Discurso durante a 146ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Considerações sobre protesto realizado hoje por pescadores em Santa Catarina e no Rio Grande do Sul.

Autor
Leonel Pavan (PSDB - Partido da Social Democracia Brasileira/SC)
Nome completo: Leonel Arcangelo Pavan
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
POLITICA INDUSTRIAL. GOVERNO FEDERAL, ATUAÇÃO. PRESIDENTE DA REPUBLICA, ATUAÇÃO.:
  • Considerações sobre protesto realizado hoje por pescadores em Santa Catarina e no Rio Grande do Sul.
Aparteantes
Flávio Arns.
Publicação
Publicação no DSF de 05/09/2006 - Página 27880
Assunto
Outros > POLITICA INDUSTRIAL. GOVERNO FEDERAL, ATUAÇÃO. PRESIDENTE DA REPUBLICA, ATUAÇÃO.
Indexação
  • ANALISE, IMPORTANCIA, PROTESTO, TRABALHADOR, INDUSTRIA PESQUEIRA, ESTADO DE SANTA CATARINA (SC), ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL (RS), PEDIDO, ATENÇÃO, GOVERNO FEDERAL, REIVINDICAÇÃO, REDUÇÃO, PREÇO, OLEO DIESEL, MOTIVO, SUPERIORIDADE, VALOR, COMBUSTIVEL, BRASIL, COMPARAÇÃO, MERCADO INTERNACIONAL, ESPECIFICAÇÃO, PAIS ESTRANGEIRO, ARGENTINA, FAVORECIMENTO, CONCORRENCIA DESLEAL.
  • CRITICA, ATUAÇÃO, GOVERNO FEDERAL, DESCUMPRIMENTO, PROMESSA, RENOVAÇÃO, FROTA MARITIMA, REGISTRO, INSUCESSO, PROGRAMA DE GOVERNO, EXCEÇÃO, BOLSA FAMILIA, APREENSÃO, AGRAVAÇÃO, CRISE, PAIS.
  • CRITICA, ATUAÇÃO, PRESIDENTE DA REPUBLICA, VETO (VET), RECURSOS, PREJUIZO, ESTADO DE SANTA CATARINA (SC), QUESTIONAMENTO, APOIO, EX PRESIDENTE DA REPUBLICA, CAMPANHA ELEITORAL, REELEIÇÃO, AUSENCIA, INVESTIMENTO, INFRAESTRUTURA, SANEAMENTO BASICO, SEGURANÇA PUBLICA.
  • COMENTARIO, ARTIGO DE IMPRENSA, JORNAL, FOLHA DE S.PAULO, ESTADO DE SÃO PAULO (SP), REGISTRO, INFERIORIDADE, INVESTIMENTO, PRESIDENTE DA REPUBLICA, SAUDE, EDUCAÇÃO, COMPARAÇÃO, GESTÃO, FERNANDO HENRIQUE CARDOSO, EX PRESIDENTE DA REPUBLICA.

O SR. LEONEL PAVAN (PSDB - SC. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, eu não poderia deixar de usar a tribuna hoje em função do ato dos pescadores que aconteceu no dia de hoje, em Santa Catarina e no Rio Grande do Sul. O Senador Jorge Bornhausen já usou esta tribuna, porém eu gostaria de falar, porque Itajaí é também minha cidade, onde estudei e vivi longo tempo de minha vida na juventude.

Quero também mencionar o que a imprensa de Santa Catarina está relatando: “Denúncia de monopólio da BR Distribuidora”.

Desde as oito horas da manhã de hoje, segunda-feira, 04/09, armadores (proprietários de embarcações pesqueiras), pescadores e indústria da pesca iniciam uma das maiores mobilizações do setor pesqueiro do Brasil. A ação acontece em dois Estados: em Itajaí, Santa Catarina, considerado o maior pólo pesqueiro nacional, e na cidade de Rio Grande, no Rio Grande do Sul, com a adesão de trabalhadores e industriais. Participaram cerca de trezentos barcos de todas as modalidades de pesca (traineiras, emalhe e arrasto) que operam em Itajaí, Florianópolis e Rio Grande.

O escritório regional da Seap/PR (Secretaria Nacional da Pesca da Presidência da República) em Santa Catarina não está expedindo licenças, conforme portaria publicada no Diário Oficial da União, para as embarcações de emalhe e traineiras com relação à permissão de pesca. “Estão nos intimidando, mas acredito que nós, do setor pesqueiro, estamos fazendo uma ação democrática”, salienta o Presidente do Sindicato das Indústrias de Pesca de Itajaí e Região, Antônio Carlos Momm, um dos organizadores, fazendo um relato profundo e mostrando toda a indignação do setor pesqueiro de Itajaí e do Rio Grande do Sul.

A principal pauta de reivindicação é o preço do óleo diesel marítimo, que representa 70% do custeio da pesca. Na região de Itajaí, as embarcações consomem cerca de 42 milhões de litros de óleo diesel/ano, representando 40% do consumo nacional. Segundo o Presidente do Sindipi, Antônio Carlos Momm, as conseqüências do alto custo do óleo diesel são graves para o setor. A previsão da entidade é que as empresas pesqueiras, trabalhadores e pescadores estão sem futuro com a falta de ações do Governo para o setor.

Com um preço maior e mais alto que o do mercado internacional, fica difícil para os empresários pescadores de Santa Catarina participarem da devida concorrência. Toda a cadeia produtiva é prejudicada, a exemplo de pescados como o filé de merluza, importado da Argentina, onde o diesel custa apenas R$0,648 o litro e o produtor argentino, ao encaminhar o produto para São Paulo, paga zero de imposto, ao contrário das empresas brasileiras, que, se encaminharem um filé para São Paulo, têm que pagar 22% de imposto, além de ter, no início da cadeia, o alto custo do combustível marítimo aqui no Brasil, cerca de R$ 1,79 o litro.

“São mais de 50 mil postos de trabalho, diretos e indiretos só em Santa Catarina”, ressalta o Presidente do Sindicato da Indústria da Pesca de Itajaí - Sindipi, Sr. Antônio Momm, que espera que esse protesto conscientize o Governo.

Mais de trezentas embarcações foram paralisadas hoje em Santa Catarina, tentando chamar a atenção do Governo Federal, deste Governo que mente para a população brasileira, a exemplo do que ocorreu no mês de março último, quando o Presidente da República esteve em Itajaí. Durante visita, Lula fez o lançamento oficial, com champanhe e tudo, do Profrota - inclusive, ele tentou estourar o champanhe e não conseguiu. Parece que sabia que não adiantava estourar, porque não vai acontecer a promessa. Tentaram outra forma para estourar a champanha, porque não conseguiram. Havia alguma coisa no ar indicando que ele estava mentindo. Uma inauguração mentirosa! Um engodo, uma traição, uma falsidade!.

O Profrota é um programa de renovação da frota pesqueira para todo o País, simbolizado na inauguração. O navio que foi inaugurado é o Paulo Cantídio, numa homenagem a um empresário de Itajaí. Só que o navio símbolo do programa, que teve um custo de em torno de R$4 milhões, continua sendo bancado pelos próprios armadores, que bancam inclusive o custo do projeto: cerca de R$15 mil, porque até agora o Governo Federal não mandou nenhum centavo nem para compensar a paralisação que houve em Itajaí. A cidade teve que parar: mudaram o trânsito, colocaram seguranças, aviões de Brasília, helicópteros em todo lugar, Polícia Federal. Todos mobilizados porque o Presidente lá chegou, dizendo que iria liberar R$4 milhões para a construção do navio.

Sr. Presidente, nenhum centavo até agora! Mentiu sobre esse programa, mente aos nossos pescadores, aos nossos armadores, que estão concorrendo com preço desleal. Aliás, a concorrência com a Argentina empurra o pescador para baixo, impede que eles concorram em igualdade com a Argentina. Repito: o pescado da Argentina entra no Brasil e vai para São Paulo com imposto zero e com combustível a sessenta e quatro centavos. No Brasil, para nosso pescado chegar a São Paulo, há 22% de impostos, e o preço do combustível beira 1,7%.

Não é possível que este Governo que está aí, reapresentando seu Presidente como candidato à reeleição, continue desta forma: iludindo a população com o Bolsa-Família - e apenas com esse projeto. Todos os outros projetos faliram. Não existiu o Primeiro Emprego, não existiu o Fome Zero, não existe o Banco Popular, não existe nada, exceto o Bolsa-Família.

Estou falando o que está na imprensa. A mobilização é do povo, não é nossa, da Oposição. Já vou lhe conceder o aparte, Senador Flávio Arns.

Vim de Santa Catarina hoje para dizer ao povo brasileiro que nos assiste que faltam poucos dias para as eleições. O Governo está asfixiado, torcendo para que a eleição chegue logo porque, a cada dia que passa, estoura uma nova bomba. Hoje, a imprensa está noticiando que qualquer presidente que se eleger terá de agir duramente, cortar os gastos em tudo, porque o Governo não teve planejamento e não controlou os gastos.

Ano que vem vai ser muito duro para o povo brasileiro, em função do mau planejamento do Governo Federal.

            Senador Flávio Arns, a mentira é tão grande que a população brasileira está sentindo agora. Está próxima a eleição, mas muita gente ainda está vivendo pelo canto da sereia, viajando e sentindo que as coisas estão boas. Mas, daqui a alguns dias...

(Interrupção do som.)

O SR. LEONEL PAVAN (PSDB - SC) - Sou o último orador e, se V. Exª me permitir, eu gostaria de conceder o aparte ao Senador Flávio Arns.

Em mais alguns dias o Governo brasileiro não terá mais condições de sustentar a crise por que este País está passando. Vamos enfrentar uma das piores situações no Brasil daqui para frente. Os jornais estão dizendo que o emprego diminuiu, que as empresas estão ganhando menos, que o custo de vida está mais alto, que está difícil manter as micro e pequenas empresas, as geradoras de emprego, e que está difícil o povo continuar com essa política que o Governo vem plantando em nosso País.

Concedo o aparte ao Senador Flávio Arns.

O Sr. Flávio Arns (Bloco/PT - PR) - Quero fazer uma observação a V. Exª, que, com muito prazer, é meu amigo e representa um Estado pelo qual tenho a maior estima, que é Santa Catarina. Na verdade, existem muitas coisas positivas a favor do povo. Citarei três ou quatro, mas poderíamos enunciar dezenas de coisas positivas. Na área social, o Bolsa-Família atende a 11 milhões de famílias; o Prouni oferece universidade gratuita para 200 mil pessoas; o montante para a agricultura familiar passou de R$2 bilhões para R$10 bilhões; acabaram com os impostos sobre os alimentos da cesta básica; o salário mínimo subiu como nunca antes; a inflação está 4% inferior, pela primeira vez na história ou pelo menos nos últimos anos, ao crescimento do PIB. Muitas coisas boas ocorreram, seja na área econômica, seja na área social, seja na ambiental, e com senso de responsabilidade extraordinário em termos de austeridade fiscal. Infelizmente, o Presidente Lula herdou uma dívida que se aproximava de R$1 trilhão, com patrimônio público privatizado. Àquela época, a venda do patrimônio poderia ter saldado toda a dívida pública, mas, por não ter sido o recurso destinado ao pagamento da dívida pública, atualmente, pagamos R$140 bilhões de juros de serviços da dívida por ano. Na verdade, o Presidente Lula recebeu um País desacreditado, com muitos problemas, desorganizado, sem planejamento e fez uma revolução extraordinária. Penso que, com mais quatro anos de Governo, ele fará um trabalho extraordinário de consolidação e, principalmente, de ajuste dos programas. Santa Catarina, que é um Estado que amo também - meus pais são de lá -, tem sido um Estado extremamente beneficiado, independentemente de partido político. Então, é uma visão republicana do Brasil. Há muito tempo não se via isso, mas estão-se estruturando todos os Ministérios ao mesmo tempo. Então, é claro que o Brasil tem problemas e dificuldades. Nem tudo está correto, e muitas coisas podem ser melhoradas. Mas avanços extraordinários foram percebidos, e a população nota esse fato de maneira clara, tanto que 50% votam no Presidente Lula. Obrigado.

O SR. LEONEL PAVAN (PSDB - SC) - Senador Flávio Arns, tenho uma admiração muito grande por V. Exª e um apreço maior ainda por aqueles que têm coragem de defender dessa forma. E V. Exª, que é candidato no Paraná, é homem público respeitado em todo o Brasil, mesmo pela Oposição, em razão de sua firmeza.

Porém, Senador Flávio Arns, em Santa Catarina, na verdade, o Governador Luiz Henrique da Silveira está apoiando Geraldo Alckmin, em protesto, porque o Governo Federal chegou a vetar recursos constitucionais e segurou recursos até a última hora, prejudicando o desenvolvimento de Santa Catarina. Luiz Henrique da Silveira está trabalhando contra o atual Presidente da República até em forma de protesto por não respeitar Santa Catarina e virar as costas ao povo catarinense.

Santa Catarina é o sexto Estado em exportação, o sétimo em arrecadação e é o vigésimo primeiro na redistribuição de recursos. Há um desrespeito, há uma perseguição contra Santa Catarina. Depois, quando V. Exª fala aqui do que o Lula encontrou, coloca uma culpa apenas como se a coisa fosse de agora.

Collor de Mello foi tão contestado pelo Lula, dele se pediu a cassação, o impeachment, aqui o condenaram por diversas vezes. Hoje Lula não se envergonha de subir ao palanque com ele. Então, vejam só: diz uma coisa aqui, mas, para buscar votos, diz outra coisa lá.

Essas dívidas do Brasil vêm de muito tempo. Porém, o Lula não se envergonha de subir no palanque com os que as produziram. Condena, mas quer o apoio. E dizer, Senador Flávio Arns, que algumas coisas tinha que fazer? Afinal de contas, o Brasil dobrou a arrecadação, está arrecadando mais, os impostos aumentaram! Até apoiamos algumas coisas que V. Exª disse. Quanto à questão do Bolsa-Família, ele pegou os projetos sociais de Fernando Henrique Cardoso, uniu-os e fez um. Esses projetos, esses investimentos nas áreas sociais já existiam há muito tempo. Mas o que acontece? O Governo Federal não investiu em infra-estrutura como deveria. Investiu menos de 20% do Orçamento!

O SR. PRESIDENTE (Romeu Tuma. PFL - SP) - Senador, vou dar mais dois minutos a V. Exª.

O SR. LEONEL PAVAN (PSDB - SC) - Dois minutos para finalizar.

Investiu em tapa-buracos sem concorrência, sem fiscalização, sem ser numa obra que tivesse uma durabilidade de cinco, seis ou sete anos. Fizeram tapa-buracos, e as rodovias já estão todas depredadas. Em saneamento, não se investiu nada; em segurança, menos ainda!

No Jornal Folha de S.Paulo de hoje, na coluna “Mercado Aberto”, de Guilherme Barros, está o seguinte: “Lula investiu menos em educação e em saúde que Fernando Henrique Cardoso”. Desmintam Guilherme Barros! Aliás, já tínhamos apresentado esses dados. Investiram menos em educação e em saúde que o último Governo de Fernando Henrique Cardoso - não o primeiro. Imaginem o último Governo dele!

Sr. Presidente, o País passa por uma situação difícil. Dizer que o agricultor familiar recebeu benefícios é tentar tapar o sol com a peneira. O agricultor está passando por dificuldades. Os recursos enviados são ínfimos, poucos, quase nada em relação à importância da agricultura familiar no meu Estado e no Brasil inteiro. O País arrecada mais, e o atual Governo Federal faz menos.

            É bom deixar registrado que, até hoje, não houve uma manifestação dura do Presidente Lula para retomar o capital brasileiro na Bolívia, que seqüestrou o capital nacional. Parece que as coisas ficam como estão. Cadê o Presidente para defender o que é nosso? Parece que a parceria Evo Morales e Hugo Chávez, um perigo para o futuro, continua sem ser tocada pelo atual Presidente.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 05/09/2006 - Página 27880