Discurso durante a 153ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

Análise sobre a crise política e ética do governo Lula. (como Líder)

Autor
Sergio Guerra (PSDB - Partido da Social Democracia Brasileira/PE)
Nome completo: Severino Sérgio Estelita Guerra
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
ELEIÇÕES. COMISSÃO PARLAMENTAR DE INQUERITO (CPI), AMBULANCIA.:
  • Análise sobre a crise política e ética do governo Lula. (como Líder)
Aparteantes
Arthur Virgílio, Sibá Machado.
Publicação
Publicação no DSF de 20/09/2006 - Página 29294
Assunto
Outros > ELEIÇÕES. COMISSÃO PARLAMENTAR DE INQUERITO (CPI), AMBULANCIA.
Indexação
  • ANALISE, HISTORIA, SITUAÇÃO, POLITICA, BRASIL, REGISTRO, DISTRIBUIÇÃO DE RENDA, AUSENCIA, ALTERAÇÃO, FORMA, VIDA, POVO, GESTÃO, LUIZ INACIO LULA DA SILVA, PRESIDENTE DA REPUBLICA, CRITICA, POLITICA MONETARIA, FALTA, REFORMA TRIBUTARIA, INVESTIMENTO, INFRAESTRUTURA.
  • REGISTRO, GRAVIDADE, CRISE, ETICA, POLITICA NACIONAL, ELOGIO, VIDA PUBLICA, CAMPANHA ELEITORAL, CANDIDATO, PRESIDENCIA DA REPUBLICA, PARTIDO POLITICO, PARTIDO DA SOCIAL DEMOCRACIA BRASILEIRA (PSDB), CRITICA, REPRESENTAÇÃO PARTIDARIA, PARTIDO DOS TRABALHADORES (PT), AQUISIÇÃO, DOCUMENTO, TENTATIVA, DIFAMAÇÃO, GOVERNADOR, ESTADO DE SÃO PAULO (SP), GARANTIA, REELEIÇÃO, PRESIDENTE DA REPUBLICA.
  • ACUSAÇÃO, PRESIDENTE, PARTIDO POLITICO, PARTIDO DOS TRABALHADORES (PT), PARTICIPAÇÃO, AQUISIÇÃO, DOCUMENTO, CRITICA, TENTATIVA, ISENÇÃO, PRESIDENTE DA REPUBLICA, CORRUPÇÃO, REGISTRO, FALTA, CONFIANÇA, POPULAÇÃO, ATUAÇÃO, POLITICO.

O SR. SÉRGIO GUERRA (PSDB - PE. Pela Liderança da Minoria. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, tenho, como todos hoje, o dever de falar sobre fatos que se impõem aos brasileiros.

A história dos últimos anos tem sido a repetição de um processo. Do lado econômico, o Governo desenvolve uma ação para sustentar na pobreza amplos setores que estavam, continuam e continuarão na pobreza. Nada de mudança, nada de esquerda, nada disso!

Sindicatos de dezenas e dezenas de Municípios do sertão do Nordeste, em vez de fazerem greve e organizarem o povo, estão cuidando de “distribuir renda”. Viraram agências públicas. O caminho pode ser uma ONG dessas da vida, mas viraram agências públicas para criar uma situação de estagnação.

As feiras livres, do povo, em vez de crescerem, diminuem, porque o povo não produz. Os programas são bons para o povo a curto prazo, mas, à medida que não implicam reciprocidade, não mudam a vida do povo.

O segundo componente dessa política é uma ortodoxia conhecida e reconhecida de política monetária, nada transformadora.

Do ponto de vista político, em vez de fazer a reforma política, o Governo fez o mensalão e não mexeu na reforma tributária. Na área de infra-estrutura, não fez coisa alguma, a não ser anunciar projetos.

Há uma ferrovia sendo construída no Nordeste - o Presidente já a inaugurou. Conheço o assunto totalmente, e a grande verdade é que não há nem projeto para fazer a ferrovia, pois ele só estará pronto o ano que vem. É o predomínio total da mentira e da publicidade.

Mais grave do que esses erros, essa realidade a que me refiro, é a crise política e ética que foi se formando ao longo do Governo do Presidente Lula, todas com o mesmo conteúdo, e a forma começa a ser a mesma. Denúncias são feitas e terminam sendo canalizadas para personalidades do próprio Governo, de preferência personalidades do Congresso. Se não há chance de atribuir ampla responsabilidade a um mensaleiro desses, então vamos dar responsabilidade a homens do Partido.

Conheço José Genoino desde os meus tempos de PSB, desde o tempo em que era Deputado Estadual em Pernambuco e Líder da Oposição no Estado.

Não tenho a menor dúvida de que José Genoíno não é desonesto, disse aqui, na CPMI, quando a questão José Genoíno foi tratada. Não tenho nenhuma dúvida disso. Não o relaciono nesse campo dos desonestos. Concordar com o que ele fez ou o que fizeram em nome dele, jamais. Aceitar isso, também não. Mas ele pagou um pedaço da conta em um determinado momento. Como outros foram pagando essa conta, pelas evidências, primeiro, e por outra tática muito mais sofisticada. Vamos entregar esses; depois, vamos trazê-los de volta. Vamos deixar com eles a conta, porque o Presidente não sabe disso, nada tem a ver com isso.

O Presidente é um grande estadista, homenageado no mundo inteiro. Faz o Brasil crescer - todos nós sabemos que o Brasil não está crescendo - e faz a distribuição de renda - a grande verdade é que todos os índices que apontam na direção de uma verdadeira distribuição de renda estão sendo tecnicamente questionados. O Presidente do Brasil fez um grande progresso nas exportações, de um lado, à custa de safras que vinham de antes, e abate, agora, por um câmbio perverso, a produção, seja a produção agrícola seja a produção industrial, em setores como têxtil e de calçados, que estão fechando, exportando seus empregos até para a Argentina.

Esses são os fatos. Fora disso, é fantasia.

Começamos uma campanha para Presidente da República. No que diz respeito a nós, da campanha do candidato Geraldo Alckmin, ninguém tem autoridade para nos acusar de práticas desleais, nem mesmo para afirmar que fizemos uma campanha pessoal agressiva. Nada disso. Fizemos, estamos fazendo e vamos continuar a fazer uma campanha propositiva. Todos os dados de avaliação qualitativa afirmam que o nosso candidato a Presidente é um homem sério, responsável, competente e absolutamente íntegro, com muitos anos de vida pública e nenhuma acusação relevante sobre a sua capacidade de fazer gestão, e fazê-lo com honestidade e critério. Trabalhamos nesta eleição sem qualquer forma de planejamento para destruir o adversário, desconstruir o Presidente. Não foi esse o nosso objetivo. Cuidamos de construir o nosso candidato.

De repente, somos surpreendidos por fatos que estão nos jornais e que nós não inventamos. Não pesquisamos. Não temos especialistas para isso. Tudo faz parte de uma determinada armação. De repente, uma entrevista em uma revista brasileira, de alguém em cuja palavra ninguém presta mais atenção. Depois da entrevista, que foi editada rapidamente, havia todo um planejamento para transformá-la em um processo que impedisse a eleição, no primeiro turno, do candidato José Serra.

Foram surpreendidos, completamente surpreendidos, pela investigação da Polícia Federal, que pode ter um comando equivocado, mas tem méritos. Não reconhecê-los é querer tapar o Sol com a peneira. Eu tenho convicção que de há elementos na Polícia Federal, e a própria instituição procura acertar e trabalha com esse objetivo.

Penso que o Governo do Presidente Lula se apropria das ações da Polícia Federal toda vez que é acusado de corrupção. Quando alguém critica a política econômica do Presidente Lula, ele se pendura no Bolsa-Família ou em aspectos da infra-estrutura, sejam lá quais forem os mais relevantes aspectos da base econômica que podem produzir uma situação de sustentabilidade. Quando alguém acusa o Governo de corrupção, ele vai buscar a Polícia Federal e as suas ações, exploradas de forma publicitária.

Mas como todo sistema tem um erro, eis que, de repente, um erro se dá. E é um erro muito grave. Dinheiro - R$1,7 milhão -, como todos falaram aqui hoje. Mais uma vez dinheiro, mais uma vez uma mala, mais uma vez dólares, mais uma vez dinheiro sem origem, negociações, conversas, gente do Presidente, da intimidade dele, da sua família, envolvida, assessores envolvidos, intenções políticas mais do que claras: evitar a vitória de José Serra e levar o Presidente Lula para a vitória, no primeiro turno.

Há dados que nos conduzem ao segundo turno, com segurança. Há um movimento de transferência de votos, que as pesquisas diárias apontam e indicam como tendência, que se vai confirmando e vai se agravando, no bom sentido. Nunca duvidamos do segundo turno. Temos a convicção de que vamos chegar lá. Tanto o Governo não tinha dúvida sobre o fato de que não precisava fazer grande esforço e que tinha garantida a vitória, no primeiro turno, que essa operação foi lançada, essa que está no ar e sendo discutida. Há muita coisa estranha nisso tudo.

Hoje, um amigo que entende desses assuntos - eu entendo muito pouco - me faz uma advertência, que vou ler:

O grave, agora, é que um funcionário público, íntimo do Presidente, é apontado como mandante da compra de informações falsas por filiado do PT, preso junto com o parceiro com cerca de R$2 milhões e dólares, que ninguém sabe, ou melhor, que ninguém confessa de onde saíram.

E a advertência final:

“Não se deve, por outro lado, deixar de considerar a hipótese de estar havendo a tentativa de despiste para esconder algo ainda mais grave”. O preso, que parece ser pessoa experiente, entregou com muita facilidade o seu contato. Por quê? Por que tanta facilidade, tanta presteza em entregar o seu contato? Petista, experiente, trabalha no ramo, e não precisou ter cuidado para entregar gente da intimidade do Presidente.

E vai aqui uma previsão: vão entregar mais gente. Vão entregar mais gente, e gente importante. E sabem para quê? Para tirar o foco de cima do Presidente da República, que, por sinal, viajou, como se nada tivesse com isso, como se toda a sua ação e toda a sua responsabilidade se resumissem num telefonema a um assessor completamente atolado na sujeira.

José Genoíno não é mais presidente do PT, mas não tenham dúvida alguma de que o atual presidente do PT tem as mãos sujas nesse episódio. Nenhuma dúvida.

Não venham agora entregar falsos responsáveis, para vitimá-los provisoriamente e, no final, recebê-los, como receberam todos os que entregaram antes, de portas abertas.

A responsabilidade é do Planalto e do Presidente. Completa, total. Esse mesmo Presidente, há uma semana, jantando com empresários, disse - muitos ouviram, e ouvi de muitos - que se o Congresso criasse muita dificuldade, o diabo que estava dentro dele podia se expandir, e ele podia fechar o Congresso. Nada fora do seu conteúdo, da forma como ele discursa e da sua atuação prática do ponto de vista político. Nenhum respeito pelas instituições, nenhum respeito pelo Congresso, nenhum respeito pela verdade. Tudo é um processo com vistas à manutenção do poder, por meios que um certo sindicalismo precário estruturou de maneira quase histórica ou anti-histórica, mas comum e habitual.

Essa promiscuidade, essa troca de interesses, essa falta de respeito às regras públicas, essa intimidade que não separa o privado do público fizeram reproduzir neste Congresso milhares e milhares de ONGs que precisam ser auditadas. Bem mais que um bilhão foi transferido para instituições privadas, muitas das quais a serviço do Governo e de políticos do Governo.

Sabem de quem é o escândalo do Orçamento de agora, que é muito maior que o de antes? É do Governo. É de quem aprovou emenda nas Comissões para dividir entre candidatos deste Governo a Governos Estaduais - e eu sei de muitos -, sem nenhuma autorização, sem nenhum respeito, sem nenhuma legitimidade.

Defender isso? Não gostaria de ouvir ninguém defendendo. Não dá para defendê-lo. É verdade. Não é invenção. Eu, pessoalmente, gostaria que não fosse verdade. Nunca foi da minha cultura ter atitude agressiva. Sempre procurei, no meu modesto limite de Parlamentar, não atingir o Presidente, não por ele, mas por sua história e pelo papel e responsabilidade que tem como Presidente, quer queiramos, quer não.

Mas não é isso o que pode prevalecer. Existe uma imensa campanha de compra de votos. Em Pernambuco, Prefeito está sendo comprado com dinheiro público e não é dinheiro de emenda, não. Deputados que nunca foram votados em Municípios passaram a ser votados, em troca de 10 milhões, 20 milhões dos cofres públicos. Aonde vamos? Aonde isso nos vai levar? Aonde isso nos vai conduzir?

Não há outro caminho: é enfrentar a situação com total transparência e fiscalizar tudo; não aceitar pretensas desculpas de dizer que vai enfrentar o povo ou a Oposição, porque faz pelo povo. Não é essa a verdade. Este continua a ser o Governo e o País dos muito privilegiados, que são poucos, que continuam a ganhar muito mais do que deviam. Não há nisso nenhuma justiça, nem equilíbrio. Operações estão sendo feitas na Petrobrás para grandes empresas e muitas delas vão aparecer já, já. Obras estão sendo prometidas, fábricas estão sendo previstas, e isso tudo é feito com a cumplicidade palaciana.

Essa malinha de um milhão e setecentos mil é apenas um sinal de um processo gravíssimo de desestruturação do Brasil, para implantação de um governo autoritário, de um Presidente que não honrou sua vida pública, não honrou a vida dos trabalhadores brasileiros. Eu próprio votei nele muitas vezes e fiz sua campanha convencido de que deveria fazê-la.

Mas não dá para segurar isso, não é justo segurar isso. Não se pode desconsiderar a opinião de um país, seu passado, suas raízes, muitas delas hoje recuperadas aqui na palavra do Líder Arthur Virgílio, quando citou, entre outros, Adauto Lúcio Cardoso.

Somos um país, temos vergonha. E isso não pode continuar, não pode ter esse negócio de parente do Presidente envolvido em tudo, de gente da intimidade do Presidente envolvido nessas coisas.

A cara do tal do Freud é muito mais do que uma fotografia, é uma impressão digital de criminoso. Aquele que falou na televisão, com aquela convicção elementar dos que não falam a verdade, aquele ali não dá para julgar porque é julgado por ele mesmo, por qualquer pessoa sensata e sóbria. Chega de delúbios! Chega de freuds!

Não me venham, agora, entregar alguém para pagar essa conta, porque essa conta é do Presidente. Sabemos disso. O Brasil crescentemente vai saber disso, e é bom que saiba logo, para que tenha um ato responsável no dia 3 de outubro e para que o Brasil caminhe noutra direção.

Ouço o Senador Sibá Machado.

O Sr. Sibá Machado (Bloco/PT - AC) - Senador Sérgio Guerra, tinha me postado aqui, na tarde de hoje, com a intenção de só me pronunciar quando assumisse, por direito, a tribuna do Senado. Mas, neste momento, gostaria de fazer algumas considerações ao pronunciamento de V. Exª e a outros que ouvi na tarde de hoje. Temos, neste momento, que ordenar os fatos e dar a eles a relevância que cada um merece. Mas também devo admitir que estamos assistindo aqui a um debate pré-eleitoral, no qual, por direito democrático, cabe sim ao PSDB e ao PFL fazer a oposição que achar melhor e mais consistente. Contudo, a forma com que se reportam ao Presidente Lula, acho até que foge do debate político, foge inclusive da disputa eleitoral e entra por um caminho contra o qual tenho aqui que protestar.

V. Exª há de convir que, na maneira como é citado o Presidente Lula nesta Casa, durante os três anos e meio que estou aqui, há uma forte dose até de preconceito. Tenho feito pronunciamentos no meu Estado, pois estou em campanha eleitoral. Tenho me reportado muito bem a personalidades públicas do Brasil, especialmente daquelas que dirigiram o País. Faço aqui uma ressalva em relação à inteligência, ao conhecimento e a escolaridade do Presidente Fernando Henrique Cardoso comparados à inteligência, escolaridade e convencimento do Presidente Lula. Eu separo exatamente uma coisa da outra porque, para mim, a inteligência está acima inclusive da escolaridade. Não se misturam. É possível ter pessoa com qualquer escolaridade e muita inteligência, e vice-versa. No momento em que eu puder falar, quero abordar propriamente o assunto que me trouxe hoje a esta Casa. Mas vejo muito claramente duas coisas, que são atuais: uma, o episódio existe, está posto, está dito e divulgado. Há a possibilidade real de haver pessoas filiadas ao PT participando do episódio; a outra, o fato real do uso da matéria com interesses eleitorais. Esses são os fatos. Se havia petistas interessados em disputas eleitorais ou se o assunto está sendo tratado hoje dessa maneira, digo a V. Exª, com toda a segurança, que quero aqui, mais uma vez, aplaudir a forma com que a Polícia Federal está tratando do assunto. Aquele órgão não está fazendo pirotecnia, não está fazendo “oba, oba” e vai nos entregar, com certeza, relatório de uma investigação concisa, precisa e direta.

Neste momento, espero que as pessoas, quaisquer que sejam os nomes vinculados, paguem com todo o rigor da lei pelos atos praticados. O Presidente da República já mostrou por todas as vezes que não participa desse tipo de artifício para ganhar uma eleição. Participou de eleição em 89, 94, 98; ganhou a eleição em 2002. Na eleição de 1998, quando foi oferecido a ele também o tal do Dossiê Cayman, mas Sua Excelência recusou terminantemente usar de artifício, sendo ou não verdadeiro aquele dossiê. Não se pode usar esses métodos para tentar uma eleição nem no menor Município brasileiro. Portanto, peço a V. Exª que separemos os fatos, para não entrarmos no campo da paixão.

O SR. SÉRGIO GUERRA (PSDB - PE) - Primeiramente, quero dizer que tenho consideração pessoal pelo Senador Sibá, bem como pelo Senador Saturnino. São pessoas públicas respeitáveis.

Em segundo lugar, não estamos vitimando o Presidente da República. Não somos nós que estamos vitimando o Presidente da República. Se vítima ele é, é dos seus aliados, da base que ele construiu, dos Partidos que ele aumentou por defecção dos outros Partidos e que fizeram a coligação da crise na Câmara; dos delúbios da vida, dos josé dirceus. Esses é que produziram esse grande constrangimento ao Presidente. E o Presidente faz questão de dizer que não tinha nada a ver com isso.

Não fomos nós. Não temos nada a ver com esse episódio. Esse episódio foi inventado, desenvolvido, denunciado no contexto do Presidente Lula e dos seus aliados.

Também não dá para acusar nossa campanha e o PSDB de práticas que vitimam o Presidente.

Veja a nossa campanha todo dia, ela está disponível para milhões de brasileiros. Ouvimos diariamente reclamações por falta de uma atitude mais agressiva até de aliados bem intencionados. Não é esse o nosso padrão nem a nossa forma de trabalhar.

Não tivemos ação para fiscalizar a campanha dos outros - um jornalista me perguntou há pouco tempo. Não montamos um aparelho para fiscalizar e estabelecer novas denúncias. Elas já estão aí, todas com origem em depoimentos e em acusações no contexto da aliança do Governo. Não é essa a nossa prática. Nós temos realmente a preocupação de fazer com que a nossa campanha seja segura, blindada, segundo as regras legais, sem dinheiro extralegal a fim de que possamos segurá-la em qualquer condição.

A tentativa de passar a idéia de que todos são iguais é desonesta e eu nunca pratiquei, mas está sendo franca e fartamente praticada. Esse procedimento pode até favorecer eventualmente alguém, porém destrói o próprio conceito das instituições e da democracia porque, evidentemente, há muita gente séria e que não está contaminada por essa prática no PT e em todos os partidos - não em todos, mas naqueles que deveriam continuar a existir porque o povo vai reconhecê-los, inclusive o Partido dos Trabalhadores. No entanto, não é possível, agora, encontrar alguém e dizer que, mais uma vez, o Presidente não sabia nada, que não tem nada que ver com isso ou que é um santo.

Há muitos anos, no Rio de Janeiro, usou-se uma expressão - que não sei se é feliz ou não. Veio do General Golbery do Couto e Silva contra Carlos Lacerda: “o anjo da rua Conde Laje”.

A rua Conde Lage era uma rua suspeita. O General Golbery foi acusado por Lacerda de ser o “anjo da rua Conde Lage”.

O Sr. Arthur Virgílio (PSDB - AM) - Senador Sérgio Guerra, foi Carlos Lacerda acusando Castelo Branco.

O SR. SÉRGIO GUERRA (PSDB - PE) - Castelo ou Golbery. Não sei ao certo.

O Sr. Arthur Virgílio (PSDB - AM) - Castelo Branco.

O SR. SÉRGIO GUERRA (PSDB - PE) - Lembro-me bem desse comentário.

O Sr. Arthur Virgílio (PSDB - AM) - Anjo da rua Conde Lage era aquele que via tudo. Ele só não participava, mas via tudinho o que acontecia naqueles encontros da rua Conde Lage, uma rua marcada por casa de tolerância, ou seja, de prostituição.

O SR. SÉRGIO GUERRA (PSDB - PE) - Enfim, não somos nós que estamos promovendo essa acusação. Não somos nós que estamos vitimando o Presidente Lula. Não conhecemos esse pessoal. Não temos nada a ver com ele. Na nossa campanha, nem cuidamos disso.

Estamos cuidando de colocar nosso candidato na televisão todos os dias para dizer o que ele quer, o que pensa fazer, o que já fez. É isso o que fazemos. Não provocamos essas denúncias nem nos exultamos com elas. Ao contrário, isto deve ser motivo de preocupação: um País, um grande Partido, um Presidente da República e uma crise dessa a dez dias de uma eleição não foram inventados por nós, mas contra nós.

O Sr. Arthur Virgílio (PSDB - AM) - V. Exª me permite um aparte?

O SR. SÉRGIO GUERRA (PSDB - PE) - Ouço o Senador Arthur Virgílio.

O Sr. Arthur Virgílio (PSDB - AM) - V. Exª tem razão. Há aí uma diferença de métodos que já mostra a gênese de cada grupo, de cada um. Nós não tratamos disso. Já fomos vítimas, certa vez, do dossiê Cayman, e agora íamos ser vítimas do dossiê Vedoin. Estamos vendo as impressões digitais das figuras mais próximas, que possam ser próximas do Presidente da República, que sai e, de novo, vai dizer que não sabe de nada.

E está contando - a meu ver, despudoradamente... O cálculo é o seguinte: está muito perto a eleição e, portanto, está muito longe isso render o máximo de desgaste para mim, Lula. O raciocínio é esse. É o marqueteiro do lado,... Estão trabalhando com números e pensam que quaisquer 5% podem garantir o segundo turno. O segundo turno é de sabedoria, porque o povo vai ter mais de vinte dias para pensar, para meditar e não faz mal. Por que dar no primeiro turno? Se tiver que dar, por que não resolve no segundo turno, enfim? Mas eu quero entrar no seu discurso com um dado de ontem da Folha News porque as coisas estão ficando complicadas: “Berzoini diz que o PT pode estar sendo vítima de armação”. Nota das 21 horas e 28 minutos de ontem da Folha News. Então aqui vem toda aquela ideologia de que poderia ser, quem sabe, a Oposição armando para criar um factóide. Em seguida vem o esclarecimento que está no site da Época que incrimina diretamente o Sr. Berzoini. Ou seja, como não são 21 horas e 28 minutos, não durou 24 horas a farsa. Então o Sr. Berzoini vai ter que se explicar mesmo. Nós estamos vendo que está a cada dia mais difícil dizerem que não há envolvimento presidencial nisso, até porque - eu disse da tribuna ainda há pouco - eu posso estar andando na ponte, passeando na ponte, e um louco que acabou de brigar com a mulher ou acabou de perder o emprego pode me empurrar e eu morrer. É possível. Estatisticamente, em dez milhões de pessoas que cruzem comigo é possível que eu encontre um louco desses. Agora, no normal, nos outros casos que não são do louco, a primeira pergunta que aprende a responder um estudante de Direito é: a quem interessa o crime? Quem se beneficia do crime?

Ou seja, quem lucra com o crime? Quem se sai bem se acontecer direitinho o prejuízo que queriam dar ao Sr. Serra ou ao Sr. Alckmin? Para mim, está tão óbvio, tão nítido, tão claro, tão transparente o discurso sereno de V. Exª, mantendo o respeito por seus adversários, mas sendo muito duro com o Presidente da República, que, pura e simplesmente, é o caso de se estabelecer outro patamar de discussão aqui. V. Exª diz ao Senador Sibá e ao Senador Saturnino que gosta dos dois, que estima dos dois, como eu estimo os dois, como tenho uma relação fraterna com o Senador Sibá. Estou falando do Lula, estou falando do beneficiário dessa podridão toda. Não estou falando mais de sicários em volta de terceiros, quartos ou quintos interessados. Estou falando do primeiro interessado, estou falando de quem ganha diretamente. Quem ganha é Lula. Então tem de ser feita uma investigação em torno disso. É por isso que esta sessão de hoje promete. Parabéns a V. Exª pelo discurso equilibrado e correto.

O SR. SÉRGIO GUERRA (PSDB - ES) - Sr. Presidente, essa discussão deve prosperar com tranqüilidade e objetividade. Não tenho dúvida, e já afirmei isto, que as mãos do Presidente do PT estão sujas, mas tenho certeza de que os braços que seguram essas mãos não são os dele; braços mais poderosos do que os dele seguram essas mãos. E tenho a impressão que o melhor para a democracia é que isso tudo seja breve, rápida e imediatamente esclarecido.

Não há como recusar duas perguntas, uma do Senador Arthur Virgílio: a quem interessaria o depoimento, a denúncia do Sr. Vedoin contra José Serra e talvez contra Geraldo Alckmin? Interessaria a quem? Segundo, e esse dinheiro? Por que não se fala dele? Onde ele anda? Qual a sua origem? Eu não estou falando de R$10,00 nem de R$20,00; estou falando de R$1,7 milhão. Isso não cai do céu.

O Sr. Arthur Virgílio (PSDB - AM) - Senador, permita-me? É importante o que vou dizer.

O SR. SÉRGIO GUERRA (PSDB - PE) - Senador Arthur Virgílio.

O Sr. Arthur Virgílio (PSDB - AM) - Acabo de receber a informação de que o Sr. Osvaldo Bargas, que estava mexendo com tudo isso, acaba de ser anistiado em quantia acima de R$1 milhão; que sua esposa, Mônica, seria secretária, assessora do Presidente há mais de vinte anos. Quer dizer, fica a cada dia mais difícil fugirmos da dicotomia: ou o Presidente é um completo alienado e uma pessoa completamente alienada que não vai poder dirigir o País difícil que nos espera a partir de 2007, ou o Presidente é muito esperto e sem escrúpulos. Ele mandou os pauzinhos se mexerem na direção do que para mim é um brutal atentado à democracia: fraude eleitoral é de fato um brutal atentado à democracia.

O Sr. Sibá Machado (Bloco/PT - AC) - Senador Sérgio Guerra, V. Exª me permite?

O SR. SÉRGIO GUERRA (PSDB - AM) - Senador Sérgio Guerra, em primeiro lugar, desculpe-me, mais uma vez, estar fazendo aparte ao pronunciamento de V. Exª. Eu não o faria na tarde de hoje, mas o assunto agora requer. V. Exª representa aqui o pensamento nítido do PSDB sobre uma convicção da participação, do conhecimento ou até da autorização do Presidente Lula num episódio como esse. Eu quero lembrar aqui algumas ocorrências. Ainda há pouco, o Senador Roberto Saturnino comentava o pronunciamento, hoje, se não me falha a memória, do Senador Jorge Bornhausen acerca de Carlos Lacerda.

V. Exª lembra um episódio com Castelo Branco e eu quero lembrar os dois fenômenos bem mais recentes. Um deles - acabei de falar - é o Dossiê Cayman. Outro é que uma importante Senadora desta Casa, também pré-candidata à Presidência da República, viveu um episódio muito complexo para a vida dela, complicado. Foi apresentado dinheiro na mídia, fotografado, filmado e tudo mais. Depois, aquilo se revelou como inverdade e o dinheiro foi até devolvido.

O SR. SÉRGIO GUERRA (PSDB - PE) - Que Senadora? Qual foi essa Senadora?

O Sr. Sibá Machado (Bloco/PT - AC) - Eu pretendo falar na presença dela.

O SR. SÉRGIO GUERRA (PSDB - PE) - É para que não fique a suspeita.

O SR. PRESIDENTE (Leonel Pavan. PSDB - SC) - Um minutinho. Qual é a pergunta?

O SR. SÉRGIO GUERRA (PSDB - PE) - O Senador Sibá falou de uma denúncia que envolvia uma Senadora. Seria importante que ele dissesse qual era. Somos tantos!

O Sr. Sibá Machado (Bloco/PT - AC) - É notório. O País inteiro acompanhou.

O SR. SÉRGIO GUERRA (PSDB - PE) - Eu não acompanhei, Senador.

O Sr. Sibá Machado (Bloco/PT - AC) - Mas deixe-me concluir o pensamento, Senador Sérgio Guerra. Esses episódios todos poderiam estar politicamente imputados à pessoa que presidia o País na época. Então, isso faz parte da ilação da Oposição. Isso eu entendo com toda naturalidade e tranqüilidade. Esse episódio, por si só, tem que ser condenado e nós o estamos condenando de público. Agora, a relação com o Presidente da República pode ser comparada aos demais episódios. Há quem queira fazer as comparações. Eu quero dizer a V. Exª, com toda segurança, que fazia também minhas falas públicas dizendo que o grande responsável, na época, era o Presidente da República. Então, quero dizer a V. Exª que este debate aqui, do envolvimento da pessoa do Presidente Lula, não posso aceitar aqui de forma tranqüila, absolutamente. O que quero defender é que jamais o Presidente Lula participou de qualquer episódio dessa natureza. Naquele momento, o objetivo era diretamente atingir a candidatura do Presidente Fernando Henrique Cardoso. O Presidente Lula recusou de público, o País inteiro acompanhou, e, neste momento, repudia do mesmo jeito. Qualquer que seja a pessoa ligada ao Governo ou ao Partido que estiver envolvida nesta situação, queremos defender aqui, agora, que a Polícia Federal a prenda, que a Justiça vá às últimas conseqüências para que esse episódio jamais se reproduza daqui para frente. Porque nós não defendemos a forma de vencer eleições nesses moldes.

O SR. SÉRGIO GUERRA (PSDB - PE) - Sr. Presidente, Srs. Senadores, Senador Sibá Machado, não falo de um episódio, eu falo de vários. Não faz quinze dias, o dinheiro da comunicação sumiu. A desculpa encontrada é que foi para o PT, o que por si só já é criminoso. Dinheiro público para o PT fazer proselitismo, ou seja lá o que for.

Mas, enfim, não fui eu quem inventou isso, não nasceu da Oposição nada disso, foi o Tribunal de Contas, e houve um esforço muito grande para que isso não fosse público.

Eu não concordo com essa recuperação de Getúlio Vargas. Pessoalmente, não concordo. Primeiro, Getúlio foi traído; segundo, Getúlio faz parte da melhor parte da história brasileira. Eu não sou brasileiro para não elogiar o Presidente Getúlio Vargas.

Então, isso não tem nada a ver com o que está acontecendo aí, com esse negócio de cueca, mensalão, mensalinho, Severino Cavalcanti, dinheiro do Orçamento que está por aí, Freud. São denúncias todo dia, toda hora, todas no ambiente do Presidente.

O Presidente não é autista, o Presidente é um líder popular de envergadura. Ouvi de alguém ontem o depoimento sobre a fantástica inteligência do Presidente. Concordo com esse reconhecimento. Não dá para acreditar que o Presidente Lula, com o grau, a importância e a inteligência que tem, esteja absolutamente fora disso tudo.

Ele demitiu ou não demitiu José Dirceu, quem o traiu? Ele nunca disse. Essa desculpa de dizer que já havia antes, eu não gostaria que uma pessoa como o Senador Sibá Machado cometesse, porque isso não é desculpa de gente honesta. Uma pessoa honesta não diz: olha, o que está acontecendo agora realmente é complicado, mas antes faziam a mesma coisa. Sinceramente, isso não é desculpa de homem público, de gente séria. Não dá para segurar.

Deus queira que eu esteja enganado. Muito melhor para o Brasil que eu esteja enganado, muito melhor para a democracia, mas não há sinais disso. Ao contrário, os sinais são todos na direção contrária. E o Presidente se faz de autista. Dizer que essas práticas de reduzir tudo isso, a afirmação de que tudo é conseqüência do processo eleitoral viciado, remetendo a crise para nós de forma muito clara, responsabilizando o Congresso, os partidos e as instituições e se colocando do lado de fora como se ele fosse o povo do Brasil, o defensor do patrimônio nacional, da democracia e das instituições, não faz sentido, não é dos homens, não é humano, não é lógico. O Presidente da República do Brasil há muito tempo não fala a verdade. Ele é do Nordeste e eu também. Andei nas terras onde ele nasceu, encontrei familiares dele lá hoje muito pobres, dependentes.

Gente que antes dependia de alguma agricultura de subsistência, agora está dependendo do Governo. Chamam isso de progresso, distribuição de renda? Disseram que vão construir uma ferrovia, que já inauguraram, mas não há nem projeto. O projeto só estará pronto no final do próximo ano. Há uma refinaria que divulgaram como obra do Presidente, mas só existe um pedaço de dois metros quadrados de cimento no chão, uma pedra fundamental, que o Presidente Chávez cuidou de concluir.

Enfim, eu não estou vendo, rigorosamente, sinais de que esse Presidente é o mesmo Presidente em que votei antes, com dedicação, e sabendo que iria perder. Fiz a campanha dele várias vezes. Mas não dá agora para segurar isso, porque a consciência nacional, a mais crítica, não é capaz de sustentar isso que está aí - leiam os jornais, leiam os intelectuais -, a não ser aqueles que perderam a cabeça e a sobriedade, que justificam o abuso e a desonestidade como padrão. Não dá! Sinceramente, não são esses os valores que construíram a democracia no Brasil. Nós temos uma história de democracia, uma história de méritos, e não uma história de corrupção e desagregação. O Presidente da República, em quatro anos, remeteu-nos para um cenário absolutamente imprevisível: o conceito do Congresso lá embaixo, a confiança nos políticos lá embaixo, uma descrença brutal na população.

A eleição está aí, a população não se movimenta, não acredita, não confia. Em vez de ser progressista, passa a ser cada vez mais acomodada, num processo cujo conteúdo é a descrença. Fomos nós que inventamos isso, somos nós que temos a ver com isso? Não é verdade, é o contrário: o PSDB foi, várias vezes, acusado aqui de não ter tomado, no momento adequado, medidas mais duras sobre o Presidente. Essa é a acusação que pesa sobre nós. Não há outra acusação a fazer.

Então, eu queria dizer que, se depender de nós, vamos fazer uma campanha absolutamente decente até o dia da eleição. Não vamos entrar nessa maré de corrupção e denúncia.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 20/09/2006 - Página 29294