O SR. ARTHUR VIRGÍLIO (PSDB - AM. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Srª Presidente, Srªs e Srs. Senadores, a entrevista do Presidente Lula ao Jornal Nacional, ontem, foi um desastre. O que prenuncia a campanha que se ferirá a partir da próxima terça-feira, no rádio e na televisão, inclusive com a perspectiva dos debates entre os candidatos.

Blog do Noblat:

O Presidente Luiz Inácio Lula da Silva, candidato à reeleição pelo PT, não ofereceu respostas precisas sobre os casos de corrupção que envolveram seu Partido e Ministros do Governo durante entrevista ontem ao “Jornal Nacional” da Rede Globo.

Lula, que diferentemente dos adversários não compareceu à emissora e foi entrevistado no Palácio da Alvorada, insistiu que só soube das denúncias (o mensalão e o valerioduto) “depois que aconteceram”.

Quer dizer, Sua Excelência só soube depois.

Blog de Reinaldo Azevedo:

A entrevista deve gerar subprodutos. Paulo Okamotto afirmou no Senado, sob juramento, que Lula nem sabia da dívida que ele supostamente pagou. Lula o desmentiu. Numa carta a José Dirceu, o presidente aceita seu pedido de demissão: ao Jornal Nacional, sustentou que foi ele a demiti-lo. [Aquele que o Procurador-Geral da República denominou de chefe da organização criminosa]. Insistiu, de forma constrangedora, que ignorava o esquema. E que garantia existe de que não terá de dizer isso de novo?, quis saber Fátima [Bernardes]. E Lula engrolou um palavrório sem sentido. Nada funcionou.”

Vamos agora para Cláudio Humberto, sob o título “Freud traiu Lula na Globo”:

A única coisa que caiu [engraçado essa do Cláudio Humberto, está boa, porque não foi José Dirceu que traiu Lula, foi Freud] é o salário” - tropeçou o presidente Lula. [É verdade. Sua Excelência jurou dobrar um valor de compra real do salário mínimo e ficou muito longe disso. É verdade.] “A única coisa que caiu é o salário” - tropeçou o Presidente Lula na entrevista a Fátima Bernardes e William Bonner, no “Jornal Nacional”, na noite desta quinta-feira.

O candidato queria dizer inflação, mas o pai da psicanálise entrou em ação na chamada “falha freudiana”, fazendo Lula derrapar na resposta.

Ou teria sido o Grilo Falante, a consciência de Pinóquio, que falou mais alto na entrevista, onde era evidente o nervosismo do presidente, de costas para livros que nunca leu nem jamais lerá. O cenário perfeito.

Chamo a atenção, Srª Presidente, para o fato de que o Presidente Lula terá de debater com V. Exª e com os demais candidatos - em algum momento; terá de debater. Sua Excelência foi o único a ter a prerrogativa de receber em sua casa os entrevistadores. Então, entrevistadores vão a minha casa e não consigo me sair bem nem na minha casa, imagine em uma mesa redonda com os candidatos todos em condição de igualdade! É impressionante o despreparo que revela para enfrentar os seus problemas; problemas que o Presidente Lula criou para o Brasil.

Vamos a outras derrapadas do Presidente Lula na referida entrevista. Agora digo eu, Srª Presidente: Disse ele que a CGU foi criada em seu Governo. Não é verdade, foi criada no Governo passado. Ele mudou o nome: era Corregedoria passou a ser Controladoria. A Primeira-Ministra foi quem desvendou aquele caso de corrupção da Sudam, a Ministra Nadir de Mendonça, nomeada pelo Presidente Fernando Henrique. E mais: o candidato Lula disse que não pode saber o que acontece na Secretaria de Agricultura do Estado de São Paulo. Ele deveria ter dito na Delegacia do Ministério da Agricultura, no Estado de São Paulo. Estava realmente nervoso Sua Excelência, ele não conhece a estrutura do Governo dele; estava nervoso, estava realmente nervoso. Não está preparado para nenhum confronto, só para falar sozinho e protegido por um esquema de mídia oficial que tem sido massacrante contra vocês outros, candidatos a Presidente da República.

A Secretaria de Agricultura do Estado de São Paulo está vinculada ao Governo do Estado. O Presidente parece que não saber disso. O que existe no Governo Federal é a Delegacia da Agricultura, vinculada ao Ministério da Agricultura.

Tenho dúvida se o Presidente conhece o nome de todos os seus Ministros. Outro dia, pediram-me para eu responder não sei o quê que o Ministro interino da Previdência teria dito sobre o Congresso, Senadora Heloísa Helena. Uma repórter perguntou-me: “O senhor pode responder o que Ministro interino da Previdência disse sobre o Congresso?” Aí eu disse: “Mas, minha querida, só respondo se você me disser o nome dele, porque não conheço nem o Ministro titular, quanto mais o Ministro interno da Previdência.” É um Ministério de ilustres desconhecidos. Essa é que é a verdade.

Tem ainda mais gafes. O Presidente, em determinada altura da entrevista, disse que o Governo dele foi o que mais enfaticamente combateu a ética. Outra derrapada freudiana. É verdade. Ele não deu tréguas à ética. O Governo dele não perdoa a ética. Não deu colher de chá à ética. Esse é um fato, jogou duro contra a ética. Tudo é verdade. Isso numa declaração. Ou foi uma derrapada ou foi de uma coragem sensacional.

Srª Presidente, temos aqui a Lúcia Hipólito - peço que vá para os Anais da Casa, até por causa do tempo -, que faz mais uma bela análise.

Todos os analistas que li hoje pela manhã condenaram a entrevista, entendendo que ela foi incompetente, que ela revelou insinceridade, falta de preparo e de pulso.

Este é o homem que dirige a Nação: alguém que não consegue enfrentar dois entrevistadores que vão à sua casa. Ou seja, o dono do cafezinho não era o entrevistador, o dono do cafezinho era ele, tipo: “William Bonner*, você quer um cafezinho?”, “Fátima Bernardes, você aceita um chá?”. Só isso já dá uma tranqüilidade. Estou na minha casa, o cachorro é o meu, a pessoa que vai servir o chá trabalha comigo, o banheiro é o meu. “Eu queria ia ao toalete”. “É ali, por favor, Fátima”. “William Bonner, é ali”. É diferente de ir à Globo e lá dizer: “Puxa vida, eu não sabia qual era o clima”.

V. Exª está de parabéns, até porque se saiu muito bem na entrevista, saiu-se com muita galhardia mesmo.

Mas eu gostaria de tornar a enfatizar que é desumana a posição do Governo, contingenciando recursos da Suframa (Superintendência da Zona Franca de Manaus), que são verbas não-orçamentárias, são recursos obtidos a partir de preços públicos cobrados lá mesmo às empresas do Distrito Industrial de Manaus e que acabam indo para a conta do superávit. É injusto porque isso deixa de servir para infra-estruturar o desenvolvimento de toda a Amazônia Ocidental - incluídos minha cidade de Manaus e meu Estado do Amazonas, claro - mais o Amapá, na banda oriental. É uma gota d’água no oceano do superávit, não está no Orçamento, é dinheiro obtido lá mesmo. Isso machuca muito o coração e a auto-estima dos habitantes da minha região.

Peço ainda, Srª Presidente, que V. Exª autorize a inserção nos Anais da lúcida, longa e bela entrevista concedida pelo ex-Presidente Fernando Henrique Cardoso à revista Playboy que começa a circular nesta semana.

Muito obrigado, Srª Presidente.

Era o que tinha a dizer.

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DOCUMENTO A QUE SE REFERE O SR. SENADOR ARTHUR VIRGÍLIO EM SEU PRONUNCIAMENTO.

(Inserido nos termos do art. 210, inciso I e § 2º, do Regimento Interno.)

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Matéria referida:

“O que diz Lúcia Hipólito”;

“Entrevista de Fernando Henrique Cardoso”.