Discurso durante a 148ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Comentários ao artigo "Brasil melhor do que parece", do jornalista Gesner Oliveira, publicado na Folha de S.Paulo, que destacou como vantagens competitivas do país em comparação aos emergentes China e Índia.

Autor
Edison Lobão (PFL - Partido da Frente Liberal/MA)
Nome completo: Edison Lobão
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
POLITICA DE DESENVOLVIMENTO.:
  • Comentários ao artigo "Brasil melhor do que parece", do jornalista Gesner Oliveira, publicado na Folha de S.Paulo, que destacou como vantagens competitivas do país em comparação aos emergentes China e Índia.
Publicação
Publicação no DSF de 07/09/2006 - Página 28563
Assunto
Outros > POLITICA DE DESENVOLVIMENTO.
Indexação
  • ANALISE, DADOS, CRESCIMENTO, ECONOMIA, PAIS EM DESENVOLVIMENTO, BRASIL, PAIS ESTRANGEIRO, RUSSIA, INDIA, CHINA, ESPECIFICAÇÃO, RENDA, CONSUMO, PRODUTO, ENERGIA, SERVIÇO.
  • COMENTARIO, ARTIGO DE IMPRENSA, JORNAL, FOLHA DE S.PAULO, ESTADO DE SÃO PAULO (SP), VANTAGENS, BRASIL, COMPARAÇÃO, PAIS ESTRANGEIRO, RUSSIA, INDIA, CHINA, ESPECIFICAÇÃO, DEMOCRACIA, CULTURA, CARACTERISTICA, POPULAÇÃO, RECURSOS ENERGETICOS, FACILITAÇÃO, DESENVOLVIMENTO NACIONAL.

            O SR. EDISON LOBÃO (PFL - MA. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, é sempre agradável, no contexto em que vivemos, destacar os tantos pontos positivos que incluem o Brasil entre as grandes nações. Há alguns anos, os economistas do importante banco norte-americano Goldman Sachs criaram a sigla Bric, para definir o pelotão de elite das economias emergentes do Planeta. Nessas quatro letras estão Brasil, Rússia, Índia e China. Segundo palavras do diretor de pesquisas do diretor de pesquisas do Goldman Sachs, os rumos dos negócios no mundo cada vez mais dependerão do sucesso ou do fracasso desses quatro países do Bric.

            Na verdade, é impressionante a coleta de dados englobados por essa sigla: somados, os países desse grupo emergente - que hoje se apresentam com 800 milhões de consumidores - somarão, nos próximos anos, cerca de 1,8 bilhão de pessoas com renda superior a três mil dólares ao ano, dos quais 200 milhões (ou seja, o equivalente às populações atuais da Alemanha e do Japão juntas) terão ganhos anuais superiores a 15 mil dólares norte-americanos.

            A inclusão de mais de um bilhão de pessoas ao mercado consumidor terá um impacto nunca antes registrado na história econômica do Planeta. Serão centenas de milhões a adquirirem bens de consumo - como sapatos, bicicletas, TVs, aparelhos de som, materiais de informática, etc. - que hoje não podem adquirir.

            As economias do Bric já são responsáveis, em termos mundiais, pelo consumo de 57% do algodão, 36% de todo o trigo, 35% da carne bovina, 32% do aço, 21% das geladeiras, 20% dos celulares, 18% do petróleo e dos alimentos em geral, 17% dos computadores, 14% do vestuário e 11% dos automóveis de todo o mundo.

            O consumo de aço do Bric, atualmente em 143 milhões de toneladas, saltará para 450 milhões de toneladas em quatro anos. O consumo de petróleo deve crescer de 15 milhões para 200 milhões de barris diários. Atualmente, são aproximadamente 700 milhões de usuários de telefonia móvel no grupo de países mencionados; em cinco anos, serão dois bilhões de clientes nesse setor.

            Em 2050, ou seja, daqui a pouco mais de quatro décadas, a expectativa é a de que o Brasil será a quinta maior economia do mundo, com um PIB de US$8 trilhões, ultrapassando países como Alemanha, Reino Unido, Rússia e França, dentre outros.

            Nos dias atuais, já se podem sentir os impulsos do desenvolvimento entre os Brics. Na China, eleva-se a demanda por minério de ferro, que a seu turno beneficia a brasileira Vale do Rio Doce. A General Eletric faz planos para triplicar, no próximo ano, a produção de locomotivas em sua unidade de Minas Gerais, na cidade de Contagem. À medida que aumentam as exportações de minérios para a Ásia, aumenta, também, a necessidade de transporte desse produto. A Sadia anunciou, em março passado, seus planos de investimento de US$70 milhões para a abertura de sua primeira fábrica fora do Brasil, na capital russa.

            A China, nos últimos nove anos, cresce a uma taxa média anual de 9%. A Índia saiu do marasmo, há cerca de 15 anos, com uma onda de reformas liberalizantes, e atualmente cresce a uma taxa de aproximadamente 7% ao ano.

            A GL Consultoria, comandada pelo economista Getulio Lamartine de Paula Fonseca, numa das suas últimas publicações, “Informação e Análise”, resumiu artigo do jornalista Gesner Oliveira, extraído da Folha de S.Paulo de 29 de julho passado, sob o título “Brasil melhor do que parece”, que traz conceitos muito interessantes numa análise comparativa com China e a Índia, dois dos integrantes do citado BRIC.

            Opina a publicação que o Brasil é mais competitivo do que parece quando comparado à China e à Índia, as grandes surpresas da economia mundial. E cita sete fatores decisivos para tais conclusões.

            Em primeiro lugar, a consolidação do nosso regime democrático nas últimas duas décadas gera menos problemas do que a tensão e a incerteza quanto ao futuro de uma ditadura da burocracia partidária na China.

            Em segundo, a sociedade civil brasileira é ativa. Adaptou-se rapidamente ao apagão de 2001; há uma resistência heróica à escalada da criminalidade urbana e rural, e reage-se ao aumento abusivo da carga tributária pelo Estado.

            Em terceiro lugar, o empreendedorismo é particularmente forte em todas as camadas sociais. Segundo estudo da London Business School e do Babson College, o Brasil está em quinto lugar na lista de países com maior percentual de empreendedores estabelecidos na população. A cultura empreendedora está disseminada em todas as regiões e camadas sociais, sem as “ilhas de capitalismo” existentes na China e na Índia.

            Em quarto lugar, o Brasil é de notável homogeneidade cultural. O português é falado no País inteiro e não há dialetos. Na China, além do mandarim como língua oficial, há nada menos que 53 idiomas nacionais e mais de cem dialetos! Na Índia, há 16 línguas oficiais e 844 dialetos!

            Em quinto lugar, o Brasil possui posição privilegiada em dotação de insumos energéticos e recursos naturais, além de tecnologias relativamente amigáveis do ponto de vista ambiental, como no caso do álcool. Por outro lado, o País tem a proximidade geográfica e a conveniência de fuso horário para acesso aos maiores mercados do mundo.

            Em sexto, não obstante os obstáculos ainda não transpostos, o Brasil vem desenvolvendo conjunto de regras mais adequadas ao investimento. Embora inferiores às daqueles dois países, o Brasil tem legislações de concorrência e regulação dos mercados, propriedade intelectual, falência e investimento direto mais adequadas a uma moderna economia de mercado.

            Em sétimo lugar, o complexo processo de migrações internas em massa que acompanha a industrialização, com seus graves problemas, já ocorreu no Brasil.

            O Brasil é hoje uma sociedade urbana, com apenas 16% da população no campo, contra 71% e 60% na Índia e na China, respectivamente.

            Como diz o articulista, tais fatores não são fruto de políticas governamentais. “Alguns deles ocorrem apesar do Governo. São atributos e ativos nacionais que podem, se bem aproveitados, servir de base para o desenvolvimento do País nas próximas décadas”.

            Eu acrescentaria, Sr. Presidente, por oportuno, que o nosso País volta a reafirmar, neste ano eleitoral, a extraordinária vocação do brasileiro para o sistema democrático. Neste período eleitoral, constata-se, mais uma vez, a plena liberdade que se assegura a todos os cidadãos para a manifestação da sua vontade. Com um processo eleitoral que a cada ano se aprimora, o Brasil serve de modelo à América Latina e a todo o mundo sobre como realizar um pleito limpo, fiscalizado, sob condições técnicas que confirmarão a legitimidade da decisão popular.

            Sem dúvida, Srªs e Srs. Senadores, o Brasil é melhor do que parece, e tal constatação só pode nos dar esperanças de que a qualidade de vida do povo brasileiro encaminha-se para dias melhores.

            Era o que eu tinha a dizer.

            Muito obrigado.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 07/09/2006 - Página 28563