Discurso durante a 138ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

Considerações sobre o crescimento dos índices de corrupção no governo Lula. (como Líder)

Autor
Heráclito Fortes (PFL - Partido da Frente Liberal/PI)
Nome completo: Heráclito de Sousa Fortes
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
PRESIDENTE DA REPUBLICA, ATUAÇÃO. ELEIÇÕES.:
  • Considerações sobre o crescimento dos índices de corrupção no governo Lula. (como Líder)
Aparteantes
Romeu Tuma, Sibá Machado.
Publicação
Publicação no DSF de 23/08/2006 - Página 27349
Assunto
Outros > PRESIDENTE DA REPUBLICA, ATUAÇÃO. ELEIÇÕES.
Indexação
  • COMENTARIO, DECLARAÇÃO, PRESIDENTE DA REPUBLICA, CONTRADIÇÃO, DADOS, JORNAL, O GLOBO, ESTADO DO RIO DE JANEIRO (RJ), CRESCIMENTO, CORRUPÇÃO, BRASIL, TENTATIVA, MANIPULAÇÃO, OPINIÃO PUBLICA, PROTESTO, ORADOR, IMPEDIMENTO, QUEBRA, SIGILO BANCARIO, PRESIDENTE, SERVIÇO BRASILEIRO DE APOIO AS MICRO E PEQUENAS EMPRESAS (SEBRAE), PROTEÇÃO, REU, MEMBROS, PARTIDO POLITICO, PARTIDO DOS TRABALHADORES (PT), IMPUNIDADE, DEPUTADOS, PROPINA, MESADA.
  • CRITICA, PRESIDENTE DA REPUBLICA, ALEGAÇÕES, DEFESA, POLICIA FEDERAL, FALTA, APOIO, MOVIMENTO TRABALHISTA.
  • CRITICA, FALTA, ETICA, CRIME, MINISTRO DE ESTADO, MINISTERIO DA JUSTIÇA (MJ), UTILIZAÇÃO, FUNÇÃO, DEBATE, CRISE, SEGURANÇA PUBLICA, ESTADO DE SÃO PAULO (SP), PROPAGANDA ELEITORAL, ALOIZIO MERCADANTE, CANDIDATO, GOVERNADOR, REGISTRO, ALTERAÇÃO, DIRETRIZ, PARTIDO POLITICO, PARTIDO DOS TRABALHADORES (PT).

O SR. HERÁCLITO FORTES (PFL - PI. Pela Liderança do PFL. Sem revisão do orador) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, primeiramente, quero pedir desculpas aos ouvintes por ter que voltar a falar hoje. Não gostaria de fazer isso. Mas aprendi com o Dr. Tancredo Neves, Senador Sibá Machado, que na vida ou na política você pode falar muito. Você não pode é falar demais. Eu vou tentar não falar demais, mas falar o suficiente para que todos entendam o momento que estamos vivendo.

O Presidente Lula, em uma entrevista a uma rede de tevê, no Rio de Janeiro, declara o seguinte:

Se alguém tiver alguma denúncia [claro que de corrupção], aproveite o meu Governo e a faça. Acho que isso é dinheiro que poderia ser revertido para programas sociais e ajudar o povo brasileiro.

Ele foi mais longe.

            Achamos que é possível desbaratar todas as quadrilhas que estão montadas. Os números são estarrecedores [ele já sabe]. Mas eu sonho que estamos caminhando para consagrar no Brasil o que aconteceu na Itália, onde não ficou pedra sob pedra.

Consagrar o Brasil como um País que vem crescendo ano a ano. Senador Sibá, hoje o jornal O Globo traz isso com muita clareza: o Brasil vem crescendo ano a ano nos índices de corrupção.

O índice de corrupção no Governo Lula cresceu mais que o índice de crescimento econômico - aquele que V. Exª, como economista, tanto defende.

Senador Sibá Machado, o Presidente Lula querer comparar o que está sendo feito no Brasil com a Operação Mãos Limpas, na Itália, é uma piada porque de limpa não tem nada. O que se fez aqui foi uma ação de “mãos sujas”, com os dólares na cueca, com o mensalão, com as sanguessugas, com a evasão de divisas. Quem foi punido, Senador Sibá Machado?

Se é verdadeiro o sentimento expressado pelo Presidente Lula - para enganar as massas -, por que manobrou e não permitiu que o sigilo do Sr. Okamotto fosse quebrado?

Sr. Presidente, se é verdade o que disse o Presidente, por que proteger os seus companheiros de caminhada para que não fossem cassados, gesto esse simbolizado pela dança da Srª Angela Guadagnin em uma madrugada fria no Plenário da Câmara, em Brasília?

E a absolvição imediata de todos que voltam a ser seus companheiros nos palanques de São Paulo e do Brasil?

Que autoridade tem o Presidente da República para falar em mãos limpas, Senador Romeu Tuma? Não! A Operação Mãos Limpas, na Itália, foi outra coisa: prisões, condenações, perseguição de bandidos e morte. Aqui: conivência, silêncio, esquecimento e perdão. Que diferença!

Não sei o que o Presidente da República ganha com isso, tampouco que mensagem ele quer passar e para quem passar, Senador Sibá Machado. Como eu sei que não está em nenhum desses grupos de seu Partido - penalizados não, desbaratados sim - V. Exª não concorda com nada disso e seu semblante se torna triste a partir do momento em que se começa a falar desse assunto.

V. Exª é um assalariado, daqueles que nós olhamos e vemos que deve estar com o cheque-ouro comprometido, diferentemente dos colegas que tomam vinhos caros nos restaurantes da moda e de luxo pelo Brasil afora.

Senador Romeu Tuma, há um fato mais grave. Agora, estão tentando fazer da Polícia Federal instrumento dessas investigações. Mas a Polícia Federal não pode, Senador Romeu Tuma, se deixar levar por esse tipo de coisa, pois pertence ao Estado e não à transitoriedade de Governo.

Senador Romeu Tuma, eu não sei por que, de repente, o Presidente Lula se diz defensor da Polícia Federal quando maltratou, durante três anos, com greve, com incompreensão, os servidores daquela corporação.

Sabe bem V. Exª que os servidores vieram aqui muitas vezes para pedir, no Congresso Nacional, o apoio que não tiveram no Governo. Essa história de querer carimbar como ação eventual é crime. É crime.

Senador Romeu Tuma, o mais grave disso tudo eu vou dizer agora. O Ministro Thomaz Bastos, no exercício da função que lhe é conferida de Ministro da Justiça, tem todo o direito de comunicar à Nação as ações da Polícia Federal, que ele diz ser republicana, e que é republicana não por sua vontade, mas pela formação que aqueles profissionais receberam. Mas ele não pode ter a dupla função, como Ministro da Justiça, de apontar para a Nação as ações da Polícia Federal em São Paulo em um dia e, no dia seguinte, Senadora Heloísa Helena, em um programa de televisão, defender um candidato da sua preferência - no caso, o Senador Mercadante, nosso amigo e nosso colega -, usando os argumentos da segurança pública de São Paulo. É um crime, é uma irresponsabilidade e, acima de tudo, uma falta de ética. E ninguém no Brasil deve conhecer mais de ética do que o Ministro, pela sua longa carreira como advogado, defendendo pessoas ilustres e famosas neste País.

Não é possível que isso aconteça, Sr. Presidente. O Ministro, que defende ações republicanas, não pode se apequenar para sobreviver em um cargo com esse seu gesto de comandar ações, de anunciar providências tomadas, de debater com o Secretário de Segurança, o Sr. Saulo, pela televisão, de ter posições contrárias, de passar informações da sua conveniência e, depois, ir para São Paulo usar o programa eleitoral gratuito para defender o candidato da sua preferência, usando exatamente os mesmos argumentos.

O que me estarrece é o Sr. Aloizio Mercadante aceitar isso. De repente, cola nele a pecha de vinculação de fatos graves que acontecem em São Paulo, com a participação direta do Governo.

Senador Tuma, concedo um aparte a V. Exª, com muita alegria. Em seguida, ao Senador Sibá Machado.

O Sr. Romeu Tuma (PFL - SP) - Senador, eu tive a oportunidade hoje de ser aparteado, com elegância, pela Senadora Heloísa Helena sobre a atividade histórica do PCC, do Comando Vermelho, e toda essa ligação e organização do crime. A Polícia Federal evoluiu e vem evoluindo na tecnologia de investigação. Mas a Polícia não é de nenhum governo; é do Estado. Ela tem a responsabilidade de apurar os fatos que envolvam ou não agentes públicos. Toda a gama de legislação foi o Congresso que deu. Ao tempo em que lá eu estava, o hoje Diretor Dr. Paulo Lacerda, um homem de bem, correto, sério, que não aceita pressão, criou mecanismos contra a lavagem de dinheiro; investigou aquele caso do PC, do Collor de Mello; foi ele que iniciou toda essa operação na busca de informações. E desde o tempo em que lá passei, com o auxílio deles, fomos mudando a legislação que esta Casa deu. O grande número de investigações está na tecnologia da escuta telefônica, da infiltração, da lavagem de dinheiro. Então, a Polícia não tem nada, absolutamente nada, com o governante. Teria se o governante pressionasse para evitar que ela fizesse o trabalho, e ele aceitasse pacificamente - mas aí não mereceria a dignidade do cargo. Então, eu acho que ele não aceita, tem independência, e tem realmente sofrido com a falta de dinheiro para pagar diligências, para pagar diárias. Tudo isso é difícil. Veja quantos homens há na Amazônia. Falei hoje com a Senadora Heloísa Helena, trocando idéias de como melhorar o policiamento da região amazônica. Trabalha-se com dez, doze homens naquela fronteira enorme! Como é que se vai conseguir vencer o crime de fronteira? Não é só o tráfico de drogas; temos tráfico de armas, entrada de grupos guerrilheiros, tudo aquilo que envolve a atividade criminosa de fronteira. E o Exército, que quer impor dez mil homens em São Paulo, tem dificuldade, Senador Heráclito Fortes, para manter projetos, principalmente o Calha Norte. Quantas vezes, nós brigamos, quando da elaboração do Orçamento, para arrumar dinheiro para a manutenção de projetos como Sivam, Sipam e tudo isso que são tecnologias de ajuda à proteção não só da Amazônia, mas também para combater o crime. Então, são elementos que a Polícia tem hoje, mas que precisam, permanentemente, ser subsidiados e pagos para que possam desenvolver. Então nego, peremptoriamente, que algum governante possa dizer que a sua Polícia é particular.

O SR. HERÁCLITO FORTES (PFL - PI) - V. Exª tem toda a razão e sabe o conceito que tenho da Polícia Federal. Na semana passada inclusive, dei a V. Exª um depoimento em aparte sobre o Superintendente da Polícia do Piauí, que não conheço, mas sei que pratica corretamente o exercício das suas funções lá no meu Estado. Não o vejo em badalação; vejo-o em ações corretas. Agora, pergunto a V. Exª: o Ministro da Justiça, responsável hierarquicamente pela Polícia Federal, Senadora Heloísa Helena, hoje vai para a televisão e fala sobre as questões de São Paulo como Ministro da Justiça; amanhã fala como militante político num programa eleitoral. O que é que a população entende? Que o Ministro está a serviço de uma causa, de um partido. O Ministro da Justiça, isento e republicano! Se saísse uma declaração dele, nobre Líder Salgado, envolvendo o nome do Ministro da Justiça num programa eleitoral - fosse de quem fosse -, teria o dever e a obrigação de tomar providência na Justiça Eleitoral para que os fatos não se repetissem.

E se a aparição tivesse uma conotação que deixasse em dúvida a Nação, deveria pedir o direito de resposta para prestar os esclarecimentos devidos. Não pode é o Ministro da Justiça ser militante partidário, nem um militante partidário ser Ministro da Justiça. Esse, sim, é o começo do caos.

Senador Sibá Machado, nobre Líder do PT nesta Casa, com o maior prazer concedo o aparte a V. Exª.

O Sr. Sibá Machado (Bloco/PT - AC) - Senador Heráclito Fortes, eu me sinto na obrigação de fazer este aparte porque, volto a dizer, como no debate de ainda há pouco, todos nós aqui estamos defendendo pontos de vista. E vamos defender aqui o nosso. Primeiro, a respeito da posição da Polícia Federal. A Polícia Federal está corretíssima. Ela não é propriedade privada de ninguém, de nenhuma força política ou de qualquer pessoa que esteja no exercício de um mandato. Mas sabemos que, na história da Polícia Federal, ela foi utilizada, sim, por determinados governos; tinha orientação para fazer algumas ações.

O SR. HERÁCLITO FORTES (PFL - PI) - V. Exª, como homem responsável...

O Sr. Sibá Machado (Bloco/PT - AC) - Período militar!

O SR. HERÁCLITO FORTES (PFL - PI) - deveria dar os nomes.

O Sr. Sibá Machado (Bloco/PT - AC) - Período militar! No período militar, ela foi orientada a ser uma polícia política.

O SR. HERÁCLITO FORTES (PFL - PI) - Espere aí, mas nós lutamos tanto para mudar esse regime!

O Sr. Sibá Machado (Bloco/PT - AC) - Só um instantinho. V. Exª me permite fazer o aparte?

O SR. HERÁCLITO FORTES (PFL - PI) - Pois não, V. Exª vai falar.

O Sr. Sibá Machado (Bloco/PT - AC) - Estou só dizendo aqui que o papel da Polícia é republicano mesmo, e é como tal que ela está trabalhando hoje. Não há interferência no seu papel. Portanto, a preocupação contra o Presidente Lula não procede. O Governo do Presidente Lula, no meu entendimento, e eu defendo isso por convicção, tem duas instituições hoje de fiscalização no Brasil que trabalham com total liberdade e isenção, o que não se via pouco tempo atrás, a Polícia Federal e o Ministério Público. Essas duas instituições têm feito um trabalho no sentido de trazer aspectos históricos de corrupção no Brasil, tem desenterrado uma série de fatos. Mas não se pode dizer que a corrupção nasceu em 2003. Ela nasceu - sabe Deus quando - com a história do Brasil. Portanto, as instituições tinham uma dívida de cobrança e fiscalização. O Senador Roberto Saturnino lembrou uma série de episódios. Desse modo, o que não pode haver são dois pesos e duas medidas no trato com a Polícia Federal. Quanto à questão do Ministro Márcio Thomaz Bastos, quero dizer que essa regra vale para todos e não só para o Ministro da Justiça. Em todos os governos, qualquer ministro ou qualquer outra pessoa que assume função pública, antes de assumir essa função, tem uma opinião partidária...

(Interrupção do som.)

O Sr. Sibá Machado (Bloco/PT - AC) - ... daquele Partido que ganhou as eleições. Então eu quero defender, porque, se um dia eu ganhar uma eleição, quero montar um gabinete com as pessoas que formaram a aliança com a qual eu venci a eleição. Essa é a questão. Senão, fica parecendo que é pecado nomear alguém. Está correta a nomeação. Temos uma aliança política. Preenchemos, sim, os cargos que fazem parte da formação da aliança política, da governabilidade. Se essa pessoa fez uma declaração num programa eleitoral, é porque isso é permitido. Não está escrito na Constituição que é errado.

O SR. HERÁCLITO FORTES (PFL - PI) - Eticamente, é correto?

O Sr. Sibá Machado (Bloco/PT - AC) - Quero dizer a V. Exª...

O SR. HERÁCLITO FORTES (PFL - PI) - Eticamente, é correto?

O Sr. Sibá Machado (Bloco/PT - AC) - É correto.

O SR. HERÁCLITO FORTES (PFL - PI) - Senadora, aquela cartilha do PT só foi usada contra V. Exª.

O Sr. Sibá Machado (Bloco/PT - AC) - Senão, qualquer Ministro de Estado estaria impedido de fazer isso. Podemos fazer referência a outras funções do serviço público, qualquer outra função do serviço público. Então, essa condenação não pode ser aceita.

O SR. HERÁCLITO FORTES (PFL - PI) - Que dia o Ministro do Exército vai dar um depoimento lá, o Chefe do Exército, da Aeronáutica, da Marinha? Quando é que eles vão se pronunciar a favor da candidatura do Governador de São Paulo?

O Sr. Sibá Machado (Bloco/PT - AC) - Aí é um direito individual, porque ali está fora de uma citação. É escolhido dentro do quadro. É diferente.

O SR. HERÁCLITO FORTES (PFL - PI) - Como?

O Sr. Sibá Machado (Bloco/PT - AC) - É dentro do quadro, carreira do quadro. Aí é diferente. Nas Forças Armadas, é escolhido dentro do quadro.

O SR. HERÁCLITO FORTES (PFL - PI) - Ainda bem que V. Exª pensa igual aos militares. Parabéns a V. Exª.

O Sr. Sibá Machado (Bloco/PT - AC) - Quando a função é civil, aí eu defendo, porque pode sim.

O SR. HERÁCLITO FORTES (PFL - PI) - O Ministro Armando Falcão deve estar orgulhoso da cria que mandou aqui para o Senado.

O Sr. Sibá Machado (Bloco/PT - AC) - Aí é uma relação...

O SR. HERÁCLITO FORTES (PFL - PI) - Senador Sibá Machado, paciência! Qual é a autoridade que tem um Ministro da Justiça que está negociando, fazendo acordo com São Paulo e que nesta semana teve uma reunião com Cláudio Lembo para tratar do assunto mais grave do Brasil, que é a questão dos atentados... 

O Sr. Sibá Machado (Bloco/PT - AC) - Mas ele não fez nada de errado. Cumpriu com a sua função de Ministro.

O SR. HERÁCLITO FORTES (PFL - PI) - ... e, em seguida, dá um depoimento sobre segurança apontando caminhos? Por que ele não foi falar sobre outro assunto?

O Sr. Sibá Machado (Bloco/PT - AC) - Mas ele pode.

O SR. HERÁCLITO FORTES (PFL - PI) - Ah, pode?! 

O Sr. Sibá Machado (Bloco/PT - AC) - Pode.

O SR. HERÁCLITO FORTES (PFL - PI) - Eticamente, é correto?

O Sr. Sibá Machado (Bloco/PT - AC) - É uma área que ele conhece.

O SR. HERÁCLITO FORTES (PFL - PI) - Eticamente, é correto?

O Sr. Sibá Machado (Bloco/PT - AC) - Conhece muito bem.

O SR. HERÁCLITO FORTES (PFL - PI) - Partindo desse pressuposto - esse é um assunto de que eu não gosto de falar, mas V. Exª está me forçando -, é correto filho de Presidente da República montar empresa, receber dinheiro da iniciativa privada. É correto! Não é gente, não é ser humano? Que ética tem esse Partido de V. Exª! Que cartilha! Quando é o lançamento da nova cartilha do PT? Eu quero ir a esse lançamento, Senador. 

O Sr. Sibá Machado (Bloco/PT - AC) - Senador Heráclito Fortes, eu sempre digo aqui que admiro muito a inteligência de V. Exª, que pensa muito rápido, consegue fazer um diagnóstico em fração de segundos, é muito preciso na hora de fazer citações e dribla muito bem o assunto que está sendo tratado. Neste caso, estou citando apenas o que diz respeito a um direito civil do cidadão, desse Ministro ou de qualquer outro Ministro, que não os de carreira, no caso das Forças Armadas, fazer uma coisa dessas.

O SR. HERÁCLITO FORTES (PFL - PI) - É um direito. O próprio Diretor-Geral da Polícia Federal, se assim quisesse, poderia se manifestar. Não é isso. Não é isso, não; a questão é ética.

O Sr. Sibá Machado (Bloco/PT - AC) - Mas, aí, o Ministro da Fazenda também não poderia, o da Reforma Agrária não poderia.

O SR. HERÁCLITO FORTES (PFL - PI) - São funções diferentes. O Ministro da Justiça...

O Sr. Sibá Machado (Bloco/PT - AC) - Mas, são pontos de vistas sobre questões que são conflitantes.

O SR. HERÁCLITO FORTES (PFL - PI) - O Ministro da Justiça tem funções específicas de segurança. Sob sua responsabilidade está a Polícia Federal. É questão da ética de cada um.

O Sr. Sibá Machado (Bloco/PT - AC) - E ela está livre para trabalhar. É isso que estou dizendo. A Polícia Federal não tem se pautado nem pelo corporativismo. Às vezes, os representantes de muitas categorias são corporativistas, mas ele não tem sido nem corporativista, porque quando alguns de seus membros estão envolvidos eles são presos. Veja: na última operação, foi presa uma pessoa vinculada ao Exército brasileiro...

(Interrupção do som.)

O Sr. Sibá Machado (Bloco/PT - AC) - Então, essa admiração pela Polícia Federal, a que V. Exª está se reportando, todos nós a temos, todos nós estamos muito satisfeitos com o desempenho da Polícia Federal. É um desempenho à altura de todo o mundo.

O SR. HERÁCLITO FORTES (PFL - PI) - Senador Sibá Machado, V. Exª não acha que neste governo está se prendendo mais porque está se roubando mais? Seja sincero. V. Exª é um homem sincero.

O Sr. Sibá Machado (Bloco/PT - AC) - Mas, digo a V. Exª que isso é força de expressão de oposição. Imputar ao Presidente atual, imputar ao Governo essas responsabilidades é um direito.

O SR. HERÁCLITO FORTES (PFL - PI) - Não. Espere um pouco, Senador Sibá Machado. O dólar na cueca foi no governo passado?

O Sr. Sibá Machado (Bloco/PT - AC) - Como também a questão da privatização, da compra de votos, das 69 CPIs de São Paulo. Existe uma série de questões.

O SR. HERÁCLITO FORTES (PFL - PI) - Ah, não venha com essa cantilena!

O Sr. Sibá Machado (Bloco/PT - AC) - Quero dizer a V. Exª que está correta a investigação sobre pessoas da atualidade. Está correta. Mas, o que não pode ser imputado é que a corrupção nasceu em janeiro de 2003.

O SR. HERÁCLITO FORTES (PFL - PI) - V. Exª implantou aqui um novo método: o PT está no banco dos réus e não quer ficar só, precisa de companhia; onde houver erro e pecado, assuma-se e venha para cá porque o PT não quer ficar sozinho.

Que é isso, Senador? Assumam as responsabilidades de vocês.

O Sr. Sibá Machado (Bloco/PT - AC) - Quem tiver cometido...

O SR. HERÁCLITO FORTES (PFL - PI) - Assumam as responsabilidade de vocês.

O Sr. Sibá Machado (Bloco/PT - AC) - ...terá um tratamento linear, se for do PT ou de outro partido tem de ser tratado igual.

O SR. HERÁCLITO FORTES (PFL - PI) - Qual é a autoridade que vocês têm para acusar o governo passado, se vocês assumiram e não fizeram acusação sequer?

O Sr. Sibá Machado (Bloco/PT - AC) - Como as coisas...

O SR. HERÁCLITO FORTES (PFL - PI) - Qual a autoridade?

O Sr. Sibá Machado (Bloco/PT - AC) - ...que imputamos ao governo passado também não nos redime .

O SR. HERÁCLITO FORTES (PFL - PI) - Nós estamos acusando o Governo agora, no alto.

O Sr. Sibá Machado (Bloco/PT - AC) - ...de não ser acusados de coisas que aconteceram com pessoas nossas.

O SR. HERÁCLITO FORTES (PFL - PI) - Estamos acusando no momento, no momento que ocorrem.

Ontem, quando V. Exª começou a falar sobre a navegação européia para o mundo, pensei: vai achar ladrão na Europa, lá atrás, nas caravelas.

O Sr. Sibá Machado (Bloco/PT - AC) - E pode ter tido.

O SR. HERÁCLITO FORTES (PFL - PI) - Vai ver que eles...

O Sr. Sibá Machado (Bloco/PT - AC) - E houve muitos mesmo.

O SR. HERÁCLITO FORTES (PFL - PI) - Eles são os culpados pelo PT ter roubado. O que é isso, Senador? O Brasil todo está ouvindo. Esse partido de V. Exª que, durante vinte anos, quis ser monopolista da virtude, não pode entrar nessa de o Presidente falar em campanha de mão limpa, ter como exemplo a Itália...

O Sr. Sibá Machado (Bloco/PT - AC) - Ele pode.

O SR. HERÁCLITO FORTES (PFL - PI) - ...e ter protegido, inclusive...

O Sr. Sibá Machado (Bloco/PT - AC) - Não, aí ele pode. Ele pode, está aceitando...

(Interrupção do som.)

O SR. HERÁCLITO FORTES (PFL - PI) - Mas, Senador, um Presidente que não permitiu sequer a quebra o sigilo bancário de seus apaniguados?

O Sr. Sibá Machado (Bloco/PT - AC) - Mas o Presidente não tem autoridade sobre isso, Senador.

O SR. HERÁCLITO FORTES (PFL - PI) - Manobrou o Congresso. E V. Exª, como membro, assinou sem saber uma das páginas mais vergonhosas de uma CPI, que é um anexo...

O Sr. Sibá Machado (Bloco/PT - AC) - Temos uma Bancada...

O SR. HERÁCLITO FORTES (PFL - PI) - ...tirando os seus companheiros.

O Sr. Sibá Machado (Bloco/PT - AC) - ...que tem os seus compromissos e suas responsabilidades.

O SR. HERÁCLITO FORTES (PFL - PI) - E por que seus companheiros de Bancada não assinaram? Por que a Líder não assinou?

O Sr. Sibá Machado (Bloco/PT - AC) - Aqui temos autonomia, Sr. Senador.

O SR. HERÁCLITO FORTES (PFL - PI) - Ah!

O Sr. Sibá Machado (Bloco/PT - AC) - Temos a nossa autonomia. Assumo minhas responsabilidades e acredito que cada um que está nesta Casa também o faz. E tem as questões de assuntos coletivos...

O SR. PRESIDENTE (Marcos Guerra. PSDB - ES) - Peço aos Senadores que...

O SR. HERÁCLITO FORTES (PFL - PI) - Coletivos?

O Sr. Sibá Machado (Bloco/PT - AC) - ...que têm de ser tratadas coletivamente.

O SR. HERÁCLITO FORTES (PFL - PI) - Coletivo? Consciência coletiva ou individual?

O Sr. Sibá Machado (Bloco/PT - AC) - Como aceito que todas as Bancadas tenham o mesmo tipo de entendimento...

O SR. HERÁCLITO FORTES (PFL - PI) - Não, não, Senador Sibá. Não há homem no mundo que me faça assinar o que não concordo, principalmente um relatório naqueles termos, que isenta, que não acusa e quando acusa ainda é sob tese. E o PT, com rabo preso, por que sabe por onde andou, sabe os seus rastros, quis fazer um acordaço, desmerecendo o trabalho do relator. Seria melhor que não se falasse nisso. Esse é um momento negro. O relatório daquela CPI não deveria ser citado e eu não gostaria de falar sobre isso, porque não é bom.

Quero falar de assuntos recentes, como o Presidente da República falar sobre campanha das mãos limpas e que vai levar até o fim, não permitindo sequer que se quebre o sigilo bancário dos que lhe deram dinheiro para pagar as contas, que não deixa sequer que as investigações sejam concluídas.

Sr. Senador, infelizmente, a ética do Partido de V. Exª mudou, e mudou muito. O Brasil está julgando.

Muito obrigado, Sr. Presidente.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 23/08/2006 - Página 27349