Discurso durante a 146ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Protesto contra artigo publicado pela revista Veja desta semana, atribuindo a S.Exa. a existência de dossiês contra os Senadores José Sarney, Renan Calheiros e Romeu Tuma .

Autor
Ney Suassuna (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/PB)
Nome completo: Ney Robinson Suassuna
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
COMISSÃO PARLAMENTAR DE INQUERITO (CPI), AMBULANCIA. ATUAÇÃO PARLAMENTAR.:
  • Protesto contra artigo publicado pela revista Veja desta semana, atribuindo a S.Exa. a existência de dossiês contra os Senadores José Sarney, Renan Calheiros e Romeu Tuma .
Aparteantes
Almeida Lima, Heráclito Fortes, Ideli Salvatti, Wellington Salgado.
Publicação
Publicação no DSF de 05/09/2006 - Página 27848
Assunto
Outros > COMISSÃO PARLAMENTAR DE INQUERITO (CPI), AMBULANCIA. ATUAÇÃO PARLAMENTAR.
Indexação
  • PROTESTO, CONTEUDO, ARTIGO DE IMPRENSA, PERIODICO, VEJA, ESTADO DE SÃO PAULO (SP), ACUSAÇÃO, ORADOR, ELABORAÇÃO, DOCUMENTO, AMEAÇA, JOSE SARNEY, RENAN CALHEIROS, ROMEU TUMA, SENADOR.
  • CRITICA, IMPRENSA, INEXATIDÃO, DIVULGAÇÃO, INFORMAÇÃO, AMEAÇA, ORADOR, PEDIDO, JUSTIÇA, COMISSÃO PARLAMENTAR DE INQUERITO (CPI), AMBULANCIA.
  • REITERAÇÃO, DEFESA, ORADOR, REMESSA, CONSELHO, ETICA, CONFIRMAÇÃO, AUSENCIA, PARTICIPAÇÃO, IRREGULARIDADE, AQUISIÇÃO, AMBULANCIA, ESCLARECIMENTOS, DEMISSÃO, FUNCIONARIOS, GABINETE, AUTOR, CORRUPÇÃO.
  • COMENTARIO, DESCONHECIMENTO, PROPRIETARIO, EMPRESA, AMBULANCIA, REGISTRO, FALSIFICAÇÃO, ASSINATURA, ORADOR, APRESENTAÇÃO, EMENDA, FAVORECIMENTO, CORRUPÇÃO.

O SR. NEY SUASSUNA (PMDB - PB. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, a revista Veja desta semana traz uma matéria do repórter Diego Escosteguy que, além me causar indignação e perplexidade, por construir uma teia malévola de inverdades assacadas contra mim, me remete, Sr. Presidente, a uma indagação que não quer calar: a quem interessaria indispor-me com os principais expoentes do meu Partido?

Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, ao contrário de muitos Parlamentares deste País, só pertenci a uma única agremiação: o PMDB. Nunca tive outro Partido em toda a minha vida. Ingressei na militância ainda jovem e permaneço até hoje, tendo consagrado a minha vida, os meus ideais e o meu ideário ao ideário do Partido.

Nele, estabeleci sólidos laços de amizade, respeito, admiração e companheirismo com a maioria dos correligionários e cultivo algumas amizades pessoais que me são preciosas e às quais empresto apreço e admiração quase devocionais. Nessas, estão incluídos, para minha honra e gratidão, o Presidente José Sarney e o Presidente Renan Calheiros. Jamais poderia, em sã consciência, dedicar qualquer sentimento diferente da lealdade, do respeito e da admiração que têm pautado a nossa convivência a esses valorosos companheiros.

Não sou homem de dossiês, de ameaças, de recadinhos e também não me sinto abandonado pelo meu Partido. A nossa Bancada, majoritariamente, tem demonstrado sempre a sua confiança e a sua solidariedade nos momentos difíceis que tenho atravessado.

Compreendo, com clareza cristalina, a postura de cada um dos meus Pares nesse episódio, que é injusto e constrangedor. Nada quero de nenhum deles além da busca da verdade, da isenção, da imparcialidade e da transparência.

Tenho clamado sempre: tudo o que eu quero é justiça.

Sr. Presidente, assinei os requerimentos para a criação das duas CPIs. No entanto, eu não podia deixar de reclamar de um ofício que recebi de uma CPI, dizendo que devo me manifestar sobre um assunto que está sob sigilo de Justiça. Reclamei - e reclamei desta tribuna, porque sempre sou direto. Eu não podia deixar de reclamar, porque fiz tudo que tinha de ser feito: demiti meus funcionários, processei-os, processei as pessoas, fiz tudo o que tinha de ser feito. No entanto, dois meses depois, vem uma comunicação ao meu gabinete. Ora, se tinha comunicado há dois meses, como ainda podia...? Não leram sequer esse requerimento? Eu protestei também aqui.

            Qual foi a atitude que eu recebi de volta? Uma pequena vingança num programa de TV. É uma coisa indigna de um juiz, mas, paciência, não estou aqui para julgar ninguém. Lamentavelmente, estou sendo julgado e quero justiça, com toda a clareza e com toda a força.

É muito duro, Sr. Presidente - eu queria que cada um dos meus Pares entrasse no meu pêlo e “empatizasse” com a minha situação - ouvir de um companheiro: “Sei que V. Exª é inocente, mas a pressão é muito grande”. Como pode alguém ter coragem, ao assumir o cargo de Senador, de dizer: “Sei que V. Exª é inocente, mas a pressão é muito grande”? Ou ouvir os jornais dizerem que “o Líder do Partido está pressionando”, sem que eu nunca tenha falado sobre esse assunto, para pressionar ninguém?

Quando o Senador Jefferson Péres foi indicado para ser relator do meu processo, fiquei muito feliz, porque S. Exª é uma pessoa dura e justa. Não liguei para cumprimentá-lo ou para dizer a ele qualquer palavra - e não vou fazê-lo. Se eu fizer, amanhã vão dizer que também o estou pressionando.

Sabe o que tenho feito, Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores? Há trinta dias, tenho percorrido todas as cidades da minha Paraíba. Sequer tenho telefonado para Brasília. Tenho tanta certeza de que a justiça virá que não tenho tratado desse assunto com ninguém, nem com V. Exª, nem com o Senador José Sarney, nem com nenhum Par meu, nenhum. Absolutamente nenhum! Tudo o que tenho pedido é justiça.

Vi essa matéria como se fosse mais um patrulhamento para o Senador Jefferson Péres, porque já patrulharam todos os companheiros deste Senado. Nunca vi nada parecido. Já ouvi frases do tipo: “O senhor deu azar. É o peixe grande dessa pescada”. Justiça não é assim. Não é assim que as coisas têm que acontecer.

Nunca faltei nem ao meu Partido, nem ao Senado. Estou certo também de que também não me faltarão na indispensável persecução da verdade, que haverá de emergir poderosa e definitiva.

            Tenho-me perguntando insistentemente a quem pode interessar essa trama de intrigas sórdidas, com o fito de isolar-me e de fazer-me perder o prumo. Não sei, e talvez isso nem seja mais importante. Aqueles que me conhecem sabem da minha lealdade e da minha correção em doze anos nesta Casa. Nunca deixei de olhar... Quando não gosto, digo-o com educação, com gentileza, mas não deixo de fazê-lo, porque é o papel que cabe a nós, que temos a obrigação de zelar pelas leis.

As insinuações maldosas permeiam toda a matéria. Por exemplo, li todos os depoimentos de todos os investigados. Em nenhum momento, consta que meu ex-assessor tenha dito que eu sabia do esquema. Pelo contrário, ele sempre deixou evidente que eu não sabia e que jamais lhe dei alguma ordem.

            Aproveito o ensejo para agradecer ao Senador Romeu Tuma, que declarou que não encontrou até o momento... - poderia até encontrar. Acabei de ler os dizeres dos Senadores Romeu Tuma e do Senador Wellington Salgado e quero agradecer as colocações feitas.

Não entendi esse artigo, não entendi a quem interessa isso; entretanto, está na revista que, depois de ter um assessor preso e de receber dinheiro da máfia e dos depoimentos do próprio colaborador, ele confirmou que eu sabia do esquema. Isso não está em lugar algum. Não existe essa afirmação. Mas por que isso está colocado, Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores?

Do mesmo modo, afirma o repórter que estou repetindo, aos quatro ventos de Brasília, que não caio sozinho. Não estou em Brasília há mais de trinta dias, não tenho sequer ligado para companheiro algum, nem para o Senado. Estou na Paraíba cuidando, de casa em casa, da minha campanha e explicando, com muita dificuldade, porque o tiroteio é grande e injusto.

            Chegaram a dizer, Senador Romeu Tuma, que um genro meu tinha recebido dinheiro. Tenho três filhos homens, três filhos homens, todos solteiros! Eu não tenho genro.

            Então, são coisas que não consigo entender, mas que surgem de quando em quando. Agora, se não bastasse o massacre moral, perpetram também o massacre emocional, quando levantam suspeitas sobre a minha honradez e a lealdade para com as minhas amizades pessoais, que prezo além das circunstâncias políticas.

Quero agradecer mais uma vez ao Líder Wellington Salgado e ao Senador Romeu Tuma e repetir que sou homem de enfrentar os desafios de peito aberto, sem apelar para dossiês ou outros expedientes que apequenam a condição humana.

Isso posto, gostaria de aproveitar a oportunidade para, desta tribuna, reafirmar as considerações finais da minha defesa encaminhadas ao Conselho de Ética, falando para este Plenário e para o povo da minha Paraíba.

Conforme deixei consignado no discurso que proferi na tribuna do Senado, no dia quinze do mês passado, incompreensivelmente, a CPMI estabeleceu como critério inovador - já que foi a primeira vez que isso aconteceu na história das CPIs - ser o Conselho de Ética o fórum exclusivo para apresentação das defesas, ignorando completamente o farto material probatório por mim enviado para amparar o contraditório. Entretanto, aqui, tenho certeza, ser-me-á assegurado o direito de defesa - estou me referindo ao Conselho de Ética -, instrumento universalmente consagrado nas sociedades desenvolvidas e que delimita, com nitidez insofismável, a diferença entre civilização e barbárie, e a verdade prevalecerá.

Alguma vez, Sr. Presidente, restou provado, ou algum dos investigados disse ter conversado comigo pessoalmente ou pelo telefone? Não! Nunca, nenhum deles nunca falou comigo, nem tampouco conversou.

Estiveram no meu gabinete? Não!

Encontraram-se comigo dentro ou fora do Senado? Não!

Fizeram comigo algum tipo de acordo ou tratativa? Não!

Pagaram qualquer valor ou comissão em espécie, bens ou serviços? Não!

Fizeram algum depósito na conta corrente de minha propriedade, ou de alguém da minha família, de algum filho, de algum irmão, da mulher, de algum parente? Não! Não! E não!

Acaso o assessor transferiu algum depósito por ele recebido para conta de minha propriedade, ou dos meus familiares? Não! Ele mesmo afirma.

Tudo o que existe são sórdidas suposições que não se sustentam por não se apoiarem em dados fáticos.

Não posso sequer admitir que as palavras de pessoas que negociam “delação premiada” e inclusive estão sendo até expostos por estar negociando novas vantagens, propondo, por vias tortuosas, a inclusão ou exclusão de nomes no rol dos suspeitos... Não quero entrar nesse mérito, mas quem olha o rol inicial e o que aconteceu vai encontrar muitos casos estranhos.

Os prejuízos morais e emocionais que tenho sofrido são enormes. A devastação que esse tipo de acusação provoca em nossas vidas só pode ser avaliada com o distanciamento propiciado com o tempo. No entanto, reitero diariamente a minha confiança na capacidade que têm as instituições, principalmente dessas nossas instituições democráticas, por meio dos mecanismos que lhe são inerentes, de chegarem à verdade dos fatos, contribuindo para a distribuição da justiça e o aperfeiçoamento do Estado de direito.

E pergunto às senhoras e aos senhores: que outras providências poderia eu ter tomado, além de demitir, imediatamente, os funcionários que traíram a minha confiança, usaram indevidamente o meu nome e ajudaram, sem o meu conhecimento, a tecer essa imensa teia que temos visto aí pela imprensa?

Que outras providências poderia eu ter tomado além de ter interpelado judicialmente o assessor, o Sr. Luiz Antônio Vedoin, o Darci Vedoin, a Dª Maria da Penha Lino?

Que outras providências eu poderia ter tomado além de ter solicitado, espontaneamente, à Corregedoria que procedesse às investigações, tão logo soube do suposto envolvimento do meu nome?

Que outras providências poderia eu ter tomado, além de procurar, espontaneamente, a CPMI para me oferecer para prestar todos os esclarecimentos julgados necessários e pertinentes, além de ter disponibilizado à Comissão uma defesa prévia em que comprovava a licitude, a legitimidade e a transparência de todos os meus atos no exercício da prerrogativa do meu mandato de Senador, aceitando pacificamente a inversão do ônus da prova, em benefício da eficácia dos trabalhos da Comissão?

            Estou consciente de ter feito e de estar fazendo a minha parte. O resto, a parte criminal, esta não cabe a mim e sim ao Ministério Público e á Justiça Federal, que, espero, sejam implacáveis na punição aos culpados e corajosos na punição aos inocentes.

Assim, encerro a minha defesa - e esta é a defesa que enviei - reafirmando a essa Presidência e aos demais membros desse honorável Conselho de Ética os seguintes pontos, que considero fundamentais e que restam exaustivamente comprovados como verdadeiros a partir da confrontação dos diferentes depoimentos.

No meu primeiro mandato, nos quatro primeiros anos, doei do meu próprio bolso, Srs. Senadores, 82 ambulâncias para os Municípios mais carentes da Paraíba (doei novas, ou peguei as antigas, reformei-as e devolvi-as novas).

Nos dois últimos Orçamentos, fomos obrigados a destinar 30% das emendas individuais para a área da saúde por força da Emenda Constitucional nº 20, de 1998. Foram conseguidas desse Governo 29 ambulâncias, 14 das quais foram compradas da Planam - somente 14. Dessas, 11 destinei a cidades cujos Prefeitos são meus adversários políticos. E por quê? Porque a população precisa. Infelizmente, na Paraíba, o nosso sistema de saúde está uma coisa terrível.

Não conheço ninguém da Planam, não conheço nenhum Vedoin, seja pai ou seja filho. Nunca falei com nenhum deles ao telefone ou pessoalmente, sequer conhecia suas existências.

Não conheço a Srª Maria da Penha Lino; nunca tive contato com ela. Jamais fiz emendas para o IPPES; não conheço ninguém desse instituto. Aliás, descobri tardiamente o que era uma OCIP, mas está lá constatado.

O Senador Romeu Tuma até já entrevistou as pessoas e viu que a assinatura não só não era minha como apareceu quem fez a assinatura.

O mesmo ocorre com os pedidos de pagamento de emendas de Mato Grosso: não conheço as cidades, nem os Prefeitos. Igualmente, as assinaturas eram falsas.

Acredito que os Vedoin possam até ter pensado que eu sabia o que estava acontecendo, principalmente em decorrência desses ofícios falsos e da possível desenvoltura com que o assessor estava usando o meu nome. Nesse caso, teriam sido também ludibriados, ou se trata de malandragem mesmo para a fabricação de documentos, com o fito de dar uma pseudocredibilidade a essa armação criminosa. Não sei.

Caso o Conselho de Ética e Decoro Parlamentar julgue conveniente ou necessário, há pessoas que podem ser entrevistadas - e já o foram, como o Senador Tuma já declarou hoje, aqui.

É muito importante que a evolução patrimonial das pessoas que estavam citadas seja verificada.

Não apresentei emendas para Mato Grosso, tampouco para o Ministério das Comunicações. Tive alguns ofícios falsificados, sim. As testemunhas já foram ouvidas.

Não recebi valores em espécie, bens ou depósitos em minhas contas correntes ou de meus familiares. Sei que agi permanentemente com honradez. Não faço parte de quadrilhas. Honro o meu mandato.

Nesse ponto, acredito ser imprescindível tecer algumas considerações a propósito da decisão que cabe a esse Conselho tomar. Isto porque a vida e a moral do poder dão a impressão de correr paralelas, com raras convergências. Esse desencontro entre ética e política incomoda e indigna a todos que querem ver e sentir a presença de virtudes na condução dos negócios políticos. É essa discussão que está na base da decisão que esse Conselho vai tomar.

Então, Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, foi essa a defesa que fiz. E só espero uma coisa: justiça.

Não vou procurar o Senador Jefferson Péres. Se for convocado, irei lá a pedido de S. Exª. Não vou falar com nenhum membro do Conselho, porque, da última vez, jornais importantes, jornais sérios, que eu lia com muito respeito, disseram que eu estava procurando, pressionando, sem que eu sequer tenha falado com nenhum deles.

O Sr. Wellington Salgado de Oliveira (PMDB - MG) - Senador Ney Suassuna, V. Exª me permite um aparte?

O SR. NEY SUASSUNA (PMDB - PB) - Pois não, Senador Salgado.

O Sr. Wellington Salgado de Oliveira (PMDB - MG) - Senador Ney Suassuna, é impressionante como os fatos ocorrem. Eu, por exemplo, assinei a CPI dos Sanguessugas após conversar com o meu Líder, hoje licenciado, que é V. Exª. Ou seja, quando conversamos, V. Exª me disse: “Assine a CPI; vamos participar da CPI para provar o que há realmente”. V. Exª pediu que eu assinasse.

O SR. NEY SUASSUNA (PMDB - PB) - Pedi.

O Sr. Wellington Salgado de Oliveira (PMDB - MG) - Muito bem. Depois nunca mais conversamos sobre nada de CPI dos Sanguessugas. V. Exª sempre procurando o seu caminho de defesa; eu, na CPI, me recusei a assinar o relatório. Agora está demonstrado que algumas pessoas deveriam estar no relatório e que não estavam; alguns inocentes foram colocados. Eu fui o único que me recusei a assinar. Recusei-me, porque quero dormir tranqüilo, Senador. Não quero sair da Casa, tendo colocado nessa lista de sanguessugas pessoas inocentes. Agora, vimos essa matéria que foi publicada. Naquela terça-feira, quando V. Exª, Líder - hoje licenciado -, passou-me a Liderança do PMDB - eu sendo Vice-Líder, hoje Líder em exercício -, nós nos sentamos e conversamos sobre como funcionava a questão da Liderança e quem eram os funcionários. V. Exª me apresentou os funcionários, mostrando-me quem fazia a assessoria, quem encaminhava as pautas para a votação e tudo mais. Conversamos sobre política e falei do lindo caminho que V. Exª teve nesta Casa, sempre lutando pela Paraíba. Eu disse que V. Exª tinha que continuar lutando, porque este momento vai passar; o povo da Paraíba vai entender o que está acontecendo. Tenho certeza de que V. Exª será reeleito. E, sobre esse nosso encontro, foi publicada uma reportagem maldosa, numa revista que compro para ler todo sábado, dizendo que nós estávamos conversando sobre documentos contra Presidentes, contra ex-Presidentes. É uma mentira sem tamanho! Primeiro, porque tenho orgulho muito grande de estar no PMDB e ter como companheiros o Presidente Sarney, o Presidente da Casa, Renan Calheiros, e V. Exª. E sei o quanto V. Exª respeita o Presidente Renan e o Presidente Sarney. Quer dizer, é uma matéria maldosa de uma revista da qual sou leitor. Não sei aonde pode chegar esse tipo de coisa. Temos de observar e ver para onde estamos caminhando. Mas eu gostaria de deixar bem claro que aquela conversa não aconteceu - já coloquei isso aqui hoje. Estou olhando para V. Exª e dizendo, na presença do Presidente, inclusive, que discutimos outros assuntos. Discutimos caminhos políticos que não tinham nada a ver com outras pessoas. Eu apenas queria reforçar isso perante V. Exª. Vou torcer e tenho certeza de que tanto o Conselho de Ética quanto esta Casa vão fazer justiça, se tiverem provas. Acredito que não têm, pois conheço a sua história, conheço o seu coração, conheço a bondade que V. Exª praticou ao longo da vida, sempre. Quem o conhece sabe disso. Espero que o Conselho e este Plenário façam justiça. V. Exª terá apenas como uma passagem na sua vida política este momento maldoso e ruim que está vivendo. Espero que V. Exª vença as eleições. O povo da Paraíba vai entender o quanto é importante para aquele Estado ter V. Exª nesta Casa. Era só isso que eu gostaria de dizer.

O SR. NEY SUASSUNA (PMDB - PB) - Muito obrigado. Fico sensibilizado com a colocação de V. Exª.

Quero dizer que não só o Renan e o Sarney são meus amigos de longas lutas e de longos combates, mas também o Senador Tuma, por quem tenho a maior admiração.

Há 12 anos convivemos aqui, dia a dia. Podemos até discordar em algum ponto, mas sempre falamos com lealdade. Que história de dossiê? Eu sou homem de dossiê? Isso não é comigo. Digo o que tiver de dizer olhando no rosto. Realmente não entendi a quem isso serve, por isso minhas indagações.

Mas eu tinha que vir à tribuna. Eu nem queria ter vindo a Brasília. Só vim por causa deste assunto. Neste momento, eu deveria estar na Paraíba, porque meu papel é estar no meu Estado. E vou sair de lá com um mandato, se Deus quiser, representando os paraibanos, apesar de que queria que todos vocês medissem um milésimo do sofrimento que é para minha família, para os meus amigos, ver um tiroteio com o qual nada tenho a ver. Nada! Absolutamente nada!

Agora, a dor maior, Senador Romeu Tuma, é ver alguém chegar e dizer: “Sei que o senhor é inocente, mas a pressão é muito grande”. Dá vergonha na gente; dá tristeza. Ouvi isso de um ou dois colegas. Ou um outro problema: alguém que tira um beirinha, tira um pedacinho - uma linha no jornal, de um jornalista que distorce para fazer uma matéria como essa. Não consigo entender.

A Srª Ideli Salvatti (Bloco/PT - SC) - V. Exª me permite um aparte?

O SR. NEY SUASSUNA (PMDB - PB) - Concedo um aparte à Senadora Ideli Salvatti.

A Srª Ideli Salvatti (Bloco/PT - SC) - Senador Ney Suassuna, em primeiro lugar, quero aqui deixar registrado que espero, sinceramente, que o trabalho do Conselho de Ética desta Casa seja muito bem feito, até em função dos Relatores escolhidos, que não têm vinculação direta com o caso. Portanto, creio que não deverá pairar nenhuma dúvida a respeito do trabalho que vão desenvolver. O Senador Jefferson Péres é o Relator do processo de V. Exª; o Senador Paulo Octávio é o Relator do processo da Senadora Serys, e o Senador Demóstenes é o Relator do processo do Senador Magno Malta. São Senadores que têm o respeito desta Casa e que, tenho certeza absoluta, farão um trabalho de análise dos depoimentos, dos documentos, com absoluta tranqüilidade e imparcialidade. Espero que, além de trabalharem dessa forma, também o façam com justiça, dando direito de defesa e contemporizando com o que há ou não de prova, para que possam ter o resultado efetivamente no tempo mais rápido possível, porque acompanhamos de forma muito apreensiva a angústia por que está passando V. Exª, a nossa colega de Bancada Senadora Serys Slhessarenko e o Senador Magno Malta. Enquanto o processo não se conclui, fica pairando no ar toda esta dúvida, esta situação delicada. Principalmente no caso de V. Exª e da Senadora Serys, que estão em plena campanha eleitoral. Não é o caso do Senador Magno Malta. Para V. Exª e a Senadora Serys Slhessarenko, a situação é ainda mais delicada, porque estão nas ruas pedindo votos, e imagino que estejam sendo permanentemente cobrados ou questionados pela população. Por isso, penso que temos de ter nesta Casa, na reunião do Conselho que começa amanhã, a oitiva com muita transparência e tranqüilidade.

Espero que o Senado não entre nessa do rito sumário, da execração pública e de fazer não aquilo que é legítimo, aquilo que é justo, aquilo que é correto, de acordo com os fatos e com as provas, mas, sim, algo para prestar contas a uma opinião pública, que, de repente, quer ver sangue, quer ver uma determinada situação, mesmo não havendo prova ou mesmo não havendo substância efetiva às insinuações e às acusações que estão aí, pairando no ar. Espero que o Conselho se porte de forma correta, adequada, justa e célere, porque tenho certeza absoluta de que tanto V. Exª, quanto a Serys e o Senador Magno Malta querem a justiça e a celeridade, para que isso passe rapidamente. Essa angústia que os Senadores e a Senadora estão passando realmente nos preocupa, porque temos por vocês o carinho da convivência, e há o trabalho conjunto, ao longo destes três anos e meio. Quero deixar registrada essa preocupação e essa apreensão que todos nós temos para que tudo seja feito de acordo com a justiça, com a transparência e com a correção. Tenho certeza absoluta de que os Senadores Jefferson Péres, Demóstenes Torres e Paulo Octávio vão desempenhar um trabalho difícil, porque estabelecer e dar um parecer com relação a um colega de Casa sempre é algo muito difícil. Eu não gostaria, sinceramente, Senador Ney Suassuna, de estar no papel que eles estão desempenhando neste momento, como também sentimos muito pela situação que os senhores estão vivenciando. Portanto, registro a nossa solidariedade e a preocupação de acompanhar tudo, para que as coisas tenham um desenlace de acordo com a justiça.

Toda a população espera que não tenhamos situações como infelizmente no Brasil já ocorreram, de termos linchamento político sem provas, sem elementos, sem indícios fortes, apenas para dar satisfação à opinião pública ou para contemplar guerras ou embates político-partidários ou eleitorais, como é o caso que vivenciamos agora, numa eleição acirrada.

O SR. NEY SUASSUNA (PMDB - PB) - Senadora, agradeço a V. Exª pelo aparte. Tudo o que eu quero é isto: justiça. Não quero pedir nenhum favor, nenhum favorecimento. O que eu quero é: se é culpado, digam “é culpado”; se é inocente, que tenham a coragem de dizer “é inocente”. É tudo o que eu quero.

Concedo a palavra ao Senador Almeida Lima.

O Sr. Almeida Lima (PMDB - SE) - Senador Ney Suassuna, eu estava no gabinete ouvindo o pronunciamento de V. Exª e dirigi-me ao plenário para uma declaração. Aqui chegando, ouvi também o aparte, que agora foi concluído, da Senadora Ideli Salvatti. Quero dizer duas coisas: primeiro, há aproximadamente três semanas, fiz um pronunciamento nesta Casa pedindo explicações ao Senador Romeu Tuma, o Corregedor da Casa, acerca desses processos, desses procedimentos, mostrando a angústia da Casa, do Senado Federal, e a angústia dos Pares, dos Senadores que estão envolvidos nesses processos e nesses fatos. Mostrei a conveniência de a Casa se posicionar o mais rápido possível. Naquela sessão, fui incompreendido pela Senadora Ideli Salvatti. Vejo que S. Exª agora concorda com o que eu havia dito quando ela pede justiça e celeridade para que essa angústia chegue ao fim. Antes tarde do que nunca o reconhecimento da Senadora. Esse era o meu objetivo. Em segundo lugar, quero dizer a V. Exª e aos demais Senadores, Magno Malta e Serys Slhessarenko, que não faço parte do Conselho de Ética, mas tenham a certeza absoluta V. Exª e os demais Senadores de que, se esses processos chegarem ao plenário, não me limitarei a ouvir o relatório e o voto do Relator. Analisarei esses processos a fundo e irei à tribuna desta Casa qualquer que seja a minha conclusão, pela cassação, pela aplicação de outra pena, pela absolvição. E mais: não darei tratamento político coisíssima nenhuma - coisissíma nenhuma.

O SR. NEY SUASSUNA (PMDB - PB) - Muito bem.

O Sr. Almeida Lima (PMDB - SE) - Dar tratamento político porque esta é uma Casa política é hipocrisia. O tratamento é o jurídico, é o legal, é o tratamento justo. Permita-me uma expressão bem popular: não conseguem “emprenhar” os meus ouvidos. Ninguém consegue, nunca conseguiu e não vai conseguir. Tenha a certeza absoluta de que tenho de prestar contas dos meus atos à população, sobretudo, do meu Estado, Sergipe, e o farei, porque sempre o faço. Prestarei também contas, satisfação à população brasileira, à opinião pública nacional. Tenham certeza absoluta de que não receberei - não é não aceitar - pressão nem deste plenário, nem de nenhum Senador; não receberei pressão nem de Partido, nem de quem quer que seja, nem da opinião pública, nem do meu Estado, Sergipe. Não receberei. Acho que esta Casa, os meus Pares devem se comportar de forma justa - e justiça só há uma: que ela seja em benefício do Senador acusado ou em benefício da sociedade, seja lá quem for.

O SR. NEY SUASSUNA (PMDB - PB) - Muito bem.

O Sr. Almeida Lima (PMDB - SE) - Não agirei de forma política coisíssima nenhuma. Sempre tive coragem de manifestar os meus pontos de vista, e não será agora que me esconderei no voto secreto, se for votar ”sim” ou se for votar “não”. Caso vote “sim” ou vote “não”, irei à tribuna manifestar-me publicamente, para que todos saibam como votei. Votarei com muita independência e com a minha consciência muito livre, mas muito livre mesmo. O meu desejo é de que se faça justiça, de que se faça justiça ao Brasil, à sociedade, à classe política, à população, aos Senadores, aos Deputados, enfim, a todos, porque já estamos mais do que enxovalhados, manchados, denegridos, enfim, já estamos com a nossa imagem maculada e não podemos continuar assim. Seja qual for a minha conclusão, disse e repito: não me prenderei apenas ao veredicto de um Relator. Com todo o respeito, analisarei os fatos na condição de advogado, de um homem que enfrentou os bancos de uma faculdade de Direito, para apreciar provas - para apreciar provas. O momento não é de deliberação legislativa. O momento é de deliberação judicante, do exercício da judicatura; é uma deliberação de absolvição ou de condenação. Portanto, não pode ser política. Deve ser jurídica. Não concordo com a tese de que, por ser esta uma Casa política, o julgamento deva ser político. Vota-se contra o adversário político e vota-se a favor do aliado político. Isso, para mim, é hipocrisia, e não assumirei essa posição em hipótese nenhuma. Gostaria de deixar, de logo, muito claro esse meu posicionamento.

O SR. NEY SUASSUNA (PMDB - PB) - Agradeço a V. Exª pelo aparte. Não quero outra coisa senão dureza, análise e justiça feitas.

Concedo o aparte ao Senador Heráclito.

O Sr. Heráclito Fortes (PFL - PI) - Senador Ney Suassuna, serei telegraficamente breve. Quero apenas dizer que, como membro do Conselho, não devo me manifestar sobre o comportamento que terei, mas quero registrar a minha estranheza pelo tímido comportamento do PT na defesa dos seus Pares e daqueles que, durante quatro anos, deram-lhe muito do seu sacrifício na defesa dos interesses do Partido. Houve aqui uma solidariedade regimental. Não houve a sinceridade nem o aguerrimento que se viu, por exemplo, no caso dos mensaleiros, quando se dançou na Câmara dos Deputados. Não é isso o que queremos. O mais estranho de tudo é que o PT agora tenha adotado uma nova prática, apelando para que ninguém se preocupe com a opinião pública e para que se julgue o companheiro sem se preocupar com a voz rouca das ruas, como diria o Senador Mão Santa, se aqui estivesse. Vejam bem que isso é dito justo por um partido que se fez graças à opinião pública do Brasil. Vá ser incoerente e virar as costas para a história assim na China! Muito obrigado.

O SR. NEY SUASSUNA (PMDB - PB) - Obrigado, nobre Senador.

            Ao encerrar, digo a V. Exªs que não quero camaradagem. Quero que se analise e se diga “é culpado” ou “é inocente”, no mais breve espaço de tempo. Não é fácil enfrentar 20 mil a 30 mil pessoas. Quando a platéia não pergunta, eu provoco. Sou o primeiro a dizer. Quero deixar claro...

(Interrupção do som.)

O SR. NEY SUASSUNA (PMDB - PB) - Tenho feito isso várias vezes, Sr. Presidente, todos os dias. Não é fácil!

Esse momento foi muito doloroso. Sou uma pessoa dura para agüentar pancada. A vida nos ensina. Mas vejo o sofrimento da minha família, dos amigos. É duro! Mas paciência. Leio a história de Jó, na Bíblia, e vejo que foi muito pior. Tenho certeza de que as coisas ficarão claras. Tudo o que peço é isto: justiça - não vou procurar membro algum da Comissão - e rapidez.

Encerrarei minha colocação, contando esta pequena estória:

“Existiu um lenhador que acordava às seis horas da manhã, trabalhava o dia inteiro cortando lenha, e só parava tarde da noite. Esse lenhador tinha um filho de poucos meses e uma raposa, sua amiga, tratada como bicho de estimação e de sua total confiança. Todos os dias o lenhador ia trabalhar e deixava a raposa cuidando do seu filho. Todas as noites, ao retornar do trabalho, a raposa ficava feliz com a sua chegada. Os vizinhos do lenhador alertavam que a raposa era um bicho, um animal selvagem e, portanto, não era confiável. Quando ela sentisse fome, comeria a criança. O lenhador, sempre retrucando com os vizinhos, falava que isso era uma grande bobagem. A raposa era sua amiga e jamais faria isso. Os vizinhos insistiam: ‘Lenhador, abra os olhos! A raposa vai comer seu filho. Quando sentir fome, comerá seu filho’.

Um dia, o lenhador, muito exausto do trabalho, ao chegar em casa, viu a raposa sorrindo como sempre e sua boca totalmente ensangüentada. O lenhador suou frio e, sem pensar, acertou o machado na cabeça da raposa. Depois, entrou no quarto, desesperado, onde encontrou seu filho no berço, dormindo tranqüilamente. Ao lado do berço, uma cobra morta. O lenhador enterrou o machado e a raposa juntos.

Essa história é apenas para dizer que tudo tem tempo. Depois de feito, às vezes, não podemos consertar.

Sei o que estou passando injustamente, e não quero essa experiência para nenhum dos meus companheiros. Muitos de nós já passamos percalços na vida pública. Muita coisa faz parte. Calúnias e vexames, quantos já vi passar aqui. É duro quando alguém não tem nada a ver com o fato e passa a ser a bola da vez.

Tenho certeza de que isso vai passar.

Encerro meu discurso dizendo que não estou pedindo contemplação. Tudo o que peço é justiça, rápida, se possível.

Muito obrigado, Sr. Presidente.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 05/09/2006 - Página 27848