Discurso durante a 140ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

Considerações sobre as denúncias que culminaram com a instalação da CPMI dos Sanguessugas. Manifestação em defesa da honra de S.Exa.

Autor
Magno Malta (PL - Partido Liberal/ES)
Nome completo: Magno Pereira Malta
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
COMISSÃO PARLAMENTAR DE INQUERITO (CPI), AMBULANCIA. ATUAÇÃO PARLAMENTAR.:
  • Considerações sobre as denúncias que culminaram com a instalação da CPMI dos Sanguessugas. Manifestação em defesa da honra de S.Exa.
Publicação
Publicação no DSF de 25/08/2006 - Página 27433
Assunto
Outros > COMISSÃO PARLAMENTAR DE INQUERITO (CPI), AMBULANCIA. ATUAÇÃO PARLAMENTAR.
Indexação
  • AGRADECIMENTO, SOLIDARIEDADE, ELEITOR, REFERENCIA, DENUNCIA, PARTICIPAÇÃO, ORADOR, CORRUPÇÃO.
  • COMENTARIO, ATUAÇÃO, ORADOR, DIRIGENTE, ENTIDADE, RECUPERAÇÃO, VICIADO EM DROGAS.
  • ESCLARECIMENTOS, DENUNCIA, COMISSÃO PARLAMENTAR MISTA DE INQUERITO, ACUSAÇÃO, ORADOR, PARTICIPAÇÃO, FRAUDE, ORÇAMENTO, UNIÃO FEDERAL, IRREGULARIDADE, SUPERFATURAMENTO, AQUISIÇÃO, AMBULANCIA, QUESTIONAMENTO, CRITERIOS, ATUAÇÃO, COMISSÃO, NEGLIGENCIA, PROVA, COMPROVAÇÃO, INOCENCIA, CONGRESSISTA, EXPECTATIVA, POSSIBILIDADE, DEFESA, SENADOR, COMISSÃO DE ETICA, SENADO.
  • REGISTRO, ATUAÇÃO, ORADOR, COMISSÃO PARLAMENTAR DE INQUERITO (CPI), TRAFICO, RESULTADO, VITIMA, AMEAÇA, CRIME ORGANIZADO.
  • DECLARAÇÃO, SOLIDARIEDADE, ORADOR, ANTERO PAES DE BARROS, SENADOR, REFERENCIA, ARTIGO DE IMPRENSA, PERIODICO, VEJA, ESTADO DE SÃO PAULO (SP), ACUSAÇÃO, CONGRESSISTA, PARTICIPAÇÃO, IRREGULARIDADE, AQUISIÇÃO, AMBULANCIA.
  • QUESTIONAMENTO, CONDUTA, AMIR LANDO, SENADOR, RELATOR, COMISSÃO PARLAMENTAR MISTA DE INQUERITO, DECLARAÇÃO, ORADOR, IMPEDIMENTO, RETIRADA, NOME, CONGRESSISTA, RELAÇÃO, ACUSADO.

O SR. MAGNO MALTA (Bloco/PL - ES. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, são muitas as razões que me trazem a esta tribuna mais uma vez. Atendendo a apelos de companheiros e de alguns Senadores, volto à tribuna para falar do mesmo assunto.

Tenho recebido solidariedade, por meio de e-mails vindos de todo o País, de pessoas de classes e de credos diferentes, que não me conhecem e que não têm relacionamento comigo, de amigos próximos, de líderes de todas as classes, de pessoas do Ministério Público, da Justiça e do meio artístico.

Agradeço a meu amigo Pampa, campeão brasileiro de vôlei, pela solidariedade; a Zezé di Camargo pelo telefonema, pelo carinho e pela reiteração de confiança na minha pessoa. Pode continuar confiando, porque nada tenho com esse episódio sujo, que macula a honra da Nação! Nunca dele participei, nunca dele fiz parte. Agradeço ao Pastor Lécio Dornas, de Salvador, pela solidariedade e pelo carinho, bem como aos pastores líderes de todo este País, inclusive os de Rondônia, onde o Senador Amir Lando, Relator da CPMI que trata desse caso, é candidato a Governador.

Eu disse aos Líderes: “Reúnam-se com ele e perguntem-lhe se devo algo, se algo macula minha honra e meu nome, se fiz parte disso, porque ele é o mais convicto de que não tenho nada”.

Sr. Presidente, esse Relator falou comigo todos os dias. Ainda que alguns zombem da fé que professo - tenho orgulho dela e do meu compromisso com Jesus -, na noite anterior à leitura do relatório, orei com o Relator, que me pediu oração pelo telefone, porque estava angustiado. E disse-me: “Não há absolutamente nada contra você. Essa ilação está desfeita com este documento aqui”. No outro dia, ele me inclui e some. É algo difícil de entender.

Peço que os Líderes de Rondônia se reúnam com ele e vejam, realmente, se ele é digno do seu voto e do seu apoio com esse comportamento.

Quero agradecer, Sr. Presidente, a um cidadão de 88 anos, aposentado, e à sua esposa, do Paraná. Das centenas de e-mails que recebi, fiquei emocionado com esse que partiu desse homem de 88 anos. Ele disse que gostaria muito de ser do meu Estado, porque acompanha minha trajetória há seis anos e tem orgulho dos serviços que tenho prestado a este País.

Agradeço ao meu povo, do Estado do Espírito Santo, de todos os Municípios, de Ponto Belo a Presidente Kennedy, de Mimoso do Sul, de Santa Maria de Jetibá, de Cachoeiro de Itapemirim - nossa terra querida, em que está acontecendo a Feira Internacional do Mármore, que muito contribuiu para a economia deste País -, de Vitória. Agradeço ao povo da serra, o povo do norte, desde Conceição da Barra a Barra de São Francisco. Tenho recebido a solidariedade do povo de todo o litoral do Estado. Isso me deixa muito feliz e fortalecido, razão pela qual, Sr. Presidente, ocupo a tribuna todo os dias.

Com os ataques nefastos e mentirosos que tenho sofrido, era para eu estar muito encolhido e para eu ter sumido deste plenário e desta tribuna, mas nada me faz calar, nada me mete medo. Quando a verdade está do seu lado - e ela está comigo - e quando você confia em Deus absolutamente, não há de correr de uma situação, embora ela se apresente tão grave - e ela é grave -, como um grande gigante diante de você, quase que irremovível, quase que imbatível! Essa situação se apresentou dessa forma diante de mim, mas me alegra e me dá muito orgulho receber a solidariedade dessas pessoas do Brasil. Isso me fortalece, e agradeço a todos.

Venho à tribuna hoje, porque, na próxima semana, estarei ausente desta Casa por problemas particulares. Não sei se V. Exª sabe, porque é novo na Casa, mas sou lesionado de medula. Sou um paralítico que anda. A minha coluna é um enxerto. Sou um milagre de Deus! Por razões alheias à minha vontade, não virei na próxima semana. Por isso, estou aqui hoje. As pessoas que assistem à TV Senado fazem questão de nos acompanhar, e, como não temos a grande mídia, é preciso que elas me ouçam.

Hoje é um dia feliz para mim, Sr. Presidente, porque me faço acompanhar da minha esposa, que ali está, companheira de 25 anos; da minha irmã Susi; de Glória, uma amiga e companheira. A minha esposa está comigo há 25 anos, Sr. Presidente, tirando drogados das ruas. Há 25 anos, tiramos pessoas da cadeia e bêbados das ruas. Recebemos trapos humanos das mãos das famílias e os devolvemos à sociedade. Há meninos de 10 anos de idade viciados e traficantes de craque e pessoas com 70 anos e alcoólatras, e os recolhemos como filhos e os devolvemos à sociedade. Lá, juntamente com minha esposa, recebo homens de 50 anos ou de 60 anos com cirrose, com epilepsia alcoólica, com delirium tremens.

Sr. Presidente, fui Deputado Federal e nunca coloquei uma emenda no Orçamento para essa instituição. Como Senador, nunca o fiz. Recuperando alcoólatras e com tantas pessoas doentes, se eu tivesse qualquer ligação com a máfia da ambulância, minha instituição seria a primeira a ter uma ambulância bem equipada, pois há gente com epilepsia alcoólica. Mas prefiro, Sr. Presidente, continuar vendendo CD, recebendo direitos autorais, realizando eventos e shows, vendendo camisetas. Com isso, mantenho nossa instituição, que é filantrópica, que é decente e que tem recuperado milhares, milhares e milhares de jovens, de adultos e de anciãos, devolvendo-os às suas famílias.

Aliás, quero agradecer às famílias de todo o Brasil que me enviaram e-mails com muito carinho, fortalecendo-me. Fico orgulhoso, porque, desde o primeiro ano do meu casamento, eu e minha esposa não temos privacidade. Nossas filhas já nasceram nos braços dessa gente.

Hoje é um dia mais importante ainda, a despeito de tudo, porque, hoje, minha filha Magda faz 23 anos de idade - é a minha filha mais velha. Quero mandar um abraço e um beijo para minha filha e dizer do orgulho que sinto pela vida que ela leva, pelo comportamento que tem e pela cobertura que me faz com orações neste momento tão difícil não só meu, mas de toda a minha família.

Veja o disparate, Sr. Presidente: CPI de máfia de ambulância. Quando escuto ou vejo isso - aliás, não vejo nem leio mais nada sobre máfia de ambulância -, fico estarrecido, porque nunca coloquei uma emenda nesse sentido; não há uma emenda no Orçamento para essa máfia da ambulância. Já deve ter chegado ao seu gabinete os documentos, porque os mandei a todos os Senadores. Gostaria que cada um tivesse o cuidado de olhar cada documento. São esses mesmos documentos que estão nas mãos da imprensa.

Passo ali, e o jornalista me diz: “Olha, que momento duro o senhor está vivendo! Li aquilo tudo, e não tem nada a ver com o senhor”. Perguntei: “Você leu? Por que não publica?” Ele disse: “Não posso”. Não há problema. Se na vontade permissiva de Deus é preciso que eu passe por este momento, estou passando por ele. É como se eu estivesse vivendo minha Sexta-Feira da Paixão, esperando o Domingo de Páscoa.

Sr. Presidente, V. Exª é Parlamentar e sabe que uma CPI se constitui com um fato determinado. O fato determinado dessa CPI foi fraude no Orçamento para ambulância superfaturada. Não fraudei o Orçamento, não coloquei emenda no Orçamento; nunca fiz isso na minha vida, não coloquei emenda para superfaturar ambulância. Não há uma prefeitura, um prefeito que levante o dedo e diga que recebeu de mim, porque não há, não existe. Estão lá as emendas.

Fiz questão de resgatar minhas emendas de quando eu era Deputado Federal, emendas para saúde, para hospitais filantrópicos, para hospital evangélico, para a Santa Casa do Espírito Santo; as emendas foram aplicadas quando eu ainda era Deputado Federal. Não existe absolutamente nada que me ligue a essa máfia.

Aí você vê: Senadores acusados da máfia da ambulância! Não temos ambulância nem para a instituição que dirigimos! No depoimento do Sr. Vedoin, ele disse, com raiva, que nunca coloquei emenda para ele. Disse que me deu um carro em 2003. Mas eu não recebi isso. E não o conheço. De acordo com o depoimento dele, comprou em 2003 o tal carro, mas os documentos são de 2001. Em 8/1/2001, ele passou esse mesmo carro para o nome do Deputado Lino Rossi. Esse carro é uma van. Eu não os conheço. Nunca tratei nada com ele. Mas, se ele tratou alguma coisa com o Deputado Lino Rossi em meu nome, não tomei conhecimento disso. Isso não chegou a mim.

Em 2003, um amigo que participou da CPI do Narcotráfico... Quem não se lembra dessa CPI? Eu cruzei o País inteiro. Estive no Acre, do Senador Tião Viana, de Jorge Viana, de nossa querida Ministra Marina Silva, de nosso querido Senador Sibá, atendendo a um apelo do Senador Tião, do Governador Jorge, acuado pela máfia de Hildebrando Pascoal, daqueles que cercavam o Acre e tiravam a liberdade do povo. Eu passei cinco dias lá. Até um cemitério clandestino eu escavei. Debelamos aquilo tudo. Coloquei minha vida em risco.

Fui para São Paulo, fui para Minas Gerais a convite de Aécio Neves - hoje Governador, mas, naqueles dias, era Líder de seu Partido na Câmara dos Deputados - e de Jutaí Júnior, que hoje é o Líder. Eu fui para lá resolver problemas seriíssimos. Fui para o Amapá. Fui para o Maranhão, do Senador José Sarney. Prendemos uma máfia de delegados e José Gerardo, o terror do Maranhão. Cruzamos São Paulo, cruzamos o Rio de Janeiro. Isso me custou o fim da liberdade: começamos, eu e minha família, a andar com seguranças.

“De que valeu isso?”, fico me perguntando. Estou marcado pelo narcotráfico e pelos “bingueiros” e preciso de segurança. De que me valeu isso? Coloquei minha vida em risco neste País. Valeu algo? Será que valeu?

Hoje, vejo como se meu nome, Senador Magno Malta, estivesse no lixo, no monturo, indo embora, jogado pelo esgoto. Fui acusado de algo que não conheço. Em 2003, esse cidadão participou da CPI do Narcotráfico. Eu ainda posso chamá-lo de amigo, porque era tão amigo como Moroni Torgan, como Fernando Ferro e como muitos daqueles que participaram daquela célebre CPI que prendeu 248 pessoas e que indiciou 864. Mas todos foram ouvidos; nenhum bandido foi indiciado e preso sem ser ouvido. Essa é a primeira CPI que ouve o acusador, que pede para que os outros se manifestem por escrito e que não lê nada de ninguém.

Há algo até muito engraçado. Anteontem, Sr. Presidente, liguei para o Senador Antero Paes de Barros, meu companheiro, colega aqui, para ser solidário a S. Exª e à família dele, pois este é um momento difícil na vida de qualquer pessoa. O rapaz, na revista Veja, citou o nome do Senador Antero, com o qual fui solidário: liguei para S. Exª, a fim de abraçá-lo. Leio aqui o que disse o Deputado Carlos Sampaio, Vice-Relator da CPI, promotor público, experiente, rapaz de bem, de São Paulo. Segundo Sampaio, “Antero Paes de Barros nem sequer tem do que se defender, pois não há qualquer prova contra ele, e até mesmo o Deputado Lino Rossi, de acordo com o Sub-Relator, já teria afirmado que não fez nenhum repasse de dinheiro ao Senador”. Antero afirma, com todas as letras, com a valentia que lhe é peculiar - e eu acredito no Antero -, que nunca teve negócio com essa gente. Eles dizem que acertaram com Lino Rossi. E Lino Rossi desmente. Fico abismado, porque o Sub-Relator agiu certo. Quem podia acusar Antero era o Lino, que desmentiu, disse que está tudo correto. Mas o que me assusta é que, no meu caso, ele não considerou o documento do Lino.

Em 2003, recebi um carro emprestado de um amigo. E, aliás, a minha banda tem 15 músicos, e era uma van só de quatro lugares. Eu usei essa van de Lino Rossi, nunca recebi van em nome de Planam nem em nome de empresa nenhuma. Recebi da mão de um cidadão, pessoa física, Sr. Presidente, e devolvi há um ano e três meses. Os documentos estão todos aí, inclusive o recibo da transportadora que levou a tal van para seu dono, Lino Rossi. Dono, digo, porque ela continua na porta dele. É essa van que leva os filhos dele para a escola.

Não tenho nada com Vedoin, não tenho nada com Planam, nunca coloquei emenda! Agora, veja que descalabro o meu nome estar metido nisso! Há mais de 30 dias, sou manchete nos jornais como bandido; há mais de 30 dias, sou manchete nos jornais como ladrão de Orçamento, como quem superfatura Orçamento, rouba orçamento público para favorecer máfia. Nunca fiz isso.

Quem me conhece sabe quem eu sou! Quem é Parlamentar comigo, quem foi Parlamentar comigo, quem me conhece sabe do meu comportamento! Durante toda a minha vida, fiz enfrentamento. Imagino que, hoje, esses bandidos do narcotráfico - que estão presos até hoje, que estão recolhidos para se fazer a paz no Estado do Acre e em muitos outros - estão rindo nos presídios, com cada recorte de jornal, dizendo: “Olhe aí! Veja o que você recebeu agora! Tome o seu troco agora!”.

Eu não tenho segurança por fazer esse enfrentamento. Pergunto a V. Exª: valeu a pena? Vale a pena?

Sr. Presidente, venho a esta tribuna para dizer que a mim não preocupa o Conselho de Ética. Realmente, o Conselho de Ética e a Mesa do Senado têm de seguir os ritos do Regimento da Casa. O Conselho de Ética é melhor, porque lá, pelo menos, seremos ouvidos e alguém vai ler nosso depoimento. Lá eu serei ouvido, até porque esses documentos estão nas mãos de todos. E eu estou repetindo aqui tudo o que está em documento: o recibo, o tempo em que usei esse carro, quando o devolvi. Sr. Presidente, eu não o devolvi há 60 dias, não; eu o devolvi há um ano e três meses ao seu dono, e está na porta do dono. Não está na porta do Vedoin, nem do filho dele, mas na de Lino Rossi, que é o dono do carro. Em fevereiro, ele me disse que usava esse carro para levar os filhos para a escola. E vejo meu nome envolvido nisso como se eu fosse o bandido. Saem manchetes como se eu fosse o maior bandido deste País, o maior facínora, ladrão de Orçamento, ladrão de dinheiro público!

E me pergunto: o que Deus quer de mim? Como isso tudo vai acabar?

Lino Rossi vem a público e defende o Senador Antero. O Sub-Relator disse: “É o suficiente”. Lino Rossi faz um documento em que declara: “Eu, Lino Rossi, Deputado Federal, sou dono desse carro de placa tal. O carro é meu. Eu o emprestei para o Senador, que me devolveu na data tal. O carro é meu, continua meu, está na minha porta. Dou fé”. E isso não vale.

V. Exª, Sr. Presidente, conhece um pouco da área jurídica e sabe que tudo o que foi feito na Justiça desmantela, não vale nada. Como é que você não ouve? É direito das pessoas. Todo cidadão tem direito à sua defesa. Ele tirou o direito, dizendo: “Você responde aí se quiser, por escrito”. E ninguém leu nada.

Há muita gente envolvida lá? Há. E quem está envolvido tem de pagar? Tem. Há gente envolvida até o pescoço? Há. Mas fico me perguntando... E vou ler isso novamente aqui, até porque um aposentado me pediu que o fizesse. Para fazer a lista, eles criaram três critérios, Sr. Presidente. Vou lê-los agora.

O primeiro deles era o de incluir na lista todos os Parlamentares que se utilizaram da prerrogativa do mandato com apresentação de emendas para auferir benefício financeiro ou outras vantagens. Eu nunca coloquei emendas. Eu me enquadro neste item aqui? Não.

O segundo era o de incluir todos que permitiram, por ação ou omissão, que servidores - isto é, assessores seus - conseguissem benefícios financeiros ou outras vantagens junto ao grupo Planam sobre emenda de Parlamentar. Eu me enquadro nesse item? Não. Não há nada de assessor meu envolvido; não há nada de emenda minha, não.

O terceiro era o de que deveriam ser enquadrados todos os Parlamentares que utilizaram servidores ou terceiros para recebimento, em suas contas bancárias ou em espécie, de recursos destinados ao Parlamentar. Eu me enquadro nisso? Não. Nem servidor, nem Parlamentar. Não há dinheiro de Planam em conta de parente meu, de assessor meu.

Em qual me enquadro? Em nenhum. Sabe qual foi meu pecado? Não ter a capacidade de adivinhar. O meu crime é o de não ter poderes sobrenaturais de adivinhar que o carro que o Deputado Lino Rossi me emprestou, que eu devolvi há um ano e meio, que é dele, que está na porta dele, foi o Vedoin que deu a ele em 2001. Isso poderia ter acontecido com qualquer pessoa, Sr. Presidente. Qualquer homem desse que está em campanha e que pega um carro emprestado de um amigo que foi enrolado, pois comprou um carro cujo chassi foi raspado, pois tinha sido roubado - e o sujeito não sabia -, pode virar, depois, ladrão de carro.

Então, eles tinham de ter colocado um quarto critério aqui referente a todos aqueles que não têm premonição, que não têm capacidade de ter visões, que não têm a capacidade da adivinhação. E esse é um dom que eu não queria ter, porque a Bíblia diz que os adivinhos não herdarão o Reino dos Céus.

Não há o quarto item. V. Exª conhece um pouco do Direito. Isso se sustenta na Justiça? Não. Onde eu estou enquadrado? Há dinheiro em conta minha? Há dinheiro em conta de assessor meu? Onde é que há assessor meu envolvido? Encontraram-me nas gravações? Onde há registro de encontro meu com eles? Não há, porque eu não os conheço, nunca falei com eles, nunca coloquei emenda para eles. Eu usei um carro do Deputado Lino Rossi; o carro é tão dele, que o devolvi há um ano e três meses. E tenho todos os documentos.

Então, é bom que a Justiça entre nisso mesmo, que o Supremo entre nisso! A Justiça vê o que é técnico, a verdade. Aí, sim, quem sabe, terei a capacidade de me defender e terei oportunidade para isso. E, no Conselho de Ética, também terei oportunidade para fazê-lo, Sr. Presidente. E o farei, sem o menor problema.

Todas as pessoas decentes... A maior prova de que ninguém leu nada de ninguém se deu no dia da fatídica reunião em que houve a tal lista. V. Exª viu os Congressistas todos em campanha. Vieram somente para aquela reunião. E eles diziam, assim: “Nós apoiamos”. Todo mundo apoiou, e ninguém participou, porque só se reuniram quatro aqui; o restante estava nos Estados.

O Senador Amir Lando me deixou muito triste, não porque colocou o meu nome lá, mas porque ele sabe da verdade. E sabe qual é a verdade, Sr. Presidente? A verdade é que, quando eu estava discursando aqui, ele ligou para o celular do Senador Romeu Tuma e pediu para falar comigo. O Senador Amir Lando, Relator, pediu para falar comigo no celular do Senador Romeu Tuma. Sabe o que ele falou comigo? “Eu tenho consciência da sua inocência, consciência de que você não deve nada. Mas eu sofri muita pressão”. De quem? Que Relator é esse? “Mas você pode me arrolar como testemunha de defesa em qualquer lugar, que eu vou dizer que você é inocente”. Isso é brincadeira, não?

O Senador Amir Lando ligou para o celular do Senador Romeu Tuma, Sr. Presidente, pediu para falar comigo depois da leitura do relatório. E disse: “Olha, eu tenho consciência da sua inocência. Mas eu sofri muita pressão”. De quem? Para mentir? Para pegar uma pessoa inocente e jogar no cadafalso? Como?

Ele disse: “Você pode me arrolar como testemunha sua em qualquer lugar, que eu vou lá dizer que você é inocente”. Veja que foi o que disse o Relator!

Pergunto a V. Exª: isso é brincadeira? É a honra de um homem, de uma família, que está em jogo. Tenho três filhas, Magda, Magna Karla e Jaisliny, mas tenho centenas de filhos do coração, tirados das ruas, das cadeias.

Brincar com a honra alheia, Sr. Presidente?! É por isso que todo dia estou aqui no plenário. É por isso que todo dia uso da palavra. Não vou fugir daqui, não vou colocar o galho dentro. Não sou covarde, não sou covarde!

Deus tem o controle de todas as coisas. Tudo está no controle Dele, e creio nisso. Se não acreditasse nisso, teria acabado com a minha vida. Eu disse, anteontem, que o homem tem três caminhos para seguir numa situação dessa quando é honesto e tem vergonha na cara: ou ele mata, ou ele se suicida, ou ele confia em Deus.

A Bíblia diz que muitos preferem confiar em carros, em riquezas e em cavalos, mas prefiro confiar no Senhor, meu Deus, que me trouxe até aqui. A minha confiança está Nele, e, se Ele permitiu que eu caísse nessa cova de leões, será Ele que terá de me tirar dela. Ou me tirará dela ou, então, terá de me matar. Não há nada que eu possa fazer por mim. Tudo o que eu podia fazer por mim eu fiz: ser honrado, ser honesto, ser decente, ser honrado nos mandatos que este País me deu, que o Espírito Santo me deu, que o Estado do Espírito Santo me deu! E fui honrado, decente e corajoso em todos eles.

Sr. Presidente, digo a V. Exª que, pela situação do Acre - nós fomos lá -, pelo índice de ameaça e de gravidade, qualquer um não iria lá. Eu fui lá. Eu fui a Minas Gerais, atendendo a Aécio Neves. Eu fui ao Rio de Janeiro, à Bahia, ao Pará, ao Maranhão, ao Piauí. Fui socorrer Mão Santa do Coronel Viriato. Coloquei minha vida e a da minha família em risco. Valeu a pena? Valeu a pena?

Sr. Presidente, afirmo que valeu e está valendo por conta tão-somente da fé que professo em Deus. E a crença que tenho Nele diz: “Não vos deixarei provar além das vossas forças”. O choro pode durar uma noite, mas a alegria vem logo ao amanhecer. Por quê? Porque, na noite, há hora para começar e hora para acabar.

É possível que eu esteja vivendo minha Sexta-Feira da Paixão, mas meu Domingo de Páscoa vai chegar, porque a verdade há de se restabelecer, a verdade há de vir à tona. E sobre tudo aquilo que foi tramado no escuro contra mim, a Bíblia diz: “Tudo o que é feito nas trevas um dia virá à luz”.

Sr. Presidente, dou todo apoio ao Presidente da Casa, Renan Calheiros; ao Senador João Alberto Souza, do Maranhão, Presidente do Conselho de Ética; e a todos os Senadores que compõem o Conselho de Ética. Para mim, o Relator do meu caso pode ser qualquer um, qualquer um, porque nada devo. É só olhar! Gostaria que V. Exª, até por deferência a um pedido meu, ao chegar a seu gabinete, olhasse um pouco os documentos, os depoimentos, as contradições, o que está lá. Quando perguntado se aquele carro estava com o Senador, sabe o que ele disse? “Está com ele até hoje”. Essa é a prova mais contundente de que nada deles recebi, porque o carro foi devolvido há um ano e três meses a seu dono real: o Deputado Lino Rossi.

Como me enquadro em máfia de ambulância, se não participei, se não coloquei emenda, se não há ambulância comprada com dinheiro de emenda minha para a Planam ou para qualquer outra superfaturada?

V. Exª há de convir que, como ser humano, isso dói muito. A alma fica ferida, mas vou até o final, sangrando, olhando para frente, com a cabeça levantada, erguida, sem esmorecer na minha fé e na minha caminhada. Não foi homem nenhum que me colocou nesta Casa. Por isso, não será homem nenhum que dela vai tirar-me.

Sou filho de uma faxineira, Sr. Presidente, do interior da Bahia. Cheguei aqui por pura misericórdia de Deus. Quem me pôs aqui é quem me tira! Não há artimanha que seja feita nas trevas ou retaliação dos donos de Bingo e do narcotráfico, pois toda arma forjada contra mim não prosperará em juízo.

Eu precisava vir à tribuna nesta tarde, até porque vou ausentar-me na próxima semana em razão de necessidades pessoais. Mas estarei aqui na semana do esforço concentrado, para que as pessoas que vêem a TV Senado não imaginem que o Senador Magno Malta sumiu do plenário. Não, estou aqui, firme e confiando em Deus, que tudo pode e vê. Ele é o único que pode fazer algo por mim. Ninguém pode fazê-lo. Nenhum homem pode fazê-lo, só Deus. E, se Deus não me tirar dessa cova, terá de me matar, porque tenho vergonha na cara, Sr. Presidente! Tenho vergonha e decência! Tenho uma vida pública decente e honrada, sou comprometido com Deus, com minha família, com a fé que professo e com este País.

Agradeço a V. Exª, Sr. Presidente, a benevolência comigo.

Era o que tinha a dizer nesta tarde.

Muito obrigado.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 25/08/2006 - Página 27433