Discurso durante a 150ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

Contribuições para um futuro pacífico no Oriente Médio.

Autor
Luiz Otavio (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/PA)
Nome completo: Luiz Otavio Oliveira Campos
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
TERRORISMO. POLITICA INTERNACIONAL. POLITICA EXTERNA.:
  • Contribuições para um futuro pacífico no Oriente Médio.
Publicação
Publicação no DSF de 14/09/2006 - Página 28844
Assunto
Outros > TERRORISMO. POLITICA INTERNACIONAL. POLITICA EXTERNA.
Indexação
  • COMENTARIO, SITUAÇÃO, ATUALIDADE, MUNDO, EFEITO, TERRORISMO, ATENTADO, PAIS ESTRANGEIRO, ESTADOS UNIDOS DA AMERICA (EUA), GUERRA, ORIENTE MEDIO, IMPORTANCIA, DIALOGO, POLITICA INTERNACIONAL, PAZ.
  • SOLIDARIEDADE, MORTE, VITIMA, SOCIEDADE CIVIL, DANOS, INFRAESTRUTURA, VIOLENCIA, PAIS ESTRANGEIRO, BRASIL.
  • ELOGIO, ATUAÇÃO, GOVERNO BRASILEIRO, ITAMARATI (MRE), REPUDIO, ATENTADO, SEQUESTRO, RETIRADA, BRASILEIROS, OPERAÇÃO, EMERGENCIA, MOBILIZAÇÃO, ORGÃO PUBLICO, APOIO, OPINIÃO PUBLICA.
  • SAUDAÇÃO, CONSELHO DE SEGURANÇA, ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS (ONU), RESOLUÇÃO, CESSAÇÃO, FOGO, NEGOCIAÇÃO, CONFLITO, PROCEDENCIA, INEXISTENCIA, ESTADO, GRUPO ETNICO, COMPARAÇÃO, ORADOR, BRASIL, DIVERSIDADE, RAÇA, RELIGIÃO, TOLERANCIA, PAZ.

O SR. LUIZ OTÁVIO (PMDB - PA. Sem apanhamento taquigráfico.) - Sr. Presidente, Srªs. e Srs. Senadores: Em uma semana em que a comunidade internacional se propõe a refletir sobre os 5 anos dos atentados de 11 de setembro de 2001, gostaria de tecer algumas considerações sobre a tarefa inacabada de paz no Oriente Médio, particularmente entre israelenses e libaneses.

No belíssimo romance intitulado Ensaio contra a cegueira, o premiado escritor português José Saramago discorre sobre a responsabilidade de ter olhos quando os outros os perderam. Em tom de parábola, Saramago ilustra, com propriedade, um dos papéis mais relevantes do diálogo político: a tarefa de enxergar e de oferecer alternativas à conflagração armada.

Quando nos lembramos do incipiente cessar-fogo entre Israel e Líbano, quando as imagens de destruição e de morte de milhares de civis nos vêm à cabeça, torna-se urgente a tarefa de trabalharmos, junto dos governos e das sociedades, em favor do diálogo e da cooperação internacional.

Sr. Presidente, foi com um sentimento de profunda desolação que acompanhamos a escalada da violência entre Israel e a milícia islâmica Hezbollah, que acabou por vitimar centenas de membros da sociedade civil, inclusive mulheres e crianças. Os danos à infra-estrutura libanesa contam-se na casa do bilhão de dólares.

Nesse contexto, agiu com prudente firmeza o Governo brasileiro, tanto ao repudiar os atentados contra a vida e o seqüestro de soldados israelenses quanto ao condenar a desproporção da reação militar de Israel. O saldo lastimável do conflito foi a morte de cerca de 1.100 civis, entre os quais 9 cidadãos brasileiros, 3 deles crianças.

A diplomacia brasileira acertou em cheio ao optar pela retirada de cerca de 3 mil brasileiros, de recursos limitados, do Líbano. O Ministro das Relações Exteriores, Embaixador Celso Amorim, detalhou as estratégias do Governo em audiência na Comissão de Relações Exteriores do Senado Federal. A operação emergencial do Governo, sem precedentes em nossa história, mobilizou vários órgãos federais, e contou com nosso apoio e com amplo respaldo na opinião pública.

Saudamos a adoção da Resolução 1.701, do Conselho de Segurança das Nações Unidas, devidamente aprovada, há cerca de um mês, pelos Gabinetes israelense e libanês. O cessar fogo constitui-se, em verdade, no único caminho possível de entendimento entre Israel e Líbano, mas o fato de o líder máximo do Hezbollah, Hassan Nasrallah, e o Primeiro-Ministro de Israel, Ehud Olmert, considerarem-se vitoriosos demonstra a inutilidade da guerra. Mais que isso, demonstra, também, seu absurdo.

É lamentável que, em pleno século XXI, ainda haja movimentos políticos e nações do Oriente Médio que continuem a negar a possibilidade de existência do Estado judeu de Israel. Negam, de maneira obtusa, os quase 60 anos da Resolução da Assembléia-Geral da ONU de 1947, então presidida pelo brasileiro Oswaldo Aranha, que pôs fim ao mandato britânico sobre a Palestina, prevendo sua divisão entre um Estado judeu e um Estado palestino.

Isso nos leva a um ponto-chave para o entendimento de boa parte dos problemas do Oriente Médio: a falta de solução satisfatória para o povo palestino é fonte perene de atritos que, com triste e rotineira freqüência, têm ceifado milhares de vidas inocentes.

O Brasil, país-destino de contingentes populacionais provenientes dos quatro cantos do mundo, possui legitimidade para trabalhar em prol de solução negociada e pacífica no Oriente Médio. Em nosso País, judeus, sírios e libaneses são capazes de deixar as rivalidades de lado para trabalharem por um futuro melhor.

A aposta dos idealistas que fundaram, por exemplo, o Hospital Israelita Albert Einstein e o Hospital Sírio-Libanês, dois centros de excelência, é no zelo pela saúde e pela vida do próximo. Em solo brasileiro, o respeito à diversidade e o convívio com a diferença permitem a convivência harmoniosa de todas as raças e de todos os credos religiosos. Não há por que ser diferente no Oriente Médio.

Sr. Presidente, cinco anos se passaram desde os atentados terroristas de 11 de setembro de 2001, mas as reações militares não têm sido capazes de tornar o mundo um lugar mais seguro. Ao contrário, temos a impressão de que vivemos sob o signo do medo, em uma espiral de violência que parece não ter fim.

É nesse sentido que, valendo-nos da metáfora de Saramago, é ingente sermos capazes de viabilizar o diálogo e o entendimento entre israelenses, libaneses, palestinos e demais nacionais de países do Oriente Médio, sem distinção de convicções religiosas.

Srªs e srs. Senadores, uma das principais tarefas de nós, políticos, é a de evitar a guerra. Porém, evitar a guerra vai além de prevenir a conflagração armada. Significa, também, desarmar os espíritos, pelo respeito à diferença e pelo incentivo ao diálogo aberto, democrático e multilateral. Pela história brasileira, estou certo de que podemos - e devemos - contribuir para um futuro pacífico no Oriente Médio.

Muito obrigado, Sr. Presidente, era o que eu tinha a dizer nesta tarde.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 14/09/2006 - Página 28844