Pronunciamento de Arthur Virgílio em 19/09/2006
Discurso durante a 153ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal
Considerações sobre o caso da compra do dossiê. Afirmação de que "a democracia no Brasil está em jogo". Alerta para existência de uma grave crise institucional no país.
- Autor
- Arthur Virgílio (PSDB - Partido da Social Democracia Brasileira/AM)
- Nome completo: Arthur Virgílio do Carmo Ribeiro Neto
- Casa
- Senado Federal
- Tipo
- Discurso
- Resumo por assunto
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ELEIÇÕES.
PRESIDENTE DA REPUBLICA, ATUAÇÃO.:
- Considerações sobre o caso da compra do dossiê. Afirmação de que "a democracia no Brasil está em jogo". Alerta para existência de uma grave crise institucional no país.
- Aparteantes
- Tasso Jereissati.
- Publicação
- Publicação no DSF de 20/09/2006 - Página 29284
- Assunto
- Outros > ELEIÇÕES. PRESIDENTE DA REPUBLICA, ATUAÇÃO.
- Indexação
-
- REGISTRO, ARTIGO DE IMPRENSA, INTERNET, PERIODICO, EPOCA, ESTADO DO RIO DE JANEIRO (RJ), COMENTARIO, DEPOIMENTO, EX SERVIDOR, MINISTERIO DO TRABALHO E EMPREGO (MTE), ACUSAÇÃO, PRESIDENTE, PARTIDO POLITICO, PARTIDO DOS TRABALHADORES (PT), CONHECIMENTO, AQUISIÇÃO, DOCUMENTO, DIFAMAÇÃO, CANDIDATO, PRESIDENTE DA REPUBLICA, GOVERNADOR, ESTADO DE SÃO PAULO (SP), REPRESENTAÇÃO PARTIDARIA, PARTIDO DA SOCIAL DEMOCRACIA BRASILEIRA (PSDB), PARTICIPAÇÃO, CORRUPÇÃO.
- CRITICA, GOVERNO FEDERAL, UTILIZAÇÃO, RECURSOS FINANCEIROS, SETOR PUBLICO, ELABORAÇÃO, MANUAL, ELOGIO, CONTRIBUIÇÃO, PRESIDENTE DA REPUBLICA, MELHORIA, PAIS, SUSPEIÇÃO, EXECUTIVO, INSTALAÇÃO, ESCUTA TELEFONICA, GABINETE DO MINISTRO, SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL (STF), TRIBUNAL SUPERIOR ELEITORAL (TSE), OMISSÃO, CHEFE DE ESTADO, SOLUÇÃO, CRISE, PAIS ESTRANGEIRO, BOLIVIA, CANCELAMENTO, CONTRATO, PETROLEO BRASILEIRO S/A (PETROBRAS).
- COMENTARIO, ARTIGO DE IMPRENSA, JORNAL, O GLOBO, ESTADO DO RIO DE JANEIRO (RJ), QUESTIONAMENTO, GOVERNO FEDERAL, ORIGEM, RECURSOS, AQUISIÇÃO, DOCUMENTO, PROIBIÇÃO, POLICIA FEDERAL, DIVULGAÇÃO, FOTOGRAFIA, DINHEIRO, INTERESSE, PARTIDO POLITICO, PARTIDO DOS TRABALHADORES (PT), DIFAMAÇÃO, POLITICO, AUSENCIA, PRESIDENTE DA REPUBLICA, DEMISSÃO, ASSESSOR.
- CRITICA, DECLARAÇÃO, PRESIDENTE DA REPUBLICA, AMEAÇA, FECHAMENTO, CONGRESSO NACIONAL, QUESTIONAMENTO, DESCONHECIMENTO, PARTICIPAÇÃO, ASSESSOR, AQUISIÇÃO, DOCUMENTO.
- COMENTARIO, ATUAÇÃO, POLICIA FEDERAL, INVESTIGAÇÃO, PERIODICO, ISTOE, ESTADO DE SÃO PAULO (SP), AQUISIÇÃO, DOCUMENTO.
- REGISTRO, IMPORTANCIA, CONSCIENTIZAÇÃO, POPULAÇÃO, VOTO, ELEIÇÕES, NECESSIDADE, SEGUNDO TURNO, VITORIA, PRESIDENTE DA REPUBLICA, PARTIDO POLITICO, PARTIDO DA SOCIAL DEMOCRACIA BRASILEIRA (PSDB).
- CRITICA, CONDUTA, PRESIDENTE DA REPUBLICA, TRAIÇÃO, DEMOCRACIA, PAIS.
O SR. ARTHUR VIRGÍLIO (PSDB - AM. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Muito obrigado, Sr. Presidente.
Antes de mais nada, trago à Casa o que já é de domínio dos leitores do site da Época. O Sr. Osvaldo Bargas, ex-Secretário do Ministério do Trabalho, atual responsável pelo capítulo de Trabalho e Emprego do programa de governo de Lula, anuncia que havia ciência por parte do Sr. Ricardo Berzoini desse infausto caso do suborno que está sendo discutido por uma Nação traumatizada.
Em segundo lugar, Sr. Presidente, eu ressalto - e aqui tirando o chapéu se não houve desonestidade - que já administrei o PSDB. O PT, até pouco tempo atrás Presidente Tasso Jereissati, estava falido. Hoje, já tem dinheiro para suborno. Não tinha dinheiro para pagar a conta de luz. Depois dos eventos “valerianos”, “delubianos”, “pré-delubianos”, ele agora já tem dinheiro para suborno.
Mas, Srªs e Srs. Senadores, é impressionante a capacidade do Presidente Lula e de seu PT de piorar o que já é ruim. A cada dia que passa, eles conseguem cavar mais um pouco, com os próprios pés, o fundo do poço onde se meteram e para onde tentam puxar a tudo e a todos, num abraço de afogados. As más notícias se atropelam num turbilhão sem fim, em que se misturam corrupção, autoritarismo, incompetência, baixaria eleitoral, aparelhamento da máquina pública e métodos não convencionais, para dizer o mínimo - estou sendo diplomático -, de fazer política.
Na semana passada, tivemos a corrupção detectada pelo Tribunal de Contas da União nas cartilhas que o Governo “cedeu” graciosamente ao PT.
Tivemos mais um capítulo da humilhação na Bolívia onde “El compañero” Evo Morales tirou unilateralmente da Petrobras a condição contratual de concessionária de serviço para se transformar em mera prestadora de serviço.
Ontem, foi a notícia de que três Ministros do TSE tiveram seus telefones grampeados, sendo dois deles do Supremo Tribunal Federal. O banditismo que foi levado para dentro do Poder Legislativo - e foi levado a partir do Executivo, com vampiros, mensaleiros, sanguessugas - agora ronda a Suprema Corte do Brasil. E, o que é mais grave, ronda o processo eleitoral em curso, ameaçando contaminar na própria fonte a legitimidade das instituições democráticas. Para culminar, mas não para terminar, receio eu, somos surpreendidos por essa desvairada armação contra os candidatos do PSDB, armação desmascarada não sabemos se por sorte, por incompetência dos autores ou pelo zelo de policiais que não se deixaram instrumentalizar nem se intimidar pela máfia chapa branca - mas nem por isso menos grave nem menos reveladora dos extremos a que chega a delinqüência abraçada como método de ação política pelo Presidente da República, sim, e por seus homens de confiança.
Como num filme classe C, as cenas de horror político se repetem com uma previsibilidade que seria tediosa, se não fosse trágica. Trágica porque o mostro é real, senhores, e a vítima fatal, se não pusermos um paradeiro nisso, será a democracia, que levamos toda uma geração para conquistar.
Para encobrir suas pegadas de lama, o Presidente Lula e seu fiéis recorrem, sistematicamente, a dois artifícios: de um lado “não fui eu”, “eu não sei”, “eu não vi”, por mais inacreditáveis que sejam as negativas; de outro lado, a desculpa de que a roubalheira é geral.
Não compactuamos nem com uma coisa nem com outra. Não somos iguais, já bem disse o Presidente Fernando Henrique. Nem somos idiotas para engolir que homens da copa e cozinha do Presidente, gente que o acompanha desde os remotos tempos de sindicato, gente a quem ele confia a segurança de sua própria esposa, saia por aí com milhões de reais e dólares em dinheiro vivo, para comprar entrevistas, falsos dossiês contra a Oposição, por sua própria conta e risco, sem que o chefe tenha a menor idéia do que se passa.
Leio a conclusão do comentário do jornalista Merval Pereira, em sua coluna, em O Globo de hoje:
Na crise do mensalão, Lula teve de se livrar de toda a cúpula petista e de vários Ministros, entre eles, o seu homem todo poderoso José Dirceu. E hoje ele diz que não sabe porque foi cassado.
Pois foi cassado o Sr. José Dirceu porque foi identificado por seus pares e pelo Procurador-Geral como o chefe da tal organização criminosa que estava montada no Palácio do Planalto.
Ele não foi cassado porque liderou passeata estudantil, ele foi cassado como um dos 40 ladrões da quadrilha do Ali Babá.
Continua Merval:
Hoje, ele tem que se livrar de um segurança e de um churrasqueiro para tentar se desvencilhar de mais um crime político.
Tanto na cúpula petista como no baixo clero do Partido, crimes são tramados e praticados, inclusive, por petistas de sua cota pessoal, sem que Lula saiba. Deve ser o Presidente mais traído do mundo. Pois traição comete o Presidente contra a democracia que possibilitou a sua chegada ao poder, quando banaliza a pratica de crimes para exercer e se manter no poder.
A mesma página de O Globo que estampa a coluna de Merval Pereira enumera 14 perguntas sem resposta sobre armação do dossiê.
1ª) De onde saiu o dinheiro, R$1,7 milhão, para que petistas pagassem o suposto dossiê contra os tucanos Geraldo Alckmin e José Serra?
2ª) Por que a Polícia Federal não permitiu que o dinheiro apreendido fosse fotografado, ao contrário do que havia acontecido em operações similares?
De repente, não se pode fotografar esse dinheiro. No caso Lunus, pôde, assim como em outros casos também. Por que não se pode fotografar o dinheiro dessa falcatrua tão clara, tão deprimente, tão deplorável, porque resume as figuras da prepotência, da corrupção, da sensação de impunidade, do suborno?!
Prossegue O Globo:
3ª) Quem são os outros políticos de partidos contra os quais os donos da Planam, Darci e Luiz Antonio Vedoin, estariam preparando dossiês?
4ª) Quarta: Qual o conteúdo das conversas dos Vedoin que foram grampeadas pela Polícia Federal e que levaram à determinação da prisão deles? Abro aqui um parêntese, Senador Tasso Jereissati, para dizer que essa tal concertación de que falam vai acabar colocando no Ministério de Lula, se ele vencer as eleições, a família Vedoin; pelo menos um membro como ministro de alguma coisa, de “assuntos para soluções heterodoxas”.
5ª) Por que o PT estava tão interessado em atingir um dos adversários do Governo - Serra -, que estava fazendo uma das campanhas mais lights entre os Tucanos?
6ª) Freud Godoy, assessor especial do Presidente Lula no Planalto, disse que foi apresentado ao advogado Gedimar Pereira Passos - o advogado churrasqueiro - preso com R$1,7 milhão como o homem que desarmava bombas ‘para os jornais’ contra a campanha do Presidente. Perguntamos O Globo e eu: que bombas são essas?
7ª) Gedimar Pereira Passos disse ter sido contratado pela Executiva Nacional do PT para comprar o dossiê contra tucanos. Quem foram as pessoas que o contrataram e a mando de quem?”
8ª) Por que os dirigentes do PT negavam que Gedimar fosse ligado ao Partido, quando se soube, ontem, que ele é funcionário do Comitê de Reeleição de Lula?
9ª) Por que um funcionário da Presidência, Freud, ligado diretamente ao Presidente Lula, estava encarregado de ações estritamente partidárias, como cuidar da segurança do comitê de Lula?
Se essa mistura é ilegal, por que o Presidente Lula não a evitou? Ou será que ele não sabia que Freud, além da psicanálise, cuidava da sua segurança pessoal?
10) Por que o principal suspeito do caso, Freud Godoy, pediu afastamento, em vez de ser afastado por seu chefe, o Presidente Lula?”
11ª) Como Lula não sabia de uma ação ilegal praticada por um funcionário tão próximo?
12ª) Por que a empresa de segurança, contratada para fazer a varredura antigrampo do comitê de Lula, era da mulher de Freud? Se é ilegal o secretário particular ter a empresa em seu nome, como pôde colocar a empresa o nome da mulher? É ilegalidade disfarçada, muito comum em prefeiturazinhas do interior e muito pouco comum quando se trata da Presidência da República de um País de imprensa livre como o Brasil.
13ª) Por que Lula disse, no sábado, que quem quisesse fazer bandidagem não o teria como parceiro? Ele já saberia, por acaso, do envolvimento de Freud Godoy, fato só tornado público no domingo? Quem o avisou e quando?” E O Globo esqueceu isto: “Quércia antecipou tudo isso no seu horário gratuito.” Que bom que Serra não aceitou Quércia para ser seu vice! Seria a desmoralização do nosso Partido, seria a derrota de todos juntos: do PT e do Quércia; todos juntos numa caterva só.
14ª) Por que o Ministro da Controladoria-Geral da União, Sr. Jorge Hage - aquele que está lá para fazer qualquer papel que o Governo lhe peça como agradecimento por um Ministério que ele jamais mereceu -, disse, na sexta-feira, que Serra, acusado pelo chefe dos sanguessugas e ainda não ouvido pela PF, estava na mesma situação que o ex-Ministro Humberto Costa, já indiciado?”
É incrível como o fácies do Sr. Jorge Hage está ficando engelhado. A alma está engelhando o fácies do Sr. Jorge Hage. A alma responde pelo fácies. Prestem atenção nisso. A alma vai transformando as pessoas no que elas são. Não adianta operação plástica. Não há Pitanguy que dê jeito nas deformações que a alma provoca no fácies das pessoas.
De minha parte, Srªs e Srs. Senadores, posso acrescentar algumas perguntas para as quais encontro respostas consistentes: a quem aproveita o crime neste caso? Ao Presidente Lula. Interessa a ele uma possível vitória em primeiro turno; interessa a ele evitar uma possível vitória de Serra, no primeiro turno, em São Paulo. E a quem aproveita a banalização da prática do crime? Aproveita, de novo, ao Presidente Lula, para incutir na mente do eleitor que somos todos iguais a ele e aos sequazes da corrupção e da chantagem.
Em seu livro Os Senhores do Crime, Jean Ziegler reproduz uma observação do ex-chefe da contra-espionagem alemã, Eckart Werthebach:
Com o seu gigantesco poder financeiro, a criminalidade organizada influencia secretamente toda a nossa vida econômica, a ordem social, a administração pública e a Justiça. Em certos casos, ela impõe sua lei e seus valores à política. Dessa forma, desaparecem gradualmente a independência da Justiça, a credibilidade da ação política e, afinal, a função protetora do Estado de direito. A corrupção torna-se um fenômeno aceito. O resultado é a progressiva institucionalização do crime organizado. Se essa tendência prosseguir, o Estado logo se tornará incapaz de assegurar os direitos de liberdade civis dos cidadãos.
Para acrescentar, mais uma má notícia à quota da semana: o jornalista Elio Gaspari relatou que, num jantar com empresários, recentemente em Brasília, o Presidente Lula confessou aos presentes seus íntimos desejos para um eventual segundo mandato: “Não acorde o demônio que tem em mim, porque a vontade que dá é a de fechar esse Congresso e fazer o que é preciso”.
Será que fazer o que é preciso é dar ampla liberdade ao Vedoin para a vampiragem, para a sanguessugagem, para o mensalismo, para mais corrupção? Será que é essa a programação ideológica que estaria na cabeça desse Presidente endemoniado?
Diante disso, Sr. Presidente, questiono mais uma vez: onde vamos parar com esse projeto de poder que, de um lado, tem o demônio golpista e autoritário que deseja fechar o Congresso; e, de outro, não nos defende diante da frágil Bolívia; e, ao mesmo tempo, vemos os Ministros do Supremo Tribunal Federal com telefones grampeados? Pergunto eu.
Não admira que investidores locais e estrangeiros se retraiam nessas circunstâncias, cortando o gás para o crescimento saudável da economia brasileira. Onde está a segurança jurídica para investir e produzir? Onde estão as garantias das regras, das leis, dos bons costumes, quando o Presidente da República, seus homens de confiança e seu Partido dão exemplo atrás de exemplo de desprezo pela lei?
O Brasil está perplexo. Ministros da Casa decaíram moralmente; seguranças, que viraram sicários em Santo André, tornaram-se, agora, na nova geração de seguranças, propineiros, achacadores, chantagistas, e a partir do terceiro andar do Palácio do Planalto! Advogados - churrasqueiros, na verdade - são espiões.
O Brasil está ameaçado, suas instituições correm perigo. Reeleger Lula seria salto no escuro. Não diga o Brasil que não o alertamos suficientemente com toda antecedência.
Vou repetir esta frase. Eleição é eleição. Vai dar o que o povo quiser no dia 1º de outubro e, depois dessa eleição, vamos ter de garantir a democracia, se Lula for vitorioso. Não precisaremos dessa preocupação, Senador Sérgio Guerra, se Alckmin for ele próprio o Presidente. Mas vou repetir a frase que está aqui escrita. É sempre boa a advertência que se faz para que depois se possa cotejar sobre o exagero deste orador ou se, na verdade, a advertência cabia. Repito a frase: “Reeleger Lula seria salto no escuro. Não diga o Brasil que não o alertamos com toda antecedência”. Vou repetir mais uma vez: “Reeleger Lula seria salto no escuro. Não diga o Brasil, Senador Leonel Pavan, que não o alertamos com toda antecedência”. Quem viver verá se tal infausto evento se consumar neste País.
Reeleger Lula seria envelhecer o novo mandato já no seu início. Essa é a verdade! Todos já pressentem isso. Processos, desgastes, ingovernabilidade, atribulações, crises e desfecho imprevisível. Elegê-lo equivaleria a avalizar a imoralidade administrativa, a corrupção, o mensalismo, o vampirismo, o golpismo, a incompetência, a chantagem, a prepotência, o suborno.
Sr. Presidente, disse muito bem o Senador Antonio Carlos Magalhães: há petistas decentes em inúmeros casos. Eu não generalizaria, eu não desrespeitaria os petistas, mas está difícil se encontrar, no submundo da política de hoje, algo que não tenha a impressão digital de um petista. Está quase impossível.
Não se pode dizer que o PT de hoje não é um PT capaz. Ele é capaz de tudo, Senador Sérgio Guerra, haja vista o episódio do dossiê. Quando se pensa que chegaram ao limite dos escândalos, lá vêm eles com inovações que fazem corar um monge, quando o mínimo que se pede de um Presidente é que ele saiba se cercar de pessoas que sejam honradas, que tenham compostura pública e que possam aconselhá-lo, pelo bem da Nação.
Eu aqui tenho, Sr. Presidente, um jornal - se não me engano, O Globo -, que traz uma foto interessante de assessores próximos e íntimos. Mas Lula diz que de nada sabia. Então, tem o Presidente da República; logo embaixo, o Sr. Gilberto Carvalho, que já foi bastante acusado. Aí ele vai para a Secretaria Particular, onde, logo ali, tem o Freud Godoy. Eu não quero bancar o psicanalista, mas o aspecto do Freud Godoy é lombrosiano. Ele tem a cara do criminoso nato. É lombrosiano. É só olhar para ele. Está aqui a cara... A cara, não; a face do Freud.
Não quero bancar o Freud eu próprio, o meu nome é Arthur, mas aqui está. Aí, depois, vem uma gente embaixo dele, enfim...
Aquele célebre episódio envolvendo a minha família e que deu naquele exagero verbal meu, nasceu, segundo me disseram - e ficou mal explicado pelas desculpas sempre esfarrapadas do Ministro Márcio Thomaz Bastos -, de um outro sequaz deste Governo, instalado no quarto andar do Palácio do Planalto, que depois se apressou a pedir desculpas quando viu a reação que tive. O que ficou para o povo foi só que eu era um truculento que tinha ameaçado agredir o Presidente, como se agredir meus filhos fosse uma coisa normal.
Há aqui outra figura lombrosiana: Waldomiro Diniz. Depois, tem Roberto Jefferson e suas denúncias; depois, Delúbio Soares. E o Presidente havia dito a Roberto Jefferson que lhe daria um cheque em branco, e, depois, Roberto Jefferson disse o que disse do Governo dele. Vem ainda José Dirceu. Esse foi uma surpresa pessoal para mim. Eu o julgava capaz de tudo pelo poder, mas não de tudo pelo dinheiro. Em seguida, Sílvio Pereira, o do Land Rover; José Genoíno, que acredito piamente que assinou as coisas, não o vejo detentor de fortunas pessoais; e tem Antonio Palocci, que cumpriu um belo papel como Ministro e se envolveu naquele episódio grave do caseiro, infringindo mais gravemente ainda as franquias constitucionais e a privacidade, sobretudo e mais grave ainda, porque a privacidade de um homem humilde.
Apesar da queda permanente de seus colaboradores próximos e íntimos, Lula continua dizendo que não sabia de nada, desafiando a inteligência desta Nação.
A Polícia Federal está investigando um suposto envolvimento da Revista ISTOÉ na operação de compra do dossiê contra o candidato do PSDB ao Governo de São Paulo, José Serra. Os policiais trabalham com a hipótese de a revista ter sido usada numa triangulação na qual pagaria pelo dossiê e, em troca, ganharia a publicação de um caderno de propaganda financiado por uma grande estatal.
Eu não sou ninguém para acusar. Estou apenas registrando, com muita clareza, que, se isso aconteceu, deve ser investigado até o final, porque não pode acontecer, a cada eleição, algo parecido com isso, por revista nenhuma, por jornal qualquer. Democracia não foi feita para garantir esse tipo de atitude.
Aqui temos ainda a oportunidade de garantir a generosidade do Presidente Lula para com os seus. Uma pessoa mais dada a arroubos - e eu não sou de arroubos - chamaria de cúmplices. Eu chamo de seus auxiliares decaídos. Tudo começou com o Waldomiro, que foi exonerado a pedido. Ele não demitiu o Waldomiro, ele não ficou indignado, ele não disse: “Waldomiro, rua!” Ou então: “Dirceu, rua com esse Waldomiro, ponha esse vagabundo para fora deste Governo!” Ele não disse. Esperou o Valdomiro mandar cartinha. Waldomiro se auto-exonerou da função que exercia no quarto andar do Palácio do Planalto. Não foi diferente com o José Dirceu.
No programa para a Globo, outro dia, nessa história do voto...
(O Sr. Presidente faz soar a campainha.)
O SR. ARTHUR VIRGÍLIO (PSDB - AM) - Sr. Presidente, peço prorrogação, porque estou concluindo.
O SR. PRESIDENTE (Leonel Pavan. PSDB - SC) - V. Exª pode continuar com a palavra.
O SR. ARTHUR VIRGÍLIO (PSDB - AM) - Ele disse que havia demitido José Dirceu, como disse que Okamotto pagou as contas e, se pagou, o fez por conta própria. Estamos querendo aqui é ouvir o Okamotto outra vez, porque ele, no mínimo, cometeu crime grave, mentindo perante a CPI.
Mas a grande verdade é que o Presidente não só não demitiu José Dirceu como ainda elogiou José Dirceu. E José Dirceu, que nunca pegou em arma alguma a não ser em faca de cozinha, saudou a companheira de armas dele - esta, sim, pegou em armas; esta cometeu o equívoco histórico de pegar em armas, a Ministra Dilma Rousseff. Mas José Dirceu disse: “Minha companheira de armas...” Foi elogiado, com tapinha nas costas. Foi assim com o Palocci; foi assim com todos. Lula não demitiu ninguém.
Agora, sinceramente, é Freud. Não sei se Freud explica, mas vejo no Diário Oficial da União de hoje que o senhor dos dossiês Freud Godoy também foi exonerado a pedido, o que para os estudiosos da história do futuro próximo ficará patente que, se Freud quisesse, permaneceria nesse desgoverno. Ele saiu porque quis, ele não saiu pela indignação do Presidente traído. Ele saiu, ao contrário, para facilitar a vida do Presidente, que, quem sabe, deu a ele a ordem para que prejudicasse os seus adversários. O crime, qualquer aluno de primeiro ano de Direito sabe disso, praticado por um louco -- eu vou andando na ponte, um louco não me conhece, não tem nenhuma razão para me matar, mas me empurra e eu caio da ponte - acontece, em um milhão, talvez nenhuma vez.
A primeira pergunta que se faz é: a quem interessa o crime? Quem se beneficia do crime? O beneficiário direto do crime é o Presidente Lula e, portanto, é em cima dele que devemos focar os holofotes desse escândalo, que não pode ficar do jeito que está. Não podemos deixar este Congresso fechado. Não podemos deixar este Senado amordaçado. Não podemos deixar a Oposição silenciada, enquanto eles partem para as manobras de minimizar um caso que sinaliza para a clara ameaça às instituições democráticas brasileiras.
Muito bem, Sr. Presidente, aqui está o Diário Oficial - vai tudo para os Anais: Freud não foi demitido. O outro Freud, o verdadeiro, não precisou de emprego público. Graças a Deus para ele.
Não posso, finalmente, Sr. Presidente, deixar de comentar uma foto do jornal Folha de S.Paulo de hoje. Além de figuras já expelidas do Governo Lula pelos seus escândalos, não por Lula, mas pelos escândalos, vemos figuras que sumiram das manchetes dos jornais, pelo menos temporariamente. A foto que vou mostrar aqui é uma foto da Folha, interessantíssima, daquela turma que zanzava competência nos programas, cada um com a sua pastinha. A pastinha devia estar cheia de vento, de...
(Interrupção do som.)
O SR. ARTHUR VIRGÍLIO (PSDB - AM) - Então, aqui está, Senador Heráclito Fortes, o nosso prezado Aloizio Mercadante na primeira fila, ao telefone, descumprindo a lei da Infraero, porque não dá para falar em celular. Em segundo lugar, José Dirceu, atrás. Em terceiro lugar, é o Freud. O Freud não sentava lá atrás, não, o Freud sentava na frente, Senador Jereissati. Ele ia ao Alvorada, tinha gabinete no Alvorada, viajava para São Paulo no jatinho do Presidente, no aerolula, tinha todas as regalias. Aqui está o retrato dele. O Freud está aqui, sorridente. Enfim, iam ganhar as eleições. Atrás dele não sei quem está.
Estou vendo o Palocci com aquele aspecto de um paulista com todo trejeito do paulista interiorano. Está de cabeça baixa. Tem o Presidente Lula lendo, que é uma coisa rara, porque nunca vi uma foto do Presidente Lula lendo. Essa é uma coisa rara. Esta foto é histórica. Esta foto é histórica porque mostra o Presidente Lula lendo. Lula lendo! Não é Lula-lá, é Lula lendo. Está aqui a foto. Não diga que não é verdade, Senador. Aqui está a foto: ele está lendo. Não sei o quê. Não sei se é gibi porque não aparece. Ele está lendo, atento, com óculos. Ao lado dele tem uma senhora. Na frente dele está aquele Bob Marques, que foi identificado como um dos possíveis saqueadores naquele episodio do valerioduto, no Banco Rural. Está aqui o Bob Marques. Era essa gente que passava competência naqueles programas do PT, engodando o povo, como estão tentando engodar o povo outra vez, às vésperas de uma eleição.
Não está em jogo a eleição, Sr. Presidente. Vou encerrar o meu pronunciamento. Está em jogo se temos apego à democracia ou não. Está em jogo se é normal ou não comprar dossiê. Está em jogo se é normal ou não alguém procurar fazer algo para vencer uma eleição no primeiro turno que já estava favorável a ele. Ainda assim, querendo ganhar a eleição no primeiro turno, ele autorizou essa maluquice. Querendo virar uma eleição impossível em São Paulo, ele autorizou essa maluquice e mandou o Freud fazer isso.
Para mim, só Freud explica, porque me parece um acesso continuado de delinqüência alguém dizer: “Apesar de a situação estar boa para mim no plano federal e estar péssima para o meu pessoal no plano estadual de São Paulo, ainda assim” - e Freud explica; não o delinqüente, mas o pai da Psicanálise -, “eu vou tentar”, como o Marcola e o Fernandinho Beira-Mar tentam, porque é da alma e do cerne de certas pessoas, é do coração de certas pessoas agirem assim.
O Sr. Tasso Jereissati (PSDB - CE) - Permite-me V. Exª um aparte?
O SR. ARTHUR VIRGÍLIO (PSDB - AM) - Ouço V. Exª com prazer.
O Sr. Tasso Jereissati (PSDB - CE) - Senador Arthur Virgílio, V. Exª faz uma série de considerações: se é normal comprar suborno ou não, subornar os outros. O mais grave - e é o que eu quero voltar a repetir - é: comprar com que dinheiro? Esse dinheiro em moeda - não sei, dessa vez, onde estava -, até palavra em contrário ou que não se explica, é roubado .
O SR. ARTHUR VIRGÍLIO (PSDB - AM) - O seu, o nosso, o meu.
O Sr. Tasso Jereissati (PSDB - CE) - É dinheiro roubado. Qualquer cidadão apanhado com R$1,7 milhão em dinheiro vivo, sem origem, está com dinheiro roubado. Tratando-se de um membro do Governo, todos os indícios levam a crer que é dinheiro roubado do Governo. Essa é a grande questão. Existe uma série de pecados ao redor disso, mas o cerne é: esse dinheiro é roubado. Tem de se explicar e provar agora que não o é. Ele está registrado em alguma campanha? Foi sacado de algum banco? Cadê o cheque? Onde está o resgate? Onde está a comprovação de depósito? Onde está o registro na campanha? Caso contrário, é dinheiro roubado. Não podemos mais aceitar isso. Dinheiro roubado por quem? Pelo Freud? Pelo Gedimar? Pelo churrasqueiro do Lula? Por quem? Como e de onde roubaram? Essa é a questão fundamental da qual não podemos mais sair nem um minuto. Enquanto não houver explicação clara a respeito desse dinheiro, não podemos nos calar nesta Casa. Está em jogo a moral da Nação, a saúde, como V. Exª disse, da alma da Nação. A Nação não pode ficar conformada, assistindo a que dinheiro roubado seja usado pelo Governo, pelo Partido do Governo, pelo segurança do Presidente, pelo churrasqueiro do Presidente. Esse é o ponto fundamental que temos de tratar todos os dias até que isso seja esclarecido com transparência. Essa é a questão.
O SR. ARTHUR VIRGÍLIO (PSDB - AM) - Senador Tasso Jereissati, completo dizendo duas coisas. Sr. Presidente, e aí eu encerro mesmo: provavelmente, o dinheiro é roubado, como dizia o Armínio Fraga, é o seu , o meu, o nosso dinheirinho. Provavelmente. Mas, ainda que não fosse dinheiro roubado, ainda que fosse dado à campanha de Lula pelo dono da fábrica de “rebimbela da parafuseta”, ele não poderia estar no bolso do Freud. Ele não poderia estar no bolso do Lacan. Ele não poderia estar no bolso de psicanalista nenhum. Ele não poderia estar no bolso de ninguém. Ele não poderia se destinar ao suborno. Ele não poderia se destinar à compra de dossiê. Ele não poderia se destinar à mancomunação com essa figura doentia de vedoins e companhias limitadas.
Eu encerro, Sr. Presidente, chamando a atenção da Casa - eu sei que falarão os líderes do Governo. Estou aqui para ouvi-los - para o fato de que, em 1961, todo mundo que tinha coragem de falar falou. Meu pai, que tinha coragem, falou contra o golpe que se implantava contra João Goulart. Houve quem botou o rabo entre as pernas. Meu pai falou. Agora, houve quem era do outro lado, que supostamente se beneficiaria do golpe e silenciou, silenciou o Congresso, silenciou o País, fazendo uma defesa candente do direito constitucional de posse que tinha o Sr. João Goulart. Eu me refiro, por exemplo, ao falecido Deputado Jurista Ministro Adauto Lúcio Cardoso. Eu quero que esse espírito seja incorporado pelos líderes do governo. Eu já vi gente responsável do PT em jornal dizendo que isso é uma brincadeira de mau gosto.
Quer dizer, o PT, antigamente, brincava de fazer festinha, bingo, para arranjar dinheiro para campanha. Agora, a brincadeira do PT é de R$1,8? Quero chamar a atenção para algo muito sério: está no horizonte uma crise institucional. Está em jogo a democracia brasileira. Essa gente, tomando umas e outras ou não, não gosta de democracia, incomoda-se com o Congresso e grampeia o Judiciário. Essa gente se incomoda com a democracia. Essa gente tem de ser detida! Essa gente deve ser detida de preferência pelo povo. Eu faço de novo o alerta à Nação brasileira. Ainda é tempo de refletirmos. Não tem nada de deixar o Sr. Lula ganhar em primeiro turno. Vamos fazer o segundo turno para chamar a atenção do povo com mais dados. Vamos meditar mais! Se depois o povo quiser cometer esse deslize histórico, e o povo tem o direito de cometer quaisquer delitos históricos, porque é da sua vida, é do seu passo civilizatório ele errar e acertar na direção da construção da sua história, não estou aqui para discriminar o povo, que o povo faça no segundo turno, mas que o povo não dê aval agora a quem é chefe do Freud, para quem é freudiano, do ponto de vista da Psicanálise, ao insistir em manter delinqüentes ao seu lado! Seria prematuro, seria uma temeridade imaginar que é lógico deixar o desfecho da eleição acontecer agora. Um mês a mais, vinte dias a mais para meditação talvez traga à luz muita coisa, porque não estou temendo pela eleição do fulano ou do beltrano. Eleição, para mim, é normal, eu ganho ou perco. Aceito tudo aquilo que o povo diz a meu respeito e diz a respeito de qualquer um. Não me curvo perante os poderosos. Eu me curvo perante a decisão popular, mas chamo a atenção, Senador Heráclito Fortes: as instituições brasileiras estão ameaçadas. Nós temos gente que conspira contra a democracia, gente que gosta do modelo chavista, gente que, quando puder e se puder, desfechará golpe contra a democracia tal qual nós a concebemos.
Eu vim de Manaus, tresnoitado, interrompendo a minha campanha, que é dura, até porque não há povo mais iludido com o Lula do que o do Amazonas. Não importa. Eu vou aguardar o resultado de maneira altaneira, de cabeça erguida. Não tem nada que baixe a minha cabeça.
Outro dia, estavam lá com a Operação Saúva e eu vi... Aliás, dessa vez, não vi ninguém algemado. Não algemaram o Freud. Não houve escândalo com o Freud. O Freud foi tratado como se ele fosse o próprio Freud da Psicanálise.
Outro dia, eu desço do avião e encontro lá um gigante da Polícia Federal esperando... O homem, Senador Antonio Carlos, era deste tamanho, era um guarda-roupa. Essa foi a vez que eu mais me bendisse de não ser ladrão. Eu falei: graças a Deus que não sou ladrão. Ele está esperando outra pessoa. Aí veio outra pessoa e teve o dissabor de ser preso por aquele animal, desse tamanho e dessa largura!
Eu não vi nada disso dessa vez. A polícia republicana do Sr. Márcio Thomaz Bastos tem funcionado seletivamente. Ele está humilhando a Polícia Federal. Era hora de se pegar esse meliante do Freud, este que é da Psicanálise sim, mas como paciente e não como autor dessa que é uma ciência que a todos nós serve. Nós temos de saber a origem do dinheiro e temos de saber isso pela via da própria Polícia Federal. Ou é hora do Sr. Márcio pedir boné; é hora do Sr. Freud ser mesmo inquirido; é hora do Sr. Lula vir à Nação e confessar que o que falta a ele não é nem estofo intelectual. O que falta a ele mesmo é estofo moral para dirigir este País.
Muito obrigado.
Era o que eu tinha a dizer.