Discurso durante a 132ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

Considerações sobre o lançamento do livro "A trajetória de Octavio Frias de Oliveira", hoje, em São Paulo.

Autor
Roberto Cavalcanti (PRB - REPUBLICANOS/PB)
Nome completo: Roberto Cavalcanti Ribeiro
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM.:
  • Considerações sobre o lançamento do livro "A trajetória de Octavio Frias de Oliveira", hoje, em São Paulo.
Aparteantes
Antonio Carlos Magalhães.
Publicação
Publicação no DSF de 15/08/2006 - Página 26767
Assunto
Outros > HOMENAGEM.
Indexação
  • REGISTRO, LANÇAMENTO, LIVRO, BIOGRAFIA, JORNALISTA, EMPRESARIO, COMUNICAÇÕES, ELOGIO, VIDA PUBLICA, ATUAÇÃO, JORNAL, FOLHA DE S.PAULO, ESTADO DE SÃO PAULO (SP).

O SR. ROBERTO CAVALCANTI (PRB - PB. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, estou aqui em função de um tema extremamente interessante, o lançamento do livro A Trajetória de Octavio Frias de Oliveira, da Folha de S.Paulo, hoje, 14 de agosto de 2006, na cidade de São Paulo. É um trabalho de autoria de Engel Paschoal, produzido pela Mega Brasil Editora.

Poderíamos perguntar: por que Roberto Cavalcanti, da Paraíba, para abrir um tema como este ou para falar sobre um livro com essa abordagem do grande Octavio Frias? Por ser empresário da área de comunicação, uma área que domino há mais de 30 anos e da qual tenho grande alegria de participar, e por entender a trajetória do homem público, do empresário Octavio Frias.

Sou admirador pessoal da sua trajetória, acompanho-o há anos e também sou leitor diário da Folha de S.Paulo, jornal que se consagrou no Brasil. Então, na época, na minha Paraíba, era o jornal de minha cabeceira, do meu dia-a-dia.

Como Senador da Paraíba, talvez tivesse a obrigação de fazer meu pronunciamento a respeito do jornalismo, destacando a figura paraibana fantástica de Assis Chateaubriand. Essa seria a lógica, porque ele foi duas vezes Senador, uma pela Paraíba e outra pelo Maranhão, foi pioneiro da grande imprensa nacional, alma do Grupo Associados, do qual hoje faz parte o Correio Braziliense, que honra a imprensa brasileira. Na verdade, fica o compromisso de voltar a esta tribuna para falar um pouco sobre Assis Chateaubriand. Não poderia fazer diferente, já que antes falarei de um carioca paulista, o Octavio Frias.

Também poderia falar sobre grandes ícones e personalidades da imprensa paraibana. Talvez pudesse falar sobre Roberto Marinho, das Organizações Globo, sobre Vitor Civita, do Grupo Abril, de Maurício Sirotsky, do Grupo Rede Brasil Sul, bem como qualquer outro mestre da imprensa brasileira nessa área, como é o caso do Júlio Mesquita do jornal O Estado de S. Paulo.

Peço ao nobre Presidente, Senador pelo Rio de Janeiro - considerando que Octavio Frias nasceu em Copacabana -, para falar em seu nome de uma personalidade que, na verdade, é um carioca paulista. Também peço licença aos Senadores de São Paulo, para, como paraibano, falar sobre um ícone do jornalismo de São Paulo, da Folha de S.Paulo. A grande atividade empresarial do Octavio Frias, toda a sua trajetória empresarial se consolidou no Estado de São Paulo.

Portanto, tentarei falar um pouco da minha percepção, como empresário da área, do que vejo e do que tive o privilégio de ler deste trabalho que hoje está sendo lançado na cidade de São Paulo.

Percebe-se que sua origem é de família tradicional, porém lutou com dificuldade. A base é de família tradicional, mas teve um início de vida de muita dificuldade. Essas dificuldades, talvez, tenham sido uma das características que formaram o DNA do jornalista e empresário Octavio Frias. Essas dificuldades iniciais estão relatadas neste trabalho de forma muito interessante. Eu diria que as pessoas que têm uma boa base familiar, mas que têm dificuldade, conseguem enxergar o que é bom e, com as suas próprias mãos, conseguem, lá na frente, fazer com que esses sonhos, fruto do trabalho, se materializem.

O biógrafo citou, como um dos pontos marcantes da vida dele, a época em que, ainda garoto, ele ia à casa de um tio da mãe chamado Jorge Street. O pai o acompanhava. Na garagem da casa desse tio, ele via três belos carros, e ele voltava para a casa de bonde.

Essa imagem ficou na cabeça desse menino, que, depois, conseguiu transformar-se em grande empresário. Essa é uma característica das pessoas que buscam a ascensão social com muito trabalho, com muita garra, com muita competência.

Talvez um dos pontos mais marcantes, para mim, deste trabalho tenha sido exatamente a capacidade que ele tinha de enxergar as coisas boas sem invejá-las, mas, sim, projetando-as para que, no futuro, ele as tivesse.

Um outro ponto que também é interessante ressaltar, num determinado momento da sua trajetória - e esta é a boa trajetória do empresário, porque o empresário que não passa por dificuldade não é um bom empresário -, segundo o biógrafo, é que ele “caminhava com as mãos no bolso”, pensando: “Estou sem dinheiro, sem mulher, sem nada, partindo da estaca zero”. São os revezes que fortalecem a alma do grande empresário e que traduzem a resistência às adversidades de quem quer trilhar o caminho do empreendedorismo.

A imprensa é diferente de outros segmentos, que têm um produto definido, que têm uma linha de produção constante. A comunicação requer extrema habilidade por parte dos empresários, em termos de dosar o seu comando, em termos de comandar. Em se tratando de comunicação, deve-se permitir que os outros pensem, ouçam, para, então, decidir. E isso está muito bem estabelecido na trajetória do empresário Octavio Frias, cujo perfil é simples e sincero. Isso está relatado pelo jornalista Clóvis Rossi, que testemunha: “Ele não faz pose de grande empresário. É o sujeito mais comum que se possa imaginar, mas tem um fascínio fora do normal pela notícia”.

Essa é a característica do empresário e jornalista. A notícia sempre o fascinou, sempre o encantou, razão pela qual conseguiu construir um órgão com o gabarito, com a consistência da Folha de S.Paulo.

A revista Veja desta semana, ao analisar o livro, traz uma frase: “Não parece haver ninguém menos interessado na automitificação. Sua sinceridade é uma delícia”.

Ele é um homem simples. Pela sua trajetória de vida, poderia ser uma pessoa encastelada em um império de comunicação, mas ele é o antimito, é a pessoa que cultua a simplicidade, característica do grande empreendedor. O grande empreendedor não é aquele que se ufana pelo que faz, e, sim, o que tem dentro de si o desejo de empreender.

Há também um testemunho belíssimo da sua filha Maria Cristina: “O dinheiro nunca representou luxo nem coisas supérfluas. Ele tem uma vida muito espartana”.

É exatamente isso. Percebe-se que grandes empresários da estirpe do Dr. Octavio Frias conseguem ser simples mesmo comandando um império como a Folha.

O Sr. Antonio Carlos Magalhães (PFL - BA) - V. Exª me permite um aparte?

O SR. ROBERTO CAVALCANTI (PRB - PB) - Pois não, nobre Colega.

O Sr. Antonio Carlos Magalhães (PFL - BA) - Quero associar-me às suas palavras em relação a Octavio Frias de Oliveira. Ninguém merece homenagem mais do que esse homem, que, aos 94 anos, parece que tem 70, dada a sua atuação e a sua cabeça tão bem organizada. Ele exerce um comando não só nas suas empresas, mas também, em grande parte, na política nacional, pelo seu patriotismo e pelas suas altas qualidades públicas. Eu gostaria, portanto, de me associar não só à Folha de S.Paulo, mas principalmente a Octavio Frias, no elogio que V. Exª faz a ele; ao livro que vai agora sair, que deve ser extremamente interessante, porque poucas vidas no Brasil foram tão interessantes como a de Octavio Frias de Oliveira. Daí por que quero me congratular com V. Exª pela sua competência em tratar de um assunto como esse. Em nome do Senado, agradeço o trabalho de Frias de Oliveira na Folha de S.Paulo.

O SR. ROBERTO CAVALCANTI (PRB - PB) - Quero agradecer o aparte de V. Exª e endosso as suas palavras.

Há um episódio na vida desse jornalista que, com a pequena experiência de empresário, eu gostaria de mostrar. Trata-se exatamente do lado do empresário de imprensa e da habilidade que esse empresário tem de ter. Há um trecho na sua trajetória que relata o seguinte: em 1965, período marcado pela censura e por grandes adversidades advindas da Revolução de 1964, o Dr. Octavio contratou o jornalista Cláudio Abramo, que tinha acabado de sair de O Estado de S. Paulo, por entender que ele seria de fundamental importância. O empresário tem sempre essa visão. Ele está de fora olhando quem é bom em cada lugar, e sempre cobiça crescer, qualitativamente, as suas empresas. Esse era o perfil de mais um profissional da competência de Cláudio Abramo à época.

Ele o contratou, mas teve de se submeter - é muito curioso isso, Sr. Presidente; um empresário de comunicação, às vezes, tem de seguir certas regras, ele tem de entender a sua editoria, ele tem de entender a sua empresa - ao seguinte: como empresário, ele contratou o jornalista, mas não pôde colocá-lo na sua empresa.

            Em um outro segmento, isso não é discutido. No segmento industrial, por exemplo, um empresário contrata um gerente, e esse gerente, por bem ou por mal, é imposto a uma equipe. No jornalismo, não; isso é diferente. O mundo do jornalismo é feito pelo jornalista, a empresa de jornalismo é feita pelos jornalistas.

Então, que sensibilidade ele teve como empresário? Ele não se confrontou com o seu corpo editorial; aceitou a restrição momentânea para a contratação daquele jornalista e o colocou na Transaco, que era uma empresa também dele, chamada Transações Comerciais Ltda. Com isso, com a sua genialidade, ele criou o primeiro ombudsman do Brasil.

O Cláudio Abramo ficou trabalhando paralelamente para o Dr. Octavio na qualidade de ombudsman, reportando-se a ele e fazendo uma crítica diária no jornal.

Isso demonstra a sensibilidade empresarial no campo do jornalismo do grande empresário, no sentido de fazer com que ele não se confrontasse com sua equipe.

Em outro momento, também há uma passagem fantástica narrada nesse trabalho.

No início da Revolução, a Folha, o Dr. Octavio e sua equipe foram carimbados - é muito interessante como, na imprensa, às vezes, existe um carimbo, uma imagem - e considerados de direita. Com isso, precisaram até se entrincheirar, durante um período do início da Revolução, na estrutura física da Folha de S.Paulo.

Tempos passados, durante a mesma Revolução, o Dr. Octavio e a Folha foram considerados anti-revolucionário e pró-abertura. Nesse momento, acontecia o inverso: a Folha era censurada e ameaçada de fechamento. |

Uma outra passagem fantástica narra o momento em que o Dr. Octavio recebeu a informação de que um jornalista, que escreveu uma matéria contrária aos interesses da Revolução, foi censurado e colocou, no lugar da coluna, um espaço em branco. Isso foi repetido por alguns dias. Então, ele recebeu um telefonema dizendo: “Se o senhor permanecer colocando essa coluna em branco, nós vamos fechar o seu jornal.”. Ele se reuniu com sua equipe e disse: “Não vamos ser pouco inteligentes e entrar em confronto. Vamo-nos adaptar à circunstância do presente.”. Essa é uma maestria, uma magia do empresário de comunicação.

Assim, ele fez com que o jornal, no dia seguinte, colocasse, no lugar, uma outra matéria, tirando aquele espaço em branco. Isso mostra a sua extrema sensibilidade.

No livro, há um relato do ex-Presidente Fernando Henrique Cardoso, que disse, em seu depoimento:

“Frias recolheu algumas velas, mas não mudou o rumo.”. É exatamente essa a imagem, muito preciosa, porque ele, como empresário, não alterava o que pensava. Ele não saía do seu rumo. Ele, na verdade, em função de uma momentânea tempestade, deu uma reduzida nas velas, mas continuou no seu rumo.

Talento e visão do empresário também são pontos extremamente merecedores de destaque. Em meados de 1950 - estamos falando de uma época anterior à construção de Brasília -, contratou o genial arquiteto Oscar Niemeyer para projetar o edifício Copan, que, ainda hoje, é um marco urbano da arquitetura de São Paulo. Isso mostra como ele era um homem de extrema visão e de percepção de futuro.

Também a ele cabe - dentro dessa sua percepção de futuro e de sua extrema visão - a criação do Instituto DataFolha, exatamente porque percebeu que a pesquisa de opinião era fundamental para que trilhasse os seus caminhos, aferisse o comportamento da própria Folha e tivesse uma visão do que se passava, política e economicamente, no País.

Esse empresário, Octavio Frias, conseguiu, na década de 60, transformar uma empresa sem maior expressão no jornal de maior circulação do Brasil.

Não é fácil! À época a empresa estava em extrema dificuldade financeira e, assim, os primeiros momentos de comando do Dr. Octavio à frente da Folha foram destinados a fazer com que a empresa se recuperasse economicamente e, em seguida, adquirisse a pujança editorial que tem até hoje.

Há um depoimento muito interessante do Deputado e ex-Ministro Delfim Netto, que resume bem a visão de mundo do empresário: “O Frias sabe que a independência é primeiro financeira.”. É exatamente isso. Em comunicação, se não houver uma independência financeira, a empresa não terá vida própria e capacidade de usufruir a liberdade tão necessária para atender os anseios da comunidade.

Os pontos básicos que se percebem na trajetória econômica e no perfil empresarial do Dr. Octavio são: dar sustentação à empresa, mediante a independência; ter independência editorial com sustentação financeira; não dever a bancos; e reinvestir todos os ganhos. Em toda a trajetória dessa história, o que se percebe é o empresário, juntamente com seu sócio à época, reinvestindo 100% dos lucros. É isso o que fazem o empreendedor e o bom empresário.

Outro relato interessante é trazido pelo engenheiro Pedro Pinciroli, ex-vice-presidente do grupo Folha, o qual afirmou que, por “recomendação do Frias, não se recorria a bancos nem para a compra de papel-jornal.”. Todos sabemos que papel-jornal é o maior insumo de uma empresa de comunicação, mas nem para isso ele gostava de recorrer a bancos.

“Essa posição econômico-financeira sólida permitiu um jornalismo independente.”.

A trajetória do Dr. Octavio é uma aula de determinação, de obstinação, de perseverança, de paciência, de escolha do momento para o recuo e para o avanço. Isso ele fez, durante toda a sua vida empresarial, com grande maestria.

Insistir, insistir, ter devoção ao trabalho - característica também marcante da trajetória desse homem público e empresário de grande expressão.

O jornal tem sabor, tem gosto.

É uma coisa interessante, Sr. Presidente. Fazer jornal não é fácil, pois não se trata de um produto que se possa testar. Fazer jornal é fazer um produto novo, inteiramente novo, a cada dia. Não há tempo de se fazer teste; não há tempo de se fazer protótipo e de testá-lo. Um jornal é feito inteiramente novo a cada dia. E não é fácil fazer um jornal com a qualidade editorial e a constância técnica da Folha de S.Paulo.

O momento atual político só existe graças à liberdade de imprensa. Não teríamos a divulgação de mensalões, sanguessugas ou outros tipos de denúncias sem que houvesse uma imprensa livre.

São os novos tempos. Quem não entender que o Brasil mudou pagará o seu preço.

Octavio Frias, ao concluir a realização do seu sonho com relação ao Grupo Folha, afirmou:

“Não me arrependo de nenhuma decisão que eu tomei. Faria tudo igualzinho.”.

Para finalizar, Sr. Presidente, eu diria: que bom desfrutar em vida, esta vida vivida que é a trajetória de Octavio Frias de Oliveira.

Muito obrigado.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 15/08/2006 - Página 26767