Discurso durante a 146ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Apelo à Volkswagen e ao Sindicato dos Trabalhadores e Metalúrgicos no ABC no sentido de que cheguem a um entendimento em prol da indústria automobilística e do país.

Autor
Eduardo Suplicy (PT - Partido dos Trabalhadores/SP)
Nome completo: Eduardo Matarazzo Suplicy
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
POLITICA INDUSTRIAL. MOVIMENTO TRABALHISTA.:
  • Apelo à Volkswagen e ao Sindicato dos Trabalhadores e Metalúrgicos no ABC no sentido de que cheguem a um entendimento em prol da indústria automobilística e do país.
Aparteantes
Heráclito Fortes, Paulo Paim.
Publicação
Publicação no DSF de 05/09/2006 - Página 27822
Assunto
Outros > POLITICA INDUSTRIAL. MOVIMENTO TRABALHISTA.
Indexação
  • PEDIDO, ACORDO, PRESIDENTE, EMPRESA, VEICULO AUTOMOTOR, SINDICATO, TRABALHADOR, METALURGICO, ESTADO DE SÃO PAULO (SP), BENEFICIO, DESENVOLVIMENTO, INDUSTRIA AUTOMOBILISTICA, BRASIL.
  • REGISTRO, HISTORIA, INSTALAÇÃO, INDUSTRIA AUTOMOBILISTICA, ESTADO DE SÃO PAULO (SP), ANALISE, IMPORTANCIA, MOVIMENTO TRABALHISTA, PARTICIPAÇÃO, PRESIDENTE DA REPUBLICA, GARANTIA, MELHORIA, CONDIÇÕES DE TRABALHO.
  • COMENTARIO, SUSPENSÃO, ANUNCIO, DEMISSÃO COLETIVA, FUNCIONARIOS, INDUSTRIA AUTOMOBILISTICA, ESTADO DE SÃO PAULO (SP), INICIO, NEGOCIAÇÃO, SINDICATO, TRABALHADOR, METALURGICO, POSSIBILIDADE, ENTENDIMENTO.
  • SOLICITAÇÃO, TRANSCRIÇÃO, ANAIS DO SENADO, ARTIGO DE IMPRENSA, JORNAL, FOLHA DE S.PAULO, ESTADO DE SÃO PAULO (SP), AUTORIA, PRESIDENTE, SINDICATO, TRABALHADOR, METALURGICO, ANALISE, SITUAÇÃO, NEGOCIAÇÃO, EMPRESA, FUNCIONARIOS, REGISTRO, REUNIÃO, ORADOR, TENTATIVA, CONTRIBUIÇÃO, ENTENDIMENTO.

O SR. EDUARDO SUPLICY (Bloco/PT - SP. Pela ordem. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Senador Renan Calheiros; Srªs e Srs. Senadores, quero registrar um apelo à Volkswagen, ao Presidente Hans-Christian Maergner, bem como ao Sindicato dos Trabalhadores Metalúrgicos no ABC, para que cheguem a um entendimento em prol do desenvolvimento da indústria automobilística, do desenvolvimento brasileiro e de todos aqueles que trabalham na Volkswagen no Brasil.

A Volkswagen foi fundada no Brasil em 18 de novembro de 1959, em um dia marcante, com a presença do Presidente Juscelino Kubitscheck. Um dia altamente festivo para o desenvolvimento brasileiro do ABC, de extraordinária importância.

No dia 2 de maio de 2005, tive a oportunidade de testemunhar quando o Presidente Luiz Inácio Lula da Silva foi recebido pelo Presidente da Volkswagen, Sr. Hans-Christian Maergner, e por todos os trabalhadores da Volkswagen, em um dia de grande significado, uma vez que o Presidente Lula foi Presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de São Bernardo e Diadema justamente na década de 70.

Na segunda metade dos anos 70 e sobretudo nos anos 80, ele liderou ali uma série de movimentos em defesa da melhoria de salários e de condições para os trabalhadores. Muitas vezes, tivemos ali problemas sérios. Houve greves, houve a intervenção do então Governo brasileiro nos sindicatos. Estávamos numa época de repressão.

O Presidente Lula, do sindicato, e mais doze de seus companheiros de diretoria acabaram sendo presos no Dops. Era, inclusive, diretor do Dops o hoje Senador Romeu Tuma, que foi responsável, então, pela custódia do Presidente Lula, quando, naqueles dias, faleceu a sua mãe. O diretor do Dops, Romeu Tuma, deu autorização para que o Presidente Lula pudesse ir ao funeral de sua mãe.

Então, tudo aquilo teve enorme significado. E eu, presente àquela visita do Presidente Lula em 2 de maio do ano passado, pude testemunhar a alegria com que os trabalhadores metalúrgicos da Volkswagen, e a própria Direção da Volkswagen, reviveram aquilo que passou.

            Em 2001, houve um entendimento entre os trabalhadores metalúrgicos, por meio de seu sindicato, e a Volkswagen, diante de uma situação de dificuldade e impasse nas relações entre os segmentos, e foi feito um acordo para que houvesse estabilidade para os trabalhadores até novembro deste ano.

Há poucos dias, a empresa resolveu encaminhar cartas a 1.800 trabalhadores da Volkswagen, em São Bernardo do Campo, anunciando que eles seriam demitidos; trabalhadores que estão na Volkswagen, muitos deles, por volta de vinte anos ou mais, portanto, trabalhadores experientes, que têm um grande aprendizado.

Pois bem, isso acabou resultando numa greve dos trabalhadores da Volkswagen e em enorme preocupação. Estava o BNDES para prover um empréstimo significativo à Volkswagen, mas, como a Volkswagen, por sua Direção, havia resolvido não atender às solicitações dos trabalhadores, não os demitindo, o BNDES suspendeu aquele empréstimo.

Quero aqui externar o quão importante é que a Direção da Volkswagen e o Sindicato dos Trabalhadores - que inclusive, no dia de hoje, em assembléia em que estiveram presentes dez mil trabalhadores, resolveu suspender a greve -, possam chegar a um entendimento.

Senador Paulo Paim, quero dizer que a Volkswagen resolveu suspender as demissões 1.800 trabalhadores, e agora parece que há um caminho de possível entendimento.

Então, Senador Heráclito Fortes, quero aqui fazer um apelo a ambos os lados, no sentido de que a direção da Volkswagen e a direção dos metalúrgicos possam chegar a um entendimento de equilíbrio que signifique respeito aos anseios de ambas as partes.

Sabemos que hoje há quase que uma grande revolução no desenvolvimento da indústria automotiva. No Japão, há um desenvolvimento tecnológico extraordinário; na China, são produzidos veículos com tecnologia e aproveitamento de trabalhadores a um salário menor, em média, do que os pagos no Brasil e muito menor do que os pagos nos Estados Unidos. Tudo isso vem causando verdadeiras transformações de grande significado. Mas é importante que possam ambos os lados chegar a um entendimento.

O Sr. Heráclito Fortes (PFL - PI) - V. Exª me permite um aparte?

O SR. EDUARDO SUPLICY (Bloco/PT - SP) - Com muita honra, Senador Heráclito Fortes.

O Sr. Heráclito Fortes (PFL - PI) - Senador Eduardo Suplicy, mais uma vez, quero dar parabéns a V. Exª e dizer que, mais uma vez, V. Exª é um dissidente em seu Partido. Mais uma vez, quero me congratular com V. Exª pela coragem de ser contra os rumos tortuosos tomados pelo Partido dos Trabalhadores.

O SR. EDUARDO SUPLICY (Bloco/PT - SP) - V. Exª se engana nessa vertente. Quero transmitir a V. Exª que, ainda na última sexta-feira, fiz uma visita ao Presidente José Lopes Feijó, que é presidente do sindicato, que é do Partido dos Trabalhadores, que é da Central Única dos Trabalhadores. Procurei ouvi-lo, tenho a intenção de dialogar com a direção, com a Volks. É o meu propósito procurar contribuir para um entendimento. Então, não procure V. Exª dizer coisas que não são.

O Sr. Heráclito Fortes (PFL - PI) - V. Exª me permite o aparte?

O SR. EDUARDO SUPLICY (Bloco/PT - SP) - Claro.

O Sr. Heráclito Fortes (PFL - PI) - Volto a parabenizá-lo, pois V. Exª, mais uma vez, assume a coragem de discordar do seu Partido e de ser dissidente. Aliás, V. Exª tem sido muito feliz toda vez que faz isso. Foi assim na CPI do Valdomiro, nas CPIs que queriam apurar as corrupções do PT. Seu Partido ficou contra, e V. Exª mostrou que tinha razão, que o Partido tinha corrupção, e a história do PT não poderia permitir isso. Agora, V. Exª mais uma vez é contra. Por que é contra? O Presidente Lula declarou que o mercado é assim mesmo, que isso é questão de mercado: ora ganha, ora perde. Aquele Presidente da República que foi talvez o maior negociador de greve que este País teve em toda sua história, hoje, dá declarações pífias dessa maneira, sem nenhuma solidariedade aos trabalhadores do Brasil. Por outro lado, enquanto V. Exª foi discutir pessoalmente com as partes interessadas, ele discutiu com o Presidente da Volkswagen, aqui em Brasília, num jantar regado a whisky e a comida importada. E não se sabe de nada concreto que o Presidente da República tenha colocado como condição para a Volkswagen. Então, quero dizer, Senador Eduardo Suplicy, o que o Brasil todo sabe: V. Exª continua coerente, continua ao lado da estrela, e o Presidente da República continua ao lado dos banqueiros, continua ao lado das empresas internacionais; não é mais aquele que encantou as multidões no ABC. De forma que, dito isso, parabenizo a V. Exª. E é com profunda tristeza que vejo um governo sob o comando do trabalhador, um governo que tem a obrigação de, numa questão como essa, ter a primeira palavra de tranqüilidade e consolo ao trabalhador do Brasil, mas se cala e se omite. Nem mesmo seus companheiros aqui do plenário, ninguém foi solidário a V. Exª. Pode ser que agora apareça, mas ninguém se solidarizou com V. Exª, nem com os trabalhadores. O Partido de V. Exª está noutra. Continue assim. Parabéns.

O SR. EDUARDO SUPLICY (Bloco/PT - SP) - Senador Heráclito Fortes, quero transmitir a V. Exª - e quero inclusive, Sr. Presidente, pedir que seja transcrito - o artigo de José Lopez Feijó, Presidente do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, publicado na Folha, no dia 31 de agosto, quinta-feira última, onde ele expressa o desejo da realização de negociação em que se caracterize o equilíbrio entre as partes.

Concedo um aparte ao Senador Paulo Paim.

O Sr. Heráclito Fortes (PFL - PI) - V. Exª poderia aproveitar e transcrever uma palavra do Presidente da República, o trabalhador Luiz Inácio Lula da Silva, a serviço dos trabalhadores nessa questão. Essa é que eu queria. Muito obrigado.

O SR. EDUARDO SUPLICY (Bloco/PT - SP) - Registro que o Presidente falou que, na indústria automobilística, muitas vezes acontecem situações em que, dadas as condições de rentabilidade, as empresas são forçadas a diminuir o número de trabalhadores contratados. Isso tem sido um fenômeno para além das forças e da boa vontade. Mas, quando ocorre uma situação como essa, é importante que a direção das empresas e os trabalhadores se sentem para dialogar sobre o que é possível, inclusive com a definição de remuneração dos trabalhadores, ora como salário, ora como participação nos resultados.

O Sr. Heráclito Fortes (PFL - PI) - Com quem o Presidente já se sentou para negociar essa questão? Lembre-se de que ele, além de Presidente do Brasil, é presidente dos trabalhadores. E estamos vendo se iniciar no Brasil uma crise no trabalho, mas ele está se omitindo, achando que é comum na questão da indústria. Não se contamine com esse discurso econômico-financeiro do Presidente Lula. Continue a ser trabalhador. Parabéns.

O SR. EDUARDO SUPLICY (Bloco/PT - SP) - Senador Heráclito Fortes, sabe perfeitamente V. Exª que, durante os 3 anos e 9 meses até o presente, o Governo Lula presenciou o aumento do número de mais de 105 mil trabalhadores no mercado formal mês a mês.

Concedo o aparte, com muita honra, ao Senador Paulo Paim.

O Sr. Paulo Paim (Bloco/PT - RS) - Senador Eduardo Suplicy, quero cumprimentar V. Exª, que aborda o assunto da demissão dos trabalhadores da Volks, que já chegam a mais de 1.800. Cumprimento V. Exª porque, na sexta-feira, fui à tribuna da esquerda, e quem presidia os trabalhos era o Senador Heráclito Fortes. Falamos exatamente sobre esse assunto. Preocupava-me muito quando a Volks anunciava férias coletivas para 21 mil trabalhadores em todo o País. Por que a preocupação? Como viemos da área sindical, sabemos que, num momento de crise, a empresa dá férias coletivas, e o trabalhador vai receber em casa, por correspondência, em inúmeros casos, a sua demissão, que foi exatamente o que aconteceu com os 1.800 empregados da Volks. Eles receberam em casa a correspondência demitindo-os. Por isso, quero cumprimentar V. Exª, comunicando que remeti também correspondência ao Presidente do Sindicato de São Bernardo, do ABC paulista, colocando-me à disposição. Inclusive fui além, ao dizer que, mediante a gravidade dos fatos - observe que estamos tratando da Volks -, de repente, se assim o Presidente do Sindicato entendesse, faríamos inclusive uma audiência pública. Eu me proponho a fazer isso junto com V. Exª, para que possamos ouvir a Volks sobre essa crise, que pode levar a mais demissões. Faço o aparte, cumprimentando o pronunciamento de V. Exª pela excelente iniciativa de ter ido lá em São Bernardo, conversar com o Presidente do Sindicato, colocando-se à disposição, inclusive, de dialogar com o Presidente da Volks. Parabéns a V. Exª.

O SR. EDUARDO SUPLICY (Bloco/PT - SP) - Eu já, inclusive, transmiti à Direção da Volks a minha disposição de com eles dialogar. E quero aqui dizer, Senador Paulo Paim, que a Volks resolveu suspender a demissão dos 1.800 trabalhadores, o que resultou na suspensão da greve. E é possível que haja até uma nova definição sobre essas férias coletivas que preocuparam V. Exª.

Agradeço ao Senador Augusto Botelho a oportunidade de falar, dada a emergência deste pronunciamento.

Muito obrigado, Sr. Presidente Renan Calheiros.

Peço a transcrição, então, da manifestação do Presidente José Lopez Feijó: “Volkswagen: momento de impasse.”

 

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DOCUMENTO A QUE SE REFERE O SR. SENADOR EDUARDO SUPLICY EM SEU PRONUNCIAMENTO.

(Inserido nos termos do art. 210, inciso I e § 2º, do Regimento Interno.)

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Matéria referida:

“Volkswagen: momento de impasse.”


Este texto não substitui o publicado no DSF de 05/09/2006 - Página 27822