Discurso durante a 138ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

Questionamentos sobre o PT que trabalha e o PT que festeja.

Autor
Heráclito Fortes (PFL - Partido da Frente Liberal/PI)
Nome completo: Heráclito de Sousa Fortes
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
GOVERNO FEDERAL, ATUAÇÃO. POLITICA INDUSTRIAL.:
  • Questionamentos sobre o PT que trabalha e o PT que festeja.
Publicação
Publicação no DSF de 23/08/2006 - Página 27314
Assunto
Outros > GOVERNO FEDERAL, ATUAÇÃO. POLITICA INDUSTRIAL.
Indexação
  • BALANÇO, ATUAÇÃO, GOVERNO FEDERAL, PRESIDENTE DA REPUBLICA, CRITICA, PARTIDO POLITICO, PARTIDO DOS TRABALHADORES (PT), ABANDONO, DEFESA, INTERESSE, POVO, PROTEÇÃO, CORRUPÇÃO, DESRESPEITO, TRABALHADOR.
  • APREENSÃO, FECHAMENTO, INDUSTRIA AUTOMOTIVA, ESTADO DE SÃO PAULO (SP), AUMENTO, DESEMPREGO, CRITICA, FALTA, ATENÇÃO, GOVERNO FEDERAL.

O SR. HERÁCLITO FORTES (PFL - PI. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, é muito bom que, na primeira fila, na falta de representantes do Governo, estejam três ex-petistas empedernidos e convictos: dois Deputados e uma Senadora que trocaram de Partido porque cometeram o pecado de continuar pensando, agora, como pensavam no início de suas vidas públicas.

Meu caro Presidente, eu queria falar dos dois “brasis” que o PT vive: o PT que trabalha e o PT que festeja.

A imprensa, hoje, publica uma matéria em que diz que a Volkswagen poderá fechar a fábrica do ABC paulista.

Senador Tuma, essa conversa já vem sendo tratada há alguns dias.

O Sr. Romeu Tuma (PFL - SP) - Há meses.

O SR. HERÁCLITO FORTES (PFL - PI) - Meses. Nós não ouvimos, aqui, o dito, o vulgo Partido dos Trabalhadores levantar uma voz sequer sobre essa questão. Muito pelo contrário. Fez com a Volkswagen a mesma coisa que fez com o governo da Bolívia. No caso da Bolívia, perdoou dívidas, mandou aviões usados, deu crédito de confiança ao novo governo e este, ao assumir, chicote no Brasil. E o Brasil, desmoralizado. Aqui, a mesma coisa.

Colocou linha de crédito do BNDES, Senador Antonio Carlos Magalhães, à disposição da Volkswagen, sem nenhuma contrapartida, e a empresa, agora, ameaça demitir pelo menos três mil pessoas.

No mesmo dia, Senador Marco Maciel, na Folha de S.Paulo, o jornalista Guilherme Barros publicou uma matéria sobre o outro PT: “Furlan reúne pesos pesados para jantar em casa com Lula.” Imagine o vinho que se tomará e a comida que será consumida. Os assuntos tratados, evidentemente, serão relativos mais aos interesses eleitorais próximos que aos interesses desta Nação.

Há uma lista dos ilustres convidados, os comensais de Lula, o trabalhador, para esse jantar de patrões, que devem tratar os seus empregados, colegas de Lula, de maneira exemplar. Aí é bonito. Veja bem: Marcio Cypriano, presidente da Febraban e do Bradesco; Emílio Odebrecht, da empresa que leva o seu nome; Rogério Agnelli, da Vale do Rio Doce; Horacio Lafer Piva, da Klabin; Carlos Ermírio de Moraes, da Votorantim; David Feffer, da Suzano; Cledorvino Bellini, da Fiat; José Armando de Figueiredo Campos, da CST; Paulo Burtori, do Sindipeças; Carlos Alberto Vieira, da Aracruz; e José Antônio Martins, da Marcopolo.

Veja, Srª Senadora Heloísa Helena, quem lá estará também: Hans-Christian Maergner, Presidente da Volkswagen, que, durante o dia, em seu expediente, demite trabalhadores e, à noite, confraterniza-se com o Presidente da República. É esse o Partido dos Trabalhadores. É essa a cabeça do Presidente, que, naturalmente, aqui repetirá a “Carta aos brasileiros”, há quatro anos produzida. Naquele momento, deu garantias aos bancos de que os lucros continuariam como estavam e disse-lhes que ficassem tranqüilos porque, no Brasil, nada mudaria.

Honrou o compromisso: foi buscar, para a Presidência do Banco Central, o Dr. Henrique Meirelles, tucano, da mesma linha dos Ministros que o PT combatia em praça pública. Aliás, até o compromisso assumido por Meirelles de pagar adiantadamente a dívida com o FMI foi honrado.

Esse é o PT que tentamos entender mas não conseguimos.

Sr. Senador, Antonio Carlos Magalhães, no Piauí, existe um ditado que diz que cachorro mordido por cobra corre com medo de lingüiça. No PT não é assim.

Na eleição passada, o Sr. Duda Mendonça, na euforia quero crer que não de uma vitória já assegurada, mas de enormes contratos conquistados - e que, depois, o Brasil soube em que circunstâncias -, criativo na maneira de vender um mau produto como algo excelente, fez do Senhor Lula Presidente da República.

            Comemoraram, segundo a imprensa local, no mais caro restaurante do Rio de Janeiro. Lá, tomaram uma garrafa de vinho Romanée-Conti. Nada demais. Ganhando em dólar, por dentro e por fora, para fazer do candidato a Presidente um bom produto, que maldade havia, Sr. Presidente, em o Sr. Duda Mendonça tomar um inofensivo Romanée-Conti, que, evidentemente não é o mesmo vinho que os trabalhadores do Brasil bebem?

Zero, zero por cento, Senador Saturnino, dos trabalhadores brasileiros tiveram sequer a oportunidade de ver um rótulo desse difícil produto.

A revista Veja, como se comemorando o aniversário de quatro anos desse episódio, noticiou que o Ministro Gushiken, no Magari, restaurante chique de São Paulo - parece que é o mais careiro da cidade no momento -, juntamente com um empresário do setor de comunicação, tomou uma garrafa de Grand Vin de Château Latour, safra 1994, e, depois, fumou um charuto. Disse que a conta foi de R$3,5 mil, mas o que representa esse valor para o Sr. Gushiken? Nada.

Fiquei preocupado menos com o gasto e mais com o Gushiken. Homem discreto, hoje é terça-feira e ele não desmentiu a notícia, mas a minha preocupação maior é com a sua saúde. Lembro-me que, antes de depor na CPMI do Banestado, funcionários do Palácio procuraram nossos gabinetes para nos prevenir quanto ao risco daquele depoimento, porque a saúde do então todo poderoso porta-voz estava a merecer cuidados.

Acredito que ele esteja fazendo extravagância e não sei o que lhe causa maior mal, se o charuto ou o vinho. De qualquer maneira, ele precisa ter mais cuidado com a saúde e não se deve expor tomando vinho com esse preço, porque, meu caro Presidente, tanto faz beber o famoso vinho Dom Bosco, produzido na serra gaúcha, como o Romaneé-Conti ou o Latour. O mal para a saúde é o mesmo. Mas, o que fica ruim aqui é o exemplo. A Revista - não sei se não teve acesso - não detalha quem foi o seu companheiro de noitada; diz apenas ser o diretor de uma empresa de comunicação.

Senador Roberto Saturnino, o que é uma empresa de comunicação? Será uma televisão? Será uma empresa de publicidade? Será alguém que tenha conta no Governo? Será alguém a quem o Governo deve? É algo curioso.

Tenho o Sr. Gushiken na conta de uma pessoa séria, manda no Governo, tanto é que o Lula, num ato falho, disse que todos os envolvidos nos escândalos recentes haviam sido demitidos, menos ele; apenas rebaixado de posto por questões estratégicas, mas continua lá, mandando. Acho eu que o seu lugar está meio comprometido, não por falta de competência, mas porque o PT mudou de cabeça: coloca o Gushiken para tratar de assuntos estratégicos, e o Senador Sibá Machado, esta semana, Senador Antonio Carlos Magalhães, veio falar da estratégia escolhida para o Brasil nos próximos 20 anos e elaborada pela CIA, a mesma a que eles tinham horror quando estavam na Oposição, inclusive pichavam nas paredes “Fora americanos!”; aquela verdadeira paranóia. Ontem, ouvimos uma aula da história da colonização do nosso mundo: como se chegou no Brasil, como os europeus dominaram o planeta, sempre sob a visão estratégica do americano. Americano com quem o Partido dos Trabalhadores faz constantes parcerias, ora para pagar dívidas, ora para comungar com os seus pensamentos.

Senador Antonio Carlos Magalhães, na ocasião, V. Exª não estava aqui, infelizmente, até pedi ao Líder do Governo que falasse baixinho para que Fidel Castro não ouvisse, porque se Fidel Castro souber que o Governo do PT está se baseando em relatório da CIA para projetar o futuro do Brasil, não vai ficar satisfeito.

O Sr. Chávez, truculento como é e raivoso, vai esconjurar o parceiro e não deixará fazer aquele gasoduto, que é comparável, pelo Presidente da República, às Muralhas da China. Esse é o PT da ilusão; o outro é o PT do desprezo ao trabalhador.

O Sr. Antonio Carlos Magalhães (PFL - BA. Fora do microfone) E o da corrupção?

O SR. HERÁCLITO FORTES (PFL - PI) - É a união dos dois pensamentos. É o resultado disso tudo, Senador Antonio Carlos Magalhães. É o produto. É o que assiste à demissão do trabalhador durante o dia, o assalariado; e é o que se confraterniza nos restaurantes caros do Brasil afora, tomando vinhos dessa natureza. Aliás, disseram-me que há ex-Ministros que estão por aí a ostentar bom gosto e finura nos restaurantes do País, tomando vinhos bem mais caros e mais sofisticados. Vai ver que é doação e generosidade dos amigos!

Uma vez, a minha assessora de imprensa, a Letícia, que está aqui, disse-me que eu era preconceituoso quando eu comecei a ver que o PT estava mudando os costumes. Antigamente, vestiam-se na Casa Colombo; ao tomar posse, passaram, todos, a se vestirem no Ricardo Almeida. Em Brasília, era o Hotel Torre - quem mora em Brasília se lembra -: era aquele restaurante árabe, que era freqüentado de manhã, de tarde e de noite e um outro na Asa Norte, que servia comida a quilo. Fundaram o Porcão. E o Porcão passou a ser o quartel-general. O Hotel Torre foi abandonado. E, hoje, são os donos do Blue Tree. Para se hospedar no Blue Tree, alguém que venha de fora, Senadora Heloísa Helena,...

A Srª Heloísa Helena (P-SOL - AL. Fora do microfone) Não quero saber deste Blue Tree!

O SR. HERÁCLITO FORTES (PFL - PI) - Sei que V. Exª é traumatizada por eventos ocorridos no Blue Tree.

A Srª Heloísa Helena (P-SOL - AL. Fora do microfone) Completamente.

O SR. HERÁCLITO FORTES (PFL - PI) - Foi lá o seu patíbulo; foi lá onde V. Exª foi para a forca do Partido dos Trabalhadores! Foi lá! Comemorado com uísque - aquele com selo azul, Johnnie Walker de não sei quantos anos. Mas como tudo que não é feito com naturalidade, meu caro Deputado Ivan Valente, é malfeito, colocaram o guaraná - o guaraná é uma bebida genuinamente brasileira, saborosa - separado; o guaraná separado do uísque. Mas não misture porque não dá rima. Todos estavam lá, foram fotografados, porque no dia seguinte a cabeça de Heloísa Helena iria rolar. Foi a última vez que alguém foi condenado pelo Conselho de Ética do seu ex-Partido, Deputado Valente, por questões ideológicas! Por corrupção, não! Ninguém foi julgado; foram protegidos.

Deputado Valente, há quatro anos, V. Exª estava naquele comício, em São Paulo, quando Lula condenou a corrupção e disse que, no palanque dele ladrão não subia? Todo mundo acreditou...Todo mundo acreditou...

No entanto, há uma pessoa, Senador Marco Maciel, neste País, que merece uma estátua: é o Waldomiro Diniz! O primeiro, o pioneiro a quebrar todas aquelas verdades pregadas. Não foi punido. Demos até um crédito de confiança aqui, achando que aquilo era um erro de percurso, e que Waldomiro era uma ovelha negra no meio daquele bando de cordeirinhos, branquinhos que iam a caminho do céu. O Governo brasileiro era apenas o estágio. Mas não. Não foi punido. E hoje Lula está para cantar aquela música popular, que fez muito sucesso no ano passado - pena que a Líder não esteja aqui, pois é S. Exª quem canta, eu não canto-: “Se gritar pega ladrão...” Amanhã, ela continua.

Muito obrigado, Sr. Presidente.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 23/08/2006 - Página 27314