Discurso durante a 146ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Destaque para o apoio do ex-presidente Collor ao presidente Lula. Preocupação com a possibilidade da volta ao comando da cúpula do governo, do ex-Ministro cassado, José Dirceu.

Autor
José Jorge (PFL - Partido da Frente Liberal/PE)
Nome completo: José Jorge de Vasconcelos Lima
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
ELEIÇÕES.:
  • Destaque para o apoio do ex-presidente Collor ao presidente Lula. Preocupação com a possibilidade da volta ao comando da cúpula do governo, do ex-Ministro cassado, José Dirceu.
Aparteantes
Pedro Simon.
Publicação
Publicação no DSF de 05/09/2006 - Página 27815
Assunto
Outros > ELEIÇÕES.
Indexação
  • APREENSÃO, POSSIBILIDADE, RETORNO, MEMBROS, ASSESSORIA, PRESIDENTE DA REPUBLICA, PARTICIPAÇÃO, CORRUPÇÃO, MANDATO, REELEIÇÃO.
  • COMENTARIO, NOTICIARIO, INTERNET, INCOERENCIA, PROPOSTA, CAMPANHA ELEITORAL, OMISSÃO, PRESIDENTE DA REPUBLICA, REALIZAÇÃO, REFORMA POLITICA, INEFICACIA, COMBATE, CORRUPÇÃO, CRITICA, ATUAÇÃO, JOSE DIRCEU, EX-DEPUTADO, REPRESENTAÇÃO, GOVERNO FEDERAL, NEGOCIAÇÃO, GOVERNO ESTRANGEIRO, PAIS ESTRANGEIRO, BOLIVIA.
  • REGISTRO, INICIATIVA, FERNANDO COLLOR DE MELLO, EX PRESIDENTE DA REPUBLICA, CASSADO, APOIO, REELEIÇÃO, PRESIDENTE DA REPUBLICA.

O SR. JOSÉ JORGE (PFL - PE. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, a provisória vantagem do Presidente Lula nas pesquisas de opinião faz com que ele comece a revelar como seria um segundo mandato seu: exatamente como o atual, inclusive com o retorno dos envolvidos nos escândalos do mensalão e das sanguessugas, entre outros malfeitos na administração petista.

Semana passada, uma visita fortuita do ex-Presidente do PT, José Genoino, ao Palácio do Planalto revelou o que circulava nos bastidores. A turma de amigos do Lula, afastados por pressão da sociedade, somente aguarda uma eventual vitória da reeleição para reimplantar a “república do mensalão” no Palácio do Planalto.

Segundo conversas de bastidores, o PT só espera nova legislatura para propor - vejam bem, Srªs e Srs. Senadores - a anistia do ex-todo-poderoso José Dirceu, que a Câmara dos Deputados cassou em 2005. Alguns assessores de José Dirceu já retornaram ao Planalto, como é o caso da assessora de imprensa Telma Feher, que está lotada na Secretaria de Imprensa da Presidência da República.

Passo a ler um texto, Sr. Presidente, escrito no blog do jornalista Josias de Souza, da Folha de S.Paulo, que explica esses planos de Lula e do PT e a enganação da reforma política que não propôs no mandato de quatro anos:

“O petismo vem apresentando a reforma política como remédio que a tudo remedia. Lula chega mesmo a insinuar que só há escândalos, um atrás do outro, porque a política não foi reformada”.

Ressalto - o jornalista Josias de Souza não o disse - que o Presidente Lula teve quatro anos para apresentar projetos de reforma política e poderia ter utilizado esses quatro anos para aprovar alguns projetos de reforma política que foram aprovados pelo Senado e estão na Câmara. Todavia, nunca encaminhou nenhum projeto de reforma política e nunca trabalhou para que os que estão na Câmara, já aprovados pelo Senado, fossem apreciados. Tudo isto - fidelidade partidária, voto distrital, voto distrital misto, proibição de coligação - já foi aprovado pelo Senado e está na Câmara, e o Presidente Lula nunca envidou nenhum esforço nesse sentido, muito menos enviou matéria alguma para o Congresso. Os projetos aprovados foram de iniciativa do Legislativo, como aquele do Senador Jorge Bornhausen, de que fui Relator e que, inclusive, já está valendo nestas eleições.

“Ao tomar posse, em janeiro de 2003, Lula prometera, entre outras coisas, priorizar a reforma política e acabar com a corrupção. Não reformou nada. E não viu coisa alguma.

Agora, Lula diz que a roubalheira não é fruto - ouça bem o que ele disse, Senador Geraldo Mesquita Júnior - de erro individual ou partidário - quer dizer, não são os ladrões que erram -, mas resultado “dos acúmulos das deformações da estrutura política”. Pois bem, a pretexto de endireitar as coisas, trama-se nos subterrâneos do petismo uma tortuosidade: a anistia política de José Dirceu.

O repórter Raymundo Costa informa que o desejo de cavar um perdão para o ex-chefão da Casa Civil freqüenta até as preocupações do Planalto: “A anistia seria específica para quem recebeu punição política. Nessa categoria, estariam enquadrados José Dirceu e o ex-deputado Roberto Jefferson, acusado e acusador do mensalão (...)”.

É o cúmulo! Todo esse escândalo do mensalão, provado e comprovado pela CPI e pela mídia, seria encerrado com um ato de anistia àqueles pouquíssimos que foram punidos!

         “Era só o que faltava. Dos 19 congressistas encrencados no fenômeno do mensalismo, só três tiveram a cabeça apartada do pescoço: Jefferson, Dirceu e o deputado Pedro Corrêa (PP-PE). Se vier a anistia, o dramalhão ganhará ares de comédia-pastelão. De tudo, sobrará uma lição que a política ensina: político jamais aprende”.

            A lição vem para todos nós, sendo que o mais correto seria dizer: o PT e Lula jamais aprendem.

José Dirceu hoje já atua como lobista, com largo trânsito no Governo Lula. Inclusive, tem um blog na Internet, no IG, que hoje está nas folhas da Veja e que tem atuação específica no Governo do Presidente Lula. Consta, inclusive, que teria feito gestões junto ao governo boliviano em nome do Presidente Lula, cuja viagem foi comprovada. Ele foi, de jatinho, em nome do Governo do Presidente Lula, participar das negociações com o governo boliviano.

Ex-ministro de Lula, José Dirceu só não se candidata nesta eleição porque foi cassado. De todos aqueles envolvidos, ele é o único que não se candidata na eleição porque foi cassado. Evidentemente, não pode se candidatar; mas pode ser ministro. Quer dizer, a quebra dos direitos políticos faz com que José Dirceu não possa ser votado nem possa votar; mas nada impede que ele seja ministro.

Mas outros mensaleiros e sanguessugas são amplamente apoiados pelo PT, como o Genoíno, o Deputado João Paulo Cunha, o Professor Luizinho, o Ministro Humberto Costa, de Pernambuco, e o Ministro Antonio Palocci, entre outros. Quer dizer, há toda uma estrutura montada para que todo esse esquema volte ao poder, juntamente com Lula.

Além do apoio e engajamento na campanha desses petistas, o Presidente Lula tem recebido apoios, confirmando que um eventual segundo mandado seria um desastre para a moralidade pública.

O Sr. Pedro Simon (PMDB - RS) - Permita-me um aparte, Senador?

O SR. JOSÉ JORGE (PFL - PE) - Concedo o aparte ao Senador Pedro Simon.

O Sr. Pedro Simon (PMDB - RS) - Esta questão toda, Senador, envolve outra questão realmente muito importante: o procedimento do PT ao longo de toda essa caminhada, desde o aparecimento do caso Waldomiro, para o qual pedimos a CPI. O Governo não deixou criar a CPI, e o desgaste veio vindo, veio vindo, veio vindo e terminou com o que aconteceu: caiu o Presidente do Partido, o Secretário Geral, o tesoureiro, o Chefe da Casa Civil. Num determinado momento, foi escolhido para presidente do Partido o Ministro Tarso Genro, que teve um gesto de grandeza: renunciou ao Ministério da Educação, onde ele ia, diga-se de passagem, muito bem, e assumiu a presidência do Partido. E ele dizia: “Vou cumprir uma missão histórica. Vou refundar o PT. A nós não interessa a CPI, não interessa a Comissão de Ética, não interessa o Plenário nem da Câmara nem do Senado, não interessa a Procuradoria, não interessa a Polícia Federal e não interessa o Judiciário. Nós temos de decidir as questões éticas do PT dentro da Convenção do PT, do Diretório Nacional do PT, da Assembléia-Geral do PT. E vamos fazer isso. Vamos dar amplo direito de defesa e vamos julgar. E os que tiverem de ser afastados serão afastados, não importa o percentual. Vamos refundar o PT”. Fui para aquela tribuna e enchi de elogios o Sr. Tarso, dizendo que estava aí uma atitude corajosa que, na minha opinião, salvaria o PT. Errar é humano, cometer um equívoco. Mas, de repente, vinha alguém até a presidência para dizer que ele, por conta própria, o Partido, independente da Oposição, ia julgar a ética do Partido. Nota dez! O que aconteceu? O Dr. Tarso Genro não ficou dois meses na presidência do Partido. Veio a eleição, e foi sumariamente afastado. Não concorreu à presidência do Partido. E a tese que venceu na Convenção Nacional do Partido foi contrária à do Dr. Tarso Genro. O Ministro defendia a tese de apurar, e a decisão foi: até as eleições, não se fala nada; até a eleição, esse assunto não vai ser tocado; vai ser tocado depois da eleição. É fácil entender, não é Senador? Se não se toca na hora em que tem que se tocar, não vai ser depois da eleição, vitória ou derrota, que se vai tocar nessa matéria. Então, o PT reconheceu que não vai julgar ninguém, e, ao mesmo tempo, aparece, como tem aparecido, em primeiro lugar, apareceram na convenção os líderes afastados; em segundo lugar, já são candidatos alguns. Só não é candidato a Deputado quem não pode. Mas quem pode, como o ex-Ministro da Fazenda e ex-Ministro do Partido...

O SR. JOSÉ JORGE (PFL - PE) - Antonio Palocci.

O Sr. Pedro Simon (PMDB - RS) - São candidatos. Tranqüilo. Então, na verdade, o PT resolveu ser pragmático, absolutamente pragmático. A tese interna da disputa, dos princípios éticos do Partido, da teoria, da história, da tradição, da biografia, foi colocada de lado. O que importa é ganhar a eleição. Depois, nós vamos ver.

O SR. JOSÉ JORGE (PFL - PE) - Muito obrigado, Senador Pedro Simon. V. Exª tem completa razão. Na verdade, isso nunca mais será visto no PT. E penso que eles consideram que a eleição vai...

(Interrupção do som.)

O SR. JOSÉ JORGE (PFL - PE) - Vai absolver aqueles que forem eleitos. Todos esses, evidentemente, com o dinheiro do mensalão, com toda a infra-estrutura que montaram, inclusive com a mídia, têm boa chance de se eleger, imagino.

Além do apoio e engajamento na campanha desses petistas, o Presidente Lula tem recebido apoios confirmando que um eventual segundo mandato seria o desastre para a moralidade pública.

Algumas figuras tão combatidas pelo PT, especificamente pelo PT, no passado, e por Lula, também no passado, como o ex-Governador Newton Cardoso, como o ex-Governador de São Paulo, Orestes Quércia, como o ex-Governador e ex-Senador, Jader Barbalho, hoje estão integradas e atuantes na campanha de reeleição. O Presidente Lula se esqueceu de todos eles.

E, na semana passada, o Presidente Lula recebeu o apoio de um desafeto do passado. Trata-se do apoio, surpreendente, do ex-Presidente Fernando Collor de Mello, candidato a Senador pelo Estado de Alagoas, cujas primeiras palavras, quando lançou sua candidatura, foram de apoio ao Presidente Lula à reeleição, fato de que, aliás, eu não me admirei, exatamente porque as acusações que o Presidente Lula vem recebendo durante todo este período são muito semelhantes às que o Presidente Collor recebeu. Menores até do que as que o Presidente Collor recebeu, e terminou cassado.

Cassado por este Senado por corrupção, Collor agora é candidato a ocupar um assento nesta Casa pelo Estado de Alagoas. Adversários em 1989, com graves acusações mútuas, Lula e Collor agora se nivelam, e passam à sociedade a idéia de que são iguais.

Ao concluir, gostaria de alertar ao povo brasileiro, especialmente àqueles que estão pensando em votar em Lula - segundo as pesquisas, são muitos - talvez enganados pela vistosa propaganda eleitoral do PT, que, ao escolher o atual Presidente, o eleitor estará garantindo o retorno de José Dirceu e de todos aqueles mensaleiros e sanguessugas afastados, e outras crias deste desgoverno do Presidente Lula.

Muito obrigado, Sr. Presidente.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 05/09/2006 - Página 27815