Discurso durante a 135ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

Comentário sobre o livro "O Relatório da CIA", que apresenta os cenários desenhados pela agência de inteligência dos Estados Unidos para a situação internacional nos próximos anos.

Autor
Sibá Machado (PT - Partido dos Trabalhadores/AC)
Nome completo: Sebastião Machado Oliveira
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
POLITICA DE DESENVOLVIMENTO.:
  • Comentário sobre o livro "O Relatório da CIA", que apresenta os cenários desenhados pela agência de inteligência dos Estados Unidos para a situação internacional nos próximos anos.
Aparteantes
Heráclito Fortes.
Publicação
Publicação no DSF de 18/08/2006 - Página 27131
Assunto
Outros > POLITICA DE DESENVOLVIMENTO.
Indexação
  • RETOMADA, COMENTARIO, PUBLICAÇÃO, RELATORIO, CENTRO DE INTELIGENCIA, PAIS ESTRANGEIRO, ESTADOS UNIDOS DA AMERICA (EUA), LEITURA, TRECHO, ESPECULAÇÃO, FUTURO, MUNDO, PREVISÃO, LIDERANÇA, BRASIL, ANALISE, GLOBALIZAÇÃO, AUMENTO, PARTICIPAÇÃO, CONTINENTE, ASIA, IMPORTANCIA, DESENVOLVIMENTO TECNOLOGICO.
  • ANALISE, TEXTO, AVALIAÇÃO, DEMOCRACIA, ECONOMIA, CRIATIVIDADE, BRASIL, BUSCA, DISTRIBUIÇÃO DE RENDA, AUSENCIA, INVESTIMENTO, ARMAMENTO NUCLEAR, VANTAGENS, DISPONIBILIDADE, ENERGIA, IMPORTANCIA, POLITICA DE DESENVOLVIMENTO, APROVEITAMENTO, RECURSOS NATURAIS, ELOGIO, PROGRAMA, FONTE ALTERNATIVA DE ENERGIA, SAUDAÇÃO, ORADOR, EXTINÇÃO, PROCESSO, PRIVATIZAÇÃO, DEFESA, PLANEJAMENTO, DESENVOLVIMENTO NACIONAL, INCENTIVO, EDUCAÇÃO, AMPLIAÇÃO, POLITICA SOCIAL.

O SR. SIBÁ MACHADO (Bloco/PT - AC. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, ontem e na semana passada, tentei aqui fazer o que imagino ser o dever de casa do nosso País frente aos desafios do futuro do mundo, a relação entre os países e os povos. Hoje volto com a avaliação do que foi a leitura que fiz de O Relatório da CIA, em que se mostram cenários - segundo a inteligência americana - de como será o mundo em 2020. E o texto coloca: “Onde estará o Brasil em 2020?”, uma pergunta. “Brasil, planejamento e liderança”, isso seria o título de artigo que inclusive pretendo publicar.

Trata da seguinte maneira, Sr. Presidente: “Brasil - o País do futuro”. Um sonho simplório. Cantado e decantado. Repetido resignadamente diante da timidez de nossa presença mundial. Uma ilusionista tentativa de explicar por que, apesar de toda nossa riqueza natural, continuávamos patinando no interminável lodo do subdesenvolvimento.

Nas livrarias, nesse momento, encontramos um livro intitulado O Relatório da CIA - como será o mundo em 2020, da Editora Ediouro, que nos diz que aquele sonho simplório pode deixar de ser apenas uma visão ufanista. Depende de compreendermos e aceitarmos o desafio de iniciar o futuro no presente.

O Relatório, preparado pelo Centro Nacional de Inteligência dos Estados Unidos, é a visão dos americanos do norte de como poderemos encontrar o mundo no ano de 2020. Analisa quatro cenários possíveis.

Em se tratando de Estados Unidos da América do Norte, a preocupação que principalmente norteia o trabalho é a liderança mundial. Quem dominará o mundo? Que países serão os líderes? Como se exercerá essa liderança?

Avaliam o avanço do islamismo e suas conseqüências. Analisam a possibilidade de problemas regionais se alastrarem para outras regiões e se transformarem em conflitos generalizados. Num outro extremo, avaliam a possibilidade de uma “Pax Americana”, cenário no qual os Estados Unidos da América tentariam ser a polícia do mundo. Mas, fundamentalmente, avaliam cenários intermediários em que prevaleceria a globalização. Nesses cenários, as interdependências entre países seriam muito mais complexas.

Eles até admitem que haverá inevitavelmente uma mudança da globalização e do capitalismo mundial de um rosto mais americano para um rosto mais asiático.

No prefácio, analistas avaliam - e aqui é Heródoto Barbeiro, e gostei muito da sua contribuição - que o mundo de 2020 poderá ser uma combinação dos cenários estudados e outros cenários não avaliados.

Como brasileiro, nossa grande curiosidade é saber como o Brasil estará colocado nesses cenários.

O Relatório prevê que, em 2020, as atuais potencias, chamadas de G-8, continuarão a dominar o mundo. A esse pequeno clube deverão ter acesso apenas mais uns poucos países. Além de China e Índia, que certamente estarão entre os líderes mundiais, também são candidatos a Indonésia, a África do Sul e o nosso Brasil.

O Sr. Heráclito Fortes (PFL - PI) - Senador Sibá Machado, V. Exª me permite um aparte?

O SR. SIBÁ MACHADO (Bloco/PT - AC) - Só um instante para que eu possa concluir o meu pensamento.

Cito aqui parte do livro:

Da mesma maneira que os analistas se referem ao século XX como ‘o século americano’, o começo do século XXI pode ser visto como o momento em que alguns países em desenvolvimento - liderados pela China e pela Índia - chegarem à maturidade econômica.”...“As potências ‘novatas’ - China, Índia e talvez outras, como Brasil e Indonésia - podem promover novos alinhamentos internacionais, marcando um rompimento definitivo com algumas práticas e instituições pós-Segunda Guerra Mundial.”...“Apenas um revés abrupto do processo de globalização ou uma crise maior nesses países impediria sua ascensão”.

         Sempre segundo o Relatório, em 2020, Brasil, Indonésia e África do Sul, estarão dentre os líderes mundiais dependendo da superação de situações atuais.

         Atualmente, ao procurar ampliar seus parceiros comerciais e “promover novos alinhamentos internacionais”, o Brasil já trilha esse novo caminho.

Em determinado momento, o livro avalia o seguinte:

“A distância entre os países ricos e pobres deve aumentar, uma vez que os maiores benefícios da globalização irão para os países e grupos que podem acessar e adotar novas tecnologias. De fato, o potencial de conquistas tecnológicas de um país será definido em termos de investimentos no sentido de integrar e aplicar as novas tecnologias disponíveis globalmente.”...“As nações que ficarem para trás na adoção de tecnologias tendem a ser as que fracassaram anteriormente na aplicação de políticas que estimulem o uso de novas tecnologias”.

Ouço V. Exª.

O Sr. Heráclito Fortes (PFL - PI) - Senador Sibá Machado, V. Exª está lendo um relatório de autoria de quem?

O SR. SIBÁ MACHADO (Bloco/PT - AC) - Da CIA.

O Sr. Heráclito Fortes (PFL - PI) - Da CIA?

O SR. SIBÁ MACHADO (Bloco/PT - AC) - Sim.

O Sr. Heráclito Fortes (PFL - PI) - Outro dia, a Líder do Governo pediu para ouvir opinião de jornalista, sabendo de antemão que jornalista não tem direito de usar da tribuna a não ser que se eleja. Meu caro jornalista Fonseca, decano da imprensa nesta Casa, eu gostaria que V. Sª, como testemunha ocular da História do Brasil, nos últimos trinta anos, examinasse o que estamos vendo aqui hoje e verificasse a que está reduzido o Partido dos Trabalhadores. O PT, que sempre condenou os americanos, o imperialismo, faz agora apologia de um Relatório da CIA e nele se baseia para os seus próximos passos. Senador Geraldo Mesquita Júnior, não há estrela que se segure no alto com um discurso desses. Senador Sibá Machado, o Palácio não está sendo correto com V. Exª. Está lhe mandando, na pauta, discursos que não ficam bem para um revolucionário como V. Exª, que, no passado, lutou por terras, subiu no tamborete e correu o risco de ser tragado pelas águas das barragens no Norte do País. V. Exª está reduzido a leitor de um Relatório da CIA no plenário do Senado da República. Vou-lhe recomendar: fale baixinho para Fidel Castro não ouvir. O velho está se recuperando da operação, está com a saúde abalada. Quando ele souber que o Governo do companheiro Lula, do camarada Lula está se baseando em Relatório da CIA, mas fale mais baixo ainda...

O SR. SIBÁ MACHADO (Bloco/PT - AC) - Senador Heráclito Fortes, permita-me só um instante.

O Sr. Heráclito Fortes (PFL - PI) -..., pois o Presidente Hugo Chávez é truculento. Se ele souber que o Governo do PT se baseia...

O SR. SIBÁ MACHADO (Bloco/PT - AC) - Senador Heráclito Fortes, só um minuto.

O Sr. Heráclito Fortes (PFL - PI) - Pois não.

O SR. SIBÁ MACHADO (Bloco/PT - AC) - A forma como V. Exª está falando está ferindo minha pessoa. Acho que, se mantivermos o debate num nível elevado... Sempre concordei, nunca fugi e não fugirei do debate, mas acho que neste momento V. Exª me trata de uma forma muito preconceituosa.

O Sr. Heráclito Fortes (PFL - PI) - Não, de maneira nenhuma!

O SR. SIBÁ MACHADO (Bloco/PT - AC) - Acho injusta a forma com que V. Exª está me tratando neste momento.

O Sr. Heráclito Fortes (PFL - PI) - Não, de maneira nenhuma!

O SR. SIBÁ MACHADO (Bloco/PT - AC) - Não? Eu estou achando. Eu acho que aí desqualifica demais.

O Sr. Heráclito Fortes (PFL - PI) - Não, de maneira nenhuma!

O SR. SIBÁ MACHADO (Bloco/PT - AC) - Deixe-me concluir meu pensamento.

Podemos voltar ao debate, mas no nível anterior. Aceito o debate, mas no nível anterior.

O Sr. Heráclito Fortes (PFL - PI) - Então V. Exª cassa o aparte que tinha me concedido?

O SR. SIBÁ MACHADO (Bloco/PT - AC) - Não, só estou lhe dizendo que V. Exª está me ferindo.

O Sr. Heráclito Fortes (PFL - PI) - V. Exª está lendo o Relatório da CIA ou não está, prevendo o que o Brasil vai ser daqui a 20 anos?

O SR. SIBÁ MACHADO (Bloco/PT - AC) - Prefiro concluir minha leitura e voltamos para o debate...

O Sr. Heráclito Fortes (PFL - PI) - Por que a gente não lê o relatório do Governo Lula sobre as perspectivas brasileiras?

O SR. SIBÁ MACHADO (Bloco/PT - AC) - ... mas vamos voltar em outro nível, em outro patamar. Nesse patamar é complicado.

Eu quero respeitar todos os Senadores nesta Casa.

O Sr. Heráclito Fortes (PFL - PI) - Senador Sibá...

O SR. SIBÁ MACHADO (Bloco/PT - AC) - V. Exª me trata de uma forma que não posso aceitar.

O Sr. Heráclito Fortes (PFL - PI) - Eu estou preocupado com a saúde do Fidel.

O SR. SIBÁ MACHADO (Bloco/PT - AC) - Não posso aceitar essa maneira, infelizmente.

O Sr. Heráclito Fortes (PFL - PI) - Fidel, se souber disso, se zanga, rompe. Por menos disso, Hugo Chávez rompeu com Israel.

O SR. SIBÁ MACHADO (Bloco/PT - AC) - V. Exª está me tratando aqui como um garoto.

O Sr. Heráclito Fortes (PFL - PI) - Não, pelo contrário.

O SR. SIBÁ MACHADO (Bloco/PT - AC) - Eu tenho 48 anos de idade e sei da responsabilidade do meu mandato, que me foi conferido pela vontade do povo do Acre...

O Sr. Heráclito Fortes (PFL - PI) - Da Senadora Marina Silva.

O SR. SIBÁ MACHADO (Bloco/PT - AC) -... e da nossa aliança política.

O Sr. Heráclito Fortes (PFL - PI) - E V. Exª tem honrado muito as ceroulas.

O SR. SIBÁ MACHADO (Bloco/PT - AC) - Eu quero vir para cá com isso.

O Sr. Heráclito Fortes (PFL - PI) - E V. Exª tem honrado...

O SR. SIBÁ MACHADO (Bloco/PT - AC) - Quero vir para cá com isso. Ao fazer a defesa do Governo, eu o faço por convicções e não recebo recado de ninguém. Aliás,...

O Sr. Heráclito Fortes (PFL - PI) - V. Exª, infelizmente, não está fazendo defesa do Governo.

O SR. SIBÁ MACHADO (Bloco/PT - AC) - Sou um rebelde por natureza. Se eu sentir que as pessoas querem me ferir...

Podem me enganar à vontade, mas, se eu sentir que é para me ferir, aí sei brigar também.

O Sr. Heráclito Fortes (PFL - PI) - V. Exª...

O SR. SIBÁ MACHADO (Bloco/PT - AC) - Eu não posso ser tratado dessa maneira!

O Sr. Heráclito Fortes (PFL - PI) - Espera aí, V. Exª não recebeu do Palácio a incumbência de fazer esse discurso? (Pausa.) Peço desculpa a V. Exª se não recebeu do Palácio a incumbência...

O SR. SIBÁ MACHADO (Bloco/PT - AC) - Nenhum pronunciamento meu pode ser tratado como menino de recado, porque temos entre nós o princípio do diálogo; nós dialogamos, conversamos, comentamos, mas cada um de nós aqui tem de ser respeitado dentro da sua capacidade pessoal.

O Sr. Heráclito Fortes (PFL - PI) - Senador Sibá, eu vou fazer...

O SR. SIBÁ MACHADO (Bloco/PT - AC) - Eu fiz uma leitura de um livro há 30 dias. Tão logo o vi na livraria - era lançamento -, gostei, li, achei-o, de certa forma, importante para uma avaliação sobre os procedimentos que o nosso País está adotando.

Tenho feito, da maneira que posso fazer, uma defesa da política externa do Presidente Lula, porque a considero uma política soberana e respeitosa com os ideais do nosso povo.

Faço essa defesa por convicção. As relações exteriores do Brasil são as melhores de que tenho conhecimento. Ontem falei a respeito do ex-Presidente Getúlio Vargas, sobre quem tenho duas visões. A primeira, foi a de abominá-lo por ter sido um ditador, aquele que mandou prender Olga Benário e a entregou a Hitler. Depois, aprendi que Getúlio Vargas foi um pensador do futuro do País e que pensou em nunca dar as mãos aos interesses norte-americanos. Faço essa defesa por convicção.

Também sou um leitor, gosto da leitura e leio muito. Tive dificuldade de estudar na minha vida, mas rompi essas amarras e hoje trabalho brilhantemente, fazendo o que posso para honrar o mandato que me foi conferido.

V. Exª foi injusto comigo ao me tratar dessa maneira.

O Sr. Heráclito Fortes (PFL - PI) - Peço desculpas a V. Exª. Não tenho compromisso com o erro. Quero pedir desculpas a V. Exª. Se V. Exª comprou o livro na livraria...

O SR. SIBÁ MACHADO (Bloco/PT - AC) - Como faço mensalmente. Ao receber o salário do Senado, compro livros, os leio e os passo a outras pessoas, porque acho que esse intercâmbio é bom para todos mantermos o espírito do diálogo e do respeito.

O Sr. Heráclito Fortes (PFL - PI) - Senador Sibá Machado, retiro o que disse. O Palácio não lhe mandou nada, foi V. Exª quem fez isso.

O SR. SIBÁ MACHADO (Bloco/PT - AC) - Foi, por vontade minha.

O Sr. Heráclito Fortes (PFL - PI) - Veja como o PT mudou. O PT do passado, se visse...

O SR. SIBÁ MACHADO (Bloco/PT - AC) - Não. Se V. Exª faz uma crítica à minha pessoa por estar com a estrela vermelha e comentar um livro que é parte de uma pesquisa do Centro de Inteligência do Governo Norte-Americano, aceito essa observação de V. Exª. Essa observação eu aceito.

O Sr. Heráclito Fortes (PFL - PI) - V. Exª tem a sorte de o PT de hoje não ser mais aquele. O PT de antigamente, após um discurso desses dessa tribuna, levaria V. Exª para o Conselho de Ética e lhe puxaria as orelhas, porque não iam admitir que se contrariasse, de maneira nenhuma, a luta do Fidel. Aliás, o Fidel foi quem deu proteção a brasileiros do PT e fez treinamento com vários deles, simbolizados pela figura do Sr. José Dirceu. É uma ofensa a Fidel Castro, a Hugo Chávez e a Evo Morales, e aí é uma incoerência. Agora, V. Exª perdoar o Getúlio Vargas é a mesma coisa de Lula perdoar o Newton Cardoso. É só questão de tempo e de espaço, de hora e de lugar.

O SR. SIBÁ MACHADO (Bloco/PT - AC) - Não, eu não estou aqui dizendo que estou perdoando Getúlio Vargas.

O Sr. Heráclito Fortes (PFL - PI) - Não! V. Exª perdoou. E citou Olga Benário.

O SR. SIBÁ MACHADO (Bloco/PT - AC) - Aprendi a ter outra visão sobre ele, o que não o exime das mazelas praticadas contra aqueles que perderam os seus direitos civis e políticos, cassados por ele.

O Sr. Heráclito Fortes (PFL - PI) - Eu vou encerrar. V. Exª falou sobre Getúlio Vargas. Vou falar daqui a pouco sobre Jânio Quadros.

O SR. SIBÁ MACHADO (Bloco/PT - AC) - Inclusive, quero até aproveitar a oportunidade para dizer que, por conta do falecimento de um ex-ditador do Paraguai, o nosso País, que acho que já cumpriu com a sua missão cidadã de dar asilo - não sei nem se é político ou qual caráter tem -, já deu a sua cota de respeito à pessoa humana. Agora, espero que não passe de mais nada disso, porque isso não o exime daquilo que ele praticou...

O Sr. Heráclito Fortes (PFL - PI) - Olha o que V. Exª está dizendo.

O SR. SIBÁ MACHADO (Bloco/PT - AC) - ...como eu acho que o povo chileno, em relação a Pinochet, tudo isso... Não defendo que se faça aqui uma espécie de caça às bruxas, de desenterrar coisas do passado, isso não é preciso. Mas não aceito também que se trate essas pessoas como se nada tivesse acontecido. Isso também não posso aceitar, porque muitos jovens perderam a vida, e não exime Getúlio Vargas de ter cerceado o direito de pessoas que, naquela época, lutaram tanto por um ponto de vista diferenciado de seu modo de pensar.

O Sr. Heráclito Fortes (PFL - PI) - Senador Sibá Machado, cuidado com o que diz a respeito do Pinochet, que o Partido de V. Exª pode ter mandado um representante aos funerais - do Pinochet, não; do Stroessner.

O SR. SIBÁ MACHADO (Bloco/PT - AC) - Espero que isso não tenha acontecido.

O Sr. Heráclito Fortes (PFL - PI) - Veja bem o que V. Exª está dizendo. Agora, eu estou prejudicando a Nação...

O SR. SIBÁ MACHADO (Bloco/PT - AC) - Eu espero que isso não tenha acontecido.

O Sr. Heráclito Fortes (PFL - PI) -... e peço desculpas ao Brasil, que nos ouve. Eu quero me deleitar com essa apologia que V. Exª faz da CIA, desse livro que V. Exª comprou, como faz todo mês. Eu gostaria que V. Exª continuasse esse discurso, pois acho que ele é histórico e mostra exatamente as duas faces do PT. V. Exª mostra, com isso, que tem pensamento próprio e que sua linha é essa. Afinal de contas, a CIA é de um país que tem uma freira assassinada barbaramente em terras brasileiras, e o Brasil deve satisfações à opinião pública sobre aquele episódio. Então, eu quero parabenizar V. Exª pelo discurso que faz sobre a CIA, aquela que V. Exªs acusavam que nos fiscalizava e, com um satélite, procurava saber das nossas riquezas. Parabéns a V. Exª, um petista do novo tempo, que está com o olho voltado para o futuro. Parabéns! Continue e vou ouvi-lo com muita atenção.

O SR. SIBÁ MACHADO (Bloco/PT - AC) - Obrigado. Então, volto ao texto, Sr. Presidente.

Em resumo, a capacidade de desenvolver e apropriar novas tecnologias seria uma espécie de “linha de corte” a dividir os países entre aqueles já desenvolvidos ou com grande potencial de desenvolvimento e aqueles condenados a um eterno subdesenvolvimento.

Dentro da preocupação americana de dominação mundial, dada a avaliação de que China e Índia serão as novas potências, o livro se detém muito a analisar o potencial e a velocidade do crescimento desses dois gigantes. Os outros países são pouco citados.

Em referência explícita ao Brasil, diz o seguinte:

Os especialistas reconhecem que o Brasil é um país-pivô com sua vibrante democracia, uma economia diversificada e uma população empreendedora, um grande patrimônio nacional e sólidas instituições. O sucesso ou fracasso do Brasil em equilibrar as medidas econômicas pró-crescimento com uma agenda social ambiciosa, que busca reduzir a pobreza e igualar a distribuição de renda, terá um profundo impacto no desempenho econômico e político da região (América Latina) nos próximos 14 anos.

Ou seja, mesmo numa análise visando a um mundo cada vez mais globalizado, a probabilidade de o Brasil ascender à liderança mundial dependerá da capacidade de combater as desigualdades sociais e de superar a absurda concentração de riquezas nos próximos anos.

Um outro dado relevante é a importância que o Relatório dá ao poderio militar de cada país. Além do poder econômico e do gigantismo do mercado, no caso de China, Índia e Indonésia, um elemento que muito pesa na análise é o volume dos investimentos na área militar, principalmente na construção de artefatos bélicos nucleares.

O Brasil é o único país incluído entre os possíveis líderes que não é citado por seu poderio ou investimentos militares.

Não se prevê escassez de energia no mundo em 2020. Entretanto, para manter seu crescimento, o consumo de energia dos países desenvolvidos, principalmente China e Índia, deverá crescer em mais de 100% até 2020. São todos países dependentes de energia importada.

Estados Unidos, Europa e Japão já consumiram todas as suas reservas de energia. Queimaram florestas, esgotaram o potencial hidráulico. Exploraram as reservas de gás e petróleo. E as reservas de carvão restantes encontram-se muito comprometidas.

Tem muito pouca insolação anual nesses países e as fontes alternativas de que dispõem, como ventos e combustíveis verdes, ou são muito tímidas ou também estão exploradas quase ao limite de sua capacidade.

China, Índia e Indonésia, dado o ritmo de seu crescimento, também são absolutamente dependentes de combustíveis importados.

O Brasil, por sua vez, tem potencial que o coloca em situação incomparavelmente mais confortável. Apesar de criminosas devastações, ainda possui as maiores florestas do globo. Não explorou todo o potencial hidráulico. Desenvolve e domina tecnologias inovadoras. Tem terras, água e sol em abundância. Conseguiu conquistar uma segura auto-suficiência na área de petróleo que ultrapassará o período do Relatório (14 anos). Tem reservas de gás para garantir o abastecimento de seu mercado por um período de tempo que também ultrapassa os limites do Relatório.

Entretanto, não basta o Brasil ser tão privilegiado pela natureza se não houver determinação política para explorar esse potencial em prol de seu próprio crescimento.

O Brasil sempre foi riquíssimo. Sempre foi destaque mundial em recursos naturais e, no passado, foi líder mundial na produção de produtos da maior relevância, como açúcar, café, cacau, borracha e outros. Mas essa riqueza sempre nos foi saqueada. Nunca foi usada de forma séria e inteligente para desenvolver o País, assim como nunca serviu para melhorar a vida de nosso povo.

Até recentemente, desprezavam e desmontaram todos os órgãos de planejamento do Estado brasileiro. Pregavam que o País deveria privatizar todos os seus recursos.

Se aquela ideologia continuasse a vigorar, teríamos jogado fora a única possibilidade de integrar o restrito clube dos países desenvolvidos.

Atualmente, houve a compreensão da importância do planejamento, do investimento, do domínio e da aplicação de tecnologia de ponta.

Na área energética, o Brasil é destaque mundial no desenvolvimento de tecnologia.

Programas como Biodiesel, H-bio, Álcool Combustível, Proinfa (Programa de Incentivos às Fontes Alternativas de Energia Elétrica), de Eficiência Energética e outros, que são programas de governo e/ou da iniciativa privada, incentivados e implementados principalmente no atual Governo, colocam o Brasil em destaque mundial e, definitivamente, abrem as portas para um desenvolvimento sustentado e sustentável.

Assim, enquanto todos os outros países conquistam a posição de líderes mundiais contando com seu poderia bélico, ou seja, por seu poder de destruição, o Brasil conquista essa mesma posição por sua capacidade de produzir energia de forma sustentável, em respeito à vida e ao Planeta Terra.

Não é possível esperar 2020 chegar para se tomar providências para realizar concretamente o potencial de liderança. Há que se compreender o desafio, planejar e construir 2020 desde já. Para o Brasil, 2020 é aqui e agora.

         Encerrando, Sr. Presidente, e agradecendo a tolerância de V. Exª, volto ao seguinte comentário: o Relatório, é claro, foi feito por um grupo de pesquisadores de universidades de vários países. Alguns deles eu já havia lido, como é o caso de Peter Schwartz, que escreveu “A arte da previsão - planejando o futuro e um mundo de incertezas”. Eu li esse livro alguns anos atrás, quando ele trabalhava para diversas empresas multinacionais. No livro ele expõe o que acha quais serão os cenários futuros muito prováveis. Trabalhava para a Shell, e, segundo seu estudo, tirou a Shell da oitava posição mundial em petróleo para a segunda ou terceira posição.

Trata-se de pessoas que já trabalham com esse cenário. Se nós levaremos a sério o Relatório da CIA ou não, é outra discussão. Trato aqui de um pensamento de como serão esses cenários, alguns dos quais estão em franco desenvolvimento.

Então, imagino que, no nosso País, onde foi implantado o sistema interligado de energia elétrica, que junta todas as Regiões brasileiras, no momento em que uma região tem chuva, a outra tem sol, ou seja, uma compensando a outra. Com a produção da cana-de-açúcar, podemos usar o bagaço da cana; com uma boa safra da principal agricultura de exportação brasileira, que é a soja, podemos usá-la. Pode ser a mamona, cuja produção está sendo incentivada, ou pode ser o dendê, cuja produção está sendo incentivada lá na Amazônia.

Pode-se ter a compensação de geração com diversas fontes.

Então, o Brasil não precisa recorrer, em nosso entendimento, àquilo que outros países inevitavelmente terão que recorrer. Ou recorrerão a nossas tecnologias limpas de uso de biomassa, ou vão recorrer àquelas tecnologias que em algum momento parecia que não queriam mais, como é o caso da energia nuclear.

Investimento no ensino superior.

Temos que represar aqui no Brasil a nossa própria inteligência. Eu li em algum lugar que, quando os aliados invadiram as ruas de Berlim na Segunda Guerra Mundial, soldados russos perderam tempo indo aos museus pegar peças antigas, enquanto os americanos foram exatamente onde estavam escondidos os grandes inteligentes indivíduos do Exército alemão e os levaram para os Estados Unidos. Daí nasceu o princípio do foguete e tantas outras inovações que marcaram a Era Espacial. Então, reter inteligência é muito importante, e eu vejo hoje o esforço do Governo em potencializar as universidades...

O Sr. Heráclito Fortes (PFL - PI) - Não deixe de citar o combate à fome para seu pronunciamento ficar completo, Senador.

O SR. SIBÁ MACHADO (Bloco/PT - AC) - Já chego lá. Vou já conceder o aparte a V. Exª.

O SR. PRESIDENTE (Geraldo Mesquita Júnior. PMDB - AC) - Solicito que o Senador Sibá Machado conclua seu discurso.

O SR. SIBÁ MACHADO (Bloco/PT - AC) - Já vou concluir.

Investimentos sociais.

Os investimentos sociais são para reduzir essas distâncias. Eu também discordo de que o País pare no Bolsa-Família. Eu discordo e acho que todos discordam, mas é uma porta de entrada, nós não temos outro caminho a não ser fazer chegar o pão na mesa de quem não tem. O errado é ficar sempre assim. Então, nós temos que buscar investimentos para que um dia a gente saia disso. O programa não é para manter as pessoas dependentes do Bolsa-Família. O programa é o ponto de partida. Há também a questão do investimento em salário mínimo, investimento em crédito e da facilitação de acesso a esses investimentos.

No desenvolvimento do Brasil - e aí vou encerrar - há um debate muito grande.

Ontem, vi uma reportagem que me chamou a atenção, pois gosto dessa linha de pensamento. Refiro-me aos grandes centros de produção de petróleo no Brasil. A reportagem fez alusão a Macaé, onde existem duas cidades: a dos ricos e a dos pobres. Isso não podemos aceitar como sinônimo de crescimento. Portanto, debater o crescimento pelo crescimento está errado. Crescimento de quem e para quem? O que queremos é um Brasil que se desenvolva e no qual todas as riquezas geradas possam ser espraiadas para todas as pessoas deste País. É neste cenário que volto a dizer: o Relatório da CIA, correto ou incorreto, diz que há um lugar para o Brasil no futuro. Quais são os caminhos? Esses que, no meu entendimento, o Presidente Lula está implementando com tanto brilhantismo e capacidade.

Muito obrigado pela tolerância de V. Exª, Sr. Presidente.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 18/08/2006 - Página 27131