Discurso durante a 152ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

Protesto aos escândalos ocorridos durante o fim de semana, trazendo à tona compra de dossiê contra adversários políticos, grampos no Tribunal Superior Eleitoral e declarações do Presidente Lula de desejo de fechamento do Congresso.

Autor
José Jorge (PFL - Partido da Frente Liberal/PE)
Nome completo: José Jorge de Vasconcelos Lima
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
ELEIÇÕES. PRESIDENTE DA REPUBLICA, ATUAÇÃO.:
  • Protesto aos escândalos ocorridos durante o fim de semana, trazendo à tona compra de dossiê contra adversários políticos, grampos no Tribunal Superior Eleitoral e declarações do Presidente Lula de desejo de fechamento do Congresso.
Aparteantes
Heráclito Fortes.
Publicação
Publicação no DSF de 19/09/2006 - Página 29031
Assunto
Outros > ELEIÇÕES. PRESIDENTE DA REPUBLICA, ATUAÇÃO.
Indexação
  • REPUDIO, CAMPANHA ELEITORAL, PRESIDENCIA DA REPUBLICA, PARTIDO POLITICO, PARTIDO DOS TRABALHADORES (PT), AQUISIÇÃO, FALSIDADE, DOCUMENTO, PREJUIZO, ADVERSARIO, ESCUTA TELEFONICA, MINISTRO, TRIBUNAL SUPERIOR ELEITORAL (TSE), PRETENSÃO, FECHAMENTO, CONGRESSO NACIONAL, COMENTARIO, ARTIGO DE IMPRENSA, JORNAL, JORNAL DO BRASIL, ESTADO DO RIO DE JANEIRO (RJ), DENUNCIA, SUPERFATURAMENTO, DESVIO, RECURSOS FINANCEIROS, REELEIÇÃO, PRESIDENTE DA REPUBLICA.
  • REGISTRO, PUNIÇÃO, ACUSADO, SOLICITAÇÃO, MINISTERIO DA JUSTIÇA (MJ), FISCALIZAÇÃO, ATUAÇÃO, POLICIA FEDERAL, APRESENTAÇÃO, PROVA, PRISÃO, CORRUPÇÃO, LIGAÇÃO, PARTIDO POLITICO, PARTIDO DOS TRABALHADORES (PT), FOTOGRAFIA, APREENSÃO, DINHEIRO, OBJETIVO, ESCLARECIMENTOS, ELEITOR.
  • LEITURA, ARTIGO DE IMPRENSA, JORNAL, O ESTADO DE S.PAULO, ESTADO DE SÃO PAULO (SP), DENUNCIA, PARTICIPAÇÃO, ASSESSOR, PRESIDENTE DA REPUBLICA, SUBORNO, ELEIÇÕES, SUSPEIÇÃO, VINCULAÇÃO, HOMICIDIO, EX PREFEITO, MUNICIPIO, SANTO ANDRE (SP), COMPARAÇÃO, HISTORIA, BRASIL.
  • SOLICITAÇÃO, TRANSCRIÇÃO, LEITURA, ARTIGO DE IMPRENSA, JORNAL, FOLHA DE S.PAULO, ESTADO DE SÃO PAULO (SP), O GLOBO, ESTADO DO RIO DE JANEIRO (RJ), PRETENSÃO, PRESIDENTE DA REPUBLICA, FECHAMENTO, CONGRESSO NACIONAL, REGISTRO, NOTA OFICIAL, DESMENTIDO, EXECUTIVO.
  • DENUNCIA, SUBORNO, MESADA, CONGRESSISTA, OBJETIVO, APROVAÇÃO, PROJETO, PRESIDENTE DA REPUBLICA, SOLICITAÇÃO, TRIBUNAL SUPERIOR ELEITORAL (TSE), PROVIDENCIA, APURAÇÃO, INTERFERENCIA, PRESIDENCIA DA REPUBLICA, PROCESSO ELEITORAL.

O SR. JOSÉ JORGE (PFL - PE. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, na realidade, como eu já disse antes, num aparte ao Senador Heráclito Fortes, hoje deveríamos estar realizando nossa campanha pelo Brasil inteiro. Entretanto, resolvemos ficar aqui para dizer estas palavras em protesto a tudo o que aconteceu durante este fim de semana. Sempre esperamos que esses escândalos estivessem terminando, mas, na realidade, eles não estão terminando; aparentemente, estão começando. Não sabemos o que vai acontecer. A cada dia acontece um fato novo, a cada dia acontece uma coisa inusitada, que nunca aconteceu no Brasil.

Neste fim de semana, tivemos a notícia da compra de um dossiê contra adversários. Eu, por exemplo, não via acontecer isso há anos na política nacional. Estou na Casa há 24 anos e nunca vi acontecer algo desse tipo. Também nunca ouvi dizer que colocaram “grampo” no Tribunal Superior Eleitoral, o que está acontecendo agora. Por último, assistimos ao Presidente Lula dizer que seu grande desejo era fechar o Congresso, outro absurdo. Na realidade, são coisas que nos deixam até sem saber escolher sobre o que falar.

Na última sexta-feira, o experiente jornalista Villas-Bôas Corrêa escreveu, no Jornal do Brasil, um artigo denominado “O último escândalo”.

No texto, o ilustre articulista comenta que, faltando duas semanas para o primeiro turno das eleições, o escândalo das cartilhas superfaturadas que foram entregues ao Partido dos Trabalhadores pelo Palácio do Planalto tinha tudo para ser o último escândalo da Presidência de Lula.

Segundo Villas-Bôas, “o prazo curto e a dinâmica da reta de chegada devem ser suficientes para garantir à denúncia do Tribunal de Contas da União - em relatório aprovado por unanimidade, que destaca as suspeitas de superfaturamento e desvio de dinheiro público para a farra eleitoral na confecção de cinco milhões de revistas e encartes de propaganda do Governo e do candidato-Presidente, distribuídos pelo PT - a honrosa classificação de último escândalo da longa série, com dezenas de brilhantes concorrentes”. Isso foi o que o jornalista escreveu.

Na verdade, essas cartilhas são de propaganda eleitoral, feitas com dinheiro público. O pior é que, dos cinco milhões de cartilhas que foram pagas, apareceram somente três milhões. Então, há uma grande desconfiança e praticamente uma certeza de que dois milhões de cartilhas não foram elaboradas. Simplesmente não foram elaboradas, e o dinheiro deve ter saído para outro fim.

O Governo, depois de passar meses para responder, chegou à conclusão de que essas cartilhas teriam sido distribuídas pelo PT - encaminhadas ao PT para serem distribuídas. Os diretórios do PT, procurados pela mídia, disseram que não receberam essas cartilhas. Ninguém viu a distribuição dessas cartilhas pelo PT. Então, acho que, assim como ocorreu no caso do mensalão, eles devem ter um bom criminalista para escolher, Sr. Presidente, o menor crime. Na verdade, qual é o crime maior: pagar uma cartilha e não receber ou pagar a cartilha e entregá-la ao PT? Aparentemente, é pagar a cartilha e entregá-la ao PT. Então, eles escolheram esse crime. Na verdade, o que aparenta e o que parece correto é que eles pagaram e não receberam as cartilhas. Foi um superfaturamento, provavelmente para desviar dinheiro para outras finalidades.

Mas nem toda experiência acumulada pelo jornalista Villas-Bôas Corrêa, um dos mais antigos do País, foi suficiente para que a sua profecia se cumprisse. O jornalista errou, já que, naquele mesmo dia, a Polícia Federal desvendou um esquema - bem mais grave, aliás - de compra de dossiê falso que tentava envolver os candidatos Geraldo Alckmin e José Serra no escândalo dos sanguessugas.

Em ação desenvolvida nos Estados de São Paulo e Mato Grosso, a Polícia prendeu os envolvidos na negociação de material que pretendia vincular os candidatos oposicionistas ao mar de lama que cerca o Governo Lula.

Pelo menos, dois dos presos - foram quatro, mas dois são do lado de Vedoin; esses dois não são do PT, mas os outros dois que estavam negociando têm claras ligações com o Partido dos Trabalhadores -, o advogado Gedimar Passos e o empresário Valdebran Padilha, estavam de posse, Srªs e Srs Senadores, de R$1,75 milhão, em real e dólares americanos. Quando houve aqueles dólares na cueca, eram pouco mais de US$100 mil e mais alguns reais. A coisa está aumentando. Um milhão setecentos e cinqüenta mil não cabem em cueca, isso é certo. Multiplicou-se o valor anterior por quinze ou por dez. Era esse o dinheiro, em cash, nas mãos dessas duas pessoas.

A primeira pergunta que se faz é: de onde veio esse dinheiro? Ora, esses caras não têm esse dinheiro. Um é um policial aposentado; o outro, um pequeno empresário. De onde vem o dinheiro? Quem deu R$1,75 milhão, em cash, para que essas duas pessoas comprassem esse dossiê falsificado, que depois revelou não ter nada?

Valdebran Carlos Padilha era ex-tesoureiro informal do PT em Mato Grosso, filiado ao PT. Além disso, no início do Governo Lula, ele foi indicado pela Direção Estadual do PT para ocupar um cargo na direção da Eletronorte no Brasil, mais precisamente diretor financeiro da Eletronorte. Imaginem: era macaco tomando conta de banana. Na realidade, foi indicado para ser diretor financeiro da Eletronorte e aparentemente não o conseguiu, por possuir uma série de processos que devem tê-lo impedido; mas que o PT o indicou, indicou.

Já o segundo, Gedimar Passos, é ex-agente da Polícia Federal, é policial federal aposentado, que atuava como advogado responsável por avaliar o material que compunha o falso dossiê que estava sendo adquirido pelo PT para ser usado contra as candidaturas de Alckmin e José Serra. Na verdade, ele entrou na história para avaliar o material, para ver se valia os tais dois milhões que haviam sido pedidos.

Uma coisa grave na investigação é que essa descoberta foi feita no final da semana passado, há três ou quatro dias, e não se tem ainda a foto dos dois, da prisão e do dinheiro. Ora, em todas as outras operações da Polícia Federal, sempre que a Polícia Federal chegava em algum lugar, tirava foto dos suspeitos, dos presos, dos envolvidos e do dinheiro. É evidente que a Polícia Federal nesse caso não está tendo a tal atuação republicana. Fazemos um apelo ao Diretor-Geral da Polícia Federal e ao Ministro Márcio Thomaz Bastos para que, como foi feito no Maranhão, se mostre a fotografia desse dinheiro. Nós queremos ver a fotografia do dinheiro e queremos ver a fotografia dos envolvidos, além dos seus depoimentos, porque estamos num processo eleitoral, e essa coisa é de extrema gravidade. As pessoas foram presas com R$1,75 milhão, e os dois, o Vedoin e o seu sobrinho, foram presos em Cuiabá com o tal dossiê que eles iam levando, algumas fotos, filmes, etc.

Em depoimento à Polícia Federal, Gedimar, o ex-tesoureiro do PT, revelou que o mandante do crime seria “um homem chamado ‘Froude’ ou Freud”, que teria ligações com o PT. A ação seria realizada por determinação da Executiva Nacional do Partido dos Trabalhadores.

Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, não sou eu que estou dizendo isso. É algo tão grave que eu não teria coragem de dizer. Quem está dizendo isso é o Gedimar, que foi pego com o dinheiro na mão. Ele está dizendo que foi a Direção Nacional do Partido dos Trabalhadores que mandou comprar esse dossiê.

Segundo fontes da Polícia Federal, as pistas apontam para Freud Godoy, atual assessor do Gabinete da Presidência e ex-coordenador de segurança das quatro campanhas do Presidente Lula, uma espécie de fiel escudeiro de Lula desde a década de 80. Faz 26 anos que ele é assessor de Lula, inclusive, há fotos no jornal; ele fazia ginástica com o Presidente Lula e é uma pessoa ligadíssima ao Presidente.

Quando escrevi este discurso, nós ainda não sabíamos que ele era assessor da Secretaria Particular do Presidente Lula. A Rede Globo, pelo Jornal Hoje, às 13 horas, já veiculou uma entrevista em que ele confessou que conversou quatro vezes, nos últimos dias, com essas pessoas; confessou que era assessor - isso está na própria página da Internet do Governo - do Presidente Lula e disse também que ia solicitar a demissão do cargo. Isso já é público. Foi veiculado na Rede Globo de Televisão, no Jornal Hoje. Portanto, é uma pessoa ligadíssima ao Presidente Lula.

Inclusive, há algo diferente. Normalmente, em todos esses crimes praticados, os principais personagens eram ligados ao Presidente Lula via PT; era o PT que assumia a culpa. Dessa vez, não. Dessa, não é o PT; é o próprio Presidente Lula. Esse Sr. Freud - não merecia Freud ter um companheiro com essa qualificação - é funcionário do Palácio do Planalto, ocupa cargo em confiança, de assessoria direta do Presidente Lula.

No depoimento, os presos declararam- os dois estão em São Paulo - que “o dinheiro para adquirir o dossiê veio de um representante do PT de São Paulo”. É preciso identificar quem é esse. “Gedimar também descreveu os dois emissários do PT que teriam entregue o dinheiro destinado ao pagamento do dossiê”. Ele disse que não sabe os nomes das pessoas do PT, mas sabe descrevê-las, e vamos chegar à conclusão de quem eram essas pessoas.

A se confirmarem as suspeitas de que o Freud Godoy estaria envolvido nesse crime, não há como esquecer um fato lamentável da História brasileira que foi a participação de Gregório Fortunato, homem da estrita confiança de Getúlio Vargas, no atentado da Rua Toneleros, numa canhestra tentativa de calar a Oposição ao Governo. Esse Sr. Freud Godoy pode ser o Gregório Fortunato de hoje. Esperamos que o fim não seja tão trágico, como foi naquela época. Que seja apenas a perda de uma eleição que já era considerada por eles - não por nós, mas por eles - como ganha.

À semelhança de Fortunato, Freud Godoy é muito próximo de Lula e da cúpula do PT. Diz o jornal O Estado de S.Paulo:

Com a vitória de Lula, em janeiro de 2003, Freud foi nomeado para um cargo no gabinete do Presidente na função de assessor especial [essa é a função], em 12 de março de 2003. [Quer dizer, não demorou muito. O Presidente assumiu em 1º de janeiro, e ele foi nomeado em 12 de março.] Oficialmente, ele cuida da segurança da Primeira-Dama, Marisa Letícia, mas já foi visto cumprindo outras tarefas para o Planalto. No final de dezembro de 2002, ele acompanhava Lula em caminhadas na Granja do Torto, dias antes de sua posse. Uma das tarefas do segurança é o controle de manifestações em atos de que Lula participa. Freud consta da relação de 974 militantes do PT com cargos na Administração Federal que descontam contribuição em folha para o Partido. [Quer dizer, ele, além de ser do Governo, ainda paga ao PT.] No PT, é tido como discreto e com circulação direta não só junto a Lula, mas também com dirigentes partidários.

À semelhança de Freud, Gregório Fortunato era o chefe da guarda pessoal do Presidente Vargas e de sua família, e se prestava a “pequenos favores” extra-funcionais, como por exemplo, atacar os oposicionistas.

Depois da explosão do escândalo, alguns fatos ligadas ao Sr. Freud Godoy têm vindo a público. Recebi, de uma fonte muito bem informada, algumas informações sobre esse senhor, que confirmam nossas piores suspeitas.

Quando esse assunto foi divulgado, tendo em vista que participávamos da CPI dos Bingos - tanto eu quanto o Senador Heráclito Fortes -, recebi uma série de telefonemas de Santo André. Naquela época, muita gente de Santo André nos ligava. Dessa vez, começou a ligar gente de Santo André, e eu perguntei: O que Santo André tem a ver com isso?

Na realidade, Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, o Sr. Freud Godoy é personagem também daquele episódio da morte do Prefeito de Santo André. E eu vou dizer o que ele era na época e qual é a ligação dele com Santo André.

Algumas informações que me foram passadas - é evidente que todas devem ser confirmadas - são as seguintes:

1. Freud Godoy era dono de uma empresa de vigilância em São Paulo na época da morte do Prefeito Celso Daniel. Ele era dono da empresa que fazia a segurança da Prefeitura de Santo André. Portanto, era ligado a todo aquele esquema. É amigo de Ronan Maria Pinto e de Sérgio Gomes, o “Sombra”. Dos três envolvidos, ele era amigo dos dois principais, o Sombra e o Ronan Maria Pinto, e sabe-se que Ronan Maria Pinto tem muitos negócios em Mato Grosso. Esse pessoal da Planam também é de Mato Grosso.

2. Por causa de sua ligação com o Sombra, ele prestou depoimento à Polícia de Santo André - por conta do crime, ele foi um dos que falaram na Polícia -, no dia 17/04/2001. O Delegado Romeu Tuma Jr. tem conhecimento do fato, pois esteve à frente das investigações em determinado momento. Celso Daniel foi assassinado no Município em que Romeu Tuma Júnior era delegado.

3. Quando da acareação dos irmãos de Celso Daniel com Gilberto Carvalho, em 26/10/2005, João Francisco Daniel, que é o médico, teria feito referência a Freud. João Francisco o teria citado ao explicar o episódio relatado por Gilberto Carvalho sobre a entrega de dinheiro ao então Ministro José Dirceu. Gilberto Carvalho teria contado a João Francisco que iria a São Paulo acompanhado de um segurança de nome Freud ou Fred, pois Freud também é conhecido como Fred -como Freud é um nome muito complicado, chamam-no de Fred. Só não confirmei esse fato porque não tive tempo, mas pode ser confirmado nos Anais da Comissão. Segundo João Francisco Daniel, Gilberto Carvalho lhe contou que levava o dinheiro da propina de Santo André para entregar ao Ministro José Dirceu em São Paulo, de carro, um corcel, acompanhado de um segurança que era o Fred ou Freud.

4. Freud também teria prestado depoimento à Comissão Permanente da Câmara Municipal de Santo André. Nessa época, prestou declarações como contratado da Prefeitura.

5. Seu advogado, quando prestou depoimento no inquérito policial, foi o atual Deputado Federal pelo PT, Luiz Eduardo Greenhalgh, que, como se sabe, foi o advogado que também depôs na CPI dos Bingos. E foi ele que aceitou a versão da polícia de que o crime cometido contra Celso Daniel fora comum, embora hoje já esteja mais do que provado de que não foi.

6. Freud poderia também - é preciso comprovar isso - estar envolvido com o episódio do aluguel do helicóptero que tirou do presídio o bandido Dionísio Aquino Severo, que teria participado da morte de Celso Daniel. Meses depois, Dionísio foi recapturado e morto.

7. Freud foi segurança pessoal de Lula durante as quatro campanhas em que foi candidato à Presidência da República. É registrado no PT e coordenou, por indicação do então Presidente de Honra do PT, Lula, a segurança da Marcha dos Cem Mil, em 1999.

Em entrevista ao Jornal Hoje, da Rede Globo de Televisão, no início desta tarde, Freud Godoy, que é assessor especial da Secretaria Particular da Presidência da República... Também é interessante dizer o seguinte: quem é o chefe da Secretaria Particular da Presidência da República? Gilberto Carvalho. Na realidade, Gilberto Carvalho é quem o deve ter trazido, apesar da grande amizade dele com Lula - Gilberto Carvalho é um dos melhores amigos do Presidente Lula. Portanto, a ligação dele também deve servir a Gilberto Carvalho. E, de certa maneira, aumenta a possibilidade de ele ter sido o segurança que levava o dinheiro para São Paulo.

Freud Godoy confirmou, na televisão, que conversou com os criminosos quatro vezes; que a empresa de segurança de sua mulher presta serviço à campanha eleitoral do PT - a empresa de segurança da mulher é dele, vamos dizer assim; como ele é funcionário público, a empresa deve estar no nome da mulher - e, para surpresa geral, confirmou que recebeu uma ligação telefônica do Presidente Lula no dia de hoje. Ele já disse na televisão que Lula ligou para ele e que ele disse ao Presidente Lula que dormisse tranqüilo, mas, na realidade, ninguém sabe como o Presidente vai dormir hoje.

Com tanta proximidade com o Presidente, não há como negar que, mais do que ao Partido dos Trabalhadores, era ao Presidente da República e para o Presidente que os serviços escusos foram prestados e com o claro objetivo de tentar atingir a candidatura de José Serra e de Geraldo Alckmin, que, a cada dia, aproxima-se da viabilização do segundo turno, o que o Presidente Lula não deseja. Como todos sabemos, Lula e o Governo petista não têm qualquer apreço à democracia e às liberdades democráticas.

E, para não deixar dúvidas sobre essa versão, o jornalista Élio Gaspari - um dos mais respeitados do Brasil, um jornalista que escreve livros importantíssimos, foi editor da revista Veja e de muitos jornais importantes, hoje escreve uma coluna que é publicada em dois Jornais, Folha de S.Paulo e O Globo - divulgou uma nota em sua coluna de domingo, que peço seja transcrita, cujo título é “Demônio Golpista”:

Durante jantar plutocrata a que Lula compareceu na quinta-feira, o empresário Eugênio Staub perguntou-lhe como pretendia fazer, durante um segundo mandato, as reformas que julga necessárias. Nosso Guia [ele o chama assim] respondeu: “Staub, não acorde o demônio que tem em mim, porque a vontade que dá é de fechar esse Congresso e fazer o que é preciso.”

Segundo Lula, o próximo Congresso será pior do que “esse que está aí”, pois virá com Paulo Maluf e Clodovil.

Expressando-se na sua linguagem franca, deixou mal a mãe de pelo menos vinte notáveis nacionais.

A proposta golpista do demônio que Lula carrega consigo foi contestada por inúmeros convidados que a ouviram.

Lula vê outro empecilho para o êxito do seu projeto: a imprensa.

Nos últimos 50 anos, o Coisa-Ruim rondou três Presidentes: Jânio Quadros, João Goulart e Costa e Silva. Nenhum deles concluiu o mandato. (Castello Branco e Ernesto Geisel fecharam o Congresso por poucas semanas.)

Seja o que Deus quiser.

         Portanto, é uma nota gravíssima, escrita por um jornalista de grande responsabilidade e de grande prestígio no País.

         O Palácio do Planalto desmentiu, com a seguinte nota:

Diante de notícias publicadas nos jornais de hoje, relativas a postura do Presidente da República frente ao Congresso Nacional, cabe afirmar:

Primeiro, é falso que o Presidente tenha, em qualquer momento, feito afirmação que pudesse ser entendida como ameaça ou hipótese de restrição ao livre, pleno e soberano funcionamento do Congresso Nacional;

Segundo, a história de luta e compromisso do Presidente Lula com a democracia e, conseqüentemente, com a soberania e a independência dos Poderes que constituem o regime democrático é amplamente conhecida do povo brasileiro. [Eu não considero tanto.]

Ao longo de 44 meses de mandato, o Presidente não só demonstrou absoluto respeito pela liberdade e soberania do Congresso, como fez questão de prestigiá-lo e valorizá-lo com repetidos gestos de apreço. [...]

           O que o Presidente fez em relação ao Congresso, diferentemente dos outros Presidentes, foi a criação do mensalão. Se há uma coisa que nenhum outro Presidente fez, que se tornasse do conhecimento público, foi exatamente adotar a política de comprar votos dos partidos pequenos para aprovar os projetos dele. Se comprar voto de Deputado através do mensalão é apreço, essa frase é correta. Não me parece que o Presidente demonstrou, durante o seu mandato, nenhum apreço pelo Congresso, pois, em nenhum momento, recebia Parlamentares ou tinha diálogo com a Oposição. Era um Presidente isolado do Congresso.

Por último, continua a nota do Palácio do Planalto:

Só o contexto eleitoral, com reiteradas tentativas de causar confusão e dificuldades para a expressão informada da vontade popular, explica a divulgação de pseudonotícias como as que apareceram hoje.

Temos agora que investigar, identificar os outros empresários que estavam lá e conversar com eles, para que possamos saber se isso foi dito ou não. Se foi dito, vai ser confirmado, porque, se havia dez, doze pessoas lá, basta que um confirme, basta que um diga: “Eu ouvi”. Alguns podem querer esconder, mas, se um disser que ouviu, esse assunto poderá ser levado ao Conselho da República, a quem cabe exatamente defender o País de tentativas golpistas como essa que o Presidente Lula...

Estou aqui com um artigo, mas não o estou achando. Mas cabe, evidentemente, ao Conselho da República investigar. Esse também é um assunto gravíssimo que surgiu hoje.

Continuando, Lula não tem qualquer apreço pelo Congresso Nacional, onde teve apagada participação como Deputado na Assembléia Nacional Constituinte. O esquema do mensalão, montado pelo seu Governo, é um exemplo dessa repulsa a um dos Poderes da República.

Ao concluir, peço a transcrição do artigo de Villas-Bôas Corrêa, publicado no Jornal do Brasil do dia 15. Peço também o acompanhamento da candidatura do Presidente Lula por parte do Ministério Público Eleitoral Federal, com vistas a se apurar mais esse escândalo envolvendo Lula e seu Partido.

Gostaria também de dizer que agora, às três horas, o Presidente Jorge Bornhausen, do PFL, e o Presidente Tasso Jereissati, do PSDB, estão levando a questão do Vedoin, principalmente, e a da compra do material para que o Tribunal Superior Eleitoral investigue. Também é necessário que o Tribunal Superior Eleitoral coloque um ministro, um juiz para acompanhar o que está acontecendo na Polícia Federal, órgão do Executivo. Quem manda na Polícia Federal é o Ministro da Justiça. É necessário que essa investigação seja aberta, para que a sociedade possa confiar... Onde está a foto do dinheiro? Isso é que a sociedade quer ver, porque já se passam três dias.

Concedo um aparte ao Senador Heráclito Fortes.

O Sr. Heráclito Fortes (PFL - PI) - Senador José Jorge, acompanho, com muita atenção, o seu pronunciamento. V. Exª foi à nostalgia quando trouxe Gregório Fortunato como referência aos acontecimentos do Governo Lula. Gregório Fortunato foi o anti-herói da era do rádio. O PT está cheio de heróis da época da Internet. A cada momento, surge um novo fato, e, a cada novo fato, há sempre um hóspede do Palácio do Planalto envolvido. O Sr. Freud Godoy não foge à regra. Senador José Jorge, não sei se V. Exª teve a oportunidade de assistir à entrevista que ele deu ao Jornal Hoje e a outros órgãos de imprensa.

O SR. JOSÉ JORGE (PFL - PE) - Assisti, Senador.

O Sr. Heráclito Fortes (PFL - PI) - A intimidade dele com o Presidente da República!

O SR. JOSÉ JORGE (PFL - PE) - Completa.

O Sr. Heráclito Fortes (PFL - PI) - Ele não ligou para o Presidente da República. O Presidente da República ligou para ele. Aí já se vê a relação entre autoridades nesse Governo: uma verdadeira quebra de hierarquia. Aliás, o Presidente, depois que se deixou fotografar naquela posição esquisita com o Presidente Evo Morales, após o primeiro episódio com a Petrobras, perde qualquer sentido de autoridade para exigir respeito de quem quer que seja. Lamento que o Presidente da República se dirija à ONU amanhã. De lá ele terá a oportunidade de se dirigir ao mundo sem ter autoridade para dizer que tem a administração do País sob seu controle, porque quem controla o Governo não permite a promiscuidade com que seus assessores agem no Palácio. O que os assessores podem pensar? “O Presidente Lula é gente boa; não vai fazer nada comigo. Viram o que ele fez com o rapaz do dólar na cueca e com todos aqueles condenados num passado recente, cujos atos foram motivo de apuração?” Os que renunciaram estão de braços dados com Lula nos palanques do Brasil. Ora, o crime passou a compensar. O que pensa o cidadão que presta um serviço que sabe ser sujo? “O Presidente não vai me deixar sozinho. Vou ter sua proteção. O Presidente Lula é gente boa. Ele vai ficar do meu lado”. Está sendo assim. Ele não está defendendo, nos palanques da Paraíba, do Pará, por onde anda, os sanguessugas e os mensaleiros? Vai fazer o mesmo com os próximos. É exatamente isso que motiva e induz a prática de atos dessa natureza. “O chefão me absolverá e, absolvendo-me e estando ao seu lado, continuarei tendo forças.” Talvez a Itália tenha mais histórias de comportamento dessa natureza que o Brasil. Mas estamos iniciando a prática. Muito obrigado.

O SR. JOSÉ JORGE (PFL - PE) - Sr. Presidente, vou encerrar, solicitando ao Tribunal Superior Eleitoral que tome as providências devidas para apurar esse grave caso de interferência da Presidência da República no processo eleitoral.

Em segundo lugar, peço ao Ministro da Justiça, Márcio Thomaz Bastos, e ao Diretor-Geral da Polícia Federal, Delegado Lacerda, que divulguem a foto do dinheiro apreendido com esses corruptores ou corruptos e que convoquem o Sr. Freud Godoy ou prendam-no imediatamente.

Senador Heráclito Fortes, não sei por que não se prendem essas pessoas do PT. Delúbio nunca foi preso. Os que não são do PT a polícia algema e prende na hora. O Sr. Freud Godoy tem de ser preso com os outros. Com um depoimento dele, é mais fácil de se acreditar.

Por último, espero que, desta vez, não haja a desculpa de sempre do Presidente da República, de que ele não sabia. O Presidente vai dizer que não sabia porque é isso o que ele diz toda vez. No entanto, esse estava dentro da casa dele, era o segurança da esposa dele, a pessoa que andava com ele todos os dias de manhã para fazer ginástica e trabalha com ele há mais de vinte anos. A sociedade não aceitará mais “eu não sabia”.

O Sr. Heráclito Fortes (PFL - PI) - Sr. Presidente, eu queria apenas lembrar, Senador José Jorge, que o que a Nação quer ver é a foto com o dinheiro. Aquelas fotos do Sr. Serra, do Sr. Alckmin não funcionam mais, até porque o Senado deve ter cópias nos Anais porque a Líder do PT, há cerca de vinte dias, mostrou.

O SR. JOSÉ JORGE (PFL - PE) - Ela trouxe essas fotos.

O Sr. Heráclito Fortes (PFL - PI) - Essas fotos foram mostradas, eu me lembro bem, e a imprensa me chamou a atenção para isso. Ato seguinte, eu recebi uma fotografia do próprio Presidente da República em lançamento de ambulância com o mesmo pessoal, o que não o compromete em si. As fotos já andavam por aí nos sites, mas nós queremos ver é a foto do dinheiro.

O SR. JOSÉ JORGE (PFL - PE) - É. Do dinheiro.

O Sr. Heráclito Fortes (PFL - PI) - Do dinheiro, que foi tirada e está escondida. Tem até o refrão de uma música popular que diz: “Onde está o dinheiro? O dinheiro sumiu”. Está na hora de se mostrar isso. Quatro nós atrás, o PT forçou que, numa operação diferente dessa, porque o recurso tinha origem, fosse mostrado. É preciso que o fato se repita.

O SR. JOSÉ JORGE (PFL - PE) - É, Senador Heráclito, tem que ter a foto do dinheiro e temos que saber de onde veio esse dinheiro.

O Sr. Heráclito Fortes (PFL - PI) - Pau que dá em Chico dá em Francisco.

O SR. JOSÉ JORGE (PFL - PE) - Na realidade, ninguém sabe de onde veio o dinheiro. É R$1,75 milhão, em cash. É muito dinheiro para a pessoa ter em mão. Deve ser um esquema...

O Sr. Heráclito Fortes (PFL - PI) - E o mais grave é que tem dólar também.

O SR. JOSÉ JORGE (PFL - PE) - Tem dólar também. Um milhão setecentos e cinqüenta reais em moeda brasileira e em dólares. Portanto, não é qualquer pessoa...

O Sr. Heráclito Fortes (PFL - PI) - Será que é aquele dinheiro de Cuba que está começando a aparecer?

O SR. JOSÉ JORGE (PFL - PE) - Aquele era menos, Senador. Aquele eram só três caixas de Johnnie Walker cheias de dinheiro. Não dá isso tudo, não.

O Sr. Heráclito Fortes (PFL - PI) - Eu não sei o que cabe em três caixas de Johnnie Walker cheias de dólares...

O SR. JOSÉ JORGE (PFL - PE) - Pode ser que caiba mesmo.Na realidade, aquele dinheiro de Cuba é outra coisa inexplicada.

O Sr. Heráclito Fortes (PFL - PI) - Como também aquela denúncia feita pela então mulher do Deputado Costa Neto sobre o dinheiro que veio de Taiwan, que ninguém apurou. Os fatos estão aí aos borbotões. Na verdade, repito: o PT jogou um cesto de pedras para cima e não está conseguindo sair de baixo. Elas estão caindo todas sobre a cabeça. Muito obrigado.

O SR. JOSÉ JORGE (PFL - PE) - Muito obrigado, Sr. Presidente.

 

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DOCUMENTOS A QUE SE REFERE O SR. SENADOR JOSÉ JORGE EM SEU PRONUNCIAMENTO

(Inseridos nos termos do art. 210, inciso I e §2º, do Regimento Interno.)

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Matérias referidas:

“Artigo de Villas-Boas Corrêa”;

“Demônio golpista - Élio Gaspari”;


Este texto não substitui o publicado no DSF de 19/09/2006 - Página 29031