Discurso durante a 130ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

Protesto pela inclusão do nome de S.Exa. no relatório parcial da CPMI dos Sanguessugas, aprovado hoje, e pela não apreciação da defesa apresentada por S.Exa.

Autor
Serys Slhessarenko (PT - Partido dos Trabalhadores/MT)
Nome completo: Serys Marly Slhessarenko
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
EXPLICAÇÃO PESSOAL. COMISSÃO PARLAMENTAR DE INQUERITO (CPI), AMBULANCIA.:
  • Protesto pela inclusão do nome de S.Exa. no relatório parcial da CPMI dos Sanguessugas, aprovado hoje, e pela não apreciação da defesa apresentada por S.Exa.
Aparteantes
Eduardo Suplicy, Ideli Salvatti, Magno Malta, Sibá Machado.
Publicação
Publicação no DSF de 11/08/2006 - Página 26586
Assunto
Outros > EXPLICAÇÃO PESSOAL. COMISSÃO PARLAMENTAR DE INQUERITO (CPI), AMBULANCIA.
Indexação
  • PROTESTO, INCLUSÃO, ORADOR, RELATORIO, COMISSÃO PARLAMENTAR MISTA DE INQUERITO, AMBULANCIA, ACUSAÇÃO, PARTICIPAÇÃO, CORRUPÇÃO.
  • CRITICA, RELATOR, COMISSÃO PARLAMENTAR MISTA DE INQUERITO, CITAÇÃO PESSOAL, ORADOR, FALTA, PROVA, ACUSAÇÃO, AUSENCIA, ANEXAÇÃO, DEFESA, RELATORIO.
  • REGISTRO, QUEBRA DE SIGILO, CONTA BANCARIA, TELEFONE, PARENTE, ORADOR, COMPROVAÇÃO, AUSENCIA, RECEBIMENTO, PROPINA.
  • COMENTARIO, CONTRADIÇÃO, DEPOIMENTO, EMPRESARIO, DIFAMAÇÃO, ORADOR, REGISTRO, ACUSAÇÃO, ADVERSARIO, POLITICO, SENADOR, OBJETIVO, PREJUIZO, CANDIDATURA, GOVERNO ESTADUAL, ESTADO DE MATO GROSSO (MT).
  • REGISTRO, HISTORIA, VIDA PUBLICA, ORADOR, AGRADECIMENTO, SOLIDARIEDADE, POPULAÇÃO, ESTADO DE MATO GROSSO (MT), MEMBROS, PARTIDO POLITICO, PARTIDO DOS TRABALHADORES (PT).

A SRª SERYS SLHESSARENKO (Bloco/PT - MT. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão da oradora.) - Senadora Heloísa Helena, agradeço a sua sensibilidade. Sabendo da história, V. Exª me concedeu a palavra neste momento.

Agradeço especialmente ao Senador Romeu, porque era a vez de S. Exª falar, mas vi seu esforço para possibilitar que eu me pronunciasse agora.

Srªs e Srs. Senadores, mais uma vez, venho a esta tribuna para falar desse tal meu envolvimento nas investigações que a chamada CPMI dos Sanguessugas promoveu, sobre o escândalo das ambulâncias.

Senadora Heloísa, antes de começar a falar, eu queria deixar claro que considerei o seu posicionamento totalmente correto, assim como o de outros - poucos - Senadores, para deixarmos o meio-de-campo limpo.

Estou absolutamente perplexa, companheiro Senador Sibá; minha Líder, Senadora Ideli! Escutei, ainda há pouco, o Relator, Senador Amir Lando, em resposta a uma pergunta do Senador Suplicy, dizer, Senhores, que não teve tempo de apreciar a minha defesa! Ele respondeu isso publicamente na CPMI, quando o Senador Suplicy perguntou se ele havia estudado, lido a minha defesa. Ele disse exatamente isto: que não teve tempo de apreciar a minha defesa. E acredito que não teve mesmo. Não é possível! Só a minha defesa tem 42 páginas e, eu diria, umas outras 40 de documentos anexos. Isso sem haver nenhuma acusação contra a minha pessoa. Não há, na CPMI, nenhuma acusação contra a minha pessoa! E, na minha pasta, só existe uma colagem das falas do delator. Só! No final, esta frase: “Não há nenhuma prova contra a Senadora Serys Slhessarenko”.

É isso o que tem lá. Colaram: “Um dia ele disse isso; outro dia, ele disse aquilo”. Aliás, tudo totalmente contraditório, contraditório completamente: “Um dia, entregou dinheiro para o genro, em dinheiro, diante de tal testemunha”. Depois, era outra testemunha. No depoimento que deu à Polícia, já era outra testemunha; no depoimento que deu em outro lugar, já era em depósito. Mas não aparece o depósito. Anteontem, ele apareceu com a graça de que era um cheque de 40 mil, que também não apareceu!

Meu genro já quebrou todos os sigilos! Meu genro, Senador Magno Malta, já quebrou todos os sigilos. Depois de ter ido pessoalmente à Polícia Federal cinco vezes e não conseguir ser ouvido, hoje, finalmente, ele foi ouvido; foi ouvido hoje porque interessava mais. Ele expôs e deixou lá documentos que expõem todo o seu sigilo.

Depois de tudo isso, eu me pergunto: por que, então, notificaram-me para que apresentasse esclarecimentos? Para quê? Por quê? Perdi tanto tempo fazendo relatório, buscando, quebrando meu sigilo bancário, meu sigilo fiscal, meu sigilo telefônico, pegando declarações no TRE! Quando fiz minha prestação de contas, 15 ou 20 dias depois das eleições de 2002, não fiquei devendo R$1,00! Pergunto à CPMI: por que me notificou para prestar explicações se jogou essas explicações na lata do lixo? Elas tinham de estar lá, Senadora Ideli, tinham de estar lá! Ou, então, que pelo menos criassem critérios diferenciados para aqueles que têm culpa - porque deve haver muita gente com muita culpa, não tenho dúvida disso.

Tenho dito sempre que a minha dor é profunda, mas, se for para acabar com a corrupção neste País, que haja dor. Porém, com esse jogo, também não dá! Ele superou os limites, passou para as raias da ficção científica, da alucinação, tamanho o grau de contradição e de mentiras do delator. Já mandou recado para mim, dizendo que está extremamente indignado e que só fez isso porque eu disse que ele era bandido e corrupto. Hoje, felizmente, ele se expôs nos jornais, na grande imprensa. Até então, era só recadinho: se ela tivesse ficado quieta; talvez se tivesse ido conversar com ele; talvez se tivesse ido fazer acordo... Não fiz e não faço! Nunca me verguei para a bandidagem e nunca me vergarei!

Continuo perguntando: por que me notificaram? No começo, eu dizia que tinham de me notificar, porque eu tinha explicações a dar. Agora, eu pergunto por que me notificaram, se eu dei explicações. Elas não valeram de nada?! Eu o fiz no mesmo dia em que entreguei o relatório à CPMI, ao Senador Tuma - S. Exª é testemunha disso -, entreguei-lhe o relatório completo, com todos os anexos. Ele sabe disso. No mesmo dia, entreguei o relatório à CPMI e ao nosso Corregedor, porque, diante de tamanha infâmia, eu preciso que tudo seja esclarecido.

Ser candidata ao Governo do Estado de Mato Grosso, enfrentando frontalmente dois candidatos adversários, porque eu não tenho inimigos - Blairo Maggi, do PPS, e Senador Antero Paes de Barros -, é uma luta difícil. Para uma mulher, professora, mãe de quatro filhos, ter a ousadia de ir para esse enfrentamento político-eleitoral é realmente assustador! No entanto, o meu Estado me conhece. Há quatro anos, às vésperas da eleição para o Senado, foi muito pior o que fizeram comigo. Muito pior! Só não houve esse caráter majestoso em nível nacional, foi estadual. A população de Mato Grosso me conhece e confia em mim. Ela sabe o tamanho da injustiça e da infâmia que estão tentando fazer contra a minha pessoa.

Srªs e Srs. Senadores, falo como fez, há pouco, o Senador Magno Malta, com muita tristeza e indignação por ver o meu nome encaminhado pela CPMI à Comissão de Ética do Senado, sem que coisa alguma fosse investigada, sem haver pelo menos a menor denúncia contra a minha pessoa, sem que tivessem o cuidado de abrir a minha defesa.

Podemos dizer, Senador Magno Malta, que estamos sendo submetidos a um tribunal de exceção, em que não nos podemos defender. Existem apenas os acusadores e ponto final. Não há defesa.

Isso fica óbvio e ululante pelo fato de que, no relatório que a CPMI encaminha à Comissão do Senado, só existe um dado: a cópia do depoimento do réu confesso e com delação premiada, nada mais. Não existe nada mais! Esse depoimento, em nenhum momento - vou repetir todos os dias, se for preciso -, cita o meu nome como beneficiária de qualquer esquema. O Darci Vedoin disse: “Não conheço essa Senadora. Nunca conversei com ela”. Nesse sentido, ele falou a verdade. Eu não os conheço.

Há quem me pergunte: “Você não tem medo de ficar falando em celulares que estão grampeados?”. Não, ao contrário. Seria ótimo se meus telefones estivessem grampeados desde o primeiro dia, porque haveria uma prova da minha inocência. Eu jamais tratei, por telefone ou não, de qualquer tipo de corrupção ou desvio de recurso público. Jamais!

A única coisa que aparece é a citação de um suposto envolvimento do meu genro, Paulo Roberto Ribeiro. Se existe suposto envolvimento, e até já falei disso aqui, os delatores já contaram quatro versões, mas não conseguiram comprová-las, não dá certo. O sigilo está quebrado e não dá certo, não funciona. Vão lá, conferem, não dá certo, inventam outra versão, inventam outra e inventam outra!

Repito: há muita gente que tem pecado capital nessa história e deve ser punida. Não estou fazendo defesa ou acusação de quem quer que seja. Faço a minha defesa, porque tenho absoluta certeza. É muito fácil percorrer minha vida. Se quiserem, percorram a vida do meu genro. É simples. Quebrem o seu sigilo bancário e percorram, corram atrás dele para ver se dá alguma coisa junto a mim.

O Sr. Magno Malta (Bloco/PL - ES) - Permite-me V. Exª um aparte?

A SRª SERYS SHLESSARENKO (Bloco/PT - MT) - Pois não, Senador Magno Malta.

O Sr. Magno Malta (Bloco/PL - ES) - Um dia, eu disse aqui que V. Exª também poderia estar sendo vitimada por ter presidido a CPI do Narcotráfico do seu Estado, e tão bem.

A SRª SERYS SHLESSARENKO (Bloco/PT - MT) - O que eu confirmei, Senador.

O Sr. Magno Malta (Bloco/PL - ES) - Lembro-me de que recebi V. Exª em Brasília - eu era Deputado Federal -, na CPI do Narcotráfico.

A SRª SERYS SHLESSARENKO (Bloco/PT - MT) - E eu era Deputada Estadual.

O Sr. Magno Malta (Bloco/PL - ES) - Depois de alguns parlamentares terem renunciado, V. Exª assumiu aquela posição, foi fundo e pode estar pagando o preço disso. Estou interpelando o Relator judicialmente, porque tenho plena certeza que, por ser o homem que é, S. Exª não negará as convicções que tinha a meu respeito e com relação ao caso. Mais, Senador Sibá Machado: estou arrolando o Senador Amir Lando como minha testemunha de defesa no Conselho de Ética. Não tenho problema algum na Comissão de Ética, porque não cometi dolo, não fraudei o Orçamento, não faço parte disso. Não tenho problema algum com a Corregedoria. Nenhum. O meu problema é apenas o de alguém com família e vergonha na cara que está sendo vítima de uma injustiça tão grande, depois de ter dormido tranqüilo por ouvir do próprio Relator: “Não há nada contra você”. A frase foi esta: “Isto aqui é xeque-mate”.

A SRª SERYS SLHESSARENKO (Bloco/PT - MT) - No meu caso, está escrito!

O Sr. Magno Malta (Bloco/PL - ES) - A TV Senado, embora tenha muita audiência, não tem a força da Record, da Globo ou do SBT, as três maiores. Não tem a força da CNT, à qual quero agradecer, assim como à TV Gênesis, pela ampla oportunidade de falar que recebi. Infelizmente, as pessoas não serão alcançadas, Senadora Serys Slhessarenko, pela fala de V. Exª, nem pela minha!

A SRª SERYS SLHESSARENKO (Bloco/PT - MT) - Pela nossa fala.

O Sr. Magno Malta (Bloco/PL - ES) - O mais importante de tudo isso é ter a verdade consigo. Tenho razões sobejas para confiar em V. Exª - se isso for válido, porque estou na mesma lista em que está V. Exª.

A SRª SERYS SLHESSARENKO (Bloco/PT - MT) - Com certeza.

O Sr. Magno Malta (Bloco/PL - ES) - Então, dizer que confio em V. Exª é porque tenho pleno confiança em V. Exª. Não tenho razões, até porque quem depõe a seu favor é a história de V. Exª.

A SRª SERYS SLHESSARENKO (Bloco/PT - MT) - Obrigada, Senador Magno Malta.

V. Exª lembra algo interessante: só quem - desculpe-me o termo - “peitou” o narcotráfico, à época, neste País, foram V. Exª, em nível nacional, e eu, em nível estadual!

Foi o único Estado, Senadora Heloísa Helena, que abriu uma CPI para o combate ao narcotráfico. Houve quatro presidentes em um mês, e os quatro renunciaram por cauda de ameaças. Eu fui nomeada. Segurei até o final, e entreguei o relatório. Aí começou o desmonte do crime organizado. Realmente, tem gente que não gosta de mim, e não são poucos! Aqueles que são envolvidos com o crime realmente me abominam.

Eu perguntaria aqui: o que fez a CPMI para comprovar a denúncia do réu confesso em delação premiada? Ela ouviu o meu genro? Pediu a quebra dos seus sigilos bancário, fiscal e telefônico, para comprovar minimamente essa denúncia? Há pouco, olhava o pequeno trecho em que foi perguntado ao delator se existia algum registro telefônico, não sei o quê, e aí entra a polícia dizendo que não, que não existe. Não existe nada em relação a qualquer registro telefônico. É muito complicado!

Infelizmente, a CPMI não leu a minha defesa e me condenou, como condenou V. Exª, como condenou outros; alguns merecedores, com certeza - repito -, mas outros, absolutamente inocentes!

Neste País estão acontecendo coisas engraçadas.

Hoje, recebi telefonemas de muitos advogados, inclusive de advogados pertencentes à Ordem regionais, dizendo que tudo isso é um absurdo, que isso não pode continuar desse jeito! Sou advogada...

Pois não, Senador Magno Malta.

O Sr. Magno Malta (Bloco/PL - ES) - Recebi ligações de ministros, de desembargadores,...

A SRª SERYS SLHESSARENKO (Bloco/PT- MT) - Eu também. Estou falando da Ordem porque a Ordem está questionando!

O Sr. Magno Malta (Bloco/PL - ES) - ... do Ministério Público, da polícia, de cidadãos dos mais longínquos rincões deste País que nos acompanham, pessoas simples, com ou sem formação. Eu nunca vi isso em minha vida! Nunca vi isso em minha vida!

A SRª SERYS SLHESSARENKO (Bloco/PT- MT) - É verdade, Senador. Eu também recebi ligações de muita gente e de várias categorias. Refiro-me à Ordem, porque a Ordem tem dito que não dá para continuar a coisa do jeito que está. Inclusive, dias atrás, houve uma discussão a esse respeito, e isso se faz necessário mais do que nunca.

Concedo o aparte à Senadora ideli Salvatti.

A Srª Ideli Salvatti (Bloco/PT - SC) - Senadora Serys Slhessarenko, em primeiro lugar, quero deixar consignadas algumas questões que aconteceram durante a reunião da CPMI que merecem ser registradas, porque entendo serem elas indicadoras de injustiças, que, tenho a certeza absoluta, podem estar, efetivamente, acontecendo. Por exemplo, o Relator, respondendo ao questionamento do Senador Eduardo Suplicy a respeito da defesa que V. Exª apresentou, registra que “não teve condição de ler” aquilo que V. Exª teve o trabalho de colher, como as contradições e os elementos para desmontar qualquer insinuação ou indício que pudesse pairar sobre V. Exª. Então, quando ele não absorve isso, acho que já há o reconhecimento de um erro gravíssimo. De que adiantou os parlamentares terem sido acionados para apresentar suas defesas se elas não foram devidamente avaliadas e confrontadas com a documentação, com os depoimentos ou com as questões postas na Comissão? Tanto que o Presidente da Comissão, o Deputado Biscaia, de pronto, até no reconhecimento do erro - porque aí já está configurado erro, o de não ter dado oportunidade para que a defesa feita pelos parlamentares pudesse ter sido minimamente contemplada na avaliação -, tomou uma providência no sentido de que, além do relatório e de seus anexos, irão para as Presidências das duas Casas todas as defesas apresentadas pelos parlamentares. Portanto, já é um reconhecimento do erro, sob o meu ponto de vista, que já considero grave.

A SRª SERYS SLHESSARENKO (Bloco/PT - MT) - Isso é muito grave.

A Srª Ideli Salvatti (Bloco/PT - SC) - Em segundo lugar - o Senador Sibá Machado teve a oportunidade de fazer, e outros também a tiveram -, quero me referir à questão de jogar todos no mesmo patamar.

A SRª SERYS SLHESSARENKO (Bloco/PT - MT) - Na vala comum.

A Srª Ideli Salvatti (Bloco/PT - SC) - Porque é o seguinte, se fosse em qualquer outro momento, Senadora Serys, talvez isso pudesse não ter a conseqüência que essa posição...

A SRª SERYS SLHESSARENKO (Bloco/P - MT) - Comigo não estaria acontecendo.

A Srª Ideli Salvatti (Bloco/PT - SC) - Estamos em pleno processo eleitoral. Não conheço ninguém que esteja ali que não seja candidato. Creio que apenas o Senador Magno Malta não seja candidato. Talvez S. Exª apenas; não me lembro de outros. Portanto, estamos em um momento em que nivelar parlamentares, porque a CPMI descobriu indícios quase que incontestáveis - documentos, depósitos -, indícios fortíssimos, com declarações, depoimentos...

O Sr. Sibá Machado (Bloco/PT - AC) - ... ligações telefônicas.

A Srª Ideli Salvatti (Bloco/PT - SC) - Por exemplo, tive a oportunidade de mostrar ao Senador Sibá Machado, no material que se refere a V. Exª, na questão das interceptações telefônicas, a seguinte frase inicial: “Não há qualquer citação da Senadora Serys”. Depois, refere-se a duas escutas em que “há dúvidas sobre o que eles estão falando”, referindo-se a algo que aconteceu ou que vai acontecer. Ou seja, não há citação, há dúvida sobre as gravações em que aparece a questão de uma ambulância para um Município do Estado de V. Exª...

A SRª SERYS SLHESSARENKO (Bloco/PT - MT) - Não, não é uma ambulância não!

A Srª Ideli Salvatti (Bloco/PT - SC) - Nem sei o que é.

A SRª SERYS SLHESSARENKO (Bloco/P - MT) - Trata-se de uma possível emenda. Mas ninguém sabe para o que era. “Não dá para entender”, eles dizem bem assim.

A Srª Ideli Salvatti (Bloco/PT - SC) - Então, Senadora Serys, essa história da vala comum acaba nos colocando, nesse período eleitoral, em situação de um possível linchamento eletrônico. Estou, inclusive, preparada para falar a respeito da impunidade, de como a população se sente e como, talvez, ela tenha a necessidade de dar o troco agora nas urnas, fazendo, de repente, o papel de uma série de instituições que não estão dando conta de o fazerem adequadamente. No entanto, poderemos estar cometendo injustiças, como já as cometemos em outros períodos da história. Figuras como Ibsen Pinheiro e outros foram julgados, condenados e, posteriormente, descobriu-se que não havia qualquer tipo de envolvimento ou qualquer culpa. Então, essa questão do linchamento e o fato de a CPMI ter colocado sem diferenciação, sem graduação aquilo que encontrou a partir do trabalho realizado pela Controladoria-Geral da União, como os sorteios, pela Polícia Federal, como as escutas telefônicas, e pelo Ministério Público em Mato Grosso, o fato de haver nivelado dessa forma gera o risco da injustiça; é um risco impossível de não acontecer. A injustiça está posta já nesse procedimento do nivelamento. E temos aqui vários casos. Por isso, não poderia deixar de me manifestar, como já tive a oportunidade de fazê-lo tantas vezes em relação à defesa que V. Exª faz, com muita veemência, da sua honra e da sua honestidade.

A SRª SERYS SLHESSARENKO (Bloco/PT - MT) - Obrigada, Senadora.

Continuando, Srªs e Srs. Senadores, o que fica evidente é que a denúncia do réu sob delação premiada... Aliás, com relação à minha situação foram tantas as contradições: ele disse uma coisa, depois desdisse, depois disse novamente, depois desdisse outra vez, mas, como nada foi analisado, foi só colado ali, acredito que ele deverá perder o direito à delação premiada. Não sei dos outros casos, mas, com relação ao meu, já tenho subsídios suficientes do meu ponto de vista. Já concederei o aparte a V. Exª, Senador Sibá Machado.

O que fica evidente, como eu disse, é que a denúncia do réu confesso em delação premiada sem nenhuma prova foi o bastante para que a CPMI entendesse - vejam, Srªs e Srs. Senadores - que o meu mandato de Senadora, conquistado após 20 anos de luta, como resultado do apoio e da parceria de mais de 600 mil cidadãos de Mato Grosso, deva ser colocado em xeque.

Por isso, entendo que, mais do que acusada, sou, sim, uma vítima da irresponsabilidade daqueles que agiram de forma flagrantemente equivocada, na tentativa de arrastar o meu nome, o nome do meu Partido, o nome da minha família para dentro desse esquema sórdido. Se lutei até aqui para defender este mandato, não pensem que vou arredar pé desta batalha. Nunca me curvei ante as ameaças que recebi de todo tipo de criminosos e não será desta vez que vou me envergar.

Concedo o aparte ao Senador Sibá Machado.

O Sr. Sibá Machado (Bloco/PT - AC) - Senadora Serys, não gosto de revelar etapas do que ouvi em momentos de depoimento, mas, neste momento, sinto-me em condições para fazê-lo. Já passou essa etapa, já foi votado o relatório. Acho que agora nada mais é segredo. O Sr. Darci Vedoin fez questão de deixar claro para todos nós que não podia dar qualquer relação de nomes se ele não pudesse ter matéria comprobatória, até porque, em algum momento do depoimento, foi perguntado se ele conhecia determinados Parlamentares; quando ele começou a dizer que sim, foi indagado em que contexto ele conhecia esses Parlamentares; foi a partir desse momento que ele resolver dizer: “Não vou mais citar, porque posso falar algum nome que conheço da mídia, conheço porque vejo em algum lugar, trabalhando, mas com quem jamais estive. Pode ser entendido que os conheço nas condições da investigação”. Mas o Sr. Luiz Antônio deixou claro que, com alguns Parlamentares, parecia ter raiva pessoal; insistia em querer colocar o nome sem ter a prova material da participação do Parlamentar. Estou dizendo isso porque meu nome acabou sendo envolvido quando pedi ajuda a V. Exª para poder me locomover, pois cheguei um dia antes em Cuiabá. V. Exª me atendeu. No momento em que disseram que a reunião ia ser reservada, eu disse que três pessoas estavam comigo, assessores meus e outras pessoas, e perguntei se teriam de sair ou não da sala. Foi dito que não seria necessário. Aliás, em todas as CPIs, em alguns momentos do depoimento, algumas pessoas saem estrategicamente da sala, dizendo que vão tomar um cafezinho ou fazer alguma coisa, para dar entrevistas. Nessas entrevistas, dizem o que bem querem.

A SRª SERYS SLHESSARENKO (Bloco/PT - MT) - E a reunião é sigilosa.

O Sr. Sibá Machado (Bloco/PT - AC) - E, na hora em que dizem o que bem querem, acabam passando uma informação interessante, expondo-se melhor na mídia. Passam a ser uma pessoa interessante porque têm informações para dar. Saíram informações de dentro da reunião, que, tenho certeza, foram imputadas a mim, porque eu estava com uma pessoa do gabinete de V. Exª naquele momento. Sei que, a partir daquele momento, minha presença na CPMI e nada era a mesma coisa, porque imagino que havia esse tipo de entendimento contra mim. Em todos os momentos em que pude inquirir o Sr. Vedoin, eu fazia essas perguntas, e ele dizia: “Contra a pessoa tal, eu tenho”, “Isso eu fiz”, “Em tal momento, se forem ver, há um dinheiro que entreguei, um depósito bancário, uma cópia de cheque ou coisa parecida”. Contra alguns dos senhores - no caso, a Senadora Serys Slhessarenko e o Senador Magno Malta -, ele nunca teve absolutamente nada a dizer que tivesse uma relação, mas fazia questão de demonstrar certa raiva contra a Senadora e contra o Senador Magno Malta. Estranhou-me, pelo que foi dito nesta tarde, que a CPMI não tenha criado algo com consistência para absolver, ou para condenar, e o que era uma hipótese de relatoria. Para ser mais justo, ele deveria ter criado esse terceiro grupo. Deveria ter dito: “Imagino que as citações feitas sobre as pessoas tais e tais, embora não haja prova material, poderiam ser tratadas em outro lugar, com outro tipo de tratamento”, ou coisa parecida.

A SRª SERYS SLHESSARENKO (Bloco/PT - MT) - Sim, sim.

O Sr. Sibá Machado (Bloco/PT - AC) - Isso já nos teria deixado mais tranqüilos. Então, por essa situação toda, fiquei hoje muito preocupado com o desenrolar das CPIs. Sei que a opinião pública vem de lá para cá e não vem para brincar, quer uma resposta mais séria, mais contundente contra qualquer nome que for citado. Outra coisa é que, um nome, uma vez citado, ninguém quer saber por que foi citado, em que situação, se tem qualquer tipo de relação, se não tem relação nenhuma. Foi citado, está condenado, e acabou. Para todos os efeitos, ali hoje tem 72 nomes. Quero saber agora o que será feito pelo Conselho de Ética. Se fizer a correção - que penso que deverá ser feita -, vai dizer que a CPI fez, digamos assim, um trabalho sério; agora, é o Conselho de Ética que está fazendo aqui uma limpeza diária. Se for o Corregedor, considero do mesmo jeito. Então, a CPI tirou de seus ombros e jogou nos ombros de outrem, sem dar o direito de defesa, porque o direito de defesa foi pedido e não foi aceito nem analisado. Realmente, será muito complicado se não deixarmos de lado as paixões. Há fatos. Se há fatos comprovados, esse nome fica e acabou. Se não há fatos comprovados, paciência! Digam: esse nome foi citado, a situação foi essa, não tem matéria cabal para pedir qualquer tipo de condenação ou punição. Assim sendo, digo a V. Exª que o Senador Renan Calheiros tem agora essa matéria sob sua responsabilidade. No meu entendimento, deveria passar pela Corregedoria, porque os nomes tratados não estão no mesmo contexto dos demais nomes que, temos certeza, têm envolvimento. Assim, acredito que o Senador Romeu Tuma tem, e até acompanhou também em boa parte os trabalhos da CPI, condições totais para fazer um bom trabalho e isentar de fato e de direito os que não têm envolvimento, o que considero que é tão correto, que é a situação de V. Exª.

A SRª SERYS SLHESSARENKO (Bloco/PT - MT) - Com certeza. Obrigada, Senador Sibá. V. Exª coloca muito bem quando diz que precisamos, na verdade, separar o joio do trigo. Já disse aqui e direi pela terceira vez: tem muita gente, com certeza, comprometida até o fundo do poço. Mas, essa raiva... Eu até suponho o porquê, porque ele já mandou o recado para mim. Em maio, quando estourou a coisa, eu cheguei no meu Estado e me perguntaram o que eu achava dessa história da máfia. Eu falei que o lugar de bandido, seja ele parlamentar ou empresário, é na cadeia! Ele mandou um recado para mim: que eu não perdia por esperar. E, em julho, ele começou a fazer o meu inferno astral. Aí eu posso fazer o quê? Delação premiada pode dar nisso.

Mas, continuando, como eu dizia, não vou me vergar. Essa minha luta contra criminosos, do tipo que enfrento agora, é antiga, e, com certeza, me fez angariar muitos ódios ao longo de minha atuação parlamentar. Como já disse aqui, como Deputada Estadual, presidi, na Assembléia Legislativa de Mato Grosso, a CPI do Trabalho Escravo, que garantiu a libertação de milhares de trabalhadores submetidos a um regime de trabalho degradante em fazendas de grandes senhores do interior do Estado, que traziam, com os famigerados gatos, pessoas extremamente pobres de outros Estados para trabalhar nos longínquos rincões do nosso Estado, à época. Hoje, há mais condições de acesso por estradas etc. Traziam essas pessoas para trabalhar, sob o jugo e a tirania do trabalho escravo. Foram milhares que conseguimos libertar. Eu presidi uma CPI que ninguém tinha coragem de presidir. Eu fui às fazendas, junto com a Polícia, para retirar aquelas criaturas empobrecidas, totalmente destituídas de tudo, porque lhes tomavam até os documentos, para que não pudessem fugir da situação de escravidão que lhes era imposta. É claro que isso causa desagrado em alguns.

Participei também, ativamente, da CPMI da Terra, que, numa atitude corajosa, identificou e retomou terras públicas griladas por poderosos grupos econômicos e políticos de nosso Estado. Deu muito trabalho! Foram muitas as ameaças, mas resistimos, sempre na defesa do patrimônio público.

Comandei a CPI da Sonegação Fiscal, enfrentando, pela primeira vez, em Mato Grosso, o que na época foi chamada de “A Máfia do Fisco” e desmontando poderosas quadrilhas que atuavam nas estruturas de arrecadação do Estado.

Fui também eu, Serys, como o Senador Magno Malta já disse aqui, a Presidente da CPI do Narcotráfico, que, na Assembléia de Mato Grosso, pelas denúncias que levantou, acabou contribuindo e levando ao desbaratamento de organizações criminosas que, durante tanto tempo, aterrorizaram a sociedade mato-grossense.

Essa, Srªs e Srs Senadores, é a minha biografia. É por isso que essas quadrilhas não me suportam, Srª Presidente. É por isso que os Vedoins me atacaram, somente a mim, armando toda sorte de tramóias para tentar comprometer meu nome, minha história e a história da minha família.

Tenho quatro filhos: uma médica, um advogado, uma psicóloga e um engenheiro. Os quatro, Senadora, felizmente - alguns até dizem que é um defeito que eles têm -, extremamente estudiosos. Alguém que chegue a Mato Grosso e peça referência, em uma dessas categorias, de um filho ou de uma filha minha, tem as melhores referências. Não vou falar - ali há alguém fazendo sinal de positivo -, porque sou suspeita. Os quatro são pós-graduados em nível de mestrado, dois têm doutorado. Um deles já foi professor da PUC de São Paulo; outra é professora concursada da Universidade Federal de Mato Grosso. Eles são pessoas que hoje estão expostas, sem dó nem piedade, por uma delação premiada, por alguém que tem raiva da minha pessoa, por eu ter dito o que disse: o que pensava sobre como se deve qualificar alguém que monta um esquema tão mafioso e tão infame quanto esse. Todos eles estão expostos.

Tenho quatro netos, que não têm currículo para apresentar. Aliás, currículo eles têm, brilhante, mas não são ainda profissionais. A Marina, a Maria, o João Paulo e o Pedro têm currículos brilhantes! Os quatro, por incrível que pareça, são primeiros de turma em suas escolas. Esse é o currículo que eles têm por enquanto, até porque cursam as primeiras séries. Todos estão assustados.

Eu imaginava que, com toda a defesa que fiz, com toda a minha história registrada em Mato Grosso, encontraria, dentro da CPMI, Parlamentares isentos - lá os tivemos, sim, e já fiz referência a alguns -, que procurassem provas antes de condenar. É um absurdo, Senador Eduardo Suplicy, condenar sem provas: “Não há provas, mas está condenada”!

O SR. EDUARDO SUPLICY (Bloco/PT - SP) - V. Exª me permite um aparte?

A SRª SERYS SLHESSARENKO (Bloco/PT - MT) - Pois não, Senador.

O Sr. Eduardo Suplicy (Bloco/PT - SP) - Senadora Serys Slhessarenko, como V. Exª estava atenta à reunião da Comissão Parlamentar Mista de Inquérito e transmitiu-me que havia encaminhado ao Relator, Senador Amir Lando, sua documentação, avaliei importante que o Relatório da Comissão Parlamentar Mista de Inquérito pudesse conter exatamente todo o esclarecimento que V. Exª encaminhou à CPMI. E, obviamente, tal procedimento deve ser estendido aos demais. Mas notei que, no relatório, estão contidos os depoimentos do empresário Vedoin e de outros, mas não a defesa em que V. Exª esclarece os pontos que aqui está definindo. Na verdade, a sugestão foi acatada não apenas pelo Relator, mas como uma determinação do Presidente Antonio Carlos Biscaia. Ou seja, o relatório conterá, em anexo, a defesa de V. Exª, bem como os documentos que anexou, para que o Conselho de Ética e Decoro Parlamentar possa, da forma mais isenta, ouvindo as suas explicações, tomar a decisão que, acredito, esclarecerá inteiramente a maneira como V. Exª sempre tem procedido ao longo de sua vida, com a maior seriedade possível.

A SRª SERYS SLHESSARENKO (Bloco/PT - MT) - Obrigada, Senador.

Bendito Senador! Bendita a colocação que V. Exª fez no plenário da CPMI, porque, naquele momento, parece que ficou claro para todo mundo - de acordo com o que V. Exª acaba de afirmar - que as pessoas não estavam sequer sabendo que as defesas não tinham sido absolutamente consideradas. A partir do momento em que V. Exª fez o questionamento... Não sei se é isso mesmo, porque não assisti à reunião, mas, pelo que estou entendendo, até aquele momento, as pessoas não sabiam que as defesas não tinham sido consideradas. E isso, para mim, parece cada vez mais grave.

O que quero hoje, o que exijo hoje, pela importância dessa CPMI para pegar aqueles que têm conta a ajustar com a sociedade, é que se investigue tudo, e muito rápido - e muito rápido! -, porque, como disse a Senadora Ideli, a sociedade está sedenta de saber, mas a sociedade quer saber a verdade. A sociedade não quer saber se todo mundo está numa vala daqueles que são o joio; a sociedade quer saber, sim, quem é joio e quem é trigo, porque ela precisa de trigo, sim. E quem está passando por uma investigação, que presta contas à sociedade, como eu estou passando e prestando, com todos os meus sigilos de toda a minha história de vida e os da minha família quebrados: fiscal, bancário, telefônico etc., com certidão do Supremo Tribunal Federal, com certidão da Procuradoria-Geral da República e com certidão do Tribunal Regional Eleitoral de Mato Grosso... É uma vida que está totalmente em cima da mesa para quem quiser ver. E eu quero que vejam. Eu quero que todos vejam, porque eu sou trigo e não permito que me misturem com o joio. Já disse aqui algumas vezes que, se a dor que eu e minha família estamos sentindo servir para punir e tirar da vida política deste País o joio, valeu a pena. Ma eu sou trigo. Como eu dizia, não pensei que pudesse eu, sem nenhuma prova, sem nenhuma denúncia direta contra a minha pessoa e sem nenhuma prova - isso dito lá na CPMI - estar sendo condenada e exposta dessa forma ante os olhos da população. Que pelo menos fossem capazes de respeitar o direito, consagrado universalmente, do contraditório! Acabaram, no entanto, produzindo, com relação a algumas pessoas, um verdadeiro tribunal de exceção.

Quero, daqui para frente, sossegar os meus eleitores e todos aqueles que, em Mato Grosso, me conhecendo, sempre confiaram na minha pessoa. Já que a CPMI não teve tempo e, pelo jeito, nem interesse e responsabilidade para apreciar a minha defesa, tenho certeza de que na Corregedoria do Senado, na Comissão de Ética ou no que quer que seja, tudo vai ficar muito esclarecido. Os criminosos que contra mim se levantam não vão vencer, estejam certos disto. O Senador Magno Malta disse isto aqui esses dias, e eu vou repetir: a não ser que me matem. De outra forma, não me vergarei e não me vencerão!

Eu tinha até vontade de saber quantos Parlamentares, Senadora Heloísa Helena, desses que estão nessa cumbuca, aí, têm, em seus Estados, combatido permanentemente, depois de denunciados - porque antes era até possível -, todos os dias, esse tipo de crime; se alguns fizeram isso. Eu tinha vontade de saber. Porque cada vez que eu interpelo a imprensa, há alguém falando: “Ah, não achamos, não encontrei, não deu”. E eu sempre falo e sempre combato, e não vou desistir. Como já disse, não sou filha de pai assustado, não tenho medo e não me vergo. Agora, há uns que se calam quase que permanentemente.

Eu sempre estive preparada para esse tipo de batalha. E tenho certeza de que não terei um minuto de vacilação. Sou Senadora, sou candidata ao governo de Mato Grosso. Bem sei também, minha Líder, Senadora Ideli Salvatti, que por trás de toda essa armação está a sórdida tentativa de me afastar, Senadora Heloísa Helena, da disputa pelo governo do meu Estado, porque meus adversários, o que mais temem é a minha vitória nessa disputa. E, para eles, para alguns, é inadmissível. Simplesmente uma mulher, pequenininha, como eles falam. E ainda dizem mais: “Uma mulherzinha, uma mulher pequenininha, professora, mãe de quatro filhos, querer ser governadora do Estado!” Dizem isto para mim seguidamente: “Você é muito abusada! Você é muito audaciosa!”

Aliás, eles estão muito felizes com esta situação, estão numa torcida insana. Já mandaram recado diretamente por familiares meus: “Retire a sua candidatura que acaba tudo agora!” Vêm me mandando recados há dias: “O delator nem vai mais delatar. Acabou! Retire a sua candidatura que acaba tudo”.

Não retiro. Eu sou vítima de uma armação que vem de várias bandas, não é de uma só.

Agradeço as centenas e centenas de manifestações de solidariedade que me têm sido feitas, pessoalmente, por telefone, por e-mail, tanto da gente de Mato Grosso, de companheiros militantes e simpatizantes do PT, como de pessoas do povo de todas as partes do Brasil. Esse é o melhor respaldo.

Para minha resistência, Senadora que preside, ao andar pelas ruas, ao andar numa feira, sou quase amassada de tantos abraços de solidariedade. E isso me alegra, e isso me conforta, e isso me faz entender que homens e mulheres de Mato Grosso me conhecem.

Para finalizar, Senadora, quero dizer que vou à luta, às últimas conseqüências. Essa é uma tentativa de condenação política, de linchamento político. Isso tem nome: é linchamento político. Mas eu tenho coragem de sobra para encarar linchamento político, pois já encarei vários, um mais difícil do que o outro - no mínimo, dois piores do que esse -, nos últimos 16 anos. E, nos últimos 16 anos, não fiquei nem um dia sem mandato. Ou seja, a cada véspera de eleição, é um bombardeio ferrenho e feroz contra a minha pessoa. E a vitória vem.

Para o Senado, na véspera, no sábado, havia sete candidatos. Numa pesquisa, eu era a quinta colocada; na outra, era a sexta colocada; e, na outra, era a sétima colocada. Também tinham me torpedeado com uma infinidade de questões tão horríveis que esta aqui parece colírio nos olhos. Passou só uma noite, de sábado para domingo, e ganhei a eleição para o Senado. Eu era a quinta numa pesquisa, a sexta em outra, e a sétima numa outra, mas se passou só uma noite e eu ganhei a eleição para o Senado. Aquela mulherzinha pequenininha, que não fez nenhum comício porque não tinha dinheiro para armar um palanque ou para contratar um som, ganhou a eleição. O povo sabe, o povo é sábio.

Com relação às medidas que vou tomar, meus advogados estão estudando todas as possíveis e imagináveis, e todas as que tiverem algum respaldo, sem exceção, serão adotadas. Chega de impunidade!

Finalizando, de verdade, Senadora, e agradecendo toda a sua paciência, invoco as palavras de Martin Luther King: “Não me preocupa a gritaria dos maus, mas sim o silêncio dos bons”. E eu disse isso aqui para reafirmar que os bons em Mato Grosso não estão em silêncio, os bons em Mato Grosso estão em gritaria, porque não aceitam o que estão fazendo com a Senadora que elegeram - aliás, a primeira mulher eleita Senadora na história de Mato Grosso.

Muito obrigada.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 11/08/2006 - Página 26586