Pronunciamento de Eduardo Suplicy em 15/08/2006
Discurso durante a 133ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal
Sugere que Presidente Lula participe dos debates com os outros candidatos à Presidência da República.
- Autor
- Eduardo Suplicy (PT - Partido dos Trabalhadores/SP)
- Nome completo: Eduardo Matarazzo Suplicy
- Casa
- Senado Federal
- Tipo
- Discurso
- Resumo por assunto
-
SEGURANÇA PUBLICA.
ELEIÇÕES.:
- Sugere que Presidente Lula participe dos debates com os outros candidatos à Presidência da República.
- Aparteantes
- Heráclito Fortes, Leonel Pavan, Pedro Simon, Sibá Machado.
- Publicação
- Publicação no DSF de 16/08/2006 - Página 26818
- Assunto
- Outros > SEGURANÇA PUBLICA. ELEIÇÕES.
- Indexação
-
- SOLIDARIEDADE, JORNALISTA, TECNICO, VITIMA, SEQUESTRO, COMANDO, CRIME ORGANIZADO, ESTADO DE SÃO PAULO (SP), OBTENÇÃO, LIBERDADE, POSTERIORIDADE, EXIBIÇÃO, VIDEO, EMISSORA, TELEVISÃO, ESTADO DO RIO DE JANEIRO (RJ), REIVINDICAÇÃO, MELHORIA, SITUAÇÃO, PRESIDIO.
- ELOGIO, PRESIDENTE DA REPUBLICA, DIALOGO, GOVERNADOR, ESTADO DE SÃO PAULO (SP), BUSCA, COOPERAÇÃO, SEGURANÇA PUBLICA.
- DEPOIMENTO, TENTATIVA, SEQUESTRO, MOTORISTA, ORADOR, RESIDENCIA, ESTADO DE SÃO PAULO (SP).
- COMENTARIO, EXISTENCIA, LEGISLAÇÃO, AUTORIZAÇÃO, PRESO, RECONSTRUÇÃO, PRESIDIO, DESTRUIÇÃO, REBELIÃO.
- IMPORTANCIA, CANDIDATO, PARTICIPAÇÃO, DEBATE, TELEVISÃO, VALORIZAÇÃO, DEMOCRACIA, COMENTARIO, DECLARAÇÃO, FERNANDO HENRIQUE CARDOSO, EX PRESIDENTE DA REPUBLICA, APRESENTAÇÃO, ORADOR, SUGESTÃO, PRESIDENTE DA REPUBLICA, COMPARECIMENTO, DISCUSSÃO, ADVERSARIO, OPORTUNIDADE, DIVULGAÇÃO, PROJETO, REELEIÇÃO.
- SOLICITAÇÃO, TRANSCRIÇÃO, ANAIS DO SENADO, ANTERIORIDADE, DISCURSO, AUTORIA, ORADOR, REFERENCIA, DEBATE, CANDIDATO, ELEIÇÕES.
O SR. EDUARDO SUPLICY (Bloco/PT - SP. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, prezado Senador Roberto Saturnino, Srs. Senadores, em primeiro lugar, quero aqui expressar minha solidariedade ao jornalista Guilherme Portanova e ao auxiliar técnico Alexandre Calado, que, na manhã de sábado, por volta de oito horas e trinta minutos, foram seqüestrados por membros do Primeiro Comando da Capital. Estavam eles na Avenida Luiz Carlos Berrini, em São Paulo, diante da Rede Globo de TV, para iniciar sua atividade, que seria justamente a de cobrir a caminhada do Senador Aloizio Mercadante. Junto com o Senador, eu e a ex-Prefeita Marta Suplicy, naquela manhã, caminhamos pelas ruas do bairro de Tucuruvi, na Zona Norte de São Paulo.
Duas pessoas apontaram armas para os dois funcionários da emissora, obrigando-os a entrar em um automóvel, que acabou sendo queimado e deixado pelos seqüestradores, os quais levaram ambos para outro local. Soube-se posteriormente que, com a libertação de Alexandre Calado, a 200 metros da Rede Globo, no Brooklin, com a missão de entregar à direção da emissora um DVD com um pronunciamento da quadrilha, criticando o regime disciplinar diferenciado e a forma como são tratados muitos detentos, ou re-educandos, que têm vivido nas prisões situações não condizentes com a dignidade do ser humano.
A Rede Globo acabou exibindo aquela gravação, de três minutos e cinco segundos, na madrugada de domingo, aos 28 minutos.
Guilherme Portanova, com o rosto coberto por uma blusa, foi libertado na madrugada de ontem, vinte e quatro horas depois da exibição do vídeo, depois de passar quarenta horas em poder dos seqüestradores.
Felizmente, tanto Guilherme Portanova quanto Alexandre Calado estão bem, junto com seus familiares, mas obviamente passaram por uma situação de extrema angústia e dificuldade.
Todos nós, Sr. Presidente, estamos preocupados com essa situação. Qualquer um de nós pode acabar sendo vítima.
Gostaria aqui de transmitir a importância do diálogo para todos nós que estamos disputando eleições, Senador Sibá Machado. Embora estejamos conscientes de que em 1º de outubro, nós do PT, estaremos disputando, Senador Marcos Guerra, com o PSDB, com o PFL, sabemos que neste momento é importante haver um diálogo construtivo.
Nesse sentido, acho muito positivo que tenha o Presidente Luiz Inácio Lula da Silva dialogado com o Governador Cláudio Lembo, na última sexta-feira, e que ambos tenham chegado a um entendimento sobre como a Inteligência, tanto da Polícia Federal quanto da Polícia Civil e Militar do Estado de São Paulo, entrarão em cooperação, de maneira mais entrosada. Sabe o Governador Cláudio Lembo que, se necessário, o Governo do Presidente Lula e o Ministro da Justiça colocam à disposição a Força Nacional ou até mesmo as Forças Armadas. O Governador Cláudio Lembo ponderou que ainda não considera isso necessário. Mas nós estamos vivendo no Estado de São Paulo, particularmente na cidade de São Paulo, uma situação extremamente séria, com violência, seqüestros, roubos e assassinatos em um grau muito alto.
Sr. Presidente, ainda hoje de manhã viveu uma experiência difícil a pessoa que trabalha comigo. Eu vinha para Brasília. Mudei de residência há poucos dias. Acordei, abri a janela, vi o motorista com o carro pronto para me levar ao aeroporto. Arrumei-me - tomei banho, vesti-me - e, quando cheguei à porta, ele não estava, não apareceu. Então, resolvi tomar um táxi para ir ao aeroporto.
Ao chegar em Brasília, soube que o meu motorista, José Damião da Silva, havia sido seqüestrado - por alguns minutos, eu não estava junto. Felizmente, ele já está bem, em casa, com seus familiares. Descreveu-me há pouco que dois rapazes, de cerca de 23 e 25 anos, apontaram-lhe um revólver, dizendo-lhe que se movesse para a lateral do banco, para o banco de passageiros. Ambos entraram no automóvel e o levaram. Pediram seus documentos, cartões de crédito e o código para retirar o dinheiro, ali no Jardim São Luiz, depois da Marginal, perto do viaduto da Avenida João Dias. Ele havia dito que estava ali me esperando para levar-me ao aeroporto e que era um simples motorista do Senador Suplicy. Eles, então, disseram: “Bom, se é de político, então a polícia acha fácil o carro. Esse é um BO muito grande” - usaram essa expressão. Havia um livro de minha autoria, Renda Básica de Cidadania, que eles gostaram, até anotaram ali o código da conta do motorista. Chegaram a afirmar que iriam votar em mim, mas resolveram deixar o motorista com o automóvel, dizendo:
“Olha, agora você não olha para nós” - ali, perto da ponte da Avenida São Luiz.
José Damião da Silva trabalha comigo desde 1985, é pessoa muito querida minha e da família. Felizmente, está em casa, mas ficou muito preocupado. Isso ocorreu na frente da minha casa hoje.
Registro esse fato para dizer que não se trata de uma ação contra um partido ou outro. Nós precisamos cooperar. Ainda ontem conversei com o Governador Cláudio Lembo, por ocasião do lançamento do livro sobre o Sr. Otávio Frias de Oliveira, a respeito da proposição que ele me havia feito, de apresentar um projeto de lei que permitisse àqueles que estão detidos, reeducandos, prisioneiros, trabalhar na própria reconstrução do Presídio de Araraquara, que destruíram. Por carta, pronunciei-me a respeito na última semana.
A Assessoria do Senado informou-me - e eu informei ao Governador que não é necessário um projeto de lei novo, porque a Lei de Execução Penal permite perfeitamente que reeducandos trabalhem em obras públicas, inclusive no ambiente da prisão e na própria reconstrução e reforma do presídio. Isso pode perfeitamente ser realizado.
Também conversei com o Secretário de Assuntos Penitenciários, Antônio Ferreira Pinto, dando essa informação. Ele me disse que aquela superlotação - 1443 presos num único ambiente - já diminuiu para cerca de quatrocentos. A situação foi bastante amenizada desde aquele episódio de há quase um mês.
Acho que, para resolvermos esses problemas todos, temos de pensar, com mais energia e determinação, na instituição de mecanismos que possam fazer da sociedade brasileira uma sociedade cada vez mais justa e solidária, onde as pessoas não sintam a necessidade de seguir o caminho da criminalidade para assegurar a sobrevivência digna de seus familiares.
Senador Sibá Machado, ouço V. Exª com muita honra.
O Sr. Sibá Machado (Bloco/PT - AC) - Senador Eduardo Suplicy, fiquei ouvindo o pronunciamento de V. Exª e realmente é chocante o que estamos aqui assistindo pela imprensa nacional. Agora, V. Exª traz essa notícia de última hora, que nos colhe a todos de surpresa, que trata sobre o seqüestro do motorista que trabalha com V. Exª há tanto tempo. Isso poderia ter acontecido inclusive com V. Exª se, minutos antes, tivesse entrado naquele carro. Eu estava vendo os noticiários de hoje, e a ONG Repórteres Sem Fronteiras faz uma comparação que realmente bate muito bem com o que eu vinha pensando de ontem para hoje. Diz que estamos vivendo a modernidade de tudo e é claro que a do crime também. É uma cópia do que eram táticas de guerra vinculadas eminentemente a grupos políticos, sejam de esquerda, sejam de direita, sejam de extrema esquerda ou de extrema direita, que se digladiaram tanto nas décadas de cinqüenta, sessenta, setenta e parte da década de oitenta. Agora, se vêem facções do crime organizado usando desses métodos. A matéria fala até da comparação com métodos utilizados na guerra entre o povo de Israel e o povo árabe durante esses cinqüenta anos. Fico realmente muito preocupado porque, no meio de uma situação dessa natureza, no meio de uma campanha eleitoral ainda existem pessoas que queiram tratar desse assunto de maneira político-eleitoral. Ao que estamos assistindo é muito sério, é muito preocupante para todas as pessoas.
O que aconteceu com os dois profissionais da Rede Globo creio que realmente está acima de qualquer avaliação mais simplista ou banal, é uma coisa a ser pensada com muito carinho.
(O Sr. Presidente faz soar a campainha.)
O Sr. Sibá Machado (Bloco/PT - AC) - A TV teve de tomar a decisão de veicular o vídeo que foi gravado, sob pena de ver um de seus profissionais ter sua vida consumada por uma organização dessa natureza. Também acho que a decisão da emissora foi correta. O método é muito parecido mesmo com o que se vê hoje no Oriente Médio: seqüestro de pessoas, veiculação de rostos encapuzados e assim por diante. E o que vejo também é que, às vezes, o assunto é tratado como, por exemplo: o problema é recrudescimento na lei? O problema é da falta de presídios? O problema é que determinados governantes - digamos assim - não se importam direito? É ter um Ministério especial para tratar do problema? O que tenho achado é que talvez as respostas para poder se coibir esse tipo de atividade não estão sendo mais a contento. Tenho assistido inclusive aos debates da televisão. Ontem assisti ao da Rede Bandeirantes e as respostas não nos satisfazem quanto ao que seria uma atitude correta de Estado em relação a esse tipo de crime. Mas quero dizer a V. Exª que as pessoas que estão muito preocupadas com tudo isso deveriam se manifestar. Quem tiver idéias sobre o assunto, está na hora de recolhimento de idéias, que possam ser acatadas pelos candidatos à Presidência da República e a Governos de Estados e assim por diante. Fico aqui solidarizando-me também com V. Exª, com os jornalistas da TV Globo e, é claro, com toda a população de São Paulo, que, durante este ano inteiro, está vivendo uma situação de medo, de pavor. Medo de sair de casa. Fico aqui imaginando um profissional do serviço de segurança pública de São Paulo, que todos os dias sai de casa e fica preocupado se voltará com vida e com saúde. Digo aqui para V. Exª, com toda a segurança: acho que requer muita maturidade. Este assunto é suprapartidário, este assunto está acima de qualquer entendimento político, requer, do meu ponto de vista, idéias de quem as tiver - talvez até o Senado Federal possa abrir uma página de inserção na Internet, para recolher sugestões, porque está na hora de se materializar algumas sugestões mais contundentes para se coibir esse tipo de atitude. Volto a dizer que acho que, por força da globalização, são pessoas que estão vivendo hoje da modernidade de comunicação estando ou não presas. A situação é de zombaria: de zombaria com a autoridade pública, de zombaria com a autoridade policial, de zombaria com a figura do Estado. Não podemos ficar aqui apenas dizendo que se deve aumentar a penalidade, que se deve fazer mais um presídio. Como se vê aqui, são 262 policiais para manter Fernando Beira-Mar encarcerado? Aqui, Senador Suplicy, fica a solidariedade de uma pessoa que, mesmo morando tão distante de São Paulo, está muito preocupado com o desenrolar das coisas no Estado de V. Exª.
O SR. EDUARDO SUPLICY (Bloco/PT - SP) - Muito obrigado, Senador Sibá Machado.
Fiquei pensando um pouco, porque o José Damião da Silva, o meu motorista, disse que os dois seqüestradores responderam que também eram pais de família, quando ele informou que tinha cinco crianças. Eles até disseram “somos pessoas calmas”. Felizmente, ele está bem e, inclusive, já pôde estar com sua família, filhas e filhos.
Senador Sibá Machado, V. Exª mencionou o debate de ontem. Quero aqui, com o maior carinho e amizade pelo Presidente Lula, recordar o que eu disse em alguns pronunciamentos, em 1998, quando o Presidente Lula disputava a eleição com o então Presidente da República Fernando Henrique Cardoso, candidato à reeleição.
No dia 5 de agosto de 1998, disse, em um discurso como Líder, que a edição de 26 de junho de 1998 da Folha de S.Paulo registrou a seguinte declaração do Presidente Fernando Henrique Cardoso: “Não vou a debates no primeiro turno. Posso mudar de opiniões, se cair nas pesquisas”. Nessa mesma entrevista, ao ser questionado se isso não era mudar as regras no meio do jogo, Sua Excelência afirmou que “a política não é regra, é criatividade”.
Então, eu disse: É inacreditável que o Presidente da República possa ter feito uma declaração dessas. Suas palavras revelam descaso e até desprezo pela opinião pública. Não consigo reconhecer aquela pessoa que, durante os anos 60, 70 e 80, esteve ao meu lado e ao lado de tantos que lutaram pela volta da democracia em nosso País e pelo aperfeiçoamento das instituições democráticas.
O debate direto entre os candidatos constitui o acontecimento mais significativo das campanhas eleitorais nos países democráticos. Lembremo-nos de que, durante a campanha para que o Congresso Nacional votasse a Emenda da Reeleição, o Presidente Fernando Henrique Cardoso referiu-se mais uma vez aos Estados Unidos, país onde o Presidente tem o direito de disputar a reeleição por uma vez.
Ora, qual o momento mais importante da campanha eleitoral...
(Interrupção do som.)
O SR. EDUARDO SUPLICY (Bloco/PT - SP) - ... nos Estados Unidos? (dizia eu em discurso de 1998). Justamente os debates entre os candidatos transmitidos em cadeia para toda a nação, debates esses que inclusive têm sido transmitidos pela CNN ou, às vezes, até pelas nossas emissoras de televisão. Nós brasileiros, via CNN ou emissoras nacionais, assistimos a esses debates com extraordinário interesse.
Prossigo contando a história de debates nos Estados Unidos, na França e assim por diante. E eu recordava o episódio de 1985, quando eu e o Presidente Fernando Henrique Cardoso, ambos candidatos, criticávamos severamente o ex-Presidente Jânio Quadros, que preferiu não comparecer ao debate realizado entre os candidatos a prefeito, e o Presidente Fernando Henrique Cardoso foi muito crítico pela ausência de Jânio Quadros.
Quero aqui, com carinho, dizer ao meu amigo, Presidente Lula, se puder reconsiderar esta opinião de não ter comparecido ao debate na Rede Bandeirantes... Quem sabe possa haver outro debate na Rede Bandeirantes. Haverá outro ainda...
Mas eu sinceramente avalio que o debate entre os candidatos é o momento mais alto da campanha, ainda mais quando se tem um candidato que é o Presidente da República. Ele poderá mostrar a sua atitude de aperfeiçoamento da democracia brasileira, porque obviamente o Presidente da República tem uma cobertura natural no cotidiano de todos os fatos dos quais participa. Então, há uma relativa vantagem em relação aos demais. Mas se ele disser...
(Interrupção do som.)
O SR. EDUARDO SUPLICY (Bloco/PT - SP) - Sr. Presidente, só mais este ponto. Se ele puder dizer: “Eu faço questão de ir ao debate e proporcionar igualdade de condições para os meus adversários em relação a mim”. Mesmo que o Presidente, de repente, por causa da regra do debate, precise esperar que cinco, seis candidatos, todos venham fazer críticas a ele, mas daí é claro que os telespectadores estarão aguardando o momento de o Presidente dizer as suas palavras, apresentar as suas propostas e o seu conhecimento extraordinário do Brasil. E ele terá uma condição excepcional para dizer o que pretende fazer e o que faz e assim por diante.
Posso conceder dois breves apartes? Ao Senador Leonel Pavan e ao Senador Pedro Simon, porque ambos me pedem?
Com muita honra, ouço V. Exª.
O Sr. Leonel Pavan (PSDB - SC) - Permita-me, Sr. Presidente, o aparte, já que hoje é um dia bastante tranqüilo, e dá até para debatermos esse assunto, que é muito importante. Meu amigo, Senador Suplicy, primeiro eu gostaria de falar sobre a questão da segurança. Eu vinha vindo no carro, ouvindo-lhe, e confesso que o fato mexeu conosco, até porque V. Exª poderia ter sido vítima por - um acaso não foi vítima. Então, também queremos nos sensibilizar com essa situação.
O SR. EDUARDO SUPLICY (Bloco/PT - SP) - Obrigado, Senador Leonel Pavan.
O Sr. Leonel Pavan (PSDB - SC) - O problema é o seguinte: não queremos jogar a responsabilidade para ninguém sobre a questão da segurança. Nem para o Presidente da República, nem para o governador de São Paulo, Cláudio Lembo. Não vamos jogar só para um, não vamos responsabilizar uma pessoa só, não vamos fazer isso. Mas uma coisa é preciso ser lembrada, Senador Eduardo Suplicy: o Fundo Penitenciário Nacional tem R$335 milhões para serem investidos, até agora foram investidos só R$5 milhões. Posso estar errado, mas estou pegando dados que me foram passados há pouco pela minha assessoria. Só foram investidos R$5 milhões do Fundo Penitenciário Nacional. E parece-me que esse investimento foi em passagens, eventos, computadores e assim por diante. Essas coisas são importantes, muito importantes, como equipamentos. Porém, só foram investidos R$ 5 milhões. Parece também que o Siafi, no primeiro semestre, anunciou - isso quem me passou foi a assessoria do PSDB - que o governo tem R$1,5 bilhões para investir. Até agora, comprometidos, são só 12% dos R$1,5 bilhões. E liberados mesmo não chega a 1%, ou um pouco mais de 1%, não sei. É claro que não se deve responsabilizar só o Presidente Lula, mas, se existem os recursos destinados ao orçamento, por que não liberá-los, Senador? Tenho certeza absoluta de que V. Exª também não concorda com isso.
O SR. EDUARDO SUPLICY (Bloco/PT - SP) - Permita-me, Senador Leonel Pavan, dar-lhe a informação que me transmitiu, no sábado, o próprio Secretário de Assuntos Penitenciários, Antônio Ferreira Pinto. Inclusive, após o encontro do Presidente com o Governador Cláudio Lembo, sexta-feira última. No sábado, informou-me que já estavam tomadas as providências que o Ministro da Justiça pediu no sentido de formalizar exatamente a destinação dos recursos. Já estavam depositados na conta do Governo do Estado de São Paulo R$87 milhões. Os R$13 milhões restantes, para a construção dos presídios necessários, estarão em breve liberados. Aquela providência de liberação de R$100 milhões de recursos do Governo da União para o Governo do Estado de São Paulo, diante da emergência, foi tomada nos últimos dias.
O Sr. Leonel Pavan (PSDB - SC) - Sr. Presidente, Senador Roberto Saturnino, esse debate é importante. Hoje não haverá votações. Portanto, solicito um tempo a mais para debatermos com o Senador Eduardo Suplicy essa questão. Nossa intenção é de encontrar soluções. É correto, Senador Eduardo Suplicy, que os recursos liberados agora não salvam, não inocentam, nem isentam os responsáveis do passado. Tudo o que ocorreu até agora poderia ter sido amenizado se tivessem investido esses recursos antes, se tivessem destinado R$80 milhões ou R$100 milhões antes. Isso se pudessem tê-los destinado. Não destinaram.
Agora, esse recurso poderá amenizar a situação daqui para a frente. Também destinaram R$13 milhões para os presídios de Santa Catarina, mas só falaram, não existe o dinheiro, o dinheiro não está lá, não está liberado! A verdade é que estamos vivendo um momento dos mais difíceis no Brasil em relação à segurança. No entanto, não sei se por burocracia ou o que seja, não se libera, a não ser sob pressão, Eduardo Suplicy, independentemente de quem seja o Presidente da República. Segurança é prioridade. É prioridade! Não se pode deixar o recurso parado no caixa. Tem de liberar! Está garantido! Foi aprovado! Outra questão que gostaria de colocar aqui é sobre o fato de o Lula não ter ido ao debate. Não dá para se comparar com o Fernando Henrique Cardoso, dizendo que ele fazia também. O Fernando Henrique Cardoso não é candidato; o candidato é Geraldo Alckmin. Ele já passou; agora, são novos candidatos! O Lula está disputando com o Alckmin, com a Heloísa Helena, com o Cristovam. É um novo processo, é uma nova eleição, é novo debate, são novos tempos, é nova história! Porque o Lula sempre demonstrou ser diferente e dizia que seria diferente! E, lamentavelmente, penso que ele fugiu do debate. Assim como não se pode comparar o Fernando Henrique Cardoso, que foi um grande Presidente da República, com o Alckmin, não podemos dizer que qualquer um do PT seja culpado pelas falcatruas que alguns do PT cometeram. Os que cometeram vão pagar; os que não fizeram vão ser julgados; para os que não cumpriram sua missão, com certeza, a população vai dar a resposta dia 1º de outubro! Agora, querer fazer a comparação, porque o Fernando Henrique Cardoso não foi, o Lula não quer ir, não faz sentido, pois penso que este não esteja indo por outros motivos, que não o da comparação!
O SR. EDUARDO SUPLICY (Bloco/PT - SP) - Senador Leonel Pavan, V. Exª está percebendo que eu aqui hoje estou recordando os meus discursos - são três que, inclusive, vou pedir para serem registrados nos Anais da Casa - de 1998, quando então procurava instar o Presidente Fernando Henrique Cardoso a participar dos debates. E hoje quero transmitir com fraternidade, com amizade ao Presidente Lula que ele estará prestando um serviço à democracia se comparecer aos debates.
Ouço o Senador Pedro Simon com muito honra.
O Sr. Pedro Simon (PMDB - RS) - Eu acho que V. Exª está sendo muito claro. Aliás, justiça seja feita, não é por nada que a credibilidade de V. Exª tem índices tão elevados em São Paulo para candidato a reeleição. É que V. Exª, com muita dificuldade, com muitas interrogações dentro do seu próprio partido, vem mantendo a coerência que o caracteriza. As teses que V. Exª defendia ontem como líder e como Senador da oposição, V. Exª as busca e esforça-se para defendê-las hoje. Então o que tem que se salientar no seu pronunciamento é que, há quatro anos, V. Exª...
O SR. EDUARDO SUPLICY (Bloco/PT - SP) - Aqui era 1998, Senador Pedro Simon...
O Sr. Pedro Simon (PMDB - RS) - Há oito anos, V. Exª...
O SR. EDUARDO SUPLICY (Bloco/PT - SP) - Permita-me, Senador. Nesse mesmo discurso, citei palavras do Presidente Fernando Henrique Cardoso sobre a ausência de Jânio Quadros no debate de 1985, quando ele disse: “São Paulo vê, assim, que tipo de candidato é o Sr. Jânio Quadros. E que lástima para todos nós seria voltarmos a esse passado, aos mesmos golpinhos, tentando, simplesmente, fugir do debate”. Ou seja, eu queria recordar Fernando Henrique sobre a importância de ele vir ao debate. E defendia, então, o candidato Luiz Inácio Lula da Silva, que era o principal adversário.
O Sr. Pedro Simon (PMDB - RS) - E V. Exª mostra sua coerência. Defende, hoje, no Governo, o que V. Exª defendia, ontem, na Oposição. Mas essa não é a característica deste Senado. Tantos os companheiros de Fernando Henrique, que ontem silenciavam quando ele não queria ir aos debates, hoje, cobram do Lula, porque não vai ao debate. Quantos companheiros do PSDB, que hoje cobram do Lula que não vai ao debate, mas, ontem, calavam, silenciavam e defendiam Fernando Henrique que não ia ao debate. Dentro dessa heterogeneidade de comportamento, V. Exª mantém a coerência. E faz muito bem V. Exª de ir à tribuna. E não ir à tribuna para falar, mas ler o seu pronunciamento quando V. Exª era Líder da Oposição, e o candidato, que não queria ir, era o Sr. Fernando Henrique. Não é só nesse assunto. São várias vezes, nestes quatro anos, que V. Exª tem ido à tribuna defender posições que defendia no passado e as defende agora. V. Exª, desde o início, defendeu a criação da CPI. O PT e o Presidente da República foram contra a criação da CPI. Nós tivemos de entrar no Supremo para que a CPI fosse criada. Esse é o mérito de V. Exª. Mas, lamentavelmente, é onde o Governo se identifica. Nós vamos ver que quem está no Governo está no Governo! Há muitas coisas que Fernando Henrique fez no Governo e que o Lula faz hoje. Como há muita coisa que o PT e Lula defenderam na Oposição e esqueceram hoje. V. Exª, em meio a esse conjunto geral, tem a credibilidade de estar sempre com a mesma posição. Por isso V. Exª é invencível em São Paulo.
O SR. EDUARDO SUPLICY (Bloco/PT - SP) - Concluindo, então, Sr. Presidente, quero agradecer as palavras do Senador Pedro Simon e até aqui registrar que achei importante que o Líder Senador Ney Suassuna tenha ouvido as recomendações do Senador Pedro Simon, dizendo que se vai dedicar, por um período, inteiramente, para esclarecimento e defesa, por isso pede licença, seguindo a palavra com uma força tão forte quanto a de V. Exª, Senador Pedro Simon.
Muito obrigado, Sr. Presidente.
O Sr. Heráclito Fortes (PFL - PI) - Tenho certeza de que o Senador Saturnino, esse excepcional andarilho da democracia brasileira, permitirá que eu fale.
O SR. EDUARDO SUPLICY (Bloco/PT - SP) - Senador Heráclito, eu estava na dúvida se V. Exª queria ou não um aparte.
O SR. PRESIDENTE (Roberto Saturnino. Bloco/PT - RJ) - Apelo para a brevidade, Senador, em razão da inscrição de vários outros nobres Colegas que sucederão ao Senador Suplicy na tribuna.
O Sr. Heráclito Fortes (PFL - PI) - Agradeço a V. Exª. Mas eu tinha que me solidarizar com o Senador Suplicy pelos momentos de angústia que viveu quando seu motorista - parece-me - foi seqüestrado neste fim de semana.
O SR. EDUARDO SUPLICY (Bloco/PT - SP) - Sim.
O Sr. Heráclito Fortes (PFL - PI) - Eu vinha em meu carro e fiquei sensibilizado e angustiado para chegar aqui e emprestar a V. Exª a minha solidariedade para que seja transmitida a esse trabalhador. Isso mostra exatamente o quadro que o Brasil vive hoje. Não é São Paulo. No Rio, tivemos recentemente o falecimento de um português. E, para mostrar ao Brasil que a crise da segurança é grave, tivemos há três meses no Congresso Nacional, mais precisamente na Câmara, a invasão inusitada de sindicalistas comandados pelo Sr. Bruno Maranhão, que provocou, inclusive, ferimentos em funcionários desta Casa. A violência que assola o País aumentou muito nesses últimos quatro anos, infelizmente. Agora, Senador Eduardo Suplicy, quero lhe dar uma sugestão. V. Exª falou com muita emoção, mas deixou passar a impressão a quem estava ouvindo de que, ao tomar conhecimento de que o motorista era de V. Exª, os seqüestradores o soltaram. Ficará muito ruim essa impressão para a opinião pública. Minha pergunta é: se o motorista fosse de um Senador que combate o Governo, teria tido ele o mesmo tratamento dos seqüestradores? Ficou muito ruim. Eu, como amigo de V. Exª, sugiro que V. Exª volte a esclarecer esse episódio. Falo como amigo, como uma pessoa que preza pela sua imagem. Até fiquei preocupado em saber se havia ouvido erradamente, mas duas ou três pessoas que consultei tiveram a mesma impressão. Tenho certeza de que é apenas um episódio, mas seria bom que fosse feito esse esclarecimento. A princípio, tenho esse cuidado, porque, recentemente, uma revista desse fim de semana - salvo engano, a Veja - mostrou diálogos em que prisioneiros mandavam que companheiros tivessem ações duras com políticos no Brasil. Portanto, eu queria apenas fazer esse registro. Para finalizar, penso que não estamos no momento de lembrar o que alguns políticos brasileiros disseram no passado, até porque, no último debate da eleição passada, o Presidente Lula batia muito na tecla de que, no seu palanque, não subiria ladrão, não haveria lugar para corrupção. Alguma coisa mudou. Fica o registro.
O SR. EDUARDO SUPLICY (Bloco/PT - SP) - Senador Heráclito Fortes, em primeiro lugar, agradeço a sua solidariedade. Gostaria de prestar a seguinte informação: o meu motorista, José Damião da Silva, disse-me que, ao ser seqüestrado, explicou que era apenas um motorista. Os dois seqüestradores pediram-lhe os documentos, os cartões de crédito, para que pudessem proceder à retirada em dinheiro da sua conta bancária, e João Damião forneceu sua senha. Inclusive, os dois seqüestradores telefonaram para uma terceira pessoa, informando o código e o anotaram num livro que se encontrava no carro e que, coincidentemente, era de minha autoria. Perguntaram-lhe o que fazia, e João Damião disse que era um motorista e que ia levar-me ao aeroporto. Por poucos instantes, eu não os encontrei, porque estava saindo de casa no momento do seqüestro.
Mas isto, então, indica que os dois rapazes não sabiam que aquela era a minha residência e que o José Damião era a pessoa que me levaria e que trabalha comigo desde 1985. Mas, quando ele informou aos dois que trabalha para um Senador - não sei se aí eles identificaram que era um Senador do PT e que apóia o Presidente Lula -, os seqüestradores disseram ao José Damião da Silva: “Então este BO é muito grande; vamos deixar você com o automóvel”. E o deixaram lá.
No diálogo, é fato - disse-me o Damião - que eles disseram: “Nós vamos votar no Senador Suplicy”. Esse foi o fato objetivo que aconteceu.
Com respeito aos debates, tenho a convicção de que...
(Interrupção do som.)
O SR. PRESIDENTE (Roberto Saturnino. Bloco/PT - RJ) - Senador Suplicy, apelo que V. Exª conclua agora.
O SR. EDUARDO SUPLICY (Bloco/PT - SP) - Estou saindo da tribuna, Sr. Presidente.
Com respeito aos debates, tenho a convicção de que, quanto ao meu amigo, companheiro e Presidente que apóio, eu o ajudarei sempre que disser a opinião da forma mais sincera possível, mesmo que eventualmente divergindo. Mas a minha recomendação é: Presidente Lula, se comparecer aos debates, inclusive no primeiro turno, Vossa Excelência estará contribuindo, e muito, para o aperfeiçoamento das instituições democráticas no Brasil.
O debate é a maneira de fazer com que nós candidatos e partidos gastemos muito menos. Eu, embora esteja muito bem nas pesquisas de opinião, aceito o debate com os meus adversários em qualquer meio de comunicação que nos convide.
Muito obrigado, Sr. Presidente.
O SR. PRESIDENTE (Roberto Saturnino. Bloco/PT - RJ) - Senador Suplicy, a Mesa, em nome do Senado e de todos os Senadores, expressa a mais profunda solidariedade ao servidor que há tanto tempo lhe presta serviços, Sr. José Damião, e naturalmente também a V. Exª, pelo acontecido.
O SR. EDUARDO SUPLICY (Bloco/PT - SP) - Muito obrigado, Sr. Presidente.
Requeiro que sejam transcritos os pronunciamentos de 1998.
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DOCUMENTOS A QUE SE REFERE O SR. SENADOR EDUARDO SUPLICY EM SEU PRONUNCIAMENTO.
(Inseridos nos termos do art. 210, inciso I e § 2º, do Regimento Interno.)
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Matérias referidas:
“Notas taquigráficas dos dias 29/06/1998, 05/08/1998 e 13/10/1998.”