Discurso durante a 134ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

Celebração do cinqüentenário da imigração japonesa no Rio Grande do Sul.

Autor
Sérgio Zambiasi (PTB - Partido Trabalhista Brasileiro/RS)
Nome completo: Sérgio Pedro Zambiasi
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM.:
  • Celebração do cinqüentenário da imigração japonesa no Rio Grande do Sul.
Publicação
Publicação no DSF de 17/08/2006 - Página 27019
Assunto
Outros > HOMENAGEM.
Indexação
  • HOMENAGEM, CINQUENTENARIO, IMIGRAÇÃO, ESTRANGEIRO, PAIS ESTRANGEIRO, JAPÃO, ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL (RS), CONTRIBUIÇÃO, DESENVOLVIMENTO, REGIÃO SUL.
  • COMENTARIO, HISTORIA, IMIGRAÇÃO, ESTRANGEIRO, PAIS ESTRANGEIRO, JAPÃO, ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL (RS), ELOGIO, ATUAÇÃO, CONSUL, EMBAIXADA ESTRANGEIRA, SETOR, EDUCAÇÃO, MEIO AMBIENTE, POLITICA SOCIAL.

O SR. SÉRGIO ZAMBIASI (PTB - RS. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, é com grande satisfação que ocupo a tribuna no dia de hoje para registrar que, neste ano, o povo gaúcho celebra o Cinqüentenário da Imigração Japonesa no Rio Grande do Sul - e, tenho certeza, falo também em nome dos Companheiros, dos Colegas, dos Senadores gaúchos, como Paulo Paim e nosso querido Pedro Simon.

Temos orgulho de afirmar que a pequena, mas expressiva comunidade japonesa do nosso Estado soube conquistar seu lugar com determinação e com muito trabalho. E temos a satisfação de constatar que ela vem contribuindo decisivamente para o engrandecimento da nossa terra, ao lado das demais etnias que compõem o mosaico cultural que é o Rio Grande do Sul.

Com o fim da Segunda Guerra Mundial, o Japão era um país devastado e empobrecido. Nos seis anos de duração daquele conflito armado, de 1939 a 1945, cerca de dois milhões de japoneses morreram, 40% das cidades foram destruídas, e a economia estava arrasada. A inflação galopante e a falta de alimentos, de infra-estrutura e de trabalho faziam da Terra do Sol Nascente um lugar de poucas perspectivas, principalmente para os jovens.

Na madrugada de 20 de agosto de 1956, o navio japonês Brasil Maru, que trazia dois mil imigrantes para nosso País, atracou no porto marítimo gaúcho da cidade de Rio Grande. Ali desembarcaram 23 jovens solteiros, que, depois de viajarem por 51 dias, finalmente chegavam com a promessa de uma vida melhor. Era o começo da imigração japonesa no Rio Grande do Sul.

Vieram a partir de um convênio entre a administração do então Governador gaúcho, Ildo Meneghetti, e o Japão. Vieram com formação técnica em atividades agrícolas e administrativas, cheios de esperança, a fim de formar uma cooperativa, de acordo com o convênio firmado.

Todavia, o tal projeto não vingou, e os jovens japoneses foram obrigados a procurar seu sustento, sendo que a maioria distribuiu-se em diferentes propriedades para trabalhar a terra. Determinados a vencer todos os obstáculos, nos primeiros tempos muitos permutavam a força do seu trabalho por casa, por comida e por percentual de produtividade. Não tardou para que se transformassem em produtores independentes.

Os jovens aventureiros de olhos rasgados, povo de vontade férrea e de disciplina exemplar, conhecidas e admiradas no mundo todo, prosperaram com notável rapidez em pequenas propriedades agrícolas, inserindo-se na realidade do Estado gaúcho e dela participando ativamente.

A comunidade japonesa no Rio Grande do Sul mantém fortes laços da cultura nipônica até os dias de hoje, reunindo-se anualmente para relembrar e cultuar uma saga de sacrifícios, de fibra e de retidão, em homenagem aos antepassados e a seus descendentes.

Assim, neste ano do Cinqüentenário da Imigração, o Escritório Consular do Japão, em Porto Alegre, com o apoio da Secretaria de Estado da Cultura, vem desenvolvendo uma série de eventos comemorativos à data. Desde fevereiro, a agenda do Cônsul Hajime Kimura - jovem notável por seu empenho e pela dedicação frente ao Consulado - é uma verdadeira maratona, que terá sempre e está tendo agora seu ponto alto neste mês de agosto e que se vai encerrar apenas em outubro, com a tradicional Feira do Livro da nossa Capital, quando o Japão será o país homenageado.

A programação inclui exibição de filmes, oficinas e exposições de fotos e de artesanato, apresentações musicais, palestras e debates culturais. O encerramento dar-se-á com um concerto sinfônico no Teatro da Ospa, em Porto Alegre.

A comunidade japonesa gaúcha é muito expressiva do ponto de vista socioeconômico, notadamente no agronegócio e no comércio. São famílias que, em pequenas, mas impecáveis propriedades, produzem hortaliças, frutas, flores, trabalham no comércio, em restaurantes, em mercados ou em lojas, além dos que atuam em profissões liberais ou na vida acadêmica, oferecendo um padrão de vida absolutamente digno para os seus.

Nosso Estado assimilou a excelência da cultura nipônica. O grande número de bares e de restaurantes japoneses, com sua culinária de raro esmero e com a alegria dos karaokês - mania japonesa que está para eles como a pelada de fim de semana está para nós -, é muito apreciado, principalmente na capital gaúcha.

Pelos sítios e chácaras espalhados em regiões do nosso Estado, muitas famílias produzem o que há de melhor para a mesa dos gaúchos e dos demais brasileiros, inclusive para exportação, como hortaliças, frutas, legumes, verduras de padrão internacional, além da sensibilidade empregada no cultivo das flores, que decoram e embelezam para alegria dos nossos sentidos e dos nossos corações.

Srªs e Srs. Senadores, contemplamos a beleza porque ela é um valor intrínseco. E para ela nos voltamos porque carecemos voltar para o que há de melhor em nós mesmos. Nesse sentido, quero dizer da estética japonesa, que, permeando todas as expressões do seu povo, faz da cultura japonesa uma das mais belas do mundo.

Para além do invejável avanço industrial e tecnológico, surpreende-nos sua exótica arquitetura e sua escrita desenhada; encanta-nos a riqueza das cores do artesanato, a elegância do vestuário, a delicadeza do teatro e da música, a exatidão das artes marciais, o requinte na culinária, a amabilidade nos gestos e nos costumes.

Nesse particular, destacamos o status do idoso japonês, cuja experiência de vida e cujos serviços prestados à sociedade fazem dele respeitável cidadão, sem similar no mundo ocidental. Por todo isso, identificamos a preservação do belo na cultura de um povo que sofreu como poucos os revezes da guerra e da destruição, mas que soube reconstruir-se na força de suas seculares tradições, estrategicamente alicerçadas na modernidade contemporânea.

Sr. Presidente, Senador Sibá Machado, felizmente, muitos dos aventureiros japoneses que no Rio Grande do Sul chegaram naquele agosto de 1956 permanecem entre nós. A eles, especialmente, e a todos os seus descendentes, manifestamos nosso respeito, homenageando-os pelo transcurso dos 50 anos de imigração japonesa no Rio Grande do Sul.

Igualmente, nossos cumprimentos ao Cônsul do Japão, Hajime Kimura, que deveria retornar ao seu país em meados de abril, mas que, em caráter excepcional, permanecerá conosco até o término das comemorações. A ele, nosso reconhecimento pela qualidade superior do trabalho desenvolvido no posto consular, com enorme e fundamental participação nas áreas social, educacional e ecológica, junto à comunidade gaúcha.

O nosso abraço fraternal aos milhares de japoneses gaúchos, espalhados pelos Municípios de Ivoti, de Bagé, de Gravataí, de Ijuí, de Pelotas, de Santa Maria, de Itati, de São Leopoldo, de Viamão e de Porto Alegre.

Meu abraço muito especial a Ihoê e ao Mário, líderes da comunidade japonesa que têm uma presença muito marcante em Porto Alegre.

V. Sªs são parte representativa e significativa de um país exemplo para todas as nações, o qual, devastado pelas bombas de Hiroshima e de Nagasaki, soube renascer como potência mundial, com base na educação e na família.

Orgulhem-se V. Sªs, pois descendem de um País cujos sucessivos governos protegem e priorizam a família em suas políticas públicas. Nesse sentido, mantêm 100% das suas crianças e adolescentes na escola, onde aprendem sobre ética e moral, economia doméstica e organização comunitária, além das matérias tradicionais. É um país que reconhece a educação como uma poderosa usina geradora de força nacional, afastando seu povo da escravidão da ignorância e da miséria.

Queira Deus, Sr. Presidente Sibá Machado, que, neste momento de comemoração dos 50 anos da imigração japonesa no Rio Grande do Sul, possamos assimilar mais e melhor a contribuição nipônica na formação de nosso povo, dentro dos mesmos pilares que resgataram a força e a beleza da distante e lendária “terra dos samurais”!

Muito obrigado.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 17/08/2006 - Página 27019