. Sabia onde? Sabia como? Onde é que está a ligação? Onde é que está o crime do meu Chefe de Gabinete? Onde é que ele esteve? Nós nunca o recebemos.

Então, por nunca o termos visto, por nunca o termos recebido, nunca me propuseram corrupção. Nunca me propuseram emenda alguma de Orçamento, e eu nunca apresentei nada nesse sentido. Esse é um ponto pacífico, verdadeiro e final.

Segundo ponto: não existe carro. Não existe carro, nunca recebi carro, nunca estive junto. Falei da tribuna que, quando Deputado Federal, construí grandes amigos à época em que presidi a CPI do Narcotráfico. Era uma CPI tão perigosa, que ficamos muito juntos, agarrados uns aos outros como forma de nos proteger. A CPI do Narcotráfico era tão perigosa, que nos tornamos uma família. É muito grande o carinho que sinto por Moroni Torgan, hoje candidato a Senador pelo Ceará, pelo Deputado Fernando Ferro do PT, por Alcione Barbalho, Laura, pelo Deputado Lino Rossi e por tantos outros que trabalharam comigo naquela CPI. Éramos amigos, éramos Deputados juntos. Não se tratava de bandidos.

Quando Deputado Federal, o Deputado Lino Rossi me emprestou uma van sua, que já não mais estava usando. Senador Leomar, eu a usei e a devolvi há um ano e dois meses. Não tenho absolutamente nada a ver com isso. Se o Sr. Darci Vedoin, como ele diz no seu depoimento, tratou alguma coisa com o Deputado Lino Rossi, se ele combinou alguma coisa com o Deputado Lino Rossi, essa informação não chegou a mim. Ele pode ter tratado alguma coisa com o Deputado Lino Rossi, mas não tratou comigo nem com a minha assessoria nem no meu gabinete, até porque o Deputado Lino Rossi sempre me respeitou. Ele sabe o homem que eu sou e nunca me propôs corrupção; nunca, Senador Leomar Quintanilha, ele me falou em emenda.

Até por que o Deputado Lino Rossi sempre me respeitou, sabe o homem que sou e nunca me propôs corrupção. Nunca, Senador Leomar Quintanilha, ele me falou em emenda para ambulância, em emenda para a Planan! Até por que tomei conhecimento do nome da Planan agora nos jornais, nunca soube da existência dessa empresa, graças a Deus!

Então, ele nunca esteve comigo. Se tratou com o Deputado Lino Rossi é um problema do Deputado Lino Rossi e um problema deles. Essa informação nunca chegou a mim e, por isso, ele diz - são palavras dele - que nunca coloquei emenda no Orçamento para eles.

Sr. Presidente, vim para a tribuna e fiz esse pronunciamento, que é a mais pura verdade. Não há como me desmentir, não se sustenta a ilação. Ele diz que nunca esteve comigo e nunca esteve com chefe de gabinete algum. Nunca o recebemos. Até por que, quando se fala uma coisa dessas, é preciso provar: onde foi, com quem foi, quem é testemunha, quem viu, onde estão as impressões digitais, e isso não existe.

Recebo um documento que é extremamente importante, que envio ao seu gabinete hoje, que já entreguei ao Relator, Senador Amir Lando, e ao Corregedor, Senador Romeu Tuma, um homem honrado. E algumas declarações que estão nos jornais hoje reputo como equivocadas, porque o Senador Romeu Tuma é o Corregedor da Casa e como tal não pode emitir juízo de valor fora disso, senão qualquer um poderá requerer - foge-me o termo - a falta de capacidade. Não é capacidade, é a pessoa não estar apta por ter emitido juízo de valor antes para poder julgar qualquer tipo de processo. Poderá requerer o impedimento, Senador Leomar Quintanilha. O Senador Romeu Tuma é um homem experiente, todos conhecem a sua honra, e há algumas coisas equivocadas.

Ontem à noite, ele me ligou, desmentindo algumas informações, que logo foram publicadas no Globo Online. Ele disse que são atabalhoados e desencontrados os depoimentos do Vedoin. Eles colocaram o meu nome e ele pediu para trocar. Isso foi trocado, porque o Senador Tuma é realmente um homem que se pauta por um comportamento de dignidade.

V. Exª imagine se eu estivesse mentindo mesmo com essa verdade que nunca coloquei e não existe carro nenhum. Estou mandando ao seu gabinete e aos 81 Senadores, aos membros da CPI e ao Corregedor este documento que passo a ler:

Eu, Lino Rossi, brasileiro, casado, Deputado Federal, venho, por meio do presente, declarar, para os fins legais, o que passo a narrar. Conheço o Senador Magno Malta, do Espírito Santo, há vários anos; tive com ele uma aproximação quando da instalação da CPI do Narcotráfico no âmbito do Congresso Nacional; sempre tive uma forte ligação fraterna, espiritual e religiosa com ele. [Isso porque sou evangélico. Quem é que não sabe disso? E toda vez que esse cidadão entrou no meu gabinete, o meu gesto, a minha conversa com ele foi ler a Bíblia e orar por ele, que tem uma filhinha adoentada. Ele viveu grandes problemas, e eu estive presente, como estive na vida de todos que vivem as suas agruras nesta Casa. E V. Exª conhece os Senadores que vêm vivendo as suas agruras, alguns por enfermidade, outros por estar envolvidos, e eu, por professar a fé evangélica, aproximo-me, por acreditar na Bíblia e para oferecer conforto e orar com esses Senadores. Fiz isso a vida inteira na Câmara, com todos que viviam os seus problemas.

Tenho essa sensibilidade para me aproximar.] Disse então ao Senador Magno que dispunha de um automóvel Fiat Van Ducato [- esse carro que o Sr. Vedoin disse que deu a ele para mim, de forma que eu estaria trocando a minha honra por uma Van de carregar passageiro -], placa KAM 4467, de Várzea Grande, MT, que tinha utilizado na minha campanha eleitoral e que poderia ficar à sua disposição [- isso porque ele estava morando em São Paulo, onde foi comandar o programa Cidade Alerta, da Record -], em virtude de ele ter me informando que, à época, estava precisando de um automóvel para fazer viagens com sua banda gospel pelo Estado do Espírito Santo. Tais fatos se deram por volta de setembro de 2003, ocasião em que disponibilizei para o Senador Magno a documentação daquele veículo e a sua posse mansa e pacífica. O referido veículo permaneceu com o Senador Magno Malta até meados de julho de 2005 [- eu o devolvi há um ano e dois meses ao seu verdadeiro dono, Lino Rossi, porque o carro não era meu e nunca recebi presente de ninguém, apenas recebi o carro emprestado de um amigo -], ocasião em que retornou para mim”. Por fim, declaro que sufrago por inteiro as declarações prestadas pelo Senador Magna Malta em seu pronunciamento feito da tribuna do Senado Federal, na data de 1º de agosto de 2006, sendo o que ali afirmado a expressão da verdade dos fatos. Era o que me incumbia declarar e esclarecer.

Por ser verdade, firmo o presente, em

São Paulo, 3 de agosto de 2006.

Lino Rossi.

V. Exª imagina que, se eu não estivesse com a verdade, viria fazer afirmações na tribuna do Senado, correndo o risco de ser desmentido?

Mas a verdade vos libertará. Por isso, venho e olho nos olhos do povo do Brasil por meio das câmeras da TV Senado sem qualquer medo. Não será uma ilação que destruirá minha história e que jogará minha biografia no lixo.

Nessa segunda-feira, quando vim para cá, minha filha mais velha me disse: “Pai, tenha paz. Cuide do seu caráter e tenha paz. O senhor é um homem público e da sua reputação o senhor não pode cuidar. O senhor é um homem público, e a sua reputação está nas mãos de qualquer um. Eles fazem o que querem. E fica por isso mesmo. Mas cuide de seu caráter, tenha a sua verdade e, mais, confie em Deus. É a única coisa que você pode fazer. Angustiar-se não evitará manchete no jornal e ilações”.

Então, digo ao Brasil, olhando meus irmãos, as pessoas deste País que têm acompanhado meu mandato e minha trajetória, as pessoas do Estado do Espírito Santo - um Estado em que, de 1.170 milhão de votos válidos, tive quase 900 mil votos -, que continuarei honrando a Deus, a minha família, a sociedade do Espírito Santo e ao Brasil que conhece a minha história.

Espero que o sentimento de justiça possa tomar conta do coração do Senador Amir Lando. O sentimento de justiça precisa tomar conta do coração de todos aqueles que precisam fazer justiça. Que justos não sejam tratados como injustos, que inocentes não sejam jogados no cadafalso e que aqueles que devem tenham a dignidade de pedir perdão à Nação, à família, às pessoas e confessem seu erro.

Senador Leomar Quintanilha, agradeço a oportunidade, o tempo dado a mim. Era isso que tinha de falar. Se precisar, falarei “n” vezes, até porque é necessário olhar nos olhos das pessoas e não se esconder quando nada se deve.

Esse documento que acabei de ler será enviado ao gabinete de V. Exª - se já não foi - e de todos os Senadores, principalmente do nosso Corregedor, Senador Romeu Tuma, a quem encaminho toda a documentação. Essa é a verdade dos fatos. Ele diz: “Sufrago por inteiro as declarações prestadas pelo Senador Magno Malta em seu pronunciamento feito da tribuna do Senado Federal, na data de 1º de agosto de 2006”. Enviarei na íntegra o pronunciamento em que repudio as acusações e conto todas as verdades.

A despeito desse Deputado Federal, a mídia está noticiando que, nos depoimentos dados, fala-se do seu envolvimento e do seu relacionamento com a família Vedoin e com a Planam.

A despeito de tudo isso, quando convivi com o Deputado Federal, na Câmara Federal, não estava convivendo com bandido, nem com marginal, mas com uma pessoa igual ao Moroni, igual ao Fernando, igual a tantos quantos compuseram aquela comissão tão importante para o Brasil - a Comissão do Narcotráfico -, uma pessoa de quem me fiz amigo, como de tantos quantos me rodeiam.

Aqui no Senado não é diferente. Com V. Exª até travei o meu primeiro relacionamento ainda como Deputado Federal, numa “pelada” - V. Exª já Senador e muito bom de bola. Depois da minha lesão de medula não posso mais jogar futebol. Já agradeço a Deus o fato de estar em pé, de estar andando. Mas V. Exª ainda prossegue, do alto da sua juventude, jogando futebol e ainda disputando eleição de dois em dois anos, o que é característica de um homem de muita coragem.

Muito obrigado.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 05/08/2006 - Página 26164