Discurso durante a 138ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

Homenagem a memória do ex-presidente Juscelino Kubitschek, pelos 30 anos de sua morte, e solicitação de transcrição nos Anais do Senado Federal, da edição histórica da revista Fatos e Fotos, sobre a trajetória do grande estadista.

Autor
Paulo Octávio (PFL - Partido da Frente Liberal/DF)
Nome completo: Paulo Octávio Alves Pereira
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM. ELEIÇÕES.:
  • Homenagem a memória do ex-presidente Juscelino Kubitschek, pelos 30 anos de sua morte, e solicitação de transcrição nos Anais do Senado Federal, da edição histórica da revista Fatos e Fotos, sobre a trajetória do grande estadista.
Aparteantes
Marco Maciel.
Publicação
Publicação no DSF de 23/08/2006 - Página 27329
Assunto
Outros > HOMENAGEM. ELEIÇÕES.
Indexação
  • HOMENAGEM, ANIVERSARIO DE MORTE, JUSCELINO KUBITSCHEK, EX PRESIDENTE DA REPUBLICA, EX SENADOR, ESTADO DE GOIAS (GO), ELOGIO, VIDA PUBLICA.
  • SOLICITAÇÃO, TRANSCRIÇÃO, ANAIS DO SENADO, ARTIGO DE IMPRENSA, PERIODICO, ESTADO DO RIO DE JANEIRO (RJ), COMENTARIO, HISTORIA, EX PRESIDENTE DA REPUBLICA, FUNDADOR, NOVA CAPITAL, DISTRITO FEDERAL (DF).
  • COMENTARIO, CANDIDATURA, ORADOR, VICE-GOVERNADOR, DISTRITO FEDERAL (DF), DEFESA, MANUTENÇÃO, RESPEITO, HISTORIA, CAPITAL FEDERAL, GARANTIA, POLITICA DE DESENVOLVIMENTO, CIDADE.
  • AGRADECIMENTO, MARCO MACIEL, SENADOR, DISTRITO FEDERAL (DF), EMPENHO, CONSOLIDAÇÃO, BRASILIA (DF), OPORTUNIDADE, GESTÃO, VICE-PRESIDENTE DA REPUBLICA.

O SR. PAULO OCTÁVIO (PFL - DF. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente Marcos Guerra, Srªs e Srs. Senadores, há trinta anos, o Brasil perdia, trágica e misteriosamente, seu eterno Presidente Juscelino Kubitschek de Oliveira. Morria na Via Dutra um homem do tamanho do Brasil, um homem bem maior do que seu tempo, bem maior do que seu próprio sonho. Foi uma morte quase que anunciada, para usar a expressão do escritor Gabriel Garcia Marques. Foi um acontecimento que deixou o Brasil em estado de choque e toda a sociedade, especialmente o mundo político, em profundo luto.

Tenho em mão um exemplar histórico da revista Fatos e Fotos Gente, de 5 de setembro de 1976, veículo de comunicação do grupo Manchete, presidido e dirigido pelo jornalista Adolpho Bloch, amigo e companheiro do Presidente Juscelino de todos os momentos, principalmente dos momentos mais difíceis de sua vida. É uma edição especial, toda dedicada ao fatídico acidente, que, certamente, está arquivada na Biblioteca do nosso Senado Federal.

Vale a pena folheá-la, especialmente nesta data, pois, pelo registro dessa tragédia, podemos fazer uma viagem pela vida e pela memória desse homem exemplar, que, como diz aqui no editorial da edição, “durante o breve tempo em que governou este País, demonstrou uma visão e uma capacidade de realizações que acabariam por mudar o curso de nossa história”.

Juscelino Kubitschek, prossegue o editorial dessa edição histórica, “não precisou de poderes especiais para mandar e criar. Simplesmente, como um autêntico democrata, sonhou e concretizou o que ninguém esperava dele. E pela primeira vez, com JK, o nosso povo passou a acreditar na imagem de um Brasil país do futuro”.

Sr. Presidente, como já disse, a edição da revista é totalmente dedicada à gloriosa trajetória da vida do Presidente Juscelino. Na realidade, é um documento histórico que merece estar nos Anais desta Casa, que também foi casa de Juscelino.

Entre as inúmeras chamadas e fotografias da página onde está o índice da revista, chamou-me a atenção uma foto do Presidente tendo ao fundo o Congresso Nacional com a seguinte chamada: “O criador e a criatura”.

E, aqui, Srªs e Srs. Senadores, vale a pena relembrar que, para cumprir a Constituição Brasileira e dar vida à meta-síntese do seu governo, Brasília foi construída em apenas mil dias, uma epopéia que espantou o mundo e que calou a ferrenha oposição ao seu Governo.

Há, nessa edição de Fatos e Fotos, um depoimento do escritor e acadêmico, também já falecido, Josué Montello, que, na época, era membro do Gabinete Civil da Presidência da República. Escreveu ele, relembrando uma fala de JK: “’Se Deus, para fazer o mundo, teve de trabalhar seis dias, podendo descansar no sétimo, eu, para fazer a nova capital do Brasil, terei de trabalhar todos os dias, até poder concluí-la’”. “Ouvi essas palavras do Presidente Juscelino, quando Brasília era apenas um sonho absurdo”, escreveu Montello.

Ora, Sr. Presidente, esse episódio demonstra o nível de consciência e de sabedoria do estadista que sonhou, que criou e deu vida à cidade onde hoje vivemos e de onde, com acertos e com erros, dirigimos os destinos do nosso Brasil.

Ao iniciar a construção de Brasília, Juscelino prometeu à sua equipe: “Quero deixar a cidade inaugurada e funcionando de modo que ninguém possa abandoná-la, sob pena de cometer um crime que terá o castigo da História”.

Que maravilha de destino esse que o Presidente JK sempre desejou dar à nossa cidade, a esta adorável Brasília!

Voltando a citar o escritor Josué Montello: “Brasília é o mais belo sonho que um homem poderia realizar no século XX”.

Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, ao relembrar esta data que, embora trágica, é também história em sua essência, desejo refletir sobre os destinos desta filha predileta do Presidente Juscelino, que é Brasília, a Capital de todos os brasileiros.

Quis o destino que eu me casasse com a neta de JK, Anna Christina, mãe de meus filhos, que hoje cuida com zelo e com competência da parte da memória do fundador da nova capital, que se encontra no Memorial JK.

É neste contexto-homenagem à memória do nosso “Fundador” - palavra que ganhou uma dimensão extraordinária na inscrição da lápide do seu túmulo, hoje localizado no Memorial JK - que desejo avançar meu raciocínio de um passado tão vivo e glorioso para um futuro digno e promissor. Afinal, viajar no tempo foi também uma das especialidades de Juscelino Kubitschek de Oliveira.

Bem sabemos que, quando decidiu construir Brasília, chamou para si um dos desafios políticos e estratégicos mais impressionantes da história moderna: cinqüenta anos em cinco.

JK produziu uma das mais profundas e conseqüentes transformações realizadas na história política brasileira. Com um gesto rumo ao Planalto Central, viabilizou a integração nacional, criando as bases para a modernidade e para o desenvolvimento.

Brasília completou 46 anos no último abril. Neste período, o Brasil deu saltos de qualidade em todos os sentidos, sendo hoje uma das nações mais respeitadas e queridas do planeta. Faltam apenas quatro anos para Brasília completar o seu cinqüentenário. Ou seja, esta cidade-síntese do Brasil, que, em tão pouco tempo, ganhou a admiração mundial e o honroso título de Patrimônio Histórico e Cultural da Humanidade, dado pela Unesco, é também uma jovem senhora prestes a completar seus 50 anos.

Como todos sabem, Sr. Presidente, sou candidato a Vice-Governador na chapa do PFL. Aceitei o desafio para podermos, juntos, Arruda e eu, fazer um governo compartilhado, respeitando esse passado tão precioso do Presidente JK e viabilizando um futuro desenvolvimentista de luz e de realizações. Não foi à toa que nossa chapa foi batizada de “Por amor a Brasília”. Um dos nossos lemas é “Brasília, rumo aos 50 anos”.

Hoje, deste plenário, diante da memória de Juscelino, planto a semente primeira das comemorações do cinqüentenário de Brasília. Trata-se de cidade que vive para si e vive para o Brasil, que tem vida própria e reflete o Brasil, que é cidadã e é capital, que é vila, assentamento, quintal, mas também é metrópole, planetária, utópica, universal e transcendental. É cidade aberta aos desafios e brasileiramente mestiça. É uma cidade que já criou seus filhos, seus próprios códigos, seus ritmos, suas manias, desejos, sonhos e vontades. É cidade única, onde os automóveis param na faixa de pedestres, talvez um dos nossos mais nobres gestos de cidadania na Capital dos brasileiros.

Se Deus quiser, como Vice-Governador do Distrito Federal, terei muitas responsabilidades no sentido de garantir um maior desenvolvimento para nossa Capital. Entre os inúmeros projetos e programas que o nosso futuro governo está discutindo com a população brasiliense, um deles é dedicado ao cinqüentenário de Brasília.

Desejo também que o Senado Federal, Casa que recebeu o Presidente Juscelino Kubitschek como Senador por Goiás e que instituiu uma Comissão, que tenho a honra de presidir, para comemorar o cinqüentenário de sua posse como Presidente do Brasil, venha a ser uma instituição parceira no projeto de mostrar Brasília ao Brasil e aos demais países do mundo.

O Sr. Marco Maciel (PFL - PE) - Nobre Senador Paulo Octávio, peço escusas a V. Exª por aparteá-lo.

O SR. PAULO OCTÁVIO (PFL - DF) - É uma honra receber o aparte de V. Exª.

O Sr. Marco Maciel (PFL - PE. Com revisão do orador.) - Muito me sensibiliza ouvi-lo hoje, sobretudo quando evoca Juscelino Kubitscheck, figura a quem V. Exª está ligado, até por laços familiares. Juscelino, de fato, é um referencial da vida republicana brasileira e o seu governo marcou, de maneira funda, a preocupação com a integração nacional. A edificação de Brasília é bem um exemplo disso. A transferência da Capital do Rio para um outro sítio, para uma outra região, foi o gesto de Juscelino Kubitscheck que buscou promover a integração do País através da interiorização de sua Capital. Houve um historiador, Frei Vicente do Salvador, que não nasceu no Brasil, mas que escreveu sobre a nossa História, que disse de certa feita que o brasileiro vivia feito caranguejo, arranhando o litoral. Graças a Juscelino e com a mudança da Capital, que antes fora na Bahia, no litoral, em Salvador, o interior, para o Planalto Central, começou um grande processo de integração nacional. Não estaria exagerando se dissesse que todo esse processo de desenvolvimento que o País vive a partir da década de 60 é produto desse seu gesto, porque o governo naturalmente teve de dotar a capital de sua infra-estrutura física, de sua infra-estrutura de comunicações. Possibilitou que o Centro-Oeste desabrochasse, sendo hoje a região de maior dinamismo, em termos relativos, não tenho dúvida em afirmar isso, embora o Sudeste seja a mais rica do País. Ninguém pode deixar de reconhecer que o Centro-Oeste é, em termos relativos, a região de maior dinamismo econômico-social. Isso permitiu maior aproximação Amazônia, tão esquecida, e permitiu o desenvolvimento da região nordestina, concorrendo, assim, para que o Brasil se integrasse sob vários aspectos, inclusive no demográfico, porque aqui vivem cidadãos e cidadãs das mais diferentes partes do território nacional. Lembrar Juscelino é lembrar o otimista, que acredita no País. Repito sempre uma frase dele, que tive oportunidade de ler: “o otimista pode errar, mas o pessimista começa errando”. Vi essa sua frase num jornal do Rio meses antes de sua posse na presidência, que reflete muito o que também penso sobre o Brasil. Acho que temos razões, em que pesem as crises que vivemos, para sermos otimistas, porque o Brasil tem tudo para ser a grande nação que todos almejamos. Esse é um sonho possível, “... um sonho intenso, um raio vívido”, como diz o nosso Hino Nacional.

O SR. PAULO OCTÁVIO (PFL - DF) - Muito obrigado pelo aparte, Senador Marco Maciel.

(Interrupção do som.)

O SR. PAULO OCTÁVIO (PFL - DF) - Foi justamente quando V. Exª assumiu a vice-Presidência da República, durante o Governo de Fernando Henrique Cardoso, que Brasília teve o privilégio de ver aprovado nesta Casa, em dezembro de 2002, o Fundo Constitucional que garante a sua manutenção.

Registro, mais uma vez, o reconhecimento da população desta cidade, que V. Exª conhece muito bem, até porque mora aqui há muitos anos, como vice-Presidente e como Senador da República. Somos muito gratos a V. Exª, porque foi em seu Governo que Brasília conquistou independência econômica para continuar sobrevivendo.

Fica aqui, Senador Marco Maciel, o profundo respeito que tenho por V. Exª, e o apreço e a gratidão desta cidade pelo empenho de V. Exª no que diz respeito à sua consolidação.

Muito obrigado, de coração, em nome de Brasília e em nome dos brasilienses que tenho a honra de representar.

Sr. Presidente, Senador Romeu Tuma, era o que gostaria de registrar: um momento triste da histórica política brasileira e também um momento político de muita expressão, que diz respeito a um Senador da República que foi arrancado da cadeira do Senado, que foi cassado, que teve seus direitos políticos suspensos, mas que é, sem dúvida, um brasileiro que, quanto mais o tempo passa, mais aprendemos a admirá-lo.

Era o que eu tinha a dizer.

Muito obrigado.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 23/08/2006 - Página 27329