Discurso durante a 125ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Conclama para um pacto de procedimentos à altura da grandeza que deve ter o Senado no grande debate nacional.

Autor
Tião Viana (PT - Partido dos Trabalhadores/AC)
Nome completo: Sebastião Afonso Viana Macedo Neves
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
SENADO. :
  • Conclama para um pacto de procedimentos à altura da grandeza que deve ter o Senado no grande debate nacional.
Publicação
Publicação no DSF de 04/08/2006 - Página 26060
Assunto
Outros > SENADO.
Indexação
  • ANALISE, PERDA, QUALIDADE, DEBATE, SENADO, ACUSAÇÃO, SENADOR, CARATER PESSOAL, NEGLIGENCIA, RESPONSABILIDADE, LEGISLATIVO, INTERESSE NACIONAL, CONCLAMAÇÃO, PACTO, MELHORIA, DIALOGO.
  • INJUSTIÇA, CARACTERISTICA, ACUSAÇÃO, PRESIDENTE DA REPUBLICA, OFENSA, REPUTAÇÃO.
  • COMENTARIO, ANTERIORIDADE, DISCURSO, TASSO JEREISSATI, SENADOR, CONCLAMAÇÃO, RESPONSABILIDADE, MORAL, CONGRESSO NACIONAL, COMBATE, QUADRILHA, CORRUPÇÃO, RECUPERAÇÃO, REPUTAÇÃO.
  • ELOGIO, GOVERNO FEDERAL, COMBATE, CORRUPÇÃO, IMPARCIALIDADE, POLICIA FEDERAL.
  • DEFESA, DEBATE, DESENVOLVIMENTO NACIONAL.

O SR. TIÃO VIANA (Bloco/PT - AC. Pela ordem. Sem revisão do orador.) - Agradeço a V. Exª esse gesto democrático que permite ao Senado a retomada de sua serenidade natural após a expressão das opiniões aqui, que são necessárias para um duro debate, iniciado, evidentemente, numa divergência entre a Senadora Ideli Salvatti e o Senador Jorge Bornhausen, em razão do discurso que fez o Senador Jorge Bornhausen no dia de ontem. Mas o fato, Sr. Presidente, é que os ânimos aqui estão exaltados. Temos um Senado vivendo um clima de sensibilidade muito elevada, um Senado à flor da pele, como se pode dizer. Infelizmente, a intolerância tomou conta do debate na Casa. Eu, nesses quase oito anos de testemunho diário da vida do Senado, confesso que há uma constatação hoje de que vivemos uma fase de embrutecimento verbal dentro do plenário da Casa. Nunca se imaginou que se pudesse chegar a um nível de debate dessa natureza, em que as adjetivações tomam conta do ambiente político, tomam conta da responsabilidade dos mandatos. Não me refiro aqui, evidentemente, ao Senador Tasso Jereissati, pois vi o debate que S. Exª fez há dois dias, um debate elevado, à altura de sua responsabilidade de presidente de um Partido. Até tive oportunidade de fazer considerações positivas a seu debate, mas, no entorno disso tem havido uma onda de ataques verbais aqui insuportável. Veio até minha lembrança o que disse Ulysses Guimarães ao ser consultado sobre a tragédia que era a legislatura em que ele vivia. Ele disse: Você não imagina o que vai ser a próxima! Imagine V. Exª que nós estamos duas legislaturas após. É uma tragédia isso, a responsabilidade com o processo legislativo, com as grandes causas da Nação, com os grandes temas.

Quando vejo o Senador Marco Maciel, que cumpre à risca a sua função de grande legislador, do homem que debate os grandes temas nacionais, fico muito sentido que a Casa não esteja acompanhando esse tipo de debate como ela é merecedora. Há uma crise política instalada, que merece que os ânimos se acirrem em alguns momentos, mas penso que deveríamos estabelecer um pacto entre os partidos de diálogo elevado, de debate elevado e de responsabilidade política.

Acho profundamente injusto o ataque que vem sofrendo o Presidente da República, o Presidente Lula. Penso que a sua biografia, a sua história de homem público, a sua militância política, a sua caminhada de operário, um grande líder nacional, um grande líder da América Latina, não é merecedora desse tipo de adjetivação. Não vi, em ataques dirigidos por alguns Senadores aqui à figura do Presidente Lula, qualquer resposta dele, ao longo desses anos, e não sei por que razão isso. Fico triste quando às vésperas de um momento eleitoral esse ambiente tenta tomar conta.

Lembro-me de um discurso do Senador Tasso Jereissati em que S. Exª nos chamou a um debate suprapartidário, nos chamou à responsabilidade quanto à mancha moral em que está envolto hoje o Congresso Nacional. E nós todos ali concordamos que quadrilhas estão atuando dentro do Congresso Nacional, dentro do Poder Legislativo, que há ramificação pelo aparelho dos Estados, dos Municípios e da própria União, e que algo tem que ser feito.

Reporto-me aqui ao Governo do Presidente Lula. Nunca se combateu tanto a corrupção como neste Governo. Não estou dizendo que este Governo é melhor ou mais honesto do que o Governo Fernando Henrique. Não estou nesse debate. Estou dizendo que este é um Governo que tem agido exemplarmente no confronto com a corrupção. Estão aí as ações da Polícia Federal, que age com absoluta imparcialidade, independência, combatendo fraudes, prendendo corruptos, prendendo criminosos que transgridem, efetivamente, a ordem pública e a moralidade pública.

Entendo, Sr. Presidente, que deveríamos, nesta hora, pensar o País segundo seus desafios, desafios de um País que não cresce como gostaríamos, de um País que poderia estar crescendo mais, que alcançou a estabilidade da moeda, que alcançou o controle inflacionário, que garantiu inclusão social, que reduziu a taxa de desemprego, que avançou profundamente na luta pela reforma agrária.

Os dados estão aí para um grande debate, sobre a geração de emprego, sobre como está se dando o controle das exportações, com uma economia sustentada, com grandes perspectivas futuras, para que um melhor projeto de Nação fosse apresentado ao eleitor brasileiro e pudesse ser levado adiante nesta hora. Acho que ninguém é dono da verdade, ninguém é proprietário da fórmula mágica de garantir tudo que a sociedade brasileira quer.

Agora, não me parece justo que um Presidente da República, com o índice de aprovação que tem, com a responsabilidade histórica que tem perante a Nação, com a autoridade moral que tem tido perante a Nação, com a sua vida para ser avaliada e, no mínimo, respeitada, mereça estar sendo enxovalhado como está sendo por alguns.

Respeito muito as críticas feitas ao meu Partido. São críticas que meu Partido merece em alguns pontos, pois errou. Todos os partidos erraram nesse debate ético. Temos falhas e temos que ter essas falhas apuradas, tem que haver a devida condenação. Agora, a desonra da figura do Presidente da República é um ato impensado, um ato que foge, efetivamente, às responsabilidades políticas que o momento requer de todos.

Longe de mim qualquer reflexão de que estamos vivendo crise de qualquer natureza. Estamos apenas passando por um momento de nervosismo político, de confronto eleitoral. Deveríamos, imediatamente, colocar as coisas no seu devido lugar, pelo bem do interesse da sociedade, pela responsabilidade que nos foi delegada pela sociedade brasileira quando viemos a esta Casa.

Não quero falar com superioridade a nenhum líder partidário de qualquer outro partido e não me coloco em condição de querer, aqui, pregar um discurso orientador, disciplinador de comportamento; quero apenas chamar para um pacto de procedimentos em relação política que esteja à altura da elevação e da grandeza que deve ter o Senado Federal no grande debate nacional.

Era o que eu tinha a dizer.

Muito obrigado.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 04/08/2006 - Página 26060